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3.7 – FATORES POSITIVOS E NEGATIVOS NA PRÁTICA DO TURISMO ACESSÍVEL

Tendo em conta as opiniões dos vários autores que referenciámos ao longo desta parte do nosso trabalho, apresentamos agora, de uma forma mais sistemática, alguns aspetos importantes do turismo acessível. Apesar de ainda nos encontrarmos na componente teórica do trabalho, não quisemos deixar de apresentar, relativamente ao turismo acessível, um aspeto mais prático que, de certo modo, anuncia já a próxima fase empírica da tese, objetivo para o qual optámos pela utilização de uma ferramenta muito apreciada pelos gestores – a metodologia SWOT:

PONTOS FORTES

esta “faixa de mercado” tem vindo a aumentar, devido ao envelhecimento geral da população mundial (que resulta do aumento da longevidade), aliado à consolidação dos hábitos de viagem;

este tipo de turismo obriga, por parte da oferta, à eliminação de barreiras, tanto arquitetónicas como doutro tipo, para permitir o uso de espaços, do que resulta a criação de infraestruturas que serão utilizadas tanto pelos visitantes como pelos residentes, constituindo uma mais-valia social;

o Turismo Acessível contribui para a diminuição do fenómeno da sazonalidade, principalmente quando se trata de clientes idosos, que não têm de observar o tradicional período de férias, tendo disponibilidade para viajar ao longo do ano; isso é bom para o destino que, desde que tenha um bom clima, poderá rentabilizar fortemente a sua oferta, tendo procura mais dispersa ao longo do ano;

o efeito multiplicador deste tipo de turismo é importante, pois o número de clientes poderá ser bastante aumentado em função dos acompanhantes do turista com deficiência; este fenómeno pode ser também designado como efeito “multicliente”;

este tipo de turista costuma prolongar mais a sua estada para, dessa forma, compensar o transtorno da deslocação, o que se torna positivo para os destinos turísticos;

o cliente deste tipo de turismo, quando possui disponibilidade económica, está disposto a pagar mais pela garantia dos bons serviços, pois entende e compreende que requer condições especiais, numa dimensão diretamente proporcional ao grau de incapacidade;

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este tipo de turismo permite pôr em prática o conceito de Responsabilidade Social, contribuindo para uma sociedade mais inclusiva.

OPORTUNIDADES

o Turismo Acessível, ao exigir condições especiais de modo a que o destino possa proporcionar uma oferta que vá ao encontro das necessidades específicas dos clientes, poderá criar novas oportunidades de negócio especializado;

este tipo de turista tenderá a ser mais fiel, pois se um destino o conseguir satisfazer completamente ele provavelmente quererá repetir a experiência; isto também se verifica ao nível doutros tipos de turismo, mas no Turismo Acessível a certeza de existirem as condições necessárias é absolutamente fundamental;

os destinos turísticos, desde que desenvolvam as condições necessárias para cativar este tipo de cliente, podem melhorar as suas taxas de ocupação e de desempenho, visto que, tendencialmente, estes turistas viajam tão regularmente como os outros, ficam um pouco mais de tempo e tendem a gastar mais dinheiro.

PONTOS FRACOS105

o Turismo Acessível normalmente obriga a um investimento prévio relativamente grande, devido às condições que se têm de criar nas instalações aeroportuárias, hoteleiras e de restauração, assim como ao nível dos veículos ao serviço destes clientes e, ainda, nas melhorias nas áreas pedonais, porque esta oferta tem de ser «integral»;

custos associados ao facto de toda a cadeia de serviços exigir uma formação de pessoal habilitado para lidar com os clientes que apresentam necessidades especiais, que devem ser capazes de flexibilizar alguns aspetos da oferta para a adaptar aos seus ritmos e limitações, sejam elas motoras, cognitivas ou outras;

custos associados ao facto de este tipo de turismo obrigar à criação de “programas especiais” que se adaptem às limitações de cada cliente – para além de ser necessário apresentar programas diferentes e atrativos, como acontece, aliás, em qualquer tipo de turismo, os criadores destes programas têm ainda uma maior limitação nas escolhas

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Alguns dos pontos negativos que iremos apresentar podem ser transformados em positivos, quando vistos à luz duma perspetiva mais ética e inclusiva e menos comercial. Também se deve considerar que os potenciais benefícios que advirão deste tipo de turismo não serão sentidos a curto prazo, mas sim a médio e, principalmente, a longo prazo; e que muito do investimento em acessibilidades beneficiará não só os turistas como os residentes nacionais, ampliando as oportunidades de negócio.

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dos percursos e visitas, pois nem todos os espaços se encontram adaptados ou são adaptáveis;

o Turismo Acessível exige ao país recetor a capacidade de responder às necessidades específicas dos visitantes, por exemplo, em questões de saúde, o que pode representar encargos económicos acrescidos; mais do que acontece relativamente a outros tipos de turismo, estas pessoas necessitam de maiores cuidados, frequentemente diários; o cuidado em manter disponíveis medicamentos e/ou aparelhos essenciais para a saúde do cliente deve ser redobrado;

tendência para concentrar certa oferta, para certos clientes em certos espaços, o que, sendo prático do ponto de vista da utilização, acabará por transformá-los num gueto, situação essa que deverá ser evitada a todo o custo.

AMEAÇAS

a existência ou o risco de atos terroristas ou fenómenos naturais adversos pode influenciar mais facilmente a decisão de estes turistas não viajarem para esses destinos, pois são pessoas que têm maior dependência e mais dificuldade de adaptação a certas situações, considerando a segurança um fator essencial;

maior sensibilidade às ameaças à saúde pública, como foi o caso, em 2009, da Gripe A, que levou a uma diminuição deste tipo de turismo, visto que inclui pessoas mais débeis e que, por isso, necessitam de maiores cuidados e prevenções;

o facto de o turista com incapacidade ter, por vezes, de viajar acompanhado poderá também ser um ponto dissuasor da realização da viagem, pois tem consequências a diversos níveis mas, principalmente, ao nível financeiro; para quem não viaje com a família, o simples facto de arranjar quem o acompanhe pode ser difícil;

as atitudes discriminatórias perante a diferença fazem com que estes turistas não se sintam bem-vindos, pois pesa-lhes a ideia de não se enquadrarem nos padrões da “normalidade”, afligindo-se por darem “mais trabalho”, levarem mais tempo nas visitas e, desta forma, atrasarem e incomodarem os outros.

Desta breve análise podemos inferir que este tipo de turismo deve ser encarado como uma oportunidade de negócio e visto como algo de positivo. Trata-se de uma realidade que permite a evolução das sociedades em direção à equidade e, só por isso, deve ser considerado fundamental e necessário. Mas, se preferirmos falar uma linguagem mais económica, este parece ser “um bom negócio” (Cartilha de Acessibilidade, 2009b, p.12) e, tal como referiu

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Ambrose (2011)106, “estamos ainda num ponto de desenvolvimento em que os países podem

desde já adotar políticas para o Turismo Acessível e obter vantagens sobre os países que ainda não começaram a modificar e melhorar as suas políticas e práticas nessa área”.

Nesse sentido, este trabalho pretende dar um contributo para que se melhore o equilíbrio entre o que os turistas que visitam Lisboa em cadeira de rodas procuram e aquilo que a cidade lhes oferece. É disso que tratamos na componente empírica, que a seguir se apresenta.

106 Entrevista online dada por Ivor Ambrose, diretor executivo da ENAT, acedido a 1/4/2011, conforme

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PARTE B

Estratégias de adaptação