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4.2 METODOLOGIA

4.2.1 Índice de modernização estrutural

Lavopa e Szirmai (2014) propõem um índice que aborda simultaneamente os processos de mudança estrutural e de catch-up tecnológico das economias117, o qual contribui para melhor se compreender o porquê algumas economias logram sucesso em alcançar níveis elevados e sustentados de riqueza e bem-estar em longo prazo enquanto outras falham em escapar das armadilhas do desenvolvimento. Dessa forma, é possível identificar as falhas de desenvolvimento decorrentes da incapacidade de uma nação em realizar as principais transformações que estão no cerne do processo de desenvolvimento econômico e que são seus principais condicionantes.

A primeira dessas transformações é captada pela dimensão estrutural do desenvolvimento, apreendida pelo tamanho do setor moderno em uma economia (𝜆), mais especificamente, pela participação da força de trabalho empregada nas atividades desse setor, atividades essas que apresentam níveis de produtividade acima da média e elevado potencial para o crescimento da produtividade agregada. Formalmente:

117 Esses processos são resultantes das dimensões nas quais as vertentes estruturalista e evolucionária se

𝜆𝑡𝑗=𝑁𝑀𝑂𝐷,𝑡

𝑗

𝐿𝑗𝑇𝑂𝑇,𝑡 (4.1)

onde 𝑁𝑀𝑂𝐷 representa o emprego no setor moderno, 𝐿𝑇𝑂𝑇 o total da força de trabalho, o subscrito 𝑡 representa o tempo e o sobrescrito 𝑗 o país.

O denominador de 𝜆𝑡𝑗 inclui não apenas os empregados de qualquer setor da economia, mas também a população desempregada, no sentido de que os trabalhadores que não encontram emprego no mercado também são considerados como parte do setor tradicional (não-moderno). Todavia, na base empregada para o cálculo do índice118 não existem dados de desemprego ou da força de trabalho (apenas dados de emprego)119. Por conta disso, foram empregadas diversas fontes de dados para se obter o número de desempregados de cada país a partir da taxa de desemprego120, que é a variável mais amplamente disponível na literatura, da seguinte forma:

𝑢𝑡𝑗=𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡

𝑗

𝐿𝑗𝑇𝑂𝑇,𝑡 (4.2)

onde a taxa de desemprego (𝑢) consiste na participação da população desempregada (𝑈) no total da força de trabalho (𝐿) da economia 𝑗 como um todo no ano 𝑡, sem distinguir entre setores. A partir de manipulações algébricas, é possível obter uma expressão para a população desempregada que depende das variáveis que se tem à disposição (número de empregados e taxa de desemprego): 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 𝐿𝑗𝑇𝑂𝑇,𝑡 = 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 𝐿𝑗𝑇𝑂𝑇,𝑡+ 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 → 𝑢𝑡 𝑗 (𝑁𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 + 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 ) = 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 → 𝑢𝑡𝑗𝑁𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 = (1 − 𝑢𝑡𝑗)𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 → 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 = 𝑢𝑡 𝑗 1 − 𝑢𝑡𝑗𝑁𝑇𝑂𝑇,𝑡 𝑗 → 𝑈𝑇𝑂𝑇,𝑡𝑗 = 𝑢𝑡 𝑗 1 − 𝑢𝑡𝑗𝑁𝑇𝑂𝑇,𝑡 𝑗 (4.3)

Como a base de dados utilizada dispõe de dados de emprego desde 1950 e algumas das séries construídas de desemprego não alcançavam esse ano, para alguns casos, retropolou-

118 Será apresentada na próxima seção.

119 Séries consistentes e harmonizadas de desemprego entre economias são escassas, sobretudo aquelas de ampla

cobertura temporal. Ademais, as séries deveriam apresentar consistência com a série de emprego da base de dados utilizada no presente capítulo.

120 Os passos e fontes de dados para as construções das séries de desemprego podem ser encontrados na seção

se a série do número de desempregados até o ano máximo inicial usando as taxas de crescimento do emprego total, assumindo implicitamente que essas duas variáveis não variaram significativamente durante esses anos121.

Por sua vez, a segunda das transformações, a dimensão tecnológica (𝜌), é medida pela produtividade do trabalho do setor moderno (𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 ) em relação à produtividade do trabalho do setor moderno na fronteira tecnológica (𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑓 ), medida esta identificada como o grau de

catch-up tecnológico de uma nação122:

𝜌𝑡𝑗=𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡

𝑗

𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑓 (4.4)

onde 𝑓denota o país referenciado como a fronteira tecnológica. Quanto menor o valor de 𝜌, maior a distância tecnológica do país em análise em relação à fronteira mundial.

Já a produtividade de uma economia é identificada da maneira tradicional, ou seja, pelo somatório das produtividades de cada um dos setores modernos ponderados por suas participações no emprego total do setor moderno:

𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 = ∑ 𝑃𝑖,𝑡𝑗𝑠𝑖,𝑡𝑗

𝑖

(4.5)

Por último, faz-se necessário identificar a fronteira tecnológica em cada período do tempo, uma vez que diferentes países podem se apresentar como os líderes em diferentes momentos do tempo e em diferentes setores que fazem parte do setor moderno como um todo:

𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑓 = 𝑚𝑎𝑥(𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 ) (4.6)

Tomadas em conjunto, as dimensões estrutural e tecnológica capturam o processo de modernização estrutural de uma economia (Ω). Formalmente:

Ω𝑡𝑗= (𝜆𝑡𝑗)𝛼(𝜌𝑡𝑗)𝛽 (4.7)

121 O mesmo procedimento foi realizado por Lavopa e Szirmai (2014). 122

Lavopa e Szirmai (2014) destacam que a dimensão tecnológica é muito mais difícil de captar, pois se refere a um conceito complexo que não pode ser diretamente mensurado. A proxy utilizada no índice (produtividade relativa à fronteira mundial no setor moderno), por exemplo, não distingue entre o desenvolvimento de novas tecnologias e o uso mais extensivo das tecnologias já existentes.

Dessa maneira, o índice de modernização estrutural mede o grau de modernidade de uma economia calculando, para cada país, o gap de produtividade com respeito à fronteira mundial nas atividades identificadas como pertencentes à parte moderna da economia, e ponderando essa produtividade relativa pela participação dessas atividades no total da força de trabalho. Com isso, a natureza interativa da mudança estrutural e do catch-up tecnológico é ressaltada. Adicionalmente, o índice atribui diferentes graus de importância no valor final dependendo dos níveis relativos de cada dimensão, níveis esses que são números positivos entre zero e um que, por sua vez, resultam em um valor final que é graficamente convexo na origem. Desse modo, o índice recompensa situações ditas balanceadas (quando as duas dimensões não diferem muito entre si) e penaliza as situações em que uma das dimensões é maior do que a outra123, o que está de acordo com as evidências históricas de desenvolvimento das nações. A despeito dessa convexidade – na qual uma economia poderia direcionar seus esforços para uma ou outra das dimensões com o intuito de elevar sua modernização estrutural –, trabalha-se com 𝛼 e 𝛽 iguais a um124. Isso implica dizer que o esforço para elevar qualquer uma das dimensões é equivalente. Por fim, o caminho percorrido ao longo do tempo pelas economias e captado pelo índice será entendido como a sua trajetória estrutural.