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A conversão de Saulo

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 185-188)

B O s Fundam entos Para A M issão M undial

7. A conversão de Saulo

Agora que Estêvão e Filipe deram suas contribuições pioneiras nos p rep arativos para a m issão m undial, Lucas está pron to para con tar a h istó ria de duas conversões n otáveis que a fizeram disparar. A primeira é a de Saulo de Tarso, que se tomou apóstolo dos g en tios,1 e a segunda, a do centurião C orn élio, que foi o primeiro gentio a se tomar cristão. A conversão de Saulo está neste capítulo, e a de Cornélio no próximo.

A experiência de Saulo na estrada de Damasco é a conversão mais famosa na história da igreja. Lucas fica tão im pressionado com a sua importância, que a relata três vezes, uma vez em sua p ró p ria n arrativ a, e duas nos d iscu rsos de Paulo. Ele evidentemente anseia, como afirma o Livro de Oração Comum, que "tenham os essa maravilhosa conversão na lem brança".

Entretanto, à medida que lemos, surge uma pergunta crucial em nossas m entes. Será que Lucas espera que considerem os a conversão de Saulo como um padrão de conversão cristã para hoje ou com o algo excep cional? M uitas p essoas a rejeitam , considerando-a completamente incomum, não podendo ser, de modo nenhum, norma para a conversão hoje em dia. "Eu não tive uma experiência na estrada de D am asco", dizem. Certam ente algu ns aspectos foram atípicos. Por um lado, h avia eventos dram áticos e sobrenaturais, como o flash de luz e a voz que o cham ou pelo seu nom e. Por outro lado, havia os asp ectos históricos únicos, como a aparição do Jesus ressurreto, que Paulo alega, mais tarde, ter sido a última (9:17, 27 e 1 Co 15:8), e a sua com issão com o apóstolo, sem elhante ao cham ado de Isaías, Jerem ias e Ezequiel para serem profetas, e mais particularmente para ser o apóstolo aos gentios.2 Para sermos convertidos não é necessário sermos atingidos por uma luz divina, ou cairmos no chão, ou ouvirmos nosso nome sendo falado em aramaico, assim

com o não é necessário viajarm os para o ponto exato daquela estrada de Damasco. Nem podem os garantir uma aparição de Jesu s ressu rreto ou um cham ado para o ap ostolad o com o aconteceu com Paulo.

Mesmo assim, fica muito claro, de acordo com o resto do Novo Testam ento, que outros aspectos da conversão e com issão de Saulo podem ser aplicados a nós hoje. Pois nós também podemos (e devemos) experimentar um encontro pessoal com Jesus Cristo, su bm eter-n os a ele em arrependim ento e fé, e receb er o seu cham ado para o serviço. Contanto que façamos uma distinção en tre o h istoricam en te singular e o u n iv ersal, entre os com p lem en tos d ram áticos externos e a exp eriên cia in tern a essen cial, o que aconteceu a Saulo continua sendo um caso instrutivo de conversão cristã. E mais, a "paciência ilim itada" de Cristo para com ele deveria ser um "exem plo" encorajador para outros.3

Deve-se considerar ainda outro tipo de ataque à história da conversão de Saulo: a tentativa de eliminar todos os elementos sobren atu rais. No últim o século, alguns com en taristas especularam que Saulo foi vencido pelo sol intenso ou por um ataque epilético. Na nossa geração, foi proposta uma explicação parcialm ente psicológica e parcialm ente fisiológica para a sua conversão, especialmente por Dr. William Sargant, em seu livro

Battlefor the Mind .4 Com o subtítulo "um a fisiologia da conversão e da lav agem cereb ral", o objetivo do livro é m ostrar "com o crenças ... podem ser implantadas à força na mente hum ana, e com o p essoas podem ser desviadas para crenças arbitrárias, completamente contrárias ao que criam anteriormente", enquanto que a conclusão é que "existem mecanismos fisiológicos simples de conversão".5 Baseando sua tese na experiência de Pavlov com cachorros e em sua própria experiência, durante a guerra, no tratam ento de p acientes que não resistiram à exau stão do com bate", Dr. Sargant conjectura que algo semelhante aconteceu a Saulo. D epois de um "estágio agudo de excitação n erv osa" vieram "co lap so total, alucinações e um estado de crescente su gestion abilid ad e",6 intensificados pelos três dias de jejum . Nessa condição, novas crenças, exatamente contrárias às de antes, foram implantadas, primeiro por Ananias e, depois, pelo "período necessário de doutrinamento" com os cristãos de Dam asco.7

N ão discord am os da análise geral do Dr. Sargan t sobre a terrív el técn ica da lavagem cerebral, na qual a m ente é

ATOS 9:1-31

incessantemente bombardeada por idéias estranhas, até que sofre u m colap so e se torna dócil e sugestion ável. T am bém não negam os que danças rítm icas e batidas de tam bores em cultos relig io so s p rim itivos e até m esm o algum as form as de ev an g elização m anipulativa e em ocional p rov o cam algo semelhante. Mas não concordamos com sua tentativa artificial de enquadrar a conversão de Saulo nesse caso. Pois os fatos não apóiam essa reconstrução. Não existe nenhuma evidência de que algu ém tenha aplicado alguma "técn ica " para "b om b ard ear" Saulo até derrubá-lo, a não ser que tenha sido o próprio Jesus. Mas isso exigiria uma explicação sobrenatural, que destruiria a tese do Dr. Sargant. Além disso, as conversões em Atos são tão variadas que não podem ser explicadas de forma tão simples, em termos fisiológicos ou psicológicos.8

C on trastan d o totalm ente com os in créd u lo s que tentam desacreditar a conversão de Saulo, eu gostaria de mencionar uma carta do século XVIII, escrita para Gilbert West pelo barão George Lyttelton publicada sob o título Observação sobre a Conversão e o

A postolado de São P au lo.9 Ele estava tão con ven cid o da

autenticidade da conversão de Saulo que acreditava que ela em si, à parte de outros argumentos, "era suficiente para provar que o cristianismo é uma revelação divina".10 Dirigindo a atenção para as referências de Paulo à sua conversão, tanto em seus discursos como em suas cartas, ele elaborou sua tese detalhadamente. Já que Saulo não era "um impostor, que dizia algo que sabia ser falso, com a intenção de enganar", nem "um entusiasta, que foi levado pela força de sua própria imaginação exagerada", nem "tinha sido enganado pela fraude dos outros", portanto "o que declarou ter sido a causa de sua conversão, e o que declarou ter acontecido em conseqüência disso, tudo aconteceu de fato, e a religião cristã, portanto, é uma revelação divma".11

Assim, aceitando o fato de que a conversão de Saulo realmente aconteceu devido a uma intervenção de Jesus Cristo, e aceitando a necessidade de fazerm os um a distinção entre seus aspectos essenciais e excepcionais, estam os prontos para exam inar sua causa e seus efeitos. Examinaremos sucessivamente: Saulo antes da conversão, Saulo e Jesus em seu encontro na estrada, Saulo e Ananias, que o recebeu na igreja de Damasco, e Saulo e Barnabé, que o apresentou aos apóstolos em Jerusalém.

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 185-188)