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APÊNDICE I: ENTREVISTA ESCOLA LILÁS (23.10.2012 PORTUGAL) Elaborei este protocolo com base nas hipóteses e questões de pesquisa, descritas na seção 1

APÊNDICE G: QUESTIONÁRIO INTÉRPRETE LGP MIRANDA (17.10.2012 PORTUGAL) Este protocolo foi respondido por e-mail pela intérprete educacional da

4.3.6 Ética das condutas

Ao criar uma fotografia ou um filme, o pesquisador dá luz a algo que antes não existia. O sujeito filmado simplesmente é ou está. Não fez esforço algum, diz-nos Banks (2009). Cabe, neste sentido, compreender de quem é o direito de autoria? A imagem é minha ou do sujeito filmado? “As imagens podem ser de interesse apenas das pessoas que aparecem nelas. As imagens podem também ser suficientemente intimas para causar desconforto aos que aparecem nelas quando vistas por muitas outras pessoas” (BANKS, 2009, p. 130). Apesar de empregarmos o anonimato, esta imagem pode ser reivindicada por mais alguém?

Coube minha responsabilidade e comprometimento em preservar o anonimato dos sujeitos e das instituições investigadas. No Brasil, o processo mais comum é solicitar uma autorização escrita para se observar e analisar sujeitos e ambientes e anexar algumas delas no final do trabalho. Foi assim a minha conduta inicial. Porém, foi o contato em Portugal que passou a desnaturalizar esta prática.

Para Markus Banks, professor do Institute of Social & Cultural Anthropology - University of Oxford, emprega-se a permissão “compreendida em um contexto cultural ou socialmente apropriado” (BANKS, 2009, p. 116), isto é, não se tem a necessidade expressa de anexarmos uma explanação de direitos autorais no fim do trabalho. Mesmo que firmemos contratos e autorizações escritas antes, nada é garantia de propriedade de direitos autorais (BANKS, 2009). Este teórico desnaturalizou uma prática muito empregada na contemporaneidade. Na visão do professor alemão Uwe Flick, da Universidade de Ciências Aplicadas Alice Salomon, “um acordo oral pode algumas vezes ser usado como um substituto para o contrato escrito, caso o participante não queira assiná-lo” (FLICK, 2013, p. 211, negritos meus). Não podemos forçar alguém a assinar algo que não queira.

Não basta apenas anexar uma lauda padronizada no final do trabalho e sair escrevendo. Além disso, infiro uma provocação: até quando o pesquisador deve guardar este documento? E os extravios? A lauda também não garante que o pesquisador tenha tomado as precauções cabíveis. Se um pai não permitir que seu filho participe de pesquisas, como ficaria a nossa pesquisa? Enfim, são questões com as quais podemos nos defrontar.

Como ocorre este processo em Portugal? Todo investigador possui um work programme (programa de trabalho). Este documento, quando aprovado, passa a ser o condutor das ações do pesquisador. É a partir dele que o então orientador emitirá os pedidos de observações e intervenções em campo. Quando muito complexos, perpassam as etapas por um Comitê de Ética e Pesquisa, principalmente em áreas como as das ciências da saúde e biológicas, que não é o caso desta investigação. No campo da Educação, o processo é mais simples, está ao alcance do orientador.

Primeiro é feito um pedido, por e-mail, pelo orientador à gestão e instituição a ser analisada. Segundo, de posse da resposta, pode ou não ser autorizada a intervenção ou observação em campo. Por último, só se atua se houver autorização do sujeito ou de seus pais, para a concessão de imagens ou participação em pesquisas, semelhante à realidade da pesquisa no Brasil. Por isso, o acordo oral e o contexto cultural e socialmente apropriado são suficientes para manter o anonimato e a ética das condutas de pesquisa (BANKS, 2009; FLICK, 2013).

Na EREBAS VERMELHO, por exemplo, a autorização para as observações e o uso do vídeo foram autorizadas pelo seu diretor por um acordo oral, desde que não registrassem ou divulgassem os rostos dos aprendizes, isto é, que fosse preservado o anonimato dos aprendentes gravados. NA EREBAS AZUL, só foi permitida a visita e gravação após as autorizações deferidas por e-mail e o envio de uma carta de apresentação à instituição (apêndice P).

No que tange a Portugal, as autorizações foram todas cedidas por e-mail, sem laudas padronizadas. Nenhum ator deixou de ser consultado ou consentido. A foto de capa deste trabalho, por exemplo, teve autorização cedida por e-mail (apêndice Q).

Como propõe Banks (2009), todos têm que ter o consentimento informado. Todas as pessoas, como propõe o professor, são informadas que estão sendo analisadas e todas elas participaram voluntariamente. Além disso, como propõe Banks (2009, p. 124), para evitarmos questões éticas e intelectuais, recomenda-se “trabalhar com os sujeitos de pesquisa em vez de produzir sobre eles”. Assim, no Brasil, produzi vídeos em conjunto com a professora de

Matemática da escola acessada, buscando aproximar-me dos aspectos culturais dos surdos. Esta opção pressupõe a observação participante. Desta forma não atuei só como observador, mas também lecionei.

Para atuar na escola VERDE, procedi à elaboração de dois termos cegos. O primeiro solicitava o consentimento da diretora da escola VERDE, intitulado “Termo de consentimento da direção da escola VERDE” (apêndice N). O segundo buscava ciência e consentimento da professora de Matemática, professora LÚCIA, pelo termo intitulado “Termo de consentimento da professora LÚCIA (apêndice O).

Em Portugal não foi possível este deslocamento48. Neste país, no que tange ao limite acessado, as observações, em grande parte, têm uma duração mínima de um ano, quando então o futuro docente pode intervir com os alunos, ou seja, lecionar. Como minha atuação abrangia um período menor, houve outros meios. Atuei apenas como observador, empregando o áudio e o vídeo não para coletar dados, mas para registrar as conversas, o bate-papo, a conversa aberta entre entrevistador e entrevistado, para depois transcrevê-las. Os discursos foram produzidos por ambos em uma conversa aberta, uma conversa franca.

Procuro dar visibilidade a vozes de todas as vozes, evitando condutas unidirecionais. Tento percorrer esta via sem tentar conduzir-me por sua racionalidade, olhando-a em sua exterioridade (FOUCAULT, 1995; VEIGA-NETO; RECH, 2014), canal para que, em um momento posterior, possa exercer contracondutas. Cada sujeito manifestou uma verdade. Relato, a seguir, como foram cedidas as autorizações para o registro destas informações:

APÊNDICE B, F e G: autorização por e-mail para publicação dos questionários e respostas;

APÊNDICE C: respostas e sentimentos autorizados pelo doutorando;

APÊNDICE D: questionário e respostas autorizados para publicação. Não foi permitida a gravação pelos pais;

APÊNDICE E e H: permitida a gravação para fins posteriores de transcrição do áudio, bem como autorizada a publicação das notas de campo. Não permitido a divulgação do áudio; APÊNDICE I: notas de campo limitadas com autorização da coordenação, proibida a gravação de qualquer espécie.

Fotografias e vídeos nos ambientes acessados foram autorizados, desde que não mostrassem o rosto dos alunos. Foi-me permitida a exposição pública de um vídeo sobre a atuação da intérprete de LGP na EREBAS VERMELHO, porém tomando o cuidado de

chamuscar o rosto de todos os envolvidos. Em outra turma desta mesma escola, a divulgação não me foi autorizada, pelo fato de uma das alunas não permitir a publicação visual.

Para finalizar as condutas éticas, compete ainda ao pesquisador dar o retorno de sua pesquisa (BANKS, 2009). No contexto brasileiro, cataloguei os dados brutos da análise, bem como os diários produzidos, em dois DVDs (ARNOLDO JUNIOR, 2012c; ARNOLDO JUNIOR, 2012d), deixando-os disponíveis na escola acessada para consulta, por solicitação de sua diretora. O primeiro DVD registra os encontros de 04.05.2012 a 01.06.2012 e o segundo, os encontros de 06.06.2012 a 25.11.2012. Desta forma, sob responsabilidade da direção escolar e do pesquisador, devidamente autorizados a acessar os dados brutos, podem outros pesquisadores replicar a investigação.

Os dados obtidos em Portugal foram catalogados em um terceiro DVD (ARNOLDO JUNIOR, 2012e), para repertório pessoal e uso exclusivo do pesquisador, registrando os encontros de 25.09.2012 a 26.10.2012. Só disparava a gravação em áudio após o consentimento do interlocutor. Como mencionei antes, fui autorizado a divulgar apenas um vídeo. Combinei, em Portugal, com cada interlocutor que ficaria encarregado, após a defesa final, de enviar uma versão no formato digital como retorno de pesquisa, por e-mail. Na próxima seção, “Planos de minhas condutas”, passo a explanar os procedimentos que tomei em ambos os países, que viabilizaram conceber os propósitos desta Tese de doutoramento.