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MULHER E TRAJETÓRIA HISTÓRICA

PÚBLICA: UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO INOVADOR PARA O AVANÇO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

2. MULHER E TRAJETÓRIA HISTÓRICA

Vários são os estudos realizados acerca da figura feminina após 1980, entretanto um dos mais completos trabalhos foi redigido por Mary Del Priore na área das Ciências Humanas e Sociais. Sua obra intitulada História das Mulheres conta a trajetória das mulheres, do Brasil colonial aos nossos dias. Essa obra organizada por Mary Del Priore - da qual participam duas dezenas de historiadores além da conhecida escritora Lygia Fagundes Telles - mostra como nasciam, viviam e morriam as brasileiras no passado e o mundo material e simbólico que as cercavam.1

A invisibilidade a figura da mulher é produto de um construto histórico — portanto, passível de desconstrução — que traz em seu seio estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia e suas relações de poder. Por definição, pode ser considerada como toda e qualquer conduta baseada no gênero, que cause ou passível de causar morte, dano ou sofrimento nos âmbitos: físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada. Scott (1995), no reconhecido artigo “Gênero: uma categoria útil de análise histórica” indica uma definição do conceito de gênero levando em conta suas três principais características: dimensão relacional, construção social das diferenças percebidas entre os sexos e campo primordial onde o poder se articula. Neste texto, a autora redige o conceito e propõe o seu uso como categoria analítica e instrumento metodológico para entender como, ao longo da história, se produziram e legitimaram as construções de saber e poder sobre a diferença sexual.

A Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou seus esforços contra essa forma de violência, na década de 50, com a criação da Comissão de Status da Mulher que formulou entre os anos de 1949 e 1962 uma série de tratados baseados em provisões da Carta das Nações Unidas — que afirma expressamente os direitos iguais entre homens e mulheres e na Declaração Universal dos Direitos Humanos — que declara que todos os direitos e liberdades humanos devem ser aplicados igualmente a homens e mulheres, sem distinção de qualquer natureza. Desde então, várias ações têm sido conduzidas, em âmbito mundial, para a promoção dos direitos da mulher, e, no que compete ao Brasil, uma série de

1 Percebendo a história das mulheres como algo que envolve também a história das famílias, do trabalho, da mídia, da literatura, da sexualidade, da violência, dos sentimentos e das representações, o livro abarca os mais diferentes espaços (campo e cidade, norte e sul do país) e extratos sociais (escravas, operárias, sinhazinhas, burguesas, donas de casa, professoras, boias- frias). Também não se contenta em apenas separar as vitórias e as derrotas das mulheres, mas derruba mitos, encoraja debates, estimula a reflexão e coloca a questão feminina na ordem do dia a luz dos Direitos Humanos.

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medidas protetivas e ações afirmativas vêm sendo empregadas visando à solução dessa problemática. Constata-se que nos anos 1990 a violência sexual e doméstica passa a ser frequentemente pautada nos meios de comunicação, resultado dos enfrentamentos públicos ocorridos nas décadas anteriores em contraposição aos crimes contra as mulheres e a presente justificativa, na legislação e na sociedade brasileira, dos crimes em defesa da honra.2

Para se compreender o fenômeno da inserção da temática no contexto sociocultural torna-se necessário realizar um breve retorno ao legado investido à mulher pela cultura ocidental. A classificação da mulher tem sido norteada pelo viés biológico e social, geralmente determinantes para a desigualdade de gênero já que traz em seu bojo uma relação assimétrica sob a égide de um discurso que se pauta na valoração de um sexo sob o outro.

Entretanto, pode-se dizer que além da condição da categoria de gênero outros motivos também são costumeiros para que a(s) violência(s) se efetivem sobre a mulher. Dentre elas pode-se citar: a dependência emocional e econômica, a valorização da família e idealização do amor e do casamento, a preocupação com os filhos, o medo da perda e do desamparo diante da necessidade de enfrentar a vida sozinha, principalmente quando a mulher não conta com nenhum apoio social e familiar.

Em análise ao Atlas da Violência 2018, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) é possível encontrar na seção sobre violência contra mulher diversos índices que mostram o crescimento dos homicídios por UF, levando em conta a interação com a raça/cor da vítima a qual comprova que este legado a trajetória histórica do Brasil.

Sabe-se que em diversos países, as mulheres negras aparecem como maioria das vítimas em vários indicadores de violações de Direitos Humanos – e no Brasil não é diferente. Dados da Central de Atendimento à Mulher relativo ao ano de 2013 apontam que 59,4% dos registros de violência doméstica no serviço referem- se a mulheres negras.

Segundo o Dossiê Mulher 2015, do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, aponta que 56,8% das vítimas dos estupros registrados no Estado em 2014 eram negras. E 62,2% dos homicídios de mulheres vitimaram pretas (19,3%) e pardas (42,9%).

No Rio Grande do Sul, a taxa de homicídios de mulheres negras é de 4,9 para cada 100 mil habitantes. Em 20 Estados, a taxa cresceu no período compreendido entre 2006 e 2016, sendo que em 12 deles o aumento foi maior que 50%. No RS o aumento foi de 57,1%. (PC/RS, 2018)

2 Temos exemplos emblemáticos como os assassinatos de Ângela Diniz, Eliane de Gramont, e da poetisa paraibana Violeta Formiga, que tiveram repercussão nacional e local.

99 Outro elemento não dispensável de análise quando se trata de violência contra a mulher é o feminicídio e estupros3 no país. O relatório aponta dados

estarrecedores sobre esse fenômeno bárbaro, em que 68% dos registros, com base nas estatísticas junto ao sistema de saúde, se referem a estupro de menores sendo que quase um terço dos agressores das crianças (até 13 anos) são amigos e conhecidos da vítima e outros 30% são familiares mais próximos como país, mães, padrastos e irmãos. Além disso, quando o perpetrador era conhecido da vítima, 54,9% dos casos tratam-se de ações que já vinham acontecendo anteriormente e 78,5% dos casos ocorreram na própria residência.4

3. AÇÕES AFIRMATIVAS E MEDIDAS PROTETIVAS E O COMBATE A