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Sabemos que a cidade “pode desempenhar, ao mesmo tempo, um lugar de destaque na emissão e receção de turistas” (Brito Henriques, 1996, p. 43), sendo o seu relacionamento com a atividade turística particularmente rico e interessante. O turismo urbano, que hoje se apresenta como dos mais promissores, beneficiando das curtas estadas e da divisão do período de férias (Jansen-Verbeke e Lievois, 2001), não é uma novidade, pois as cidades sempre foram grandes polos de atração de visitantes. Podemos considerar que “sempre desempenharam um papel privilegiado como centros de atividade cultural e económica” (Allen, 2000, p. 2), o que lhes permite serem locais de grande concentração de pessoas e interesses. Assim, as cidades apresentam-se como espaços privilegiados para o turismo, devido à sua multifuncionalidade, que permite que haja uma resposta positiva por parte do meio urbano às mais variadas motivações da visita e, por isso, “em muitos países, são as cidades que constituem os principais sítios turísticos, em especial as grandes metrópoles.“ (Brito Henriques, 1996, p. 45).

Segundo Laroche e Hermet (2010), no mundo pós-industrial em que vivemos, “todas as grandes cidades se devem adaptar a uma forte concorrência (…) e desenvolver atividades terciárias”, atividades essas que visem a valorização da urbe em questão. Nestas atividades está, certamente, englobado o turismo. Mas a preparação da cidade para o turismo põe por vezes grandes problemas aos urbanistas, visto que nem sempre a cidade e o turismo se apresentaram como realidades compatíveis, pelo que, muitas vezes, só através de longos processos se estabelecem compromissos entre ambas, de forma que o turismo possa florescer na cidade e esta, por seu lado, possa crescer através do turismo. Segundo os autores acima referidos, encontram-se, por vezes, situações extremas em que o turismo constitui um fim e, nesse caso, determina a composição urbana, o que será de evitar. Noutras situações, as sinergias desenvolvidas permitem que os turistas e residentes coabitem, respondendo ao desejo do turismo urbano moderno. Neste caso, o turismo é reconhecido como um recurso do território e é integrado no projeto urbano, “tornando-se um objetivo do projeto da cidade” (Laroche e Hermet, 2010, p. 12). O turismo aparece não como um fim, mas sim como um fator de desenvolvimento, havendo a possibilidade de se tornar no que Petit e Couteleau (2011, p. 31) designam por “tourisme durable”, ou seja, turismo com durabilidade, pois esse tipo de turismo, perfeitamente integrado na vida da cidade, tem mais hipótese de perdurar, uma vez que tanto os habitantes como os turistas usufruem dos mesmos locais e experiências.

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Na era da globalização, também o turismo urbano se modificou, aparecendo agora outras formas de turismo na cidade que, inexistentes no passado, são hoje consideradas como produtos estratégicos para muitos destinos. Este é o caso dos short-breaks (estadas de curta duração), que são um modelo completamente consolidado e que, quando aplicado ao turismo urbano, dá origem ao produto turístico designado por city-breaks, o qual figura no PENT (2013) como um dos dez produtos estratégicos a ter em consideração, sendo Lisboa, sem dúvida, o principal destino nacional para esta procura, para a qual, aliás, foi distinguida como o melhor destino europeu, em Novembro de 2013, pelo World Travel Awards48.

O city-break, que se define como “uma pequena viagem de lazer a uma cidade, sendo esse o único local onde se pernoita durante essa viagem” (Trew e Cockerell, 2002), é um fenómeno turístico ainda em crescimento e, tal como refere Cavaco (2006, p. 312), “as motivações e as práticas dos fluxos com destinos urbanos diferenciaram-se”, sendo agora a estada, em média, de entre três a cinco noites, realizando-se principalmente em redor de fins-de-semana, tornada possível pelo grande desenvolvimento dos meios de transporte.

O sucesso deste produto turístico deve-se também às características intrínsecas de uma cidade, pois a cidade sempre foi e é um espaço privilegiado para o consumo turístico. Devemos considerar que a cidade concentra, numa área relativamente pequena, uma grande variedade de atrações. Shaw e Williams (2005, p. 269) referem que “as áreas urbanas (…) atuam frequentemente como destinos turísticos, atraindo visitantes nacionais e estrangeiros”. Estes mesmos autores referem ainda que existem diferentes tipos de cidade, isto é, existe a cidade turística, comercial, cultural e histórica, sendo possível, por vezes, encontrar todos estes aspetos, ou alguns deles, numa área particular da mesma cidade. Esses diferentes aspetos correspondem a diversas motivações dos turistas para se deslocarem a um local, pelo que sua existência permite a afirmação de uma cidade como um bom destino turístico. Lisboa é, sem dúvida, um bom exemplo de uma cidade onde se encontram simultaneamente todas estas valências, o que explica, em parte, o seu sucesso como destino turístico.

Todos os anos se contam por milhares os turistas que visitam Lisboa, com enormes concentrações em certas épocas e em certas áreas da cidade: Belém, a Baixa e a nova

48 Este é um prémio que reconhece, recompensa e celebra a excelência em todos os setores de viagem e

da indústria do turismo. Para mais informação, ver: www.worldtravelawards.com/award-europes- leading-city-break-destination

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centralidade do Parque das Nações. Estas são as áreas turísticas de que iremos falar mais aprofundadamente neste trabalho, no Ponto 6.1 – Lisboa e as suas Principais Áreas Turísticas – conceito que Ashworth e Turnbridge (1990, p. 68) definem como sendo delimitadas “através de um importante e forte relacionamento entre a oferta turística, os comportamentos dos turistas e as imagens turísticas”.

É também uma cidade onde a atividade comercial contribui claramente para a sua economia, já que as pessoas, tanto residentes como visitantes, ainda são atraídas pelas lojas do centro. Ao nível da cultura, os seus museus, exposições e outras atividades apresentam-na como um interessante centro de atração. Por último, revela-se ainda como uma cidade histórica, possuindo um importante património arquitetónico e urbanístico, resultante da passagem dos séculos. Segundo Ashworth e Turnbridge (1990), “cada cidade é um produto de uma experiência histórica e reflete uma cultura particular”, logo, o seu conjunto de recursos histórico-turísticos é único; esse aspeto constitui a principal atração para os turistas e, por isso, as cidades que reúnem tais características tornam-se particularmente atrativas.

Num modelo que se relaciona com o desenvolvimento dos transportes e com a sua democratização, muitas cidades portuárias estão hoje vocacionadas para um outro tipo de turismo, o turismo de cruzeiro. Durante muito tempo, por condicionalismos económicos, este turismo esteve reservado para as elites; entretanto, devido ao binómio rendimentos mais altos / preços mais baixos, esta oferta e procura veio a democratizar-se, tornando-se “num dos mais importantes nichos de turismo contemporâneo” (Ferreira, 2009, p. 135). Nos últimos anos, verificou-se um aumento não só do número de barcos no ativo – tendo sido inaugurados entre 2000 e 2009 uma centena de navios novos (Ferreira, 2009) –, mas também da sua dimensão, como resposta dos armadores ao aparecimento dos grandes aviões. Um dos aspetos que os novos barcos de passageiros têm vindo a privilegiar é a acessibilidade. Veja-se o caso de uma das principais companhias, a Royal Caribbean International, que, seguindo as novas tendências, apostou na criação de cabines adaptadas para passageiros em cadeira de rodas.49 Esta empresa procurou, deste modo, alargar o seu público, atraindo uma nova procura com necessidades especiais, na qual se encontra bem representada uma faixa etária que, para além

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Para além das cabines adaptadas a bordo dos seus diversos barcos, esta empresa criou uma página na Internet especificamente para estes clientes poderem ter as melhores informações sobre acessibilidades nos seus barcos, e que dá o contacto de um departamento de reservas especializado em acessibilidade, onde se podem, ainda, alugar cadeiras e scooters. Veja-se o site:

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de gostar de viajar, apresenta também mais disponibilidade para o fazer: os cidadãos mais velhos. Este tipo de turismo, que se tornou numa das formas mais práticas de viajar, é efetivamente utilizado por muitos visitantes com mobilidade reduzida.

Devido à sua situação geográfica junto a uma importante linha de água – o Rio Tejo –, Lisboa é um desses destinos. O facto de ter um bom porto natural permitiu-lhe, no passado, desenvolver-se como cidade comercial; hoje dá-lhe grandes vantagens em termos de turismo, sendo Lisboa uma das cidades favoritas para a acostagem dos cruzeiros.50 Esse facto deve ser considerado no desenvolvimento turístico da cidade e, tendo em conta o grande número de visitantes em cadeira de rodas que dessa forma a visitam, deverá adaptar-se no sentido de bem os receber: uma boa impressão da cidade permitirá criar a vontade de voltar, talvez numa visita mais demorada.

Hoje, para que as cidades se mantenham competitivas, não é suficiente “atualizar constantemente as suas atrações” como defende Law (1993, p. 87); há também que inovar nas suas condições de acessibilidade para poder responder às exigências de outros públicos, pois

“o desenho da cidade acessível será a única via capaz de potenciar e estimular o desenvolvimento da competitividade dos destinos que pretendem ser potencialmente turísticos” (Teles, 2009, p. 159).

Como referimos anteriormente, havendo grandes mudanças ao nível das sociedades, estas tendem a espelhar-se no turismo. Alguns autores defendem que “mudanças nos valores da sociedade podem levar bastante tempo até se materializarem e influenciarem elementos como o turismo” (Butler, 1995, p. 4); mas algumas destas mudanças já tornaram possível a emergência de novos segmentos ou nichos de mercado, que antes não seriam considerados e que se apresentam como relevantes para o futuro. Este é, sem dúvida, o caso do Turismo Acessível.

50 Segundo informação retirada do portal do Porto de Lisboa, no ano de 2010 chegaram a Lisboa 448

497 passageiros; em 2011 esse número aumentou para 502 644 passageiros e em 2012 cresceu para 522 604 passageiros. Esse aumento é acompanhado em termos de escalas: das 232 realizadas em 2011 passou-se para 244 em 2012. Neste site, a que acedemos a 13 de janeiro 2014, lê-se que, para além dos cruzeiros que fazem escala e dos turn-around (quando há saída e entrada de passageiros), também se verifica o desenvolvimento da atividade do interporting, que consiste na possibilidade de um passageiro de qualquer nacionalidade embarcar ou desembarcar do barco em qualquer cidade em que este faça escala; esse passageiro pode portanto permanecer alguns dias como turista nesses destinos, antes de embarcar ou depois do cruzeiro.

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Todo este conjunto de considerações acerca da cidade como atrativo turístico, e a forma como Lisboa as pode interpretar, são elementos que nos conduzem não só nesta análise conceptual como também informam a escolha que realizámos para a aplicação prática desta Tese.

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3 – O TURISMO ACESSÍVEL

3.1 – REVISÃO DA LITERATURA: O ESTADO DA ARTE DOS ESTUDOS