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Essa seção apresenta os índices de modernização estrutural (IME) calculados anualmente para cada um dos países da base de dados. O Gráfico 4.1 expõe os valores médios do tamanho do setor moderno (𝜆) e do gap tecnológico (𝜌) no período inicial (média dos cinco anos em comum de todas as 17 economias) e no período final. Já os Gráficos 4.2 e 4.3 exibem os mesmos valores, mas agora, para economias selecionadas e com informações anuais. O primeiro gráfico refere-se a dois casos selecionados de trajetórias de insucesso, enquanto o segundo aborda casos de sucesso na trajetória estrutural.

Gráfico 4.1 – Valores médios das dimensões do índice de modernização estrutural nos anos iniciais e finais das economias

Nota: LAMBDA = Tamanho do setor moderno; RHO = produtividade relativa aos Estados Unidos. Quanto maior o valor de 𝜆, maior o tamanho do setor moderno; quanto maior o valor de 𝜌, menor o gap tecnológico.

A partir do Gráfico 4.2, observa-se que a economia brasileira registrou uma notável modernização estrutural desde 1950 até 1980, tanto em termos de aumento do tamanho do seu setor moderno (quase que dobrou nesse período) quanto em termos de sofisticação tecnológica. Essa trajetória se manteve nesses caminhos em ritmo acelerado e sustentado, indicando um processo de desenvolvimento virtuoso. Todavia, a partir de 1980, o país registra um ponto de inflexão em sua trajetória estrutural. Apesar de ainda ter visto aumentar o tamanho do seu setor moderno até o período recente (com exceção da década de 1990 quando o setor encolheu em cinco pontos percentuais), o grau de sofisticação tecnológica reduziu

bastante, indicando que o país ficou para trás (fall behind) no quesito tecnológico com uma elevação considerável da brecha em relação à fronteira mundial. Esse resultado se mostra ainda mais grave quando se identifica que tal gap se encontra maior do que era nos anos 1950.

Gráfico 4.2 – Trajetória estrutural anual do Brasil e da Argentina, 1950-2010

Nota: Ver gráfico anterior. Evolução anual do ponto verde (primeiro ano) ao ponto azul (último ano).

A trajetória da Argentina também não mostra um caminho consistente em direção à redução do gap tecnológico ou ao aumento do tamanho do setor moderno. Esse é um padrão persistente de todos os países da América Latina analisados130. Os países da América Latina, portanto, trilharam uma trajetória estrutural bastante volátil, conseguindo trilhar apenas durante breves momentos do tempo trajetórias virtuosas, mas não sendo capazes de sustentar o processo de catching-up ao longo de um período mais abrangente.

Os casos das economias asiáticas indicam um brutal contraste quanto a essas trajetórias estruturais. O Gráfico 4.3 expõe a trajetória da China (1952-2010) e da Coreia do Sul (1963-2010), dois casos impressionantes de modernização estrutural. No caso chinês, o processo de modernização pode ser dividido em três fases. Na primeira, dos anos 1950 até o início dos anos 1990, o país aumentou consideravelmente o tamanho do seu setor moderno (que quase triplicou), a partir de uma realocação da mão de obra vigorosa da agricultura para as atividades pertencentes ao setor moderno; entretanto, ao longo desses 40 anos, a sofisticação tecnológica não aumentou na mesma proporção. Na segunda fase, dos anos 1990 até o início da década de 2000 (ou seja, um período de cerca de 10 anos), a China registrou

130 Por economia de espaço, não se analisa cada país individualmente. Contudo, os resultados de todas as

um processo intenso de catching-up tecnológico, embora o tamanho do setor moderno tenha se mantido praticamente inalterado. Já na última fase, a partir do início dos anos 2000 até o último ano disponível, o país asiático registrou trajetória virtuosa nas duas dimensões analisadas.

Gráfico 4.3 – Trajetória estrutural da China (1952-2010) e da Coreia do Sul (1963-2010)

Nota: Ver gráfico anterior.

O caso de sucesso da Coreia do Sul é emblemático. A modernização estrutural da economia sul-coreana foi ainda mais dinâmica, virtuosa e acelerada do que a da China. Ela registrou uma elevação consistente em ambas as dimensões analisadas em praticamente todo o período, isto é, uma redução permanente do gap tecnológico em relação à fronteira mundial e aumento permanente do seu setor moderno (o qual dobrou de tamanho em trinta anos).

Por último, convém verificar a evolução ao longo tempo do índice de modernização estrutural das economias juntamente às suas rendas per capita com o intuito de apreender se uma trajetória estrutural virtuoso está relacionada a níveis mais elevados de desenvolvimento131. Isso pode ser observado no Gráfico 4.4. Nele foram inseridas linhas verticais que indicam as faixas de renda definidoras do nível de renda de um país: menos de U$ 2.250 o país é considerado como “renda baixa”; de U$ 2.250 a U$ 7.249 os países estão no grupo de “renda média-baixa”, entre U$ 7.250 e U$ 14.999, “renda média-alta” e acima de U$ 15.000, “renda alta”132

. Adicionalmente, foram inseridas linhas horizontais indicando o

131

Sabe-se da imperfeição de uma medida de renda per capita para avaliar se um país é desenvolvido ou não, na ampla concepção do termo.

132 Os valores estão em dólar internacional (PPP) a preços constantes de 2005, mesmo ano de referência para o

valor mínimo do índice de modernização estrutural que um país alcançou para conseguir mudar de um nível de renda para outro no trabalho de Lavopa e Szirmai (2014)133. Essas linhas foram inseridas para dar uma referência visual da evolução, estagnação ou regressão em termos da trajetória estrutural e da renda per capita das economias.

Gráfico 4.4 – Valores médios do PIB per capita e do índice de modernização estrutural nos anos iniciais e finais das economias

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados e da Penn World Table 8.1.

Notas: OMEGA = índice de modernização estrutural. PIB per capita a preços internacionais (U$ PPP) constantes de 2005. Linhas tracejadas horizontais e verticais em comum nos dois gráficos.

O referido gráfico apresenta valores médios dos cinco anos iniciais e cinco anos finais (ou seja, um período de cerca de três décadas entre eles) das duas variáveis em questão para o conjunto dos países analisados. A escolha dos anos se deu por serem os anos em comum para todos os 17 países. Apreende-se do referido gráfico que o IME é bastante correlacionado positivamente com a renda per capita. Ademais, observa-se uma clara polarização, no período final, de um grupo de países ricos e modernos e outro grupo de países relativamente menos ricos e modernos. Essa polarização não se mostrava bem definida no período inicial.

visto na revisão do Capítulo 2, a definição dos níveis de renda pode ser um tanto arbitrária. Contudo, como as faixas de renda per capita usadas pelo Banco Mundial (estimadas pelo método ‘Atlas’) são publicadas somente desde 1987 e os valores da base de dados de Lavopa e Szirmai (2014) iniciam no ano de 1950, os autores recalculam essas faixas para um período mais abrangente. Isso é feito de forma ad-hoc, experimentando diferentes faixas e verificando o número de coincidências obtidas ao longo desse período (os autores chegaram a 90% de coincidências na classificação dos países comparados à classificação original publicada pelo Banco Mundial).

133 Essas faixas servem aqui apenas como referência para se definir alguns limites para a visualização gráfica,

pois a metodologia não é exatamente a mesma que a utilizada no presente trabalho para calcular os índices. De qualquer forma, os níveis foram definidos pelos autores com base nos menores valores do índice de todos os países da base de dados de cada nível de renda ao longo do período 1950-2009. Os valores são: 0,016 (valor mínimo registrado na categoria média-baixa de renda), 0,05 (valor mínimo registrado na categoria média-alta de renda) e 0,13 (valor mínimo registrado na categoria de renda alta).

Enquanto Dinamarca, Holanda e França já se situavam na área mais elevada desde o período inicial e continuaram no período final, Reino Unido, Japão, Itália e Espanha se juntaram a esse grupo no período final através de uma redução do gap tecnológico, enquanto a Suécia se juntou a esse grupo pelo aumento de tamanho do seu setor moderno. O caso mais emblemático é o da Coreia do Sul, que se juntou a esse grupo no período final saindo de uma situação bastante desvantajosa, alterando radicalmente a sua estrutura produtiva e tecnológica ao longo dos anos. Por outro lado, o gráfico deixa claro o processo de falling behind das economias latino-americanas e da África do Sul, as quais ficaram presas em algum tipo de armadilha do desenvolvimento. Por seu turno, as demais economias asiáticas melhoraram suas situações produtivas e tecnológicas, embora não como a Coreia do Sul.

Já o Gráfico 4.5 expõe a evolução anual das variáveis individualmente para cada país. Os valores dos eixos deste gráfico são mantidos os mesmos para que a análise possa ser feita comparativamente. Agora, ficam ainda mais claros, os processos de catching-up (de conseguir atravessar o “teto de vidro” dos níveis de desenvolvimento) e de falling behind das economias (países que apresentaram uma situação de lock-in estrutural e não conseguiram se modernizar e alcançar níveis mais elevados de renda).

Gráfico 4.5 – Trajetória estrutural anual das economias e PIB per capita, diversos períodos entre 1950-2010

Fonte e Notas: ver gráfico anterior.

Os resultados dessa seção apresentam evidências tanto de processos virtuosos quanto de processos não eficazes sob o ponto de vista da transformação estrutural. Uma das dimensões condicionantes desses resultados é a capacidade que um país apresenta para

diminuir a brecha tecnológica em relação à economia líder. A próxima seção investiga mais profundamente essa dimensão imprescindível para o processo de desenvolvimento econômico de qualquer nação.