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3. Definindo categorias analíticas da interação entre pnae e agricultura familiar

3.3. A categoria Atributos da agricultura familiar

Nesta categoria foram encontradas três subcategorias: Denominações utilizadas, Gêneros alimentícios e Organização social (Quadro 4). Dentro da subcategoria Denominações utilizadas, o código Agricultura orgânica foi o mais frequente, indicando que os artigos têm analisado a oferta de alimentos da agricultura familiar para o mercado institucional do PNAE a partir de um diferencial – qual seja, a oferta de produtos com qualidades superiores.

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Quadro 4 - Síntese da categoria Atributos da agricultura familiar

Categoria Subcategorias Códigos gerados Frequência Artigos com presença dos códigos Atributos da agricultura familiar Denominações utilizadas Agricultura orgânica 15 1, 4, 8, 13, 18, 19, 21, 24 Agricultura familiar 12 9, 16, 18, 28, 29, 30 Agroecologia 5 1, 2, 18, 26 Campesinato 2 11, 18 Gêneros alimentícios

Gêneros alimentícios produzidos

pela agricultura familiar 28

1, 3, 8, 9, 11, 12, 13, 15, 16, 22, 25, 26, 28 Pluriatividade 6 18, 28 Organização social Associativismo/ cooperativismo 22 1, 6, 9, 10, 11, 13, 15, 16, 22, 26, 28 Capital social 4 10, 11, 14

Fonte: Elaboração própria. Resultados da pesquisa, 2020.

Santos et al. (2014) registram que os oito territórios rurais que estudaram fizeram aquisição de produtos orgânicos para a alimentação escolar, variando de um a seis municípios em cada. Silva e Sousa (2013) pontuam que, em 2010, entre os 293 municípios catarinenses, 60% (n=160) efetuavam compras de alimentos da agricultura familiar e, destes, 17,7% (n=52), compravam alimentos orgânicos. Já El Tugoz e Bertolini (2016) analisaram a dimensão financeira de alimentos orgânicos da agricultura familiar para o PNAE, constatando a inviabilidade da comercialização do tomate e a viabilidade da cenoura e da alface. O agricultor familiar, portanto, deve manter diferentes canais de comercialização para seus produtos e não apenas o mercado institucional, evitando dependência da política pública, aspecto discutido adiante na categoria Dificuldades.

Em todos os textos a expressão Agricultura familiar aparece frequentemente, todavia, o Atlas.ti só codificou nessa categoria os artigos que apresentaram algum conceito de agricultura familiar. Esse fato pode ser observado como uma lacuna desta revisão. É pertinente reconhecer que muito se discute a respeito da inserção de agricultores familiares nas compras governamentais, mas, nem sempre há preocupação em delimitar o entendimento dado ao objeto agricultura familiar. A definição legal e operacional de agricultura familiar está, todavia, instituída na Lei nº 11.326, de 16 de junho de 2006 é referida em poucos artigos (SARAIVA et al., 2013; MEDEIROS et al., 2016). Constanty e Zonin (2016) preferem atribuir diferenças ao termo agricultura familiar pela via de uma definição jurídico-funcional, apropriada às políticas públicas, e como categoria social na perspectiva acadêmica. Por esse caminho, fica posta a liberdade acadêmica de criação e ressignificação de agricultura familiar para além da dimensão legal, o que, possivelmente, explique ausências conceituais.

36 Agroecologia e Campesinato apareceram como código na subcategoria Denominações utilizadas. Constanty e Zonin (2016) discorrem como a agroecologia vai ao encontro do conceito de campesinato como prática que pode representar uma posição de resistência, do campesino aos impérios alimentares, ao sistema agroalimentar hegemônico instável e perigoso tanto social quanto economicamente e ambientalmente. Por essa razão, na subcategoria Gêneros alimentícios apareceu o código Gêneros alimentícios produzidos pela agricultura familiar – do tipo in natura, como frutas, verduras e legumes (MONEGO et al., 2013) e do tipo beneficiado/processado (BACCARIN et al., 2017). A diversificação da produção é apontada como fator importante tanto para o aumento da renda das famílias (SILVA et al., 2015) quanto pela garantia de segurança alimentar, uma vez que a produção é também utilizada para autoconsumo (FRANZONI; SILVA, 2016).

O código Pluriatividade apareceu no artigo de Constanty e Zonin (2016) indicando a importância de formas alternativas de trabalho e produção para garantir a ampliação de fontes de renda. Observaram que a atividade não-agrícola apresenta valor médio de retorno bem inferior à classe em que predomina a renda agrícola. Desta forma, Constanty e Zonin (2016) colocam o PNAE como alternativa de segurança e oportunidade para promover e aprimorar sistemas associativos e de vendas no mercado tradicional e institucional, diante da garantia do pagamento, da ausência de atrasos e da redução da necessidade de descontos. É, pois, a necessidade associativa que explica a geração de código específico com tal conteúdo na subcategoria Organização social.

Os códigos da subcategoria Organização social estão relacionados à presença de Associações e cooperativas e ao Capital social. Os agricultores familiares participantes da pesquisa de Medeiros et al. (2016) afirmaram que após a participação da cooperativa a que pertencem, no PNAE, não tiveram dificuldade para comercializar. Triches e Schneider (2010) destacam que a Lei nº 11.947/2009 provocou organização no segmento da agricultura familiar, tanto contribuindo para o desenvolvimento de organizações formais já existentes quanto articulando o segmento no acesso à política pública. Está, portanto, fomentando capital social, outro código gerado pelo Atlas.ti nesta subcategoria Organização social.

O código Capital social aparece na pesquisa de Moura (2014) pautando a forma como a secretaria da agricultura de um município procurou diálogo com os agricultores familiares e instituiu uma forma de gestão diferenciada, envolvendo todos os funcionários nas decisões internas do órgão. O capital social se manifestou, no caso, pelo envolvimento e participação em grupos, com consequências positivas para o indivíduo e para a comunidade e com efeitos

37 na gestão pública e na gestão social dos agricultores. Em outros artigos o capital social se manifestou em relações de confiança instituídas entre gestores públicos e agricultores familiares (SILVA; DIAS; AMORIM JÚNIOR, 2015), entre lideranças e gestores, lideranças e lideranças, gestores e gestores (WAGNER; GEHLEN; SCHULT, 2016).

A categoria Atributos da agricultura familiar revela interligação entre as três subcategorias geradas considerando que, para ter acesso ao PNAE o produtor precisa se enquadrar na categoria de agricultor familiar, independentemente de tipologia e denominação da prática de produção (orgânica, agroecológica, campesina) e se vincular a organizações formais (cooperativa ou associação) para garantir acesso à política pública e executar o PNAE, garantindo escala em termos de variedade de gêneros alimentícios (in natura e beneficiados/processados). Há, portanto, necessidade de se conhecer o que retratam as pesquisas em termos de fatores de sucesso e dificuldades enfrentadas.