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O presente capítulo teve como objetivo sistematizar a vasta literatura referente ao papel da mudança estrutural, do progresso técnico e da produtividade para o processo de

desenvolvimento econômico. Ao proceder dessa forma, além de se consubstanciar como base teórica, revisão da literatura empírica para as investigações realizadas nos próximos capítulos e fio condutor da Tese como um todo, o capítulo também identificou e delimitou algumas lacunas que podem ser mais exploradas para contribuir com a literatura em questão.

A revisão de diversos trabalhos que buscam mensurar a contribuição da mudança estrutural para o crescimento da produtividade identificou diferentes métodos de cálculos utilizados nas decomposições. Na medida em que cada um deles apresenta vantagens e desvantagens, todos eles serão utilizados conjuntamente para balizar os exercícios realizados no Capítulo 3, dando maior solidez para a real contribuição da mudança estrutural para o crescimento da produtividade em diversos países ao longo do tempo. Em assim procedendo, além de investigar a importância relativa dos determinantes do crescimento da produtividade nesse tipo de decomposição, o capítulo também contribui em termos metodológicos, contrastando os resultados obtidos em cada uma das diferentes decomposições.

A revisão da literatura acerca do processo de desenvolvimento econômico do ponto de vista produtivo realizada ao longo do presente capítulo realçou a relevância da evolução dos

gaps tecnológicos e da construção e acúmulo de capacidades inovativas na conformação do

sucesso ou fracasso das economias em suas trajetórias de desenvolvimento. A partir da sistematização dos trabalhos empíricos realizada no presente capítulo, identificou-se que as decomposições do crescimento da produtividade voltam-se exclusivamente para as contribuições dos diferentes setores para os ganhos agregados de produtividade, não levando em consideração que tais contribuições também dependem das características tecnológicas de cada um desses setores e dos movimentos da fronteira produtiva mundial. Mesmo que uma economia esteja acumulando e desenvolvendo competências, o seu gap tecnológico em relação à fronteira pode estar ampliando caso ela esteja crescendo a um ritmo mais acelerado do que a referida economia. E essa distância pode diferir de setor para setor dentro da mesma economia. Nesse contexto, o Capítulo 4 trabalha para preencher essa lacuna, realizando uma decomposição da produtividade relativa à economia líder (proxy do gap tecnológico) com o intuito de identificar o papel dos diferentes setores na condução da mudança estrutural e dos processos de falling behind e de catching up ao longo dos anos. Adicionalmente, o capítulo também calcula um indicador que permite explorar a relação entre a modernização estrutural e as situações de armadilhas do crescimento realçadas na sistematização do presente capítulo.

Outro ponto identificado na sistematização da literatura guarda relação com as heterogeneidades produtivas existentes dentro de uma economia e o seu papel para a explicação do desempenho econômico agregado. Enquanto a literatura, em geral, trabalha

com o setor industrial como o principal motor do desenvolvimento, cada vez mais se compreende o potencial do setor de serviços para dinamizar a estrutural econômica das economias. Ao mesmo tempo, dentro de ambos os setores existem profundas heterogeneidades quanto à dinâmica produtiva, grau de oportunidades tecnológicas e ritmo de crescimento da produtividade, as quais escondem algumas fontes importantes para a dinâmica da produtividade e do catch-up produtivo e tecnológico. Os Capítulos 4, 5 e 6 abordam essas lacunas na literatura de maneiras diferentes. Assim como no Capítulo 4, as decomposições do crescimento da produtividade realizadas no Capítulo 5 trabalham com uma definição setorial diferente da comumente utilizada na literatura, identificando aquelas atividades (tanto da indústria quanto dos serviços) com maior potencial de dinamizar a economia como pertencentes ao setor moderno, em oposição ao setor tradicional. Em particular, o Capítulo 5 ainda aborda a contribuição de padrões de crescimento mais concentrados ou diversificados entre as atividades de uma mesma economia. Já o Capítulo 6 volta-se à investigação dos ganhos potenciais de produtividade tomando em consideração as dinâmicas das mudanças estruturais e das heterogeneidades produtivas.

3 MUDANÇA ESTRUTURAL E PRODUTIVIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO DE LONGO PRAZO

3.1 INTRODUÇÃO

O presente capítulo emprega técnicas de growth accounting para decompor o crescimento da produtividade agregada do trabalho da economia brasileira com o intuito de avaliar como se configurou o padrão de desenvolvimento da economia brasileira desde 1950 e como se conformou a heterogeneidade entre os setores produtivos. Para efeitos de comparação, o mesmo exercício é realizado para outros oito países relativamente semelhantes ao Brasil, pelo menos em algum momento do tempo (Argentina, Chile, México, África do Sul, Coreia do Sul, China, Índia e Indonésia)82. Tal análise comparativa pode indicar as razões pelas quais algumas economias não conseguem alcançar e sustentar um desenvolvimento sustentado em longo prazo, indicando a contribuição da mudança estrutural nesse processo.

Ao proceder dessa forma, intenta-se contribuir com algumas questões ainda não completamente exploradas na literatura. Normalmente, as decomposições do crescimento da produtividade do trabalho são feitas em um recorte regional (para contrastar o desempenho da Ásia, América Latina e África, por exemplo), mas são poucos os trabalhos que analisam comparativamente economias específicas.

Adicionalmente, esse trabalho estima e apresenta os resultados de quatro tipos diferentes de decomposições, e não apenas de uma em específico. Em fazendo isso, espera-se compreender de maneira mais profícua o papel dos componentes da decomposição do crescimento da produtividade, que são influenciados de acordo com o tipo de decomposição escolhida. Ademais, as decomposições estimadas no presente trabalho foram calculadas sucessivamente para cada ano disponível, e não apenas a partir de um ano inicial e outro ano final como é feito na grande maioria dos trabalhos. Dessa forma, estima-se de maneira mais precisa como os determinantes do crescimento da produtividade do trabalho a afetam ao longo de todo o ciclo econômico.

Outra contribuição do trabalho é a utilização de conversores setoriais específicos para cada país, levando em conta as diferenças de preços entre as economias em cada um dos

82 De forma complementar para efeitos de comparação, é feito o mesmo exercício para outras nove economias

avançadas que a base de dados permite (Dinamarca, Espanha, França, Reino Unido, Itália, Japão, Holanda, Suécia e Estados Unidos) e seus resultados reportados ao longo do Apêndice A.

setores em questão. Esse método garante maior consistência e realismo para se trabalhar com níveis de produtividade setoriais por país83. O trabalho também contribui para a literatura com uma análise temporal ampla (aquela permitida pela base de dados), na medida em que diversos estudos investigam o desempenho da produtividade do trabalho em períodos mais recentes ou mais curtos.

Para alcançar os objetivos propostos, o presente capítulo está estruturado da seguinte forma, além dessa Introdução: a seção 3.2 apresenta as diferentes metodologias para se decompor o crescimento da produtividade do trabalho, discutindo as vantagens e limitações de cada uma delas; a seção 3.3 explica a base de dados utilizada; a seção 3.4 expõe os dados gerais da evolução do produto, do emprego e da produtividade da economia brasileira; já a seção 3.5 exibe alguns dados comparativos da economia brasileira com as outras economias selecionadas para a avaliação; a seção 3.6 apresenta os resultados das decomposições empregadas; já a última seção remete-se às considerações finais do capítulo.