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5. LUTA DE CLASSES E PRÁXIS SOCIAL: A ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA DURANTE A 1ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE

5.2. A Análise de um Percurso: Práxis Social em Perspectiva

Michael Löwy (1994) ao discutir sobre a produção de conhecimento a partir do critério epistemológico de máxima fidedignidade ao objeto, ou seja, a partir dos pressupostos do materialismo histórico-dialético, afirma que há uma relativa autonomia das ciências sociais e, consequentemente, das ciências humanas em geral, nesse processo. Para o autor, “[...] a partir do ponto de vista de classe e a partir de uma das visões sociais de mundo que lhe corresponde”, podemos nos colocar diante da metáfora topológica do “mirante”: o que significa que devemos nos posicionar, de antemão, neste mirante ou

observatório que nos proporciona a visão mais ampla da totalidade. Nessa

perspectiva, não há produção de conhecimento que não parta de um lugar determinado, de um observatório ou mirante já previamente estabelecido pelo pesquisador.

Para Löwy (1994), esta metáfora topológica configura um conceito de “superioridade epistemológica do ponto de vista proletário”, na medida em que

[...] não se trata de uma distinção entre “verdade” e “erro” (ou “ciência” e “ideologia”), mas entre horizontes científicos mais ou menos vastos, entre limites mais estreitos ou mais amplos da paisagem cognitiva percebida. No interior dos limites impostos

por sua ideologia de classe, Ricardo, A. Smith ou Sismondi são

perfeitamente capazes de produzir conhecimentos científicos do maior valor (p. 212).

A partir dessa crítica sobre a neutralidade na produção de conhecimento com a qual concordamos, que também é uma crítica contra o relativismo e ceticismo na produção científica, há que se problematizar sobre a metodologia capaz de configurar e analisar os processos de apreensão do movimento do real em sua multideterminação. Nesse sentido e com a finalidade de analisar a práxis social diante de um Estado Democrático de Direito Penal, realizamos um estudo de caso a partir da análise de uma sistematização sobre a trajetória do

Grupo de Trabalho Segurança Pública, Justiça e Cidadania (GTSPJC), que

Sociedade Civil para a participação organizada na 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (1ª CONSEG). Este GTSPJC, formado em 2008, produziu

alguns manifestos, organizou conferências livres, foi representado e participou de conferências livres organizadas por outros coletivos e apresentou propostas para a Conferência.

Embora o corpus de nossa análise não seja a vivência singular da autora neste processo e, nesse sentido, não será preciso discorrer sobre as questões éticas e metodológicas que se desdobrariam desta possível escolha de foco, é fundamental mencionar que participei ativamente deste grupo e que esta condição possibilitou a apreensão do movimento da práxis social do mesmo, em suas contradições e peculiaridades – elemento que favoreceu o desenvolvimento inicial do problema de pesquisa em questão. Além disso, cabe registrar que consideramos que essa condição de pesquisadora- participante do grupo não é fator impeditivo para a produção de conhecimento, não havendo, assim, impossibilidades procedimentais e metodológicas nesse contexto, pois partimos da posição de que não há neutralidade na ciência e, assim, concordamos com Löwy (1994) em relação à sua metáfora topológica na produção de conhecimento. Há, portanto, declaradamente uma opção metodológica neste trabalho, que é a de produzir reflexões que possam contribuir efetivamente para a leitura crítica da realidade, de modo a retroalimentar os coletivos organizados na práxis social de enfrentamento ao Estado Democrático de Direito Penal.

A elaboração da sistematização das ações do GTSPJC realizou-se a partir de um momento descritivo, de ordenamento, reconstrução histórica do que se passou e de um momento de interpretação crítica sobre a práxis social realizada a partir das expressões dos posicionamentos e propostas encontrados em documentos públicos.

As fontes para a elaboração deste primeiro momento, o da descrição e

ordenamento da experiência do GTSPJC, foram compostas pelos seguintes

conferência, de organização para as Conferências Municipal e Estadual e de participação na 1ª CONSEG54.

ETAPA AÇÕES DOCUMENTOS

1ª. Etapa

 Divulgação da 1ª. CONSEG;  Formação do GT Segurança Pública/SP (2008).

 Ata do seminário com MJ GTs Temáticos 29/8/08;

 Ata GT 19/9/08;

 Avaliação do Seminário sobre Segurança Pública;

 Ata Seminário Nacional Seg. Pub.;  Memória de reunião 29/8/08.

2ª. Etapa

 Articulação entre entidades e movimentos sociais no GT Segurança Pública/SP para interferir na proposta da 1ª. CONSEG (2008).

E-mail: Convite reunião GT Segurança Publica, Justiça e Cidadania (10 de outubro);

E-mail: Manifesto sobre a participação da Sociedade Civil - Manifesto CNSP;

Documento WORD “Memria GT 021208” (memória da Reunião de 02/12/08).

3ª. Etapa

 Ações do GT Segurança Pública/ SP – reuniões e Seminário sobre Segurança Pública (2008).

E-mail: I Seminário Estadual "Segurança Pública, Justiça e Cidadania";  E-mail: memória da última reunião do GT Segurança Pública + documento WORD “Reunião GT Segurança Pública 13fev09”.

4ª. Etapa

 Ações do GT Segurança Pública/ SP voltadas à participação qualificada da Sociedade Civil na 1ª. CONSEG – organização de conferências livres, propostas e diretrizes para a Segurança Pública (2009).

 Documento WORD “Reunião GT Segurança Pública 13fev09” (memória da 1ª. reunião do GT em 2009);

 Email: convite para a 2ª. reunião do GT em 2009 - GT “Segurança Pública-Justiça e Cidadania/SP”;

 E-mail: convite para seminário do GT no Centro Pastoral Belém;

 Documento WORD “Propostas CONFERENCIA LIVRE - GT Segurança publica”, realizada em 21/03/2009;

 E-mail: convite para próxima reunião do GT (para 22 de Maio; Horário: 16h; Local: Condepe);

 E-mail: convite para reunião do GT para 05/06/09 (para avaliar a Conferência Municipal);

 E-mail: (de 28/06/09) com a informação de que em 19/06/09 houve reunião para definir propostas e diretrizes do GT para a conferência livre (conforme documento abaixo);

 Documento WORD “Propostas

54 Os e-mails e documentos estão divulgados em uma lista pública e, portanto, são de domínio

Populares-CONSEG 150609”;  Documento WORD “relatorioConfLivreGTSPJC_versaoCONSEG” realizada em 03/07/2009. 5ª. Etapa  Participação do GT Segurança Pública SP nas etapas eletivas municipais, regionais, estaduais e nacional – representantes eleitos, propostas encaminhadas nessas etapas, elaboração de carta da Sociedade Civil para a etapa nacional (2009).

 Documento em PPT “Texto-Base1+”;  E-mail: texto da Rede Contra Violência “Direitos Humanos, Mobilização Social e a 1a Conferência Nacional de Segurança”;

 Relato da participação na Conferência Municipal de Segurança Pública - São Paulo (para lista consepsi);

 E-mail: sobre a COE da Etapa estadual da I CONSEG;

 E-mail: sobre o DECRETO Nº 54.011, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2009 - Convoca a Etapa Estadual da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública e dá providências correlatas;

 Email: (de 20/07/2009) com informe sobre a participação do GT na Etapa Estadual da CONSEG;

 E-mail: convite da próxima reunião do GT para 17/8 às 16h no CONDEP;

 Documento em WORD “Carta_Sociedade_Civil_-_Conseg_assinada PARA ETAPA NACIONAL”;

 E-mail: convite para reunião do GT antes da Etapa Nacional (para 17/08/09);  E-mail: sobre a PEC 308 e criação de polícia penal.

6ª. Etapa

 1ª. CONSEG – ETAPA NACIONAL as diretrizes e princípios aprovados.

Documento “2010RelatorioGT_Conseg”.

Quadro 1: Síntese das etapas, ações e documentos do GTSPJC

A partir disso, produziu-se uma análise crítica a respeito das demandas e encaminhamentos realizados pelo GTSPJC em sua trajetória, no sentido de avaliar suas questões a partir dos fundamentos da práxis social, notadamente a dialética da emancipação política e emancipação humana.

OBJETIVOS