• Nenhum resultado encontrado

1 CONDUTAS INICIAIS

1.2 Objetivos de pesquisa

Mantendo-me sob uma linha pós-estruturalista, entendo que “a identidade é uma construção que se narra” (CANCLINI, 2010, p. 129). Ao inferir a identidade surda, remeto- me a uma identidade inventada13, assim como a identidade ouvinte, a identidade negra, dentre outras culturalmente inventadas. Neste campo de conhecimento, que analisa as identidades culturalmente inventadas, as práticas sociais e as relações de poder nelas imbricadas, estão os

13 Do alemão Erfindung (invenção), empregado por Nietzsche para referir-se a algo que não possui origem, mas que é produzido de acordo com uma necessidade (FOUCAULT, 1984e).

Estudos Culturais (EC) (JOHNSON, 2010). No que tange aos surdos, remeto-me à visualidade como um campo de conhecimentos que emergem da cultura visual, como as fotografias, o vídeo, as obras de arte, dentre outros artefatos. Inserem-se sob essa perspectiva os Estudos Culturais Visuais (ECV): “estudo do visual a partir dos estudos culturais” (HERNÁNDEZ, 2007, p. 23). Então, remeto-me, doravante, aos ECV.

Para analisar como as tecnologias podem corroborar a emancipação de sinais matemáticos, interpreto-as como uma leitura acerca de uma realidade, como propõe FOUCAULT (1978). Para isso, passo a empregar a ponte (poder) entre os Estudos Culturais e o pensamento de Michel Foucault, proposto por Veiga-Neto (2000b). As tecnologias, sob a ótica dos EC, são tomadas como artefatos culturais (SILVA, 2009). Apresentam uma determinada racionalidade cultural, conduzem as condutas dos sujeitos (FOUCAULT, 1995). Conduzem o modo de ser, de agir e de viver dos sujeitos, sendo, portanto, interpelativas (VEIGA-NETO, 2000b). Interpelação cultural é um conceito que visibilizo no próximo capítulo.

O objetivo central desta Tese é problematizar o processo emancipativo das línguas de sinais/gestuais no contexto específico do ensino de matemática e seus efeitos sobre a comunidade surda. Tem por objetivos específicos:

- Investigar o desenvolvimento e a utilização da Libras no Brasil e da LGP em Portugal;

- Investigar de que forma as tecnologias, dentre elas as redes sociais, podem contribuir para a análise da emancipação dos sinais/gestos da Libras/LGP.

Evitando qualquer generalização, tento buscar algumas pistas que possibilitem aproximar-me desses objetivos. Para que eu possa atingir estes propósitos é que procedi a um trabalho de campo realizado no Brasil, ancorado por avanços obtidos por Portugal. Viso, com a análise das EREBAS, investigar como estas escolas podem corroborar que se pensem outras formas de concepção das EMEBS brasileiras, buscando potencializar o processo emancipativo de sinais da Libras. Na tentativa de viabilização, desdobrei o problema nas seguintes questões de pesquisa:

- Como se constituem os sinais específicos das Libras de termos empregados em matemática e qual sua relação com as atividades, a realidade e o cotidiano?

- Como são convencionados os sinais no Brasil e os gestos em Portugal?

- Como as tecnologias e as redes sociais podem contribuir para a emancipação com vistas ao desenvolvimento do pensamento matemático de alunos surdos?

Logo, apresento este trabalho organizado do seguinte modo: no capítulo 2, intitulado “Estudos Culturais e Visuais em Matemática para surdos”, verso sobre os Estudos Culturais Visuais (ECV) em Matemática. Busco entender a identidade/ciberidentidade, a cultura, a etnomatemática, ou seja, a Matemática da cultura surda, a gênese dos artefatos e a interpelação cultural, dentre outros elementos essenciais dos ECV. Também apresento as noções de contraconduta, as tecnologias e o paradigma da visualidade em Educação Matemática para surdos. Dialogo estes elementos por meio de uma análise cultural, concebendo a inclusão escolar como um dispositivo biopolítico. De posse dessas menções, problematizo o ensino da Matemática para surdos, empregando pesquisadores contemporâneos cujas linhas de estudo convirjam para o questionamento central desta Tese.

No capítulo 3, “Neologismo em Matemática: a gênese da emancipação de sinais da Libras e gestos da LGP”, verso sobre o processo de criação de novos itens lexicais em Libras – Língua Brasileira de Sinais e em LGP – Língua Gestual Portuguesa. Analiso alguns neologismos matemáticos. Esta categoria é resultante de um processo de leituras e análises de obras, documentos e artefatos. Ela retrata a educação de surdos em diferentes épocas, os materiais empregados, os artefatos construídos - nos quais se incluem as tecnologias e a internet -, os métodos de ensino para ensino e aprendizagem de surdos, bem como o processo de dicionarização decorrente dos processos de criação neológica. Também introduz as EREBAS como campo promissor para a emancipação dos sinais/gestos da Matemática.

No capítulo 4, “Conduzindo minhas condutas”, explano a etnografia. Além disso, esta seção engloba toda a metodologia empregada. Como transcrever vídeos, fotografias digitais, áudios para narrativas, e como analisar essas narrativas. Entender como usar uma rede social como fonte para elaboração de instrumentos de coleta de dados coletivo, os protocolos de entrevista, as notas de campo, os questionários empregados, a ética de pesquisa, bem como os planos de conduta, são abordados nesta seção.

No capítulo 5, remeto-me à “Análise da realidade brasileira como conduta segunda”. Analiso o contexto de uma escola de surdos brasileira, em dois momentos respectivos. Primeiro, atuo como observador das aulas de Matemática e procuro entender como os surdos atribuem significações ao léxico da Matemática, como aprendem, como é o seu dia-a-dia, dentre outras variáveis. Em segundo lugar, leciono. Como professor, investigo durante as interações como é realizado o processo de criação de sinais Matemáticos em caso de barreiras impostas por ausência do léxico. Também faço reflexões acerca de minha própria intervenção com os alunos. Coube-me também saber a estrutura oferecida para os alunos e como os ouvintes bilíngues ou especializados em surdez trabalhavam com eles, procurando analisar as relações de poder que podem emanar dessas interações.

No capítulo 6, intitulado “Análise da realidade portuguesa como conduta terceira”, acessei, em Portugal, duas EREBAS: uma universidade e uma escola referência em inclusão escolar. Todos esses ambientes são espaços inclusivos que podem integrar surdos. Tive acesso também a uma Associação de Surdos. Procurei entender como ocorria a criação dos gestos matemáticos da Língua Gestual Portuguesa. Saber como os gestores, professores, intérpretes e ouvintes bilíngues atuavam com surdos. Além disso, investiguei documentos, regulamentos, manuais escolares, enfim, todos os artefatos que estivessem à disposição para uso pelos alunos e professores. Imerso em um campo de diálogos, procedi à oitiva de gestores, surdos, professores, intérpretes, dentre outros profissionais, surdos e ouvintes, sem nada a esconder. Analisei também as tecnologias disponíveis e como estas poderiam corroborar para a emancipação do léxico de gestos da LGP.

No capítulo 7, intitulado “Tecendo um último ensaio”, estão as contribuições para a Matemática, as alusões pessoais e o diálogo com outras meias-verdades. Verifico as questões de pesquisa, bem como as hipóteses defendidas, confirmando ou refutando-as. Faço alguns apontamentos acerca da atuação dos intérpretes de Libras e LGP frente a condutas éticas, a relações coloniais entre ouvintes e surdos, dentre outros aspectos. Teço algumas considerações sobre as tecnologias e de que forma estas puderam contribuir para a emancipação do léxico em Matemática e ampliação do conhecimento dos surdos. Depois, remeto-me às EREBAS e seu histórico contrastivo com as antigas UAAS – Unidades de Apoio para Alunos Surdos, equivalentes no Brasil ao AEE – Atendimento Educacional Especializado. Por último, analiso que contributos estas escolas podem nos trazer para que se

pense de outras formas as EMEBS – Escolas Municipais de Educação Bilíngue para Surdos no Brasil.

Por último, elenco as referências, os apêndices e anexos. No anexo A consta o DVD com o resumo em Libras.