5. LUTA DE CLASSES E PRÁXIS SOCIAL: A ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA DURANTE A 1ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE
5.1 A 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (1ª CONSEG)
Realizada em 2009, a 1ª CONSEG foi apresentada pelo Governo Federal, sob a coordenação do Ministério da Justiça, como um instrumento de gestão democrática visando o fortalecimento do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), a partir do paradigma posto pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, que propõe unir ações de repressão com as de assistência sociais e de “promoção de cidadania”.
As políticas de segurança pública no Brasil tem como ponto de partida a Constituição Federal de 1988, que no Título V Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas traz os artigos 136 a 144 relacionados com a questão: Do Estado de Defesa e Do Estado de Sítio (Capítulo I); Das Forças Armadas (Capítulo II); Da Segurança Pública (Capítulo III).
O Artigo 144 (Da Segurança Pública; Capítulo III) apresenta o seguinte texto em nossa Carta Magna:
Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 1º – A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:
• (Caput com redação dada pelo art. 19 da Emenda Constitucional nº 19, de 4/6/1998.)
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
• (Inciso com redação dada pelo art. 19 da Emenda Constitucional nº 19, de 4/6/1998.)
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º – A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. • (Parágrafo com redação dada pelo art. 19 da Emenda Constitucional nº 19, de 4/6/1998.)
§ 3º – A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
• (Parágrafo com redação dada pelo art. 19 da Emenda Constitucional nº 19, de 4/6/1998.)
§ 4º – Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
§ 5º – Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§ 6º – As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 7º – A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º – Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º – A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39.
(Parágrafo acrescentado pelo art. 19 da Emenda Constitucional nº 19, de 4/6/1998).
Com o intuito de pactuar ações de segurança pública no território brasileiro, constituiu-se o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), lançado em 2003, que prevê a elaboração de uma política pública nacional, de maneira unificada, a partir da integração e articulação das ações do sistema de polícias (federal, estadual e municipal). De modo a fortalecer o SUSP, o Governo Federal lançou em 2007 o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) pela Medida Provisória no 384 de 20 de agosto de 2007, que foi convertida na Lei no 11530/2007 (publicada em 24/10/2007). Este Programa, segundo seus elementos formais e oficiais, tem como objetivos principais a articulação de políticas de segurança com ações sociais, buscando integrar a prevenção com ações repressivas, de modo a regulamentar o SUSP. Entre os seus eixos, o PRONASCI prevê “a valorização dos profissionais de segurança pública, a reestruturação do sistema penitenciário, o combate à corrupção policial e o envolvimento da comunidade na prevenção da violência” (MINISTÉRIO da Justiça – PRONASCI). Além disso, o Programa propõe-se também a fortalecer a cooperação entre os entes federados a partir de pactuações de interesses, metas e objetivos.
O PRONASCI age em áreas de maiores índices de violência, e tem como foco principal a proteção ao jovem, de modo a impedir o seu ingresso no mundo do crime, propiciando a ele sua formação na cultura de paz, e sua preparação para uma nova
inserção na sociedade. O Projeto para Jovens em Território Vulnerável – tem como objetivo sensibilizá-los para uma participação social ativa, resgatando sua auto-estima e convivência pacífica nas comunidades em que vivem. (MINISTÉRIO da Justiça - PRONASCI, 2010).
Nesse sentido e de acordo com as informações oficiais do Ministério da Justiça, o PRONASCI veio como uma possibilidade de repactuar um processo de construção e integração de uma política pública em segurança no âmbito nacional lançado pelo SUSP, ao mesmo tempo em que cumpriria o papel de fortalecer este Sistema Único.
Assim, a 1ª CONSEG caracteriza-se, de acordo com as manifestações do Ministério da Justiça, como uma forma de potencializar o SUSP a partir das diretrizes do PRONASCI e teve como metodologia uma série de etapas (municipais, regionais e estaduais) eletivas e preparatórias, como as conferências livres, a conferência virtual, os seminários temáticos e outras ações que possibilitaram também o envio de propostas para a etapa nacional (realizada de 27 a 30 de agosto de 2009 em Brasília).
O Ministério da Justiça lançou um texto-base para os debates, organizado em sete eixos temáticos que também eram orientadores das propostas que deveriam ser encaminhadas:
a) Eixo 1: Gestão democrática: controle social e externo, integração e federalismo
b) Eixo 2 : Financiamento e gestão da política pública de segurança
c) Eixo 3 : Valorização profissional e otimização das condições de trabalho d) Eixo 4: Repressão qualificada da criminalidade
e) Eixo 5: Prevenção social do crime e das violências e construção da cultura de paz
f) Eixo 6: Diretrizes para o Sistema Penitenciário
g) Eixo 7: Diretrizes para o Sistema de Prevenção, Atendimentos Emergenciais e Acidentes
A 1ª CONSEG veio, assim, como uma forma de proporcionar a participação social como está prevista pela Constituição Federal, na formulação de políticas públicas e no acompanhamento de sua implementação, seu monitoramento e avaliação. Ela teve como objetivos:
Objetivos geral: Definir princípios e diretrizes orientadores da política nacional de segurança pública, com participação da sociedade civil, trabalhadores e poder público como instrumento de gestão, visando efetivar a segurança como direito fundamental.
Objetivos específicos:
a) Fortalecer o conceito de segurança como direito humano; b) Definir as prioridades para a implementação da política nacional de segurança pública, conforme os eixos temáticos; c) Contribuir para o fortalecimento do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), tornando-o um ambiente de integração, cooperação e pactuação política entre as instituições e a sociedade civil, com base na solidariedade federativa;
d) Contribuir para a implementação do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) e para a valorização do conceito de segurança com cidadania entre os estados e municípios;
e) Promover, qualificar e consolidar a participação da sociedade civil, trabalhadores e poder público no ciclo de gestão das políticas públicas de segurança;
f) Fortalecer os eixos de valorização profissional e de garantia de direitos humanos como estratégicos para a política nacional de segurança pública;
g) Criar e estimular o compromisso e a responsabilidade para os demais órgãos do poder público e para a sociedade na efetivação da segurança com cidadania;
h) Deliberar sobre a estratégia de implementação, monitoramento e avaliação das resoluções da 1ª Conseg, bem como recomendar a incorporação dessas resoluções nas políticas públicas desenvolvidas pelos estados, municípios e outros poderes;
i) Valorizar e promover as redes sociais e institucionais articuladas em torno do tema da segurança pública, bem como as iniciativas de educação pela paz e não-violência (MINISTÉRIO da Justiça, 2009, p. 17).