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3. Definindo categorias analíticas da interação entre pnae e agricultura familiar

3.4. A categoria Fatores de sucesso

Nesta categoria foram encontradas três subcategorias: Pontos fortes; Desenvolvimento; Inovação, tecnologia e cidadania (Quadro 5). Com relação aos pontos fortes, o código Benefícios do PNAE aparecem nos estudos pela via da inserção de agricultores familiares na execução do Programa provocando: favorecimento da produção local e estímulo às cadeias curtas de abastecimento (BACCARIN et al., 2017); preços vantajosos e mercados estáveis aos agricultores (EL TUGOZ; BERTOLINI, 2016); incentivo à solidariedade entre os produtores ao dividir as entregas equitativamente entre sócios de cooperativas e associações (CONSTANTY; ZONIN, 2016); independência e qualidade de vida (MEDEIROS et al., 2016); incentivo à cooperação, geração de emprego e renda (FRANZONI, SILVA; 2016); direito à alimentação saudável e consumo de alimentos saudáveis nas escolas (SOARES et al., 2018); incentivo à sustentabilidade (GONÇALVES et al., 2015); empoderamento e alternativa de comercialização (OLIVEIRA; BATALHA; PETTAN, 2017).

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Quadro 5 - Síntese da categoria Fatores de sucesso

Categorias Subcategorias Códigos gerados Frequência Artigos com presença dos códigos Pontos fortes Benefícios do PNAE 48 1, 2, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 24, 26, 27, 28, 32 Fatores de sucesso

Estratégias para atender às

exigências do PNAE 23 1, 11, 13, 14, 17 Fatores de estímulo do PNAE 23 1, 4, 10, 13, 14, 17, 22, 23, 26 Sugestões de melhoria do PNAE 6 1, 17, 21, 22, 25, 28 Desenvolvimento Desenvolvimento territorial 8 6, 10, 25, 26 Desenvolvimento sustentável 7 2, 3, 8, 18 Desenvolvimento local 5 5, 10, 14, 22, 27 Desenvolvimento rural 3 10, 15, 16 Inovação, tecnologia e cidadania

PNAE e tecnologia social 11 5

PNAE e cidadania 10 14

PNAE e inovação social 8 5

Fonte: Elaboração própria. Resultados da pesquisa, 2020.

Por meio do código Estratégias para atender às exigências do PNAE as pesquisas relatam diversas formas que os agricultores encontraram para garantir abastecimento e disponibilizar alimentos de qualidade. Destacam-se nesse quesito: negociação com os responsáveis pela elaboração de chamadas públicas para considerar a disponibilidade sazonal dos alimentos (SILVA; DIAS; AMORIM JÚNIOR, 2015); reestruturação dos cardápios inserindo maior diversidade dos produtos (TRICHES; KILIAN, 2016); capacitação de merendeiras quanto a técnicas dietética e higiênico-sanitárias (TRICHES; KILIAN, 2016); utilização de alimentos da produção local em receitas (SILVA; DIAS; AMORIM JÚNIOR, 2015); ações conjuntas entre secretarias para promover maior número de produtores aptos do ponto de vista sanitário (TRICHES; SCHNEIDER, 2010); assessoria direcionada à regularização de documentos de associações e cooperativas e de instrumentos operacionais de compra e venda (WAGNER; GEHLEN; SCHULT, 2016); troca de produtos entre associações e cooperativas de municípios vizinhos para superar dificuldades em garantir o suprimento das mercadorias demandadas (SOARES et al., 2015).

Os Fatores de estímulo ao PNAE aparecem pautados: a) no acesso a outras políticas públicas como PAA e PRONAF (BACCARIN et al., 2017); b) na abertura da gestão pública, combinada à articulação dos atores sociais (MOURA, 2014); c) no engajamento de servidores públicos com o trabalho, não apenas para cumprir exigência burocrática ou documentária, mas, também, pelo desejo de garantir aos escolares alimentação de qualidade (TRICHES;

39 KILIAN, 2016); d) no engajamento dos agricultores com entidades representativas e com o poder público (TRICHES; SCHNEIDER, 2010).

Sugestões de melhoria do PNAE foram relatadas nos artigos: a) a necessidade de combinação do PNAE com outros programas, como o PAA e feiras livres, contribuindo para que maior número de agricultores seja beneficiado (BACCARIN et al., 2017); b) a adoção da compra orientada, de acordo com o que a agricultura familiar local pode ofertar (TRICHES; KILIAN, 2016); c) a necessidade de desburocratização dos mecanismos de acesso ao PNAE (TRICHES; SCHNEIDER, 2010); d) maior publicidade das chamadas públicas para facilitar o acesso (TRICHES; SILVESTRI, 2018); e) a necessidade de os municípios darem ênfase e visibilidade aos alimentos orgânicos e agroecológicos (TRICHES; BARBOSA; SILVESTRI, 2016).

A subcategoria Desenvolvimento assume conotações de Desenvolvimento territorial, Desenvolvimento rural, Desenvolvimento local e Desenvolvimento sustentável. Silva, Rockett e Coelho-de-Souza (2018) destacam o PNAE como estratégia de desenvolvimento territorial, uma vez que o Programa na agricultura familiar visa, entre outros aspectos, à dinamização da economia local, objetivo sobreposto à política de desenvolvimento territorial. Para Saraiva et al. (2013) o PNAE é promotor de desenvolvimento local devido à interação que faz com a realidade agrícola local/regional. Franzoni e Silva (2016) enquadram o PNAE no “novo paradigma de desenvolvimento rural”, visto que tal proposta surge em meio à transformação dos mercados agroalimentares, ocasionada por um movimento de mudança no padrão de consumo alimentar da sociedade. Torres et al. (2011) enfatizam que o PNAE trata de instrumento de desenvolvimento, não só ambientalmente sustentável, mas, também, equitativo, pelo estímulo à agricultura familiar e pela garantia da SAN na alimentação escolar ao adquirir produtos oriundos da produção agroecológica.

O PNAE na agricultura familiar é delimitado, na subcategoria Inovação, tecnologia e cidadania, pelos códigos inovação social, tecnologia social e promoção de cidadania. A pesquisa de Franzoni e Silva (2016) analisou uma cadeia de agricultores familiares fornecedora da alimentação escolar sob as perspectivas da inovação social e da tecnologia social. Os autores observam que, como inovação social e tecnologia social, o PNAE na agricultura familiar atesta compromisso com a transformação social na criação de espaço de descoberta de demandas e necessidades sociais, na relevância e eficácia social, na sustentabilidade socioambiental e econômica, na inovação pela resolução e surgimento de

40 organizações formais, na organização e sistematização e na acessibilidade e apropriação de tecnologia, além de se constituir em processo pedagógico.

Como elemento de fomento à cidadania Wagner, Gehlen e Schult (2016) realçam a inserção dos produtos da agricultura familiar na alimentação escolar ampliando possibilidades de inserção socioeconômica uma vez que, com a Lei nº 11.947/2009, os agricultores familiares ganharam posição mais vantajosa ultrapassando gargalos historicamente construídos pela Lei no 8666/93 (Lei das Licitações).

A categoria Fatores de sucesso reuniu pontos fortes do PNAE na agricultura familiar relacionados a estratégias e benefícios gerados e como sucesso de política pública no plano local, destacando também o engajamento dos atores interessados. O PNAE aparece como mecanismo de promoção de diferentes tipos de desenvolvimento (territorial, sustentável, local e rural) e como tecnologia social, inovação social e promoção de cidadania. Há, entretanto, uma série de desafios a superar, o que é objeto do tópico seguinte.