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A base de dados utilizada nesse capítulo consiste na GGDC 10-Sector Database, do

Groningen Growth and Development Centre (TIMMER; DE VRIES; DE VRIES, 2015). Ela

congrega estatísticas anuais de valor adicionado a preços correntes e constantes de 2005 (em moedas domésticas) e de emprego desagregadas em 10 setores cobrindo 42 países (13 da África, 11 da Ásia, 9 da América Latina, 8 da Europa, além dos Estados Unidos), com informações de 1950 em diante91. Os 10 setores estão listados na Tabela 3.1:

Dentre os diversos países que constam nessa base de dados, selecionou-se para a análise comparativa aqueles com grau de desenvolvimento similar ao Brasil em algum momento do tempo, que apresentem similaridades em termos de potencial de crescimento ou aqueles com uma população relativamente grande92. Nesses termos, os países elegidos foram: Argentina, Chile e México (América Latina), África do Sul (África), China, Índia, Coreia do Sul e Indonésia (Ásia). A Tabela 3.2 apresenta alguns dados gerais dessas economias referentes ao ano de 2017 (o mais atual disponível) e à média do período 1950-2017.

Tabela 3.1 – Atividades econômicas da GGDC 10-sector database ISIC Rev.

3.1 Código Nome da atividade Descrição das atividades

A+B Agropecuária Agricultura; Caça; Silvicultura; Pesca

C Indústria extrativa Indústria extrativa

D Indústria de transformação Indústria de transformação

E Utilidades públicas Eletricidade; Gás; Fornecimento de água

F Construção Construção

G+H Serviços comerciais Comércio atacadista e varejista; Reparação de veículos, motocicletas e bens de uso pessoal; Hotéis e restaurantes

I Serviços de transporte Transporte, Armazenamento, Comunicações

J+K Serviços empresariais Intermediação financeira; Aluguel; Atividades empresariais (excluindo aluguéis ocupados pelo proprietário)

L+M+N Serviços governamentais Administração pública; Defesa; Educação; Saúde; Serviços sociais

O+P Serviços pessoais Serviços comunitários, sociais e pessoais; Atividades das

famílias

TOT Total da economia Total da economia

Fonte: Groningen Growth and Development Center (GGDC).

A partir dos países selecionados verificou-se que dois deles, Chile e Coreia do Sul, não apresentam informações de valor adicionado relativas ao setor “serviços governamentais”. Por comparabilidade e, a partir da descrição das fontes e métodos para a construção das variáveis

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A referida base de dados consiste em um painel desbalanceado, no qual alguns países apresentam uma cobertura temporal maior que outros.

92 Além disso, outro critério essencial para a escolha desses países decorreu da disponibilidade de conversores

apresentadas na GGDC 10-Sector Database (DE VRIES et al., 2015), optou-se por agregar os setores de “serviços governamentais” e “serviços pessoais” para todos os países elencados, totalizando 9 setores93.

Tabela 3.2 – Estatísticas gerais das economias selecionados, 2017 e média 1950-2017 Países: Média 1950-2017 PIB (US$ milhões) (1) População (milhões) (2) Emprego (milhões) (3)

PIB per capita (US$) (1/2) Produtividade (US$) (1/3) Brasil 1.512.543 132 58 10.048 23.012 Argentina 460.741 30 12 14.413 36.274 Chile 160.032 12 4 11.635 33.786 México 1.063.540 74 25 12.800 39.904 África do Sul 370.242 33 10 10.578 33.866 Coreia do Sul 609.799 38 15 13.228 29.916 China 4.606.426 1.006 522 3.766 6.919 Índia 2.140.382 765 314 2.266 5.556 Indonésia 936.954 162 64 4.789 11.897 Países: 2017 PIB (US$ milhões) (1) População (milhões) (2) Emprego (milhões) (3)

PIB per capita (US$) (1/2) Produtividade (US$) (1/3) Brasil 3.204.328 210 104 15.273 30.887 Argentina 907.002 44 20 20.477 45.750 Chile 450.340 18 8 24.471 54.400 México 2.392.752 120 52 19.862 45.651 África do Sul 756.792 55 17 13.809 43.322 Coreia do Sul 2.014.239 51 27 39.146 75.869 China 20.539.583 1.381 776 14.874 26.481 Índia 9.048.511 1.283 515 7.051 17.558 Indonésia 3.218.237 257 120 12.507 26.930 Fonte: Elaboração própria com base na The Conference Board Total Economy Database, march 2018.

Nota: Valores monetários em US$ de 2017 (convertidos a preços de 2017 com PPPs de 2011).

Por se tratar de uma base de dados que reúne informações de valor adicionado e emprego setoriais de diversas economias, algumas considerações devem ser elucidadas para o melhor entendimento da medição da produtividade do trabalho. A primeira delas diz respeito à cobertura ao setor informal: as informações relativas ao nível de emprego total e sua distribuição setorial partem dos censos populacionais de cada país e de pesquisas domiciliares para estimar o crescimento no emprego entre os anos censitários e tendem a apresentar uma boa cobertura do emprego informal. Por outro lado, os dados de valor adicionado partem das contas nacionais de cada economia e sua cobertura ao setor informal varia de país para país, o que faz com que a qualidade da cobertura a esse setor dependa fortemente da qualidade dos sistemas estatísticos nacionais94.

93 Tanto para o Chile quanto para a Coreia do Sul, os valores adicionados constantes de 2005 do setor de

“serviços governamentais” na referida base de dados estão agregados juntamente com o setor “serviços pessoais”, logo, a comparabilidade das séries ente os países escolhidos fica preservada. Para maiores detalhes, ver de Vries et al. (2015).

94 O grau de desenvolvimento dos sistemas estatísticos nacionais varia bastante entre as diferentes regiões

Outra consideração que deve ser levantada diz respeito à medida de valor adicionado das atividades relativas ao setor de serviços e a dificuldade em discutir produtividade em algumas de suas atividades. O cálculo do valor adicionado de muitas atividades de serviços não é estimado diretamente como em outras atividades, mas imputado a partir de proxys de volume improvisadas que podem acarretar em erros de medida sistemáticos potencialmente grandes e gerar resultados de ganhos de produtividade que não necessariamente se relacionam com incrementos de eficiência produtiva95.

Ainda, outra questão reside na medida de trabalho usada para computar a produtividade do trabalho, qual seja, o número de empregados. O ideal seria a utilização do número de horas trabalhadas, resultando em uma medida de “produtividade-hora”, e não, de “produtividade-homem”, pois, nesse caso, seria incorporada a variação da jornada de trabalho (abarcando questões como pagar horas extras ao trabalhador ou dar férias coletivas, etc.). Assim, um trabalhador pode produzir mais apenas por estar trabalhando por um período maior, sem significar uma maior produção por hora. Além disso, a utilização de horas trabalhadas reduziria o viés das diferenças de horas trabalhadas entre países.

Como empiricamente se pretende comparar a evolução da produtividade do trabalho e os seus determinantes ao longo do tempo entre diversas economias, as medidas correspondentes de produtividade do trabalho devem ser calculadas em uma moeda que seja internacionalmente comparável. Contudo, a simples conversão pela taxa de câmbio não é adequada, pois ela é bastante influenciada por fenômenos monetários (movimentos de capital e de especulação), não refletindo suficientemente bem as reais diferenças de preços entre países. Na mesma direção, a simples correção pela paridade do poder de compra (PPP) agregada também não é adequada, já que não reflete a variação nos níveis de preços entre os diferentes setores de uma economia96. Para não incorrer em inconsistências ao se trabalhar com diferentes setores produtivos de diferentes economias, faz-se necessário a utilização de

estatísticas nacionais visando garantir a consistência intertemporal, internacional e interna dos dados. Para maiores informações acerca do procedimento de seleção das fontes utilizadas e dos métodos empregados para garantir tal consistência, ver de Vries et al. (2015).

95 Por exemplo: utiliza-se o diferencial de juros para as atividades de “Intermediação financeira”, o aluguel

imputado para as “Atividades imobiliárias e aluguéis”, além de que o valor adicionado de atividades como “Administração, saúde e educação públicas e seguridade social” é praticamente igual aos salários, implicando que políticas de remuneração de servidores públicos podem se traduzir em um aumento de produtividade que não implicam necessariamente em incrementos de eficiência produtiva. Para maiores informações, ver Griliches (1992), Li e Prescott (2009) e Foley (2011).

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Além disso, os preços relativos variam bastante entre setores comercializáveis (tradables) e não- comercializáveis (non-tradables) e diferem entre economias com níveis diferentes de desenvolvimento. Essa regularidade empírica ficou conhecida na literatura como Penn effect, identificada como Harrod-Balassa- Samuelson effect nos modelos tradicionais de comércio internacional.

conversores específicos de cada setor para cada país (que levem em conta as diferenças de preços entre os países em cada um dos setores em questão).

Para tanto, utilizou-se conversores setoriais de cada país a partir da Productivity Level

Database (INKLAAR; TIMMER, 2014), a qual fornece, entre outras informações, dados

sobre preços relativos (pela ótica da produção) em nível setorial de diversos países, tendo como referência o ano de 200597. Assim, os valores adicionados constantes de 2005 expressos em moeda doméstica de cada um dos setores de cada um dos países selecionados da base de dados foram convertidos para dólar a partir da taxa de câmbio do referido ano disponível na

Penn World Table 9.0 (FEENSTRA; INKLAAR; TIMMER, 2015) e corrigidos pelo índice

PPP setorial. Posteriormente, extrapolou-se/retropolou-se esse valor para os demais anos usando a taxa de crescimento real acumulada em 2005 do valor adicionado (em moeda nacional, a preços de 2005). Finalmente, as séries de produtividade setoriais resultam da razão entre o valor adicionado a preços constantes internacionais de 2005 e o número de emprego.

3.4 PRODUTO, EMPREGO E PRODUTIVIDADE DA ECONOMIA BRASILEIRA