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Alguns autores, como Cravidão (2006), Cavaco (2006), Hodes (2006), Keller (2006) e Simões e Ferreira (2009) escreveram sobre o aparecimento de novos tipos de turismo resultantes das novas necessidades e valores emergentes nas sociedades. Esses novos tipos de turismo, que Simões e Ferreira (2009, p. 19) designam por “turismo de nicho”, resultam do consumo turístico pós-moderno.

Mas se, por um lado, esta é das atividades mais expostas às transformações das sociedades modernas, por outro lado, é também uma atividade que tem influenciado as próprias sociedades e contribuído, em muito, para as transformações ocorridas, havendo autores que dizem que “foi o turismo que, com as suas estruturas, a sua organização e a sua capacidade de resposta aos anseios do indivíduo veio permitir que todas as pessoas pudessem satisfazer a sua necessidade de deslocação…” (Cunha, 2003, p. 97). Mais ligados às questões da globalização, outros investigadores vão mais além, afirmando que “o turismo [se encontra] entre as muitas causas e resultados dos processos de globalização.” (Hjalager, 2007, p. 438).

A globalização, que pode ser definida como a crescente integração das economias, sociedades e civilizações é, na opinião de autores como Hjalager (2007, p. 441), um assunto muito controverso: a globalização estabelece-se “através dos avanços ao nível da informação e tecnologias da comunicação, assim como das oportunidades ao nível dos transportes”. São exatamente estes avanços tecnológicos e estas oportunidades que, associados à melhoria das condições de vida, têm permitido que o turismo se torne num importante bem de consumo, o que expõe a cumplicidade existente entre o turismo e a globalização.

Verifica-se que a prática do turismo leva a um contacto cada vez mais rápido e eficaz entre as diferentes sociedades, proporcionando um intercâmbio de tecnologias e mentalidades. Espelham-se cada vez mais nesta atividade preocupaçõesespecíficas dos novos tempos, como, por exemplo, as questões sobre o futuro do planeta, assim como o crescente individualismo nas sociedades. Todas estas questões têm forte influência no turismo, e conceitos como sustentabilidade, qualidade, diferenciação e diversidade, apesar de não serem novos, surgem agora como fundamentais para o seu desenvolvimento.

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Vivemos numa época em que a aposta da oferta turística se deve centrar principalmente na inovação e na qualidade como fatores de diferenciação. Em Portugal, esta ideia está bem patente no Plano Estratégico Nacional para o Turismo (PENT), onde se afirma haver

“urgência de acelerar o processo de reengenharia de produto dos destinos tradicionais, no sentido da inovação e qualidade de serviço e oferta de experiências singulares, dando resposta a uma concorrência que é hoje efetivamente global” (PENT, 2013, p. 6).

É pois urgente dar atenção aos diversos segmentos de mercado, para que a oferta possa ser variada e atrativa. A especialização, a sofisticação e a segmentação, isto é, os três S de que nos fala Cunha (2003)47, revelam-se como pontos essenciais para o futuro do turismo, pois só eles

conduzem à satisfação do cliente; ou melhor, “dos clientes”, pois cada vez mais tende a haver uma individualização da prática turística. Autores como Knowles, Diamantis e El-Mouhadis (2004) referem claramente que este novo turismo pode representar o final da era do turismo de massas. Ou, pelo menos, da sua prevalência.

Para lidar com esta realidade, as empresas do setor turístico têm de repensar as suas estratégias, as quais se devem basear no conhecimento das principais tendências, tanto nacionais como internacionais, pois, numa opinião que partilhamos, a globalização trouxe “um aumento gradual da concorrência e um despertar dos consumidores para novos produtos e um melhor nível de serviços” (Costa, 1998, p. 401).

Dentro das novas tendências a ter em consideração, encontramos – estreitamente relacionadas com a cidade de Lisboa – as mudanças relativas ao turismo urbano, nomeadamente o crescente fenómeno dos city-breaks e o turismo de cruzeiro, assim como a atual preocupação com a acessibilidade, um dos requisitos fundamentais da sustentabilidade, visto que “o público será cada vez mais sensível aos problemas socioculturais e ambientais” (OMT, 2002, p. 17) e se carateriza cada vez mais pelo seu papel ativo. Neste novo modelo de turismo aparece, agora, um cliente também ele diferente, com uma nova atitude fortemente relacionada com a globalização e os avanços tecnológicos. Tal como refere Cravidão (2006, p. 271), há agora “novas procuras, novos perfis de turistas e novas formas de olhar e de consumir”, resultantes da mudança de mentalidade e da diferente postura das pessoas perante a atividade turística. Este novo turista é mais ativo, mais informado, mais exigente,

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mais individualista e com outras preferências. Devemos considerar que estas novas categorias de turistas já não reagem aos esforços do marketing tradicional: também neste campo se devem introduzir alterações, sendo necessário utilizar as novas tecnologias. “Não é só a utilização dos novos meios que se torna importante mas também a mensagem transmitida e, nesse campo, as instituições e organizações que buscam os mercados emergentes terão de reinterpretar tanto a noção de turismo como a noção de trabalho” (Hjalager, 2007, p. 449). A oferta, hoje em dia, tem de estar extremamente alerta para os interesses dos turistas e ir cada vez mais ao encontro das suas necessidades, pois, tal como afirma Cavaco (2006, p. 341), neste momento, “quem comanda são os turistas e não a oferta”. As novas experiências irão ter um papel decisivo na escolha dos destinos, de tal forma que Keller (2006, p. 37) afirma que o turismo se tornou numa “indústria da experiência”, a qual se pretende que seja sempre positiva no final duma viagem.

Atualmente, as pessoas sentem-se cidadãs do mundo, sem barreiras, estando o mundo à distância de um click. Perdeu-se também a necessidade do contacto pessoal quando se compra uma viagem, já que tudo é feito virtualmente e, assim, “clientes modernos e bem informados não sentem tanta necessidade do contacto pessoal antes de realizar uma decisão de compra (…)” (Hjalager, 2007, p. 444). É a era dos contactos virtuais e das redes sociais. Este novo tipo de turista é mais difícil de satisfazer, pois tem mais conhecimento sobre a generalidade da oferta, obtendo, logo à partida, através da tecnologia, mais informação, o que o torna também mais independente.

Na realidade, o turismo sempre foi uma atividade que se baseou na experiência, ou seja, na vivência de outros lugares e contacto com outras pessoas. Podemos afirmar que uma viagem é sempre uma experiência; mas atualmente essa necessidade de experimentar outras coisas foi reforçada, aparecendo por si só como o objetivo máximo, tornando-se cada vez mais importante “dar a viver aos consumidores experiências excecionais que lhes interessem pessoalmente” (OMT, 2002, p. 17). É a individualização da viagem.

Verificamos, no entanto, que há certos tipos de turismo que terão uma maior preferência dos consumidores, pois, devido a uma oferta mais variada, permitem ir ao encontro de diversas experiências em simultâneo, o que constitui uma mais-valia. Esse é o caso do turismo urbano, que se apresenta como um tipo de turismo de grande riqueza e que poderá responder às necessidades de ”um mercado cada vez mais afastado dos tradicionais pacotes de viagens (…)

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cada vez mais idoso e sofisticado (…) e que procura novas experiências (…) de um modo independente” (Knowles et al, 2004, p. 15).

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