• Nenhum resultado encontrado

A Práxis Social como Objeto de Estudo da Psicologia Social

4. EMANCIPAÇÃO POLÍTICA E EMANCIPAÇÃO HUMANA: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA SOCIAL DE MARX PARA A ANÁLISE DA

4.1 A Práxis Social como Objeto de Estudo da Psicologia Social

Para Marx: “[...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (1989, p. 26), ou seja, a consciência não é um fenômeno destacado das relações objetivas e das condições determinadas de existência dos indivíduos, não é um ente metafísico. Assim, o trabalho (ou práxis), para Marx, é o que define o ser humano, é sua essência humana – a qual é, em verdade, o conjunto das relações sociais; é essência social, prática e histórica.

Essa tese de Marx nos adverte, em primeiro lugar, que não é no indivíduo onde podemos encontrar a essência humana, mas sim nas relações sociais das quais ele mesmo é produto. O indivíduo à margem dessas relações é uma abstração, e a essência humana concebida como atributo individual é tão abstrata como ele. Não existe a essência do homem como atributo comum dos indivíduos simplesmente porque o indivíduo isolado não existe realmente. A essência universal e a natureza humana dos indivíduos só podem ser descobertas no conjunto de relações sociais que produzem tanto a natureza do homem social como do indivíduo (VÁZQUEZ, 2007, p.406).

O ser humano é, portanto, um ser da práxis, um ser que intervém na natureza ao mesmo tempo em que estabelece relações sociais e, neste processo, transforma-se a si mesmo. A maneira pela qual se dá este processo ativo de construção do mundo e de si mesmo como sujeitos históricos, traduz- se em dois movimentos básicos: apropriação e objetivação. Este conjunto de relações que fazem parte da práxis é a forma de ser, é o modo de ser, de existir e de se reproduzir do ser social, do ser especificamente humano, diferente de outros seres. Esta perspectiva ontológica na compreensão do Ser Social se contrapõe radicalmente às outras ontologias desenvolvidas até então, que propunham uma distinção e desarticulação entre a essência (para nós, a síntese das múltiplas determinações) e a existência (aspecto fenomênico da essência), como Sérgio Lessa esclarece no trecho a seguir:

Há, portanto, intrínsecas a toda processualidade, duas funções ontológicas articuladas e distintas: as determinações mais universais que perpassam todo o processo, e os momentos singulares que consubstanciam as mediações indispensáveis para que o processo se desenvolva de um estágio mais primitivo ao mais desenvolvido. Sem as determinações mais universais, o processo não teria continuidade, seria o mais absoluto caos. Sem os processos de singularização não haveria as mediações indispensáveis para que o processo possa passar de uma dada situação à outra. É isto que, segundo Lukács, diferenciaria essência e fenômeno para Marx: os elementos de continuidade consubstanciam a essência, e os elementos de singularização, a esfera fenomênica. Claro que, nesta determinação reflexiva, o fenômeno só pode vir a ser em sua relação com a essência, enquanto esta apenas pode se desenvolver pela mediação fenomênica: há aqui um há aqui uma constante interação entre as duas categoriais, de tal modo que:

a) diferente de todas as ontologias anteriores, o desenvolvimento dos fenômenos exerce uma influência real no desdobramento da essência que, no limite, poderá ser profundamente transformada pelo fenômeno. Pensemos, por exemplo, em um processo revolucionário;

b) ao contrário de todas as ontologias que o precederam, para Marx, a essência não se identifica imediata e diretamente com o universal (LESSA, 2001, p. 93-94).

Este modo de ser, especificamente humano, teve origem a partir do momento que este ser pôde criar um produto que antes não existia, ou seja, a partir do momento em que pôde realizar seu primeiro ato de liberdade, sua

primeira atividade prática intencionalmente planejada. Portanto, a práxis tem que produzir um produto objetivo, não se esgota apenas na capacidade teleológica, pois há que se ter a matéria existente para poder realizar essa projeção, isso na base primária da sociedade que é a produção material, da vida social. A ideia em Marx sobre o ser humano é que ele é “objetivo, sensível, natural e ativo”; assim, posto pela natureza, ele tem a peculiaridade de modificar essa mesma natureza por sua atividade, e desse modo se constitui como um processo de automediação. Nesse sentido, o ser humano precisa ter esse outro elemento para agir sobre ele, que é a natureza, e a partir daí responder as suas necessidades. Essas respostas vão criar novas perguntas, novas necessidades e novas possibilidades. Então o ser social é um ser em aberto, e o ser humano é, portanto, um ser da práxis; a práxis é o modo de ser deste ser social, e faz parte da práxis a prática histórica concreta, de transformação, de intervenção na realidade, de forma consciente.

Sabemos que a base ontológica do salto foi a transformação da adaptação passiva do organismo ao ambiente em uma adaptação ativa, com o que a sociabilidade surge como nova maneira de generidade e aos poucos supera, processualmente, seu caráter imediato puramente biológico. Também aqui é absolutamente necessário apontar, em termos ontológicos, para a coexistência ontológica das duas esferas. Uma coexistência semelhante em abstrato, mas, em determinações concretas, totalmente diferente, existe também no salto entre natureza inorgânica e orgânica. E na medida em que o ser humano, o qual em sua sociabilidade supera sua mera existência biológica, jamais pode deixar de ter uma base do ser biológica e se reproduz biologicamente, também jamais pode romper sua ligação com a esfera inorgânica. Neste duplo sentido, o ser humano jamais cessa de ser também ente natural. Mas de tal modo que o natural nele e em seu ambiente (socialmente) remodelado é cada vez mais fortemente dominado por determinações do ser social, enquanto as determinações biológicas podem ser apenas qualitativamente modificadas, mas nunca suprimidas de modo completo (LUKÀCS, 2010, p. 79-80). Destacamos, pois, um elemento fundamental para a nossa análise: a radicalidade necessária para produzir conhecimento de fato sobre a realidade social está calcada na centralidade ontológica da categoria trabalho para a constituição do ser social. Trabalho compreendido em sua dimensão concreta,

como atividade de transformação do real pelo ser humano e, dialeticamente, de construção de si e de seu mundo, enquanto elemento fundante do gênero humano, na medida em que engendra um salto ontológico que, ao satisfazer as suas necessidades por meio da atividade, retira a existência humana das determinações meramente biológicas.

Em sua existência material, os seres humanos, na busca pela satisfação das necessidades vitais, entram em relação com a natureza e com os outros humanos. É no bojo dessas relações e na produção e reprodução de sua vida material, ou seja, por meio da atividade vital denominada trabalho, que se constitui o salto ontológico que inaugura o terreno da teleologia (intencionalidade) e da liberdade.

A partir das contribuições de Lukács para a compreensão dos escritos marxianos (em sua grande obra Ontologia do Ser Social), o que caracteriza e determina a especificidade da atividade humana (em contraposição a outros animais), é o fato de ser uma atividade posta, ou seja, não é dada; ela é, pois, a configuração objetiva de um fim previamente ideado – pôr teleológico. O resultado final do trabalho é a causalidade posta (causalidade que foi posta em movimento pela mediação de um fim humanamente configurado).

Nicolas Tertulian, no texto Uma apresentação à Ontologia do Ser Social

de Lukács, afirma que a causalidade (maneira específica na qual os eventos se

relacionam e surgem) na natureza é espontânea, não-teleológica por definição, enquanto que na Sociedade, no mundo dos seres humanos, a causalidade é constituída por obra dos atos finalistas dos sujeitos. Isso significa que na Natureza não há que se pensar em liberdade; só os seres humanos podem ser livres. Devemos, pois, compreender a questão da liberdade humana dentro do marco marxiano como um elemento objetivo, pois se traduz na capacidade humana de criar alternativas e escolhas – a liberdade é, portanto, uma conquista ontológica do gênero humano.

Isto pode ser visto de imediato no fato ontológico fundante do ser social, o trabalho. Este, como Marx demonstrou, é um pôr teleológico conscientemente realizado, que, quando parte de fatos corretamente reconhecidos no sentido prático e os avalia corretamente, é capaz de trazer à vida processos causais, de

modificar processos, objetos etc. do ser que normalmente só funcionam espontaneamente, e transformar entes em objetividades que sequer existiam antes do trabalho [...] Portanto o trabalho introduz no ser a unitária inter-relação, dualisticamente fundada, entre teleologia e causalidade; antes de seu surgimento havia há natureza apenas processos causais. Em termos realmente ontológicos, tais complexos duplos só existem no trabalho e em suas consequências sociais, na práxis social. O modelo do pôr teleológico modificador da realidade torna-se, assim, fundamento ontológico de toda práxis social, isto é, humana (LUKÀCS, 2010, pp. 44-45).

A respeito da relação Ser Humano-Natureza, Marx nos coloca que:

O animal é imediatamente uno com sua atividade vital. Não se distingue dela. É ela. O homem faz de sua própria atividade vital objeto de sua vontade e de sua consciência. Tem atividade vital consciente. Não é uma determinação com a qual o homem se funda imediatamente. A atividade vital consciente distingue imediatamente o homem da atividade vital animal [...] O animal produz unicamente segundo a necessidade e a medida da espécie a que pertence, enquanto que o homem sabe produzir segundo a medida de qualquer espécie e sabe impor ao objeto a medida que lhe é inerente; por isto o homem cria também segundo as leis da beleza (MARX, 1989, pp. 110-112).

Enquanto que no animal a hereditariedade garante a transmissão dos conteúdos adaptativos e dos esquemas comportamentais necessários à sua sobrevivência, para o ser humano, é a partir da apropriação da natureza, já transformada pelo humano pela atividade objetivadora (pelo trabalho, pelo “pôr teleológico”), que ele se desenvolve objetivamente e que é produzido o chamado gênero humano. O gênero humano pode ser entendido como o corpo

inorgânico do ser humano e representa todas as aquisições e produções

historicamente acumuladas na história da humanidade.

É a partir da apropriação/objetivação do gênero humano que se pode superar a determinação unívoca da natureza e caminhar para uma genericidade humana. Assim, Marx também concebe a noção de sujeito enquanto ser genérico. O atributo 'genérico' tem aqui a função primordial de ligar cada indivíduo em particular ao seu gênero. É a dimensão do universal que deve realizar-se em cada ser humano, singularmente, desde que esse universal não seja concebido abstratamente, desencarnado e irreal.

Oliveira (2001) afirma que o indivíduo é um ser singular que se relaciona com o gênero humano, a universalidade, a partir da mediação da sociedade, das condições concretas de sua vida, o que pode ser denominado de particularidade. Dessa forma, é precisamente na particularidade que se desenvolve a relação entre singular-universal engendrada pelo processo de apropriação-objetivação característico da atividade vital humana, o trabalho.

Contudo,

Quando a relação singular-universal é considerada epistemologicamente somente do ponto de vista da relação entre o indivíduo e a sociedade, a emancipação do homem singular fica restrita somente ao que MARX chamou de mera emancipação política que está inerente à concepção de cidadão, à relação do indivíduo com o Estado, somente, e não a relação do indivíduo com o gênero humano. Nessa visão, o objetivo último da relação indivíduo-sociedade fica restrita ao processo de adaptação do indivíduo à sociedade, que, na concepção neoliberal de indivíduo e de sociedade, se tornou hoje a palavra de ordem (OLIVEIRA in ABRANTES; SILVA; MARTINS, 2001, p. 21).

Em nossa sociedade calcada a partir do modo produção capitalista, a apropriação das relações sociais objetivadas se dá sob a forma de uma apropriação espontânea, em-si. Com a naturalização tais relações, o ser humano pode passar a se submeter a elas, subjetivando-as e constituindo uma identificação espontânea com a situação dada. Assim, quando o produto sócio- histórico da evolução da humanidade (gênero humano) se destaca da evolução do indivíduo (ontogênese), está operando um processo de alheamento entre as produções históricas da humanidade e a vida particular dos indivíduos.

Segundo Marx (1989), o trabalho na sociedade capitalista desenvolve-se sob a forma de trabalho alienado. E essa alienação se dá sob dois aspectos: na relação do trabalhador com o produto de seu trabalho e no próprio ato da produção do trabalho. Assim, o trabalho, determinado historicamente, ao mesmo tem em que engendra a constituição da consciência, diferenciando os seres humanos dos outros animais, contraditoriamente, a partir da relação de expropriação posta pelo modo de produção capitalista, torna possível o

processo de alienação – o que significa um distanciamento entre a produção genérica e a apropriação social pelos indivíduos.

Distanciamo-nos, pois, de posicionamentos teóricos afeitos a análise que, ao focarem-se apenas na aparência do real, diluem o Trabalho em

Trabalho Abstrato, ou seja, consideram como categoria trabalho a atividade

humana social produtora de mais-valia. Tais posicionamentos, ao buscarem explicar as vicissitudes da sociabilidade contemporânea, equivocadamente consideram estes dois elementos como sinônimos e, assim, desconsideram a centralidade do Trabalho na análise do mundo contemporâneo, afirmando que, a partir da reestruturação produtiva do capital, fim do chamado bloco socialista, a crise sindical, entre outras, as categorias oriundas da produção marxiana e marxista já não podem explicar a sociedade atual.

Em relação à psicologia e ao estudo do desenvolvimento do psiquismo, baseado na abordagem materialista dialética da análise da história humana, Vigotski (1994) considera o desenvolvimento psicológico do ser humano singular como parte do desenvolvimento histórico geral da espécie. Diferente das ideias da abordagem naturalística - que considera que apenas a natureza afeta os seres humanos e somente as condições naturais são determinantes do desenvolvimento histórico – Vigotski afirma que o ser humano também influencia a natureza e cria, através das transformações que nela realiza, novas condições para sua existência.

Essa posição representa o elemento-chave de nossa abordagem do estudo e interpretação das funções psicológicas superiores do ser humano e serve como base dos novos métodos de experimentação e análise que defendemos (1984, p. 80).

Vigotski realiza uma análise sobre a crise da psicologia e identifica que, além dos sistemas teóricos terem adotado diferentes objetos de estudo, como o inconsciente, comportamento e o psíquico e suas propriedades, também trabalhavam com fatos diferentes, o que impossibilitava a criação de uma psicologia geral. Outra questão levantada por Vigotski, diz respeito às tentativas de formular metodologias sintéticas a partir da junção de conceitos e teorias de diferentes perspectivas, levando a formulação equivocada das

perguntas e a respostas desarticuladas da pergunta pela união de universos distintos. “Vygotsky não pretendia resolver todos os problemas da psicologia, mas sim formulá-los corretamente” (MOLON, 1999, p. 49).

Assim, a constituição da consciência se dá na vida concreta dos indivíduos, em sua cotidianidade – cotidiano aqui compreendido de acordo com os pressupostos da autora Agnes Heller (1991)53. A essência do cotidiano está na forma com que o indivíduo se relaciona com as suas ações, caracterizada pela contradição entre a reprodução no plano singular da particularidade em que o sujeito está inserido e a aproximação com o gênero humano e a universalidade.

A atividade prática humana, que modifica a natureza e, dialeticamente, modifica o próprio ser humano, é caracterizada por seu “[...] caráter real, objetivo, da matéria-prima sobre o qual se atua, dos meios ou instrumentos com que se exerce a ação e de seu resultado ou produto” (VÁZQUEZ, 2007, p. 225). Só é práxis se visa a um fim, se abarca o estatuto teleológico, se apontam inicialmente para um resultado ideado inicialmente. Eis a seara da construção de utopias, enquanto expressão de realizações humanas que ainda não estão materializadas nas entranhas da vida social, mas que vicejam como um objetivo a ser perseguido.

É preciso compreender que este domínio da conduta e a concepção de mundo construída nas e pelas relações entre os humanos estão imersos nas condições objetivas de existência, o que significa, no caso do foco da presente pesquisa, que são determinados também pelas contradições entre a constituição de uma ordem penal, de uma lógica de criminalização da “questão social” e o enfrentamento a essa realidade a partir da práxis militante.

De acordo com Vázquez, a práxis social pode também ser conceituada como práxis política:

53 Heller (2000) pontua que o pensamento e as atividades cotidianas formam uma unidade

indissolúvel e que a linguagem, neste contexto, tem a mera função de comunicação de eventos e não a de mediar as reflexões sobre as atividades realizadas. A autora também comenta que as características do pensamento cotidiano são: ultrageneralização entre as situações, decisões baseadas na probabilidade e pragmatismo e economia de reflexão. Nesse sentido, o cotidiano é o terreno da reprodução da vida, pautado pela fruição da particularidade e do distanciamento da relação com o universal, a partir da dialética entre teleologia e causalidade posta.

Essa atividade prática do homem oferece diversas modalidades. Dentro dela caem os diversos atos orientados para sua transformação como ser social e, por isso, destinados a mudar suas relações econômicas, políticas e sociais. Na medida em que sua atividade toma por objeto não um indivíduo isolado, mas sim grupos ou classes sociais e inclusive a sociedade inteira, pode ser denominada práxis social, ainda que em um sentido amplo toda prática (inclusive aquela que tem por objeto direto a natureza) se revista de um caráter social, já que o homem só pode levá-la a cabo contraindo determinadas relações sociais (relações de produção na práxis produtiva) e, além disso, porque a modificação prática do objeto não humanos se traduz, por sua vez, em uma transformação do homem como ser social. Em um sentido mais restrito, a práxis social é a atividade de grupos ou classes sociais que leva a transformar a organização e a direção da sociedade, ou a realizar certas mudanças mediante a atividade do Estado. Essa forma de práxis é justamente a atividade política (VÁZQUEZ, 2007, pp. 230-231).

Nesse sentido, na sociedade capitalista a práxis social deve ser compreendida a partir da luta de classes pelo poder de acordo com seus fins. Para o autor, a política se configura como práxis porque (a) as ações práticas da luta travada pelos sujeitos concretos se dão a partir de sua organização em grupos ou classes sociais, (b) a atividade política exige meios e formas práticas para se exercer a luta ideológica, como a luta política da classe trabalhadora que se dá a partir de movimentos de greve, manifestações etc. e (c) porque o que está em jogo é a conquista, conservação e o controle do Estado (VÁZQUEZ, 2007).

A práxis política pressupõe a participação de amplos setores da sociedade. Persegue determinados fins que correspondem aos interesses radicais das classes sociais, e em cada situação concreta a realização desses fins é condicionada pelas possibilidades objetivas inscritas na própria realidade. Uma política que corresponda a essas possibilidades e que exclua todo aventureirismo exige um conhecimento dessa realidade e da correlação de classes para não se proporem ações que desemboquem inexoravelmente em um fracasso [...] Para transformar o ideal em real, isto é, para realizar praticamente certa política, deve haver uma estratégia e uma tática. Estratégia e tática se relacionam dialeticamente dentro da linha política e de sua aplicação como o geral e o particular, o previsível e o imprevisível, o essencial e o fenomênico (Idem, pp. 231-232).

Assim, circunscrevemos a partir também dessas mediações teóricas nosso objeto de estudo do presente trabalho, ao compreender os elementos determinantes e constitutivos do processo de mobilização de atores sociais que envidam esforços na busca de garantias de direitos fundamentais e constitucionais em relação à população encarcerada ou que, de alguma forma, caracteriza-se pela situação de culpabilidade por vulnerabilidade a partir da expressão da práxis social.

Nesse sentido, há que se analisar quais as perspectivas da práxis social no enfrentamento ao Estado Democrático de Direito Penal, quais as pautas políticas postas pelo principal agente de mudança dessa realidade, ou seja, pelo proletariado, e em que medida essa atividade prática se aproxima (ou se efetiva) como uma práxis revolucionária, enquanto a forma mais elevada da atividade prática transformadora do ser social.

4.2 Apontamentos para uma Ontologia do Ser Social no Estado