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Histórico da Corporação

ABORDAGEM BASEADA NO MODELO DA PIRÂMIDE DO EMPREGO DA FORÇA E OS ASPECTOS SUBJETIVOS DAS

2. A POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

2.1 Histórico da Corporação

Criada por Feliciano Nunes Pires, então Presidente da Província de Santa Catarina, através da Lei Provincial Nº 12, de 05 de maio de 1835, a “Força Policial”, substituiu, à época, os existentes Corpos de Guardas Municipais Voluntários, com a missão de manter a ordem e a tranquilidade públicas e atender às requisições de autoridades judiciárias e policiais. Sua área de atuação ficava restrita à Vila de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) e distritos vizinhos.

133 Em 1916, recebe a denominação de “Força Pública” (Lei Nº 1.137, de 30 de Setembro) e em 1917 passa a ser considerada, através de acordo firmado entre a União e o Estado, Força Reserva do Exército.

Em 10 de janeiro de 1934, um acordo entre a União e o Estado eleva a Força Pública à categoria de Força Auxiliar do Exército Brasileiro. No mesmo ano, a Constituição Federal passa também a considerar as Forças Públicas como Auxiliares do Exército, conferindo-lhes “status” constitucional.

Em 1946, a Constituição Federal altera a denominação para PMs, descrevendo como missão a segurança interna e a manutenção da ordem. Prevê ainda que a União legislará sobre a organização, instrução, justiça e garantias das PMs.

Em 1967, a Constituição Federal prevê que a União passará a controlar também o efetivo das PM, criando a Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM). Orienta ainda que as Polícias Militares devem voltar-se às atividades policiais.

Em 1988, a Constituição Federal prevê como missão das Polícias Militares, em seu artigo 144, a Preservação da Ordem Pública. (BRASIL, 1988).

2. 2 O Ingresso

O ingresso na Polícia Militar de Santa Catarina se dá mediante a realização de concurso público, de duas formas: Inclusão no Curso de Formação de Oficiais, com requisito intelectual, a formação em nível superior, Bacharelado em Direito; e, a segunda forma de inclusão, no Curso de Formação de Soldados, tendo como requisito intelectual, a formação em nível superior, em qualquer área do conhecimento.

O Curso de Formação de Oficiais tem duração de dois anos e o Curso de Formação de Soldados dura sete meses.

2. 3 Formação Básica e Continuada

Durante a Formação Básica (inicial), os policiais militares estudantes dos Cursos de Formação de Oficiais e de Soldados, recebem treinamento em diversas áreas de concentração do conhecimento, como por exemplo: Direito, Direitos

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Humanos, Trânsito, Filosofia de Polícia Comunitária, Educação Física, Defesa Pessoal, Tiro Policial e Técnicas de Polícia Ostensiva, entre outras disciplinas relacionadas ao cumprimento da missão constitucional de preservação da ordem pública.

Depois da formação básica, o policial militar recebe durante a carreira treinamento continuado, previsto nas Normas Gerais de Ensino (NGE), documento que regula a Formação Básica e Continuada dos Policiais Militares catarinenses. (SANTA CATARINA, 2011).

Em estudo realizado por Rosa e Pavanati (2011) identificou-se que disciplinas como Tiro Policial e Técnicas de Polícia Ostensiva, evoluíram durante os anos, passando do simples repasse de conhecimento teórico, para um conteúdo direcionado a prática profissional-policial diária. Assim, o policial militar recebe um conhecimento de emprego prático, o qual será utilizado no cotidiano do exercício profissional, junto da população, observando a doutrina e a filosofia dos Direitos Humanos e de Polícia Comunitária.

Para Rosa e Pavanati (2011), essa evolução foi marcada pelo surgimento e uso de tecnologias multimídias que, no caso da Polícia Militar de Santa Catarina, têm servido para aproximar o contexto da formação e o treinamento policial militar, daquela realidade que será enfrentada nas ruas, durante o exercício profissional.

Multimídia consiste na integração, controlada por computador, de textos gráficos, imagens, vídeo, animações, áudio e outras mídias, que possam representar, armazenar, transmitir e processar informações de forma digital. (KIRNER; SISCOUTTO, 2007, p. 6).

A Polícia Militar de Santa Catarina dispõe de recursos multimídia, como é o caso do simulador de atendimento de ocorrências policiais e de tiro policial (Figura 1). Mídia que possibilita, ao policial militar, em ambiente controlado, simular o atendimento de ocorrências onde poderá se deparar com diversas situações, diferentes formas de enfrentamento, estando sujeito às mais variadas respostas agressivas do cidadão durante uma abordagem policial.

Abordagem Policial - É a ação Policial militar de atuar em uma situação que exija intervenção policial, aproximando-se, interpelando, identificando e procedendo a busca de um ou mais cidadãos, que pode resultar na prisão, advertência ou orientação das pessoas envolvidas. (ROSA, et al., 2009, p. 52).

Durante a execução de uma abordagem policial, observam-se critérios técnicos, legais, éticos, devendo haver uma motivação para sua realização. Sendo uma ação de força, a abordagem deve atender requisitos preconizados para o uso da força. São os requisitos da abordagem:

135 - Legalidade: A abordagem nesta situação é legal?

- Necessidade: A abordagem nesta situação é necessária?

- Proporcionalidade: A técnica de abordagem nesta situação e emprego da força é proporcional à situação?

- Conveniência: A abordagem nesta situação é conveniente em relação ao momento e ao local da intervenção policial. (ROSA, et al., 2009, p. 52).

Fotografia 1- Policial militar utilizando o simulador de atendimento de ocorrências policiais e de tiro policial, simulando uma abordagem policial

Fonte: Rosa e Pavanati, 2011.

Valendo-se do conceito da variabilidade, no processo de aprendizagem, desenvolvimento e controle motor, é possível simular diversos tipos de ocorrências, onde o policial militar poderá se deparar com um cidadão que apresenta comportamento incivilizado, por exemplo: a mãe que ao deixar o filho na creche, para com seu veículo automóvel sobre a faixa de pedestre (além de ser uma infração de trânsito), ou um cidadão descumprindo proibição expressa de pisar na grama da praça. “Comportamento Incivilizado é, em resumo, o comportamento humano que foge às regras de aceitação social, porém não se caracteriza crime ou contravenção”. (ROSA, et al., 2009, p. 51).

No outro extremo, poderá se deparar com um cidadão armado, que de forma abrupta saca de uma arma, fazendo com que o policial militar tenha que responder em frações de segundos, de forma legal, técnica, ética, sem a opção ou possibilidade do cometimento de erros que podem representar a perda da vida do cidadão ou do próprio policial militar (Encontro Mortal).

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O “Encontro Mortal” se caracteriza pela situação ou evento de alto ou altíssimo risco, onde o contexto ou a caracterização da cena indica como resultante do confronto, a morte de um dos envolvidos. (Do autor) Mesmo valendo-se de todos esses recursos tecnológicos, e da evolução das técnicas policiais empregadas na atividade profissional-policial diária, o Policial militar ainda está sujeito as mais diversas formas de reação do “cidadão abordado” - subjetividade. O conflito social expressa tanto as condições objetivas quanto a subjetividade de seus atores. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 190).

Encontramos nos estudos de Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 28) que subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um.

A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. Esta síntese — a subjetividade — é o mundo de idéias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p. 28).

Bock, Furtado e Teixeira (1999) citam que a subjetividade individual representa a constituição da história de relações sociais do sujeito concreto dentro de um sistema individual. O indivíduo, ao viver relações sociais determinadas e experiências determinadas em uma cultura que tem idéias e valores próprios, vai se constituindo, ou seja, vai construindo sentido para as experiências que vivencia. Este espaço pessoal dos sentidos que atribuímos ao mundo se configura como a subjetividade individual.

Mesmo os policiais militares mais experientes encontram dificuldades na análise do risco a que estão expostos e na escolha da resposta a determinadas ações agressivas, muitas vezes ocasionando sua morte ou ferimentos.

O gráfico 1 demonstra que com a evolução e modernização das técnicas policiais empregadas nas ruas, mediante a intensificação dos treinamentos, nas décadas de 1990 e 2000, fez reduzir o número de policiais militares mortos em serviço, mesmo com a evolução da criminalidade, aumento no número de confrontos e a periculosidade decorrente do crescimento do poder bélico dos criminosos. No entanto, estudos de casos de atendimentos de ocorrências policiais, apresentados nos Cursos de Formação de Oficiais e Aperfeiçoamento de Sargentos da Polícia Militar de Santa Catarina (ROSA; PAVANATY, 2011), que resultaram em policiais militares mortos ou feridos, demonstram que o resultado

137 que, mesmo dominando modernas técnicas policiais, não foi possível identificar as intenções dos agressores, antecipando ou prevendo a letalidade de suas pretensões.

Lévy (1999), filósofo francês da cibercultura, confirma essa impossibilidade de se prever ou antecipar eventos como descrito no parágrafo anterior. O que é preciso saber profissionalmente já não pode ser totalmente planejado e nem precisamente definido com antecedência.

Gráfico 2 - Quadro de policiais mortos em eerviço em Santa Catarina, décadas de 1960 - 2000.

Fonte: SANTANA, Marli; BORGES, Luiz Claudio. Estudo de caso de ocorrência policial. Preprint: 2003, dados retirados da Diretoria de Pessoal da PMSC.

Para Rosa e Pavanati (2011), compreender as implicações e complicações relacionadas à prática operacional policial militar diária, nesta realidade de mudanças sociais e intelectuais experimentadas, principalmente no final do século XX e primeira década do século XXI, faz-se necessário um estudo dessa relação policial x cidadão, observando os aspectos subjetivos que envolvem o atendimento de uma ocorrência policial, utilizando como base o modelo da Pirâmide do Emprego da Força (figura 1).

Este trabalho se apoia no método fenomenológico, com foco na interação entre cultura e sujeito para construção do conhecimento. Para Triviños (2006, p. 47), o enfoque fenomenológico permite a observação de uma dada realidade porque “exalta a interpretação do mundo que surge intencionalmente à nossa consciência.”

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Propõe-se uma investigação acerca dos processos de melhoria do trabalho policial. Pois, conforme Meksenas (2002, p. 22) “pesquisar diz respeito à capacidade de produzir um conhecimento adequado à compreensão de determinada realidade, fato, fenômeno ou relação social”. Assim busca-se, por meio da investigação, entender melhor o processo de formação do efetivo policial militar catarinense.

Demo (2007) e Santaella (2004) propõem que a cibercultura transforma os modos humanos de perceber e de estar no mundo, alterando também as formas de aprender. Considera que a navegação interativa no ciberespaço promove alterações no âmbito das sensações, percepções e cognições, diferenciando-se das experiências anteriormente propostas pela cultura literária. Isso concorre para “a formação de um novo tipo de sensibilidade corporal, física e mental”.