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4.2 METODOLOGIA

4.2.2 Decomposição do catch-up tecnológico

As decomposições realizadas no Capítulo 3 tratavam apenas dos determinantes do crescimento da produtividade em cada um dos países. O objetivo agora, contudo, reside em outra questão relevante para o processo de desenvolvimento econômico de uma nação: a sua capacidade de ser produtivo e inovativo para que fique o mais próximo possível da fronteira tecnológica (ou mesmo que a ultrapasse) para elevar seus ganhos econômicos e sociais. Dessa forma, pretende-se identificar e avaliar os casos de sucesso (catching-up) e fracasso (falling

behind) que ocorreram nas últimas seis décadas para dezessete países no que se refere à

questão tecnológica, contribuindo na compreensão de uma das forças fundamentais no processo de desenvolvimento econômico.

123 Logo, o índice também penaliza aqueles países com um amplo setor moderno, mas que é atrasado

tecnologicamente, bem como aqueles que apresentam um setor moderno extremamente produtivo, mas com uma participação muito pequena na economia.

124 Isso porque os pesos a serem dados a cada uma das dimensões são arbitrários e difíceis de definir pela

Como exposto no referido capítulo (e utilizando a mesma notação), a produtividade agregada pode ser entendida como a soma das produtividades setoriais ponderadas pelas suas respectivas participações no emprego total. A diferença agora reside que o foco está no estudo das atividades modernas da economia (subscrito MOD), e não mais em todas as suas atividades econômicas. Dessa forma, tem-se:

𝜌𝑀𝑂𝐷,𝑡= 𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑓 (4.8) 𝜌𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 = 𝑌𝑀𝑂𝐷,𝑡 𝑗 𝐿𝑗𝑀𝑂𝐷,𝑡= ∑ 𝑌𝑖 𝑖,𝑡𝑗 𝐿𝑗𝑀𝑂𝐷,𝑡= ∑ ( 𝑌𝑖,𝑡𝑗 𝐿𝑖,𝑡𝑗 𝐿𝑗𝑖,𝑡 𝐿𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 ) 𝑖 = ∑ 𝑃𝑖,𝑡𝑗 𝑖 𝑠𝑖,𝑡𝑗 (4.9)

Inserindo a equação 4.8 na equação 4.9 obtém-se:

𝜌𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑗 =∑ 𝑃𝑖,𝑡 𝑗 𝑖 𝑠𝑖,𝑡 𝑗 𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑓 = ∑ 𝑃𝑖,𝑡𝑗 𝑃𝑖,𝑡𝑓 𝑃𝑖,𝑡𝑓 𝑃𝑀𝑂𝐷,𝑡𝑓 𝑠𝑖,𝑡 𝑗 𝑖 = ∑ 𝑝𝑖,𝑡𝑗 𝑟𝑖,𝑡𝑓𝑠𝑖,𝑡𝑗 𝑖 (4.10)

Agora, um novo termo surge em relação às decomposições do capítulo anterior, 𝑟𝑖,𝑡𝑓, o qual refere-se à produtividade setorial da economia líder em relação à produtividade média do setor moderno dessa mesma economia. Assim, o termo pode ser entendido como uma proxy do nível de sofisticação tecnológica de uma atividade. Logo, se um país reduz o gap tecnológico nas atividades com 𝑟𝑖,𝑡𝑓 elevado, ele terá maiores benefícios em relação à reduzir a brecha tecnológica no agregado e os benefícios serão maiores quanto maior for o tamanho relativo dessa atividade no país em questão.

Derivando a equação no tempo e após algumas manipulações algébricas125 chega-se a:

∆𝜌𝑀𝑂𝐷= ∑ 𝑝𝑖,𝑡 𝑗 𝑟𝑖,𝑡𝑓𝑠𝑖,𝑡𝑗 𝑖 − ∑ 𝑝𝑖,𝑡−𝑘𝑗 𝑟𝑖,𝑡−𝑘𝑓 𝑠𝑖,𝑡−𝑘𝑗 𝑖 (4.11) ∆𝜌𝑀𝑂𝐷= ∑ 𝑠𝑖,𝑡−𝑘 𝑗 𝑟𝑖,𝑡𝑓∆𝑝𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑝𝑖,𝑡−𝑘𝑗 𝑟𝑖,𝑡𝑓∆𝑠𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑟𝑖,𝑡𝑓∆𝑝𝑖𝑗∆𝑠𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑝𝑖,𝑡−𝑘𝑗 𝑠𝑖,𝑡−𝑘𝑗 ∆𝑟𝑖𝑓 𝑖 (4.12)

Dessa forma, esse método de shift-share modificado decompõe as mudanças no gap tecnológico em quatro componentes. Os três primeiros correspondem, de certa forma, aos componentes das decomposições tradicionais do crescimento da produtividade

(‘intrassetorial’, ‘mudança estrutural estática’ e ‘mudança estrutural dinâmica’). Contudo, agora o foco recai no gap tecnológico em relação à economia líder. Em assim sendo, o primeiro dos componentes (‘catch-up intrassetorial’) captura a contribuição setorial para a redução (elevação) do gap agregado. Os dois próximos componentes (‘mudança estrutural

estática’ e ‘mudança estrutural dinâmica) resumem os efeitos da realocação do fator

trabalho: o primeiro captura as mudanças do fator trabalho em direção a setores com menor (maior) gap e que tendem a reduzir (aumentar) o gap agregado; já o segundocaptura o efeito das mudanças do fator trabalho que diminuíram (aumentaram) o gap durante o período e que tendem a reduzir (aumentar) o gap agregado. Por sua vez, o último componente (‘especialização inicial’) captura o efeito da estrutura setorial no momento inicial, dadas as mudanças que ocorreram na economia líder. Assim, uma especialização em setores que foram muito dinâmicos na economia líder propiciará (ceteris paribus) um bônus extra no que diz respeito à redução do gap agregado caso esses setores consigam, pelo menos, manter a mesma distância do líder que eles tinham no início do período126.

Por fim, ressalta-se que todos os três primeiros componentes são ponderados pela produtividade relativa setorial da economia líder no ano final (𝑟𝑖,𝑡𝑓), implicando que os componentes ‘mudança estrutural’ também capturam mudanças na qualidade dos setores de um país: o movimento da mão de obra para setores que apresentam baixa produtividade relativa na economia líder será penalizado, enquanto que tal movimento para setores que registram alta produtividade relativa na economia líder fornecerá um bônus extra na sua contribuição para a redução agregado do gap tecnológico.

Conforme indicado, as mudanças no gap tecnológico apresentadas na equação 4.12 são decompostas em componentes que apresentam, em seus três primeiros elementos, ponderações da produtividade setorial relativa na economia líder no período final (𝑟𝑖,𝑡𝑓). Contudo, tal decomposição pode ser estendida para evitar as referidas ponderações no ano 𝑡. Em assim procedendo, três componentes extras são adicionados à decomposição para capturar as mudanças na produtividade setorial relativa na fronteira (‘catch-up intrassetorial com

fronteira em movimento’) e as suas correspondentes interações com as alterações nos

componentes estrutural estático (‘mudança estrutural estática com fronteira em

movimento’) e dinâmico (‘mudança estrutural dinâmica com fronteira em movimento’).

Os sete termos da decomposição são apresentados na equação 4.13:

126 Razão pela qual o componente é ponderado pelo gap setorial inicial (𝑝 𝑖,𝑡−𝑘

𝑗

∆𝜌𝑀𝑂𝐷= ∑ 𝑝𝑖,𝑡−𝑘 𝑗 𝑠𝑖,𝑡−𝑘𝑖 ∆𝑟𝑖𝑢 𝑖 + ∑ 𝑝𝑖,𝑡−𝑘𝑗 𝑟𝑖,𝑡−𝑘𝑓 ∆𝑠𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑝𝑖,𝑡−𝑘𝑗 ∆𝑟𝑖𝑓∆𝑠𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑠𝑖,𝑡−𝑘𝑗 𝑟𝑖,𝑡−𝑘𝑓 ∆𝑝𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑠𝑖,𝑡−𝑘𝑗 ∆𝑟𝑖𝑓∆𝑝𝑖𝑗 𝑖 + ∑ 𝑟𝑖,𝑡−𝑘𝑓 ∆𝑝𝑖𝑗∆𝑠𝑖𝑗 𝑖 + ∑ ∆𝑟𝑖𝑓∆𝑝𝑖𝑗∆𝑠𝑖𝑗 𝑖 (4.13)

As decomposições são calculadas nos seus sete termos e dependendo do que se pretende mostrar – por questão de maior simplicidade visual (no caso de gráficos) ou simplicidade técnica (no caso das explicações) –, apresentadas em sua versão com quatro componentes127.

4.3 BASE DE DADOS

A base de dados utilizada nesse capítulo consiste na GGDC 10-Sectors Database, a qual foi apresentada no Capítulo 3. Contudo, diferentemente do capítulo anterior, valeu-se de todos os países da base e que apresentam dados de PPP setoriais na Productivity Level

Database (e não apenas o conjunto de nove países), totalizando 18 economias128. A Tabela 4.1 identifica os países para os quais se calculou o índice de modernização estrutural e se decompôs a taxa de crescimento do gap tecnológico.

Tabela 4.1 – Economias analisadas

Cód. País Região Cód. País Região

ARG Argentina

América Latina

DNK Dinamarca

Europa

BRA Brasil ESP Espanha

CHL Chile FRA França

MEX México NLD Holanda

CHN China

Ásia

ITA Itália

KOR Coreia do Sul GBR Reino Unido

IND Índia SWE Suécia

IDN Indonésia ZAF África do Sul África

JPN Japão USA Estados Unidos América do Norte

Nota: Os Estados Unidos foram tomados como referência para a fronteira tecnológica, não sendo analisado.

127 As somas dos efeitos da decomposição com sete termos são equivalentes à decomposição com quatro termos. 128 Apesar de a base contar com informações de mais economias, a análise se restringe às 18 por serem as que

dispõem de dados de PPPs setoriais na Productivity Level Database. Além disso, os demais países da base de dados são predominantemente economias (em geral, africanas) com um nível de renda atual muito menor do que o Brasil no início dos anos 1950. Como se pretende tirar lições ou verificar possíveis padrões de comportamento de países que obtiveram mais sucesso do que a economia brasileira em seus processos de desenvolvimento, não há prejuízos na corrente avaliação de um número mais restrito de economias.

Como o presente trabalho se foca em comparar o setor moderno das economias, sob o ponto de vista produtivo e tecnológico, a utilização de conversores setor-específicos se faz ainda mais necessária. Os procedimentos para o cálculo das produtividades setoriais de cada país são os mesmos apresentados na seção 3.3 do capítulo anterior.

Resta, agora, identificar como as atividades existentes na base de dados foram agrupadas em relação ao setor entendido como ‘moderno’. A partir da sistematização da literatura realizada no Capítulo 2, verifica-se que a indústria e os serviços tradables são aquelas atividades capazes de liderar e dinamizar a economia como um todo, dadas suas características intrínsecas129. Segundo Lavopa e Szirmai (2014), essas atividades podem ser consideradas modernas tanto a partir de um ponto de vista estático (tendem a apresentar níveis mais elevados de produtividade do que as demais atividades) quanto por uma perspectiva dinâmica (apresentam um maior potencial de modernização tecnológica e de ganhos de produtividade). A Tabela 4.2 identifica o tipo de cada uma das atividades disponíveis na base.

Tabela 4.2 – Classificação das atividades da GGDC 10-Sectors Database GGDC 10-Sector database

Tipo de atividade

Cód. ISIC Rev.3.1 Nome das atividades

A,B Agropecuária Tradicional

C Indústria extrativa Moderna

D Indústria de transformação Moderna

E Utilidades públicas Moderna

F Construção Moderna

G,H Serviços comerciais Tradicional

I Serviços de transporte Moderna

J,K Serviços empresariais Moderna

L,M,N,O,P Serviços governamentais e pessoais Tradicional

Fonte: Elaboração própria com base na sistematização da literatura realizada no Capítulo 2.

A análise da produtividade do setor moderno indicou que os Estados Unidos foram, em todos os anos, o país que exibiu o maior nível de produtividade (Gráfico B.1 do Apêndice B). Ademais, a escolha dessa economia como fronteira é consensual na literatura, sobretudo no período em questão. Portanto, ele foi definido como a fronteira tecnológica e tanto o índice de modernização estrutural quanto as decomposições são calculadas para 17 países em relação

129 Apesar de que determinadas subatividades poderiam ser alocadas em um grupo diferente da atividade a qual

pertence por conta de suas características específicas, a agregação da base de dados não permite fazer essa distinção. Por exemplo, uma subatividade da agropecuária, mesmo sendo altamente intensiva em tecnologia ou capital, será considerada como parte do setor tradicional da economia. Logo, o critério de definição da alocação das atividades em cada um dos dois grupos possíveis se deu com base nas características predominantes das atividades mais gerais. No Capítulo 5 utiliza-se uma base de dados mais desagregada que permite identificar com maior clareza o setor ao quais as atividades pertencem.

ao desempenho norte-americano. Ressalta-se que a lacuna temporal das informações abrange, em sua grande maioria, o período 1950-2010.