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2. CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL E OS DESDOBRAMENTOS NAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA

2.1 Crise Estrutural do Capital e a Gestão da Miséria

A partir do exposto anteriormente, depreende-se a funcionalidade subsidiária que opera o processo de agigantamento do sistema penal e das políticas criminais, na medida em que também contribuem para a manutenção de condições cada vez mais precarizadas de ocupação voltadas aos trabalhadores pobres.

Colocando em pratos limpos, o trabalho assalariado de miséria deve ser elevado ao nível de um dever cívico (sobretudo reduzindo a possibilidade de subsistir fora do mercado de trabalho desqualificado), sem o que não encontrará quem o aceite. [Lawrence] Mead tem o mérito de ver e fazer ver que a generalização do trabalho precário – que alguns apresentam como uma “necessidade econômica”, decerto lamentável em alguns aspectos, mas ideologicamente neutra e, em todo caso, materialmente inelutável – repousa na verdade sobre o uso direto da coação política e participa de um projeto de classe. Esse projeto requer não a destruição do Estado como tal, para substituí-lo por uma espécie de Éden liberal do mercado universal, mas a substituição de um Estado-providência “materialista” por um Estado punitivo “paternalista”, único capaz de impor o trabalho assalariado dessocializado como norma societal e base da nova ordem polarizada de classes (WACQUANT, 2001, p. 44).

E esta funcionalidade subsidiária do sistema penal alastra-se mundialmente (não apenas nos países subdesenvolvidos). Assim, para compreendermos os determinantes do processo de constituição de um gigantesco parque penitenciário em escala mundial, é fundamental destacar que o desemprego estrutural, bem como o processo de “degradação do trabalho” (ANTUNES, 2008), não estão restritos à periferia do capitalismo:

Atingimos uma fase do desenvolvimento histórico do sistema capitalista em que o desemprego é a sua característica dominante. Nessa nova configuração, o sistema capitalista é constituído por uma rede fechada de inter-relações e de interdeterminações por meio da qual agora é impossível encontrar paliativos e soluções parciais ao desemprego em áreas limitadas, em agudo contraste com o período

desenvolvimentista do pós-guerra, em que políticos liberais de alguns países privilegiados afirmavam a possibilidade do pleno emprego em uma sociedade livre (MÉSZÀROS, 2006, p. 31). Portanto, a miséria desterritorializada segue pari passu com a autorreprodução destrutiva da transnacionalização do capital e os bolsões de

subdesenvolvimento, tendencialmente, seguem disseminando-se pelo mundo.

Como já dissemos, isso não significa que atualmente há uma distribuição igualitária de miséria, pois ela continua mais acirrada nos países de capitalismo periférico, assim como a desigualdade social é ainda mais expressiva no interior destes países18. Contudo, cabe destacar que a miséria está presente também nos países de capitalismo avançado, configurando uma nova contradição cuja tendência é a relativização da contraposição centro X periferia do capital, e, como consequência mais notória, da contraposição cidade X

campo, na medida em que a vida urbana apresenta-se como síntese da

desigualdade. Um dos autores que nos ajudam a compreender esse fenômeno é Mike Davis, urbanista estadunidense que ao tratar do processo de

favelização do planeta, nos ensina que:

As favelas, apesar de serem funestas e inseguras, têm um esplêndido futuro. Por um breve período o campo ainda conterá a maioria dos pobres do mundo, mas essa honraria às avessas será transmitida para as favelas urbanas por volta de 2035. Pelo menos metade da próxima explosão populacional urbana do Terceiro Mundo será creditada às comunidades informais. Dois bilhões de favelados em 2030 ou 2040 é uma possibilidade monstruosa, quase inconcebível, mas a pobreza humana por si só superpõe-se às favelas e excede-as. Os pesquisadores do projeto Observatório Urbano da ONU advertem que, em 2020, “a pobreza urbana do mundo chegará a 45% ou 50% do total de moradores das cidades” (DAVIS, 2006, p. 155).

18 Um exemplo é que, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD/2011),o Brasil ocupa a 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os 187 países pesquisados. Ainda que tenha evoluído alguns percentuais em relação ao ano passado, subindo uma posição no ranking, em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHA), o Brasil despenca para 0,5019 (desvalorização de 27,7%) quando são considerados os indicadores que medem a desigualdade social. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2011/download/pt/ . Acesso em: 20/07/2012.

Um exemplo desta contradição foi o que ocorreu após uma das expressões da crise estrutural do capital (gerada no interior do movimento especulativo do capital financeiro), na qual os trabalhadores dos EUA conheceram uma precarização ainda mais contundente em suas condições de vida. Em 30/09/2008, em matéria publicada pela Folha de São Paulo, temos um retrato dessa história: estadunidenses que não conseguiram cumprir com os pagamentos da hipoteca de suas residências vão morar em seus carros e, ao final do dia, direcionam-se com seus automóveis para locais específicos chamados de “estacionamentos-dormitórios”. De acordo com a matéria, uma das entrevistadas, a assistente social Nancy Kapp, que também já esteve em situação de rua, afirma que: “[...] há uma lista de espera para espaço nestes estacionamentos e que ela recebe cada vez mais ligações de pessoas que estão para perder suas casas.” 19

Outra ponta desta realidade e que circunscreve as contradições do território urbano em sua expressão do acirramento da autorreprodução destrutiva do capital são os processos de revitalização dos centros urbanos, conhecidos pelo neologismo gentrificação e que devem ser analisados sob esta perspectiva do avanço da exploração da classe trabalhadora, com a consequente precarização das suas condições de vida.

O termo gentrificação surge com Ruth Glass, socióloga britânica que, em meados dos anos 1960, desenvolveu estudos sobre bairros operários na Inglaterra, observando uma mudança paulatina dos moradores com a entrada de pessoas com maior poder aquisitivo, promovendo um “[...] ‘aburguesamento’ da área em questão, ou seja, alguns bairros operários são ocupados por parte das classes médias” (ALVES, 2011, p. 111). Contudo, foi Neil Smith, ao analisar os processos de enobrecimento urbano em alguns bairros de Nova Iorque nos anos 1990 (em plena gestão da doutrina da Tolerância Zero) que aprofundou e reposicionou o termo gentrificação a partir da reflexão sobre processos de higienismo social como tendência mundial disseminada a partir

19 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u450436.shtml . Acessado em

das políticas sobre os espaços urbanos desde os Estados Unidos da América. Para este autor:

[…] gentrification means different things to different people, the Real Estate Board conceded, but “In simple terms, gentrification is the upgrading of housing and retail businesses in a neighborhood with an influx generally of private investment.” It is a contributor to the diversity, the great mosaic of the city, the advert suggested; “neighborhoods and lives blossom.” If a modicum of displacement inevitably results from a neighborhood’s private market “rehabilitation,” suggests the Board, “We believe” that it “must be dealt with public policies that promote low- and moderate-income housing construction and rehabilitation, and in zoning revisions that permit retail uses in less expensive, side street locations.” It concludes: “We also believe that New York’s best hope lies with families, businesses and lending institutions willing to commit themselves for the long haul to neighborhoods that need them. That’s gentrification.” (SMITH, 1996, p. 28)20 .

Contudo, é importante ressaltar que este não é, pois, um fenômeno que a sociedade capitalista conheceu apenas recentemente: a desocupação forçada das áreas urbanas pela população pobre ali residente é expediente utilizado pelo Estado burguês desde sua constituição. No livro The New Urban

Frontier: Gentrification And The Revanchist City, Smith (1996) coerentemente

apresenta uma breve história desses processos de gentrificação citando, inclusive, Engels ao discutir a urbanização da Grã-Bretanha no século XIX.

No livro Para a questão da habitação, que reúne artigos escritos por Engels nos anos de 1872 e 1873 (publicados no Jornal Volksstaat), há a menção ao termo “Haussman”, que significava o processo pelo qual a burguesia buscava resolver o problema da habitação sob a égide do capital.

20 Tradução livre: Gentrificação significa coisas diferentes para pessoas diferentes, o Real

Estate Board admitiu: "Em termos simples, a gentrificação é a modernização das empresas de

habitação e de varejo em um bairro com um fluxo geral do investimento privado." É uma contribuição para a diversidade, um grande mosaico da cidade, o anúncio sugere: "vizinhança saudável". Se um mínimo de deslocamento inevitavelmente resulta de um bairro privado do mercado de "reabilitação", sugere o Conselho de Administração, "Nós acreditamos" que "deve ser tratada com políticas públicas que promovam a construção de moradias de baixa e média renda e de reabilitação, e revisões no zoneamento que permitam um barateamento do valor de varejo". E conclui: "acreditamos também que a melhor esperança de Nova York está com as famílias, empresas e instituições financeiras dispostas a comprometer-se a longo prazo com os bairros que precisam deles. Isso é gentrificação". (SMITH, 1996, p. 28)

Por «Haussmann» entendo não apenas a maneira especificamente bonapartista do Haussmann parisiense de abrir ruas compridas, direitas e largas pelo meio dos apertados bairros operários e de guarnecê-las de ambos os lados com grandes edifícios de luxo, com o que se pretendia não só atingir a finalidade estratégica de dificultar a luta nas barricadas, mas também formar um proletariado da construção civil especificamente bonapartista e dependente do governo e transformar a cidade numa pura cidade de luxo. Por «Haussmann» entendo também a prática generalizada de abrir brechas nos bairros operários, especialmente nos de localização central nas nossas grandes cidades, quer essa prática seja seguida por considerações de saúde pública e de embelezamento ou devido à procura de grandes áreas comerciais centralmente localizadas ou por necessidades do trânsito, tais como vias-férreas, ruas, etc. O resultado é em toda a parte o mesmo, por mais diverso que seja o pretexto: as vielas e becos mais escandalosos desaparecem ante a grande autoglorificação da burguesia por esse êxito imediato (ENGELS, 1873, p. 41).

Este processo de expulsão dos pobres de determinados territórios urbanos, notadamente aqueles em que a especulação imobiliária busca alcançar, tem-se tornado uma tendência mundial nas políticas de urbanidade e revela-se, de outro ponto de vista, também como um mecanismo de controle abrangente voltado para a classe trabalhadora precarizada. Glória da Anunciação Alves, professora do Departamento de Geografia da Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

(FFLCH/USP), em um artigo que discute o processo de revitalização da região central do município de São Paulo a partir Operação Urbana Nova Luz, adverte-nos que:

Com o discurso da requalificação, da limpeza da área dos perigos presentes (especialmente representados pela presença dos usuários de drogas, mendigos, sem teto e população de baixa renda que vive nos cortiços), o poder público, associado à iniciativa privada, consegue, por meio da mídia, apoio de boa parte da população paulistana que desconhece os protestos e a vida existente na localidade. Afinal, os “suspeitos” de atos de violência em geral são trabalhadores do setor formal e informal que trajam roupas simples, com fisionomia muitas vezes cansada (ALVES, 2011, p. 115).

No caso da cidade de São Paulo, desde 2002 com a aprovação do Plano Diretor, a especulação imobiliária (que em verdade atende a interesses da indústria da construção civil) ganha status de política pública a partir da realização das chamadas “concessões urbanísticas” que, na prática, significam a autorização para terceirizar bairros inteiros, entregando-os à iniciativa privada. A partir da Lei no 14.917 de 07/05/2009, o município de São Paulo dispõe as formas pelas quais esta privatização dos territórios urbanos poderá ocorrer. De acordo com esta lei:

Art. 1º A concessão urbanística constitui instrumento de intervenção urbana estrutural destinado à realização de urbanização ou de reurbanização de parte do território municipal a ser objeto de requalificação da infra-estrutura urbana e de reordenamento do espaço urbano com base em projeto urbanístico específico em área de operação urbana ou área de intervenção urbana para atendimento de objetivos, diretrizes e prioridades estabelecidas na lei do plano diretor estratégico.21 Tais reordenamentos e reurbanizações se darão por meio de abertura de licitação para que as empresas interessadas possam se inscrever e, assim, disputar um dos meios que ainda resiste no contexto de crise estrutural do capital. De acordo com esta lei, a prefeitura poderá transferir à iniciativa privada o direito de desapropriar imóveis para a construção destes novos bairros revitalizados.

Os episódios que ocorreram a partir de 02/01/2012 na região do centro de São Paulo, bairro da Luz, como já foi mencionado anteriormente, são exemplos desta relação do Estado com a população vulnerável, sob a tutela de uma ação penal totalitária e higienista, travestida de políticas sociais e de segurança pública a serviço dos interesses privados e da especulação imobiliária.

Haussmann, gentrificação, revitalização, reurbanização... Os processos

de limpeza urbana seguem, assim, imprimindo a tônica das políticas sociais

21 Lei nº 14.917, de 7 de maio de 2009 (DISPÕE SOBRE A CONCESSÃO URBANÍSTICA NO

MUNICÍPIO DE SÃO PAULO). Disponível em:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/index.ph p?p=821. Acesso em: 20/07/2012.

compensatórias e das ações militarizadas voltadas à população em situação de vulnerabilidade social. Em reportagem publicada em 20/01/2012 pelo jornal O

Estado de S. Paulo22, um dos resultados desta ação intencionada: em apenas duas semanas de ação na região da Luz (centro de São Paulo), aumentou em mais de 1.000% o número de prisões na região, sendo que os usuários e os chamados pequenos traficantes foram os mais penalizados. É, mais uma vez, o

braço forte do Estado Democrático de Direito chegando até a população

expropriada pelo capital.

Wacquant (2001) comenta sobre o artifício da guerra contra as drogas, que em verdade significa declarada guerra contra os pobres no trecho a seguir:

De Oslo a Bilbao e de Nápoles a Nottingham, passando por Madri, Marselha e Munique, a parcela dos toxicômanos e vendedores de droga na população reclusa conheceu um aumento espetacular, paralelo, sem ser da mesma escala, ao observado nos Estados Unidos. Por toda a Europa, a política de luta contra a droga serve de biombo para “uma guerra contra os componentes da população percebidos como os menos úteis e potencialmente mais perigosos”, “sem-empregos”, “sem-teto”, “sem-documento”, mendigos, vagabundos e outros marginais. Na França, o número de condenações por posse ou tráfico de drogas explode de 4.000 em 1984 para cerca de 24.000 em 1994 e a duração das penas infligidas por esse motivo dobra no período (de 9 para 20 meses em média). Resultado: a proporção dos prisioneiros “caídos” por uma causa “estúpida” passa de 14% em 1988 (primeiro ano para o qual foi computada separadamente) para 21% apenas quatro anos mais tarde (data a partir da qual supera a dos condenados por furto). Esse índice é cerca de um terço maior na Itália, Espanha e Portugal, estabelecendo-se em torno de 15% na Alemanha, Reino Unido e Holanda, onde o crescimento do parque penitenciário durante a última década serviu quase que exclusivamente para absorver os “tóxicos” (p. 113-114).

No Brasil, a atual Lei Federal 13.343/2006, que regula uma revisionada política de drogas, introduz a noção de que o usuário deve receber tratamento e atenção à sua saúde, retirando-o, ao menos do ponto de vista do registro da legislação, do rol dos criminalizados por porte de drogas. Contudo, a tipificação

22 Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,cracolandia-tem-em-14-dias-total-

penal tráfico de drogas conheceu um aumento extraordinário: a partir de 2006, ultrapassou o roubo qualificado como o tipo penal mais comum das prisões.

De acordo com uma matéria publicada na Revista Época em 30/04/201123, após cinco anos da promulgação desta lei as prisões por tráfico de drogas aumentaram consideravelmente:

[...] um estudo feito por Pedro Abramovay, professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e Carolina Haber, professora de Direito Penal da Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ), mostrou que, de 2007 a 2010, o número de

presos por tráfico aumentou 62% – de 65.494 pessoas para 106.491.

As operações militares nas favelas urbanas tem sido outra característica dessa realidade, a partir da configuração de espaços geográficos em que se materializa uma contínua guerra de baixa intensidade voltada aos segmentos pobres dos setores urbanos. Tal estratégia segue parâmetros definidos pela doutrina do Pentágono para intervir em situações consideradas conflituosas em outros países, como por exemplo, as ações dos EUA em países da América Central (El Salvador e Guatemala) durante o governo Reagan.

Em um influente artigo intitulado “Geopolitics an Urban Armed Conflict in Latin America”, escrito em meados da década de 1990, Geoffrey Demarest, importante pesquisador de Fort Leavenworth, propôs um estranho elenco de “atores anti- Estado”, como “anarquistas psicopatas”, criminosos, oportunistas cínicos, lunáticos, revolucionários, líderes trabalhistas, nativos étnicos e especuladores imobiliários. No fim, contudo, acabou ficando com os “despossuídos” em geral e o “crime organizado” em particular. (...) Mas os projetistas da guerra não recuam. Com o sangue-frio da lucidez, afirmam hoje que as “cidades fracassadas e ferozes” do Terceiro Mundo, principalmente os seus arredores favelados, serão o campo de batalha que distinguirá o século XXI. A doutrina do Pentágono está sendo reconfigurada nessa linha para sustentar uma guerra mundial de baixa intensidade e duração ilimitada contra segmentos

23

“Droga e encarceramento no Brasil: uma lei que pegou demais”. Revista Época, edição de 30 de Abril de 2011, Caderno Sociedade.

criminalizados dos pobres urbanos. Esse é o verdadeiro “choque de civilizações” (DAVIS, 2006, p. 204 e 205).24

Nesse sentido, corroboramos com Davis (2006) na medida em que compreendemos que a guerra de baixa intensidade voltada à classe trabalhadora precarizada (não somente voltada ao lumpesinato) não é fundada num choque de diversidade cultural e étnica, mas constitui também um dos elementos da expressão atual barbárie a partir da crise estrutural do capital.

Ainda sobre este tema, no caso do Brasil, é emblemático o programa de

pacificação das favelas com a constituição das Unidades de Polícia Pacificadora que vem com a proposta de recuperar territórios degradados a

partir de uma aproximação entre a população e a polícia. Em 20 de novembro de 2008, a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi instalada no Rio de Janeiro, na Favela Santa Marta e desde então, mais unidades foram implantadas.

Em matéria publicada em 27/06/2012 no jornal O Estado de São Paulo, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, afirmou que: “somando as 25 UPPs, são de 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas beneficiadas. Ganham não

24Davis expressa, neste trecho, suas críticas à concepção de Huntington (1993) a respeito da

dinâmica da geopolítica mundial pós-guerra fria. Samuel P. Huntington publicou o artigo chamado The clash of civilizations? (O choque das civilizações?) na revista Foreign Affairs em 1993, mobilizado pelo anúncio do fim da história de Fukuyama. O fim da História, publicado em 1989 por Francis Fukuyama, resgata uma teoria iniciada no século XIX por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a qual sustenta o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança. No caso, para Fukuyama, o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade. Depreende-se das considerações de Huntington, ao basear-se na compreensão do fim da história, que a luta de classes não ocupa mais a centralidade na compreensão das relações econômico-políticas do mundo, pois o que está em jogo é a relação e o desenvolvimento das civilizações. Segundo o autor:

Minha hipótese é de que a fonte fundamental de conflito nesse novo mundo não será essencialmente ideológica ou econômica. As grandes divisões na humanidade e a fonte dominante de conflito serão culturais. Estados-nação continuarão a ser os atores mais poderosos nos assuntos mundiais, mas os principais conflitos da política global ocorrerão entre nações e grupos de diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global. As frágeis linhas tênues entre as civilizações serão as linhas de batalha do futuro. (HUNTINGTON, 1993, p. 22). [Tradução livre]

somente os moradores das comunidades, mas também bairros vizinhos com a pacificação”.25

Em relação aos bairros vizinhos, vale ressaltar que as favelas então

pacificadas já produzem efeitos promissores. Em matéria publicada em

16/03/2001 no Caderno Mercado da Folha de São Paulo, temos que:

Imóveis em bairros da zona norte que receberam UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) em 2010 tiveram forte valorização, segundo levantamento do Secovi Rio (Sindicato da