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3.5 – PROJETOS CERTIFICADORES DA ACESSIBILIDADE EM PORTUGAL

3.5 – PROJETOS CERTIFICADORES DA ACESSIBILIDADE EM PORTUGAL

Uma das funções das organizações que trabalham na área das acessibilidades tem sido a atribuição de certificações, garantindo que determinado edifício ou serviço cumpre as normas previstas na lei. Consideramos este trabalho de capital importância, porque é uma garantia de qualidade e, ao mesmo tempo, pode funcionar como um incentivo para os empresários, que podem exibir os documentos de certificação, tornados uma mais-valia para o seu negócio e um estímulo para fazer mais e melhor.

O projeto designado SELO ACESSO, desenvolvido pela Fundação Liga, inicialmente, em parceria com o Centro Português do Design, conta com o apoio da EIDD88 (Design for All

Europe), e tem a seguinte apresentação gráfica:

Figura 18 – Selo Acesso

Fonte: Fundação Liga

O projeto, do qual o selo é a expressão gráfica e simultaneamente galardão, pretende analisar a qualidade das diferentes formas de acesso e propor as melhorias necessárias à excelência na acessibilidade. Os objetivos do projeto definem-se da seguinte forma:

1. identificar as condições e caraterísticas de acessibilidade fisica, comunicacional e informacional;

88 EIDD – Design for All Europe é a plataforma europeia comum para urbanistas, arquitetos, designers e

outros que acreditam que as suas competências podem desempenhar um papel vital na transformação das nossas sociedades em outras mais coesas, inovadoras e sustentáveis. Com organizações-membros em 22 países europeus e um conceito que atrai um crescente interesse em todo o mundo, propõe-se mudar mentalidades, explorando as potencialidades do design e mostrando como pode melhorar a vida de todos.

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2. distinguir as boas práticas no âmbito da acessibilidade, identificando as necessidades e apresentando orientações;

3. divulgar as condições de acessibilidade existentes em espaços e equipamentos. O selo destina-se tanto a entidades públicas como privadas, tais como Escolas, Espaços Culturais e de Lazer, Equipamentos Turísticos e outros edifícios públicos e/ou privados, podendo todas estas entidades candidatar-se à sua obtenção. No dia 29 de novembro de 2011 foi atribuído o primeiro SELO ACESSO à Gebalis, no âmbito do Projeto Life.

Os critérios de atribuição contemplam requisitos constantes de uma grelha de avaliação que considera as acessibilidades (físicas, de comunicação e informação, equipamentos e assistência personalizada), o grau de autonomia que oferecem, as condições de segurança e conforto na utilização e a abrangência dessas mesmas acessibilidades. A sua análise é realizada por uma equipa multidisciplinar e o relatório final faz a identificação das situações realmente existentes e enumera as orientações a serem concretizadas pela entidade requerente.

Uma garantia de qualidade deste tipo irá, certamente, atestar a real existência de boas condições de acessibilidade e poderá ser muito positiva ao nível do turismo, pois será a prova de que os seus agentes possuem realmente as condições indispensáveis, para serem consideradas acessíveis. Se, conforme previsto, a sua utilização decorrer de acordo com parâmetros de excelência de informação, garantindo a qualidade da mensagem transmitida, poderá ser reconhecido também ao nível internacional. Mais ainda, a exibição da insígnia ilustra modelos e exemplos a seguir, gerando uma saudável competição pela excelência.

Também o Turismo de Portugal considera a necessidade de criar critérios para certificar o país em termos da acessibilidade, de modo a transmitir uma informação correta sobre o mesmo. Esta entidade apresenta grandes preocupações a esse nível e, por exemplo, logo na página de entrada do seu sítio na Internet89 se podem encontrar referências a diversos workshops

realizados sobre Turismo Acessível, de modo a sensibilizar todos os agentes nesse sentido. Por outro lado, o Turismo de Portugal faz parte de uma parceria entre diversas entidades, que

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desenvolveram o Certificado de Acessibilidade ICVM90 (Instituto de Cidades e Vilas com

Mobilidade), que apresenta o seguinte símbolo:

Figura 19 – Símbolo de certificação ICVM

Fonte: ICVM (www.institutodemobilidade.org/.../certificado.html)

A parceria integra, entre outras entidades, o Turismo de Portugal, a Associação Nacional de Municípios Portugueses, a Associação Salvador e a AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal). Este certificado permite identificar os locais onde o acesso universal às atividades económicas, sociais, culturais e turísticas está garantido, reconhecendo o seu nível de acessibilidade. Pode ser solicitado por qualquer prestador de serviços e pretende validar a acessibilidade de lugares ou espaços físicos, de uso público ou privado. A sua atribuição é feita com base no cumprimento da legislação em vigor, bem como dos referenciais produzidos a partir de boas práticas reconhecidas. A sua atribuição é sujeita a pagamento e é válida por dois anos, apresentando três níveis de acessibilidade:

nível I: Funcional: Cumpre condições de visita e usufruto do espaço em todas as

valências da sua atividade principal para acesso público;

nível II: Amigável – Cumpre o nível anterior e ainda disponibiliza materiais e conteúdos

que reforcem o bem-estar dos utilizadores do espaço certificado. Pode, ainda, promover condições de acessibilidade para além do âmbito da legislação em vigor, tais como o atendimento e acompanhamento personalizado, a criação de materiais informativos e informatizados ou, ainda, o reforço nas complementaridades da acessibilidade universal capaz de integrar todos os diferentes componentes sociais, culturais e turísticas;

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Em Portugal, encontramos já um total de 40 municípios que aderiram a este projeto, e se a Lousã é o caso mais conhecido, encontramos muitos outros com forte relevância turística, como, por exemplo, Guimarães, Cascais, Vilamoura e Funchal.

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nível III: Excelência – Cumpre os níveis anteriores e cria, ainda, condições para se poder

exercer atividade profissional. Este nível, diretamente ligado à empregabilidade, assume um papel determinante no conceito mais universal da promoção da acessibilidade, pelo que, consequentemente, é considerado de excelência.

Esta certificação que se encontra já presente em grande parte do território nacional91, tem sido atribuída relativamente a distintos temas, que passamos a enumerar:

tema 1 : Cidade ou Vila Acessível para Todos;

tema 2 : Cidade ou Vila Ciclável e de Mobilidade amigável;

tema 3 : Cidade ou Vila de Regeneração e Vitalidade Urbana;

tema 4 : Cidade ou Vila Turística.

Também ao nível europeu e agora diretamente relacionado com a atividade turística, foi criado o ENAT Code of Good Conduct (Código de Boa Conduta da ENAT), que se faz representar pelo símbolo abaixo. Na nossa opinião, visto ter sido produzido por uma entidade europeia com reconhecidas valências ao nível do turismo acessível, seria um forte candidato para ser futuramente adotado pelos diversos países, inclusive Portugal, de forma a poder haver uma uniformização da certificação relativamente ao setor do turismo acessível.

Figura 20 – Símbolo do Código da Boa Conduta da ENAT

Fonte:ENAT (http://www.accessibletourism.org/?i=enat.en.enat-code-background )

Esta certificação dirige-se aos membros da ENAT, os quais, ao apresentarem este símbolo, se comprometem a seguir oito princípios que espelham os objetivos desta associação e refletem

91 Esta certificação já se encontra em 37 cidades portuguesas que vão desde: Valença, Fafe, Alfandega

da Fé, Pombal, Leiria, Torres Vedras, Loures, Beja, Faro e Funchal, entre outras. Curiosamente, ainda não se encontra em Lisboa.

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as suas prioridades. Cada um desses princípios é considerado fundamental para a compreensão e prática do Turismo Acessível para Todos:

1 – reconhecer a igualdade de direitos;

2 – dar atenção pessoal (ir ao encontro das necessidades do cliente); 3 – remover e evitar barreiras de acesso;

4 – melhorar o conhecimento, competências e capacidades (através da formação do staff); 5 – monitorizar (garantindo a manutenção do bom nível de acessibilidade);

6 – trabalhar, sempre que possível, com fornecedores que também possuam o certificado, (permitindo oferecer aos clientes sempre os melhores serviços);

7 – comprometer-se em resolver as situações de insastifação dos clientes (perante o incumprimento de algum associado possuidor deste certificado);

8 – responsabilizar-se pela gestão (deve exisitir na equipa, contactável, uma pessoa responsável pelas questões da acessibilidade).

Ainda no que diz respeito a projetos certificadores e normas de acessibilidade no âmbito do turismo, registamos que a Comissão Técnica 144 Serviços Turísticos – coordenada pelo Turismo de Portugal no âmbito do Sistema Português da Qualidade – foi distinguida com o Diploma de Boas Práticas em Acessibilidade Universal, em maio de 2013, e desenvolveu uma das cinquenta boas práticas em acessibilidade universal identificadas pelo ICVM e pelo Jornal Planeamento e Cidades. É imprescindível prosseguir na criação de normas precisas e adequadas às diversas vertentes da atividade turística em Portugal. Também uma fiável utilização dos símbolos internacionais se apresenta de caráter urgente, pois a credibilidade só poderá estabelecer-se através de um processo de estandardização (Eichhorn et al. 2007).

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