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A AUTONOMIA MUNICIPAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

2. A AUTONOMIA MUNICIPAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

Atualmente, o Brasil é uma federação, cuja organização político- administrativa compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos do artigo 18 da Constituição Federal: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]” (BRASIL, 1988).

O Estado federado implica na divisão territorial do poder, pois neste coexistem núcleos de poder especialmente limitados, os quais detém autonomia (FERREIRA FILHO, 2010, p. 273).

Os Municípios possuem um papel primordial na forma federativa de Estado. O enquadramento do Município como ente federado confere-lhe autonomia de organização político-administrativa.

Segundo Tomio (2005), nas Constituições anteriores à de 1988, já se atribuía aos municípios relativa autonomia, contudo a plenitude de tal característica decorre da Carta vigente, ao serem elevados ao nível de entes federativos.

A palavra autonomia compõe-se de dois vocábulos: autos (= próprios) e nomos (= norma). Num sentido jurídico é o poder que alguém dispõe de se dar as próprias normas jurídicas, o poder de autonormação jurídica (NABAIS, 2010, p. 27-28).

Ser um ente autônomo num contexto federalista corresponde à possibilidade de realizar uma gestão particularizada, respeitando-se os limites impostos pelo ordenamento jurídico, com foco no interesse local, conforme explicita o art. 30 da CF:

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local; [...]

V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local [...]. (BRASIL, 1988). A autonomia aferida pela Constituição aos municípios lhes confere as prerrogativas de auto-organização, autolegislação, autogoverno e autoadministração (LÉPORE, 2015).

Em relação à auto-organização, admite-se que os municípios redijam, por intermédio de seu Poder Legislativo, sua Lei Orgânica, instrumento legal que, para Silva (2002), equivaleria a uma espécie de “Constituição Municipal”,

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conforme consta na Carta Constitucional: “Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, [...] atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado [...]” (BRASIL, 1988).

Quanto à capacidade de autolegislação, trata-se da possibilidade do ente municipal proceder à elaboração de espécies normativas de interesse local, aplicáveis em seu território, com fulcro no art. 30, I, da CF/88.

No que concerne ao autogoverno, corresponde à possibilidade de serem eleitos os agentes políticos do Poder Executivo e do Poder Legislativo, nos termos do art. 29, I, da CF: “Art. 29. […] I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País [...]” (BRASIL, 1988). Este é o viés político da autonomia municipal.

Por fim, a autoadministração se traduz na prestação de serviços públicos próprios, segundo Lépore (2015), dentre eles podendo se elencar a título exemplificativo o transporte coletivo de passageiros, previsto no art. 30, V, da CF/88.

Por suas características5, a federação é um modelo de organização do Estado

que permite aproximar a vontade do cidadão da decisão do Governo, possibilitando que o povo participe da gestão pública. A descentralização da forma de gestão viabiliza o trato das questões locais, por agentes locais, que melhor conhecem as peculiaridades e podem solidarizar-se com as demandas da comunidade.

A partir destas características e considerando que o Município também é responsável pela consecução dos valores estampados na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, volta-se a atenção ao tema central.

No caso da municipalidade chapecoense, observa-se em sua Lei Orgânica a seguinte disposição:

Art. 97 O Município, na sua circunscrição territorial e dentro de sua competência constitucional, assegurará a todos [...] existência digna, observados os seguintes princípios: [...] VI - defesa do meio ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais. (CHAPECÓ, 1990). A referida existência digna preordena, portanto, uma proteção, pelo poder público, “de algo que é de todos e de ninguém simultaneamente” (RAMPAZZO; NAHUR, 2017, p. 206). E esse modo protetivo estatal se

5 José Mauricio Conti (2010, p.17) reconhece como fundamentais ao Estado Federal as seguintes características: “a) existência de ao menos duas esferas de governo; b) autonomia das entidades descentralizadas, compreendendo a autonomia política, administrativa e financeira; c) organização do Estado expressa em uma Constituição; d) repartição de competências entre as unidades descentralizadas; e) participação das entidades descentralizadas na formação da vontade nacional; e f) indissolubilidade.

181 transfigura, na prática, na atividade da segurança pública que, como se verá na sequência, não se limita ao senso de controle criminal, mas a aspectos diversos da própria vida em comunidade, dentre eles a gestão dos riscos e dos desastres.

3 A GESTÃO DE RISCOS E DE DESASTRES NA LEI FEDERAL N. 13.675/2018

A Lei Federal n. 13.675/2018 assume um caráter programático, sendo estas regras entendidas como aquelas “[...] que buscam conciliar interesses de grupos políticos e sociais antagônicos, apresentando conteúdo econômico-social e função eficacial de programa, obrigando os órgãos públicos, mediante a determinação das diretrizes que estes devem cumprir.” (PIMENTA, 2012, p. 9).

Dentre seus diversos dispositivos legais, destaca-se constituir um princípio da PNSPDS a “eficiência na prevenção e na redução de riscos em situações de emergência e desastres6 que afetam a vida, o patrimônio e o meio

ambiente” bem como a “proteção da vida, do patrimônio e do meio ambiente”, nos termos do art. 4º, incisos VI e X, respectivamente (BRASIL, 2018).

A PNSPDC, portanto, reflete um anseio da sociedade, “pautada pelo pragmatismo da Constituição Federal de 1988, que estabeleceu uma série de direitos ao cidadão, que devem ser implementados ou viabilizados pelo poder público, por intermédio de seus agentes” (VEIGA JUNIOR, 2017a, p. 175), sociedade esta que se vê, na questão da proteção ambiental posta na Política de Segurança Pública, obrigada a adotar providências preventivas aos desastres, já que:

Na atualidade, os riscos socioambientais constituem um forte objeto de debates, haja vista que o aumento do número de ocorrências e da intensidade de eventos extremos de diversas ordens, seja ambiental, seja mesmo social provocam diversas discussões de como se pode minimizá-los e mesmo resolvê-los no contexto social vigente. (CALGARO; PEREIRA, 2017, p. 279).

6 Entende-se redundante a afirmação do dispositivo legal, já que situações de desastres afetam a vida, o patrimônio e o meio ambiente. Os desastres, segundo Carvalho e Damacena (2013) podem ser associados a fenômenos externos ao sistema social ou a tecnologias, mas assumindo, em grande parte das ocorrências, caráter misto. Veiga Junior (2017b) explica que trarão, sempre como resultado de um evento adverso, danos humanos, materiais e ambientais.

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A nova normatização, em seu artigo 9º7, inclui entre os integrantes

operacionais do SUSP, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec). (BRASIL, 2018).

A SEDEC é tida como o órgão central do Poder Executivo Federal no contexto do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, instituído pela Lei Federal n. 12.608/2012 (BRASIL, 2012), já que àquela Secretaria cabe o desenvolvimento de ações, em nível federal, de proteção e defesa civil, nos termos do art. 45, VIII8, da Lei Federal n. 13.502/2017, e dos arts. 1º, VIII9, e 1310 do

Decreto n. 8.980/2017 (BRASIL, 2017a; 2017b).

Ainda que a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil tenha sido mantida administrativamente subordinada à Pasta do Ministério da Integração Nacional, passou a se vincular operacionalmente ao SUSP, sob coordenação do Ministério da Segurança Pública11.

Ratifica-se, nesta oportunidade, o entendimento apresentado por Veiga Junior (2017b) de que não é pertinente restringir aos Corpos de Bombeiros

7“Art. 9º É instituído o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), que tem como órgão central o Ministério Extraordinário da Segurança Pública e é integrado pelos órgãos de que trata o art. 144 da Constituição Federal, pelos agentes penitenciários, pelas guardas municipais e pelos demais integrantes estratégicos e operacionais, que atuarão nos limites de suas competências, de forma cooperativa, sistêmica e harmônica.

[...] § 2º São integrantes operacionais do Susp: I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III – (VETADO);

IV - polícias civis; V - polícias militares;

VI - corpos de bombeiros militares; VII - guardas municipais;

VIII - órgãos do sistema penitenciário; IX - (VETADO);

X - institutos oficiais de criminalística, medicina legal e identificação; XI - Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp);

XII - secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres; XIII - Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec); XIV - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (Senad); XV - agentes de trânsito;

XVI - guarda portuária.” (BRASIL, 2018).

8 Art. 45. Constitui área de competência do Ministério da Integração Nacional: [...] VIII - defesa civil [...]. (BRASIL, 2017b).

9 Art. 1º O Ministério da Integração Nacional, órgão da administração pública federal direta, tem como área de competência os seguintes assuntos: [...] VIII - proteção e defesa civil; [...]. (BRASIL, 2017a).

10 Art. 13. À Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil compete: [...] II - coordenar o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC, em articulação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; [...]. (BRASIL, 2017a).

11 Aponte-se que, ainda que a Lei Federal n. 13.675/2018 denomine o órgão central do SUSP como “Ministério Extraordinário da Segurança Pública”, cuja extraordinariedade decorria do ato de criação da pasta, por meio de medida provisória. Quando da promulgação da Lei Federal n. 13.690/2018, suprimiu-se a questão extraordinária, constituindo-se em pasta regular na estrutura do Executivo Federal.

183 Militares as atividades de proteção e defesa civil, já que, nos termos do art. 144 da Carta Constitucional, a segurança pública é dever do Estado12, mas também

direito e responsabilidade de todos (BRASIL, 1988), instrumentalizada, no contexto da gestão de riscos e gerenciamento de desastres, por todos os partícipes do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, dentre os quais se incluem não apenas os representantes governamentais, como também as instituições acadêmico-científicas e a sociedade civil organizada (BRASIL, 2012).

4. PROPOSTA DE REORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA