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Estêvão é apedrejado (7:54-60)

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 156-161)

B O s Fundam entos Para A M issão M undial

3. Estêvão é apedrejado (7:54-60)

Ouvindo eles isto, enfureciam-se nos seus corações e rilhavam os dentes contra ele. 55Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à sua direita, :'6e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à destra de Deus.

57Eles, porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e unânimes arremeteram contra ele. S8E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo.

59E apedrejavam a Estêvão que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito! 60Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Com estas palavras adormeceu.

Estêvão estava pronto para ser o primeiro martys verdadeiro, que selou seu testemunho com o próprio sangue. Sua morte estava cheia de Cristo. Lucas relata outras três frases que ele disse; a primeira refere-se a Cristo, e as outras duas são dirigidas a Cristo.

Quando os m em bros do Sinédrio, enfurecidos com as suas acusações, rilhavam seus dentes contra ele (v. 54), bufando com o animais salvagens, Estêvão, cheio do Espírito, teve uma visão da glória de Deus (v. 55), e exclamou: Eis que vejo os céus abertos e o

Filho do homem em pé à destra de Deus (v. 56). Já se levantaram várias

explicações para o fato de Jesus estar em pé (que se repete nos versículos 55 e 56), e não sentado,34 à destra de Deus. É possível que o Filho do hom em que, na visão de D aniel,35 foi levado à p resença de D eus, estivesse em pé diante dele para receb er autoridade e poder. Mas parece mais provável que o fato de Jesus estar em pé esteja mais diretamente relacionado com Estêvão: ele estaria em pé para ser seu advogado celestial ou para receber seu

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p rim eiro m ártir. C itando F. F. Bruce, "E stêv ão estiv era con fessan d o C risto diante dos hom ens, e agora vê C risto confessando seu servo diante de Deus."36

N ão qu eren d o ouvir o testem unho de E stêvão acerca da exaltação de Jesus, os membros do conselho taparam os ouvidos, procurando abafar a voz dele com uma gritaria. Pior, estavam decididos a silenciá-lo. Assim , arrem eteram contra ele (v. 57), e,

lançando-o fora da cidade, o apedrejaram (v. 58a). Já que os romanos

haviam tirado dos judeus o direito de executarem a pena capital,37

o apedrejamento seria mais um linchamento popular do que uma execução oficial. Mas ainda havia uma vaga lembrança de justiça, pois, de acordo com a lei,38 os prim eiros a lançarem as pedras deveriam ser "as testemunhas", ou seja, os acusadores, apesar de, no caso de Estêvão, serem as falsas testem unhas de 6:13 ou os m embros do Sinédrio. De qualquer maneira, deixaram suas vestes

aos pés de um jovem chamado Saulo (v. 58b), uma experiência da qual

ele n u n ca se esqu eceu (22:20). A ssim , d iscretam en te, Lu cas introduz em sua narrativa o homem que logo passará a dominá- la.

Foi durante o seu apedrejamento que Estêvão pronunciou sua segunda frase: Senhor Jesus, recebe o meu espírito (v. 59). Sua oração é parecida com a que, segundo Lucas, Jesus pronunciou pouco antes de morrer: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!"39

M as essas não seriam as últimas palavras de Estêvão. Ele disse uma terceira frase ao se ajoelhar. Clamou em alta voz: Senhor, não lhes

imputes este pecado (v. 60). É uma reminiscência da primeira frase

d ita por Jesus na cruz, relatada por Lucas: "P ai, p erdoa-lhes, porque não sabem o que fazem."40 Quer tenha sido Estêvão quem im itou seu Mestre deliberadamente ou Lucas quem observou e ressaltou o fato, existem várias semelhanças entre a morte de Jesus e a morte de Estêvão. Em ambos os casos, foram contratadas falsas testemunhas e a acusação era blasfêmia. As duas execuções foram acom pan had as por duas orações, rogando o perdão para os acusadores e a aceitação de seus próprios espíritos ao morrerem. P ortanto — conscientem ente ou não — o discípulo im itou seu Mestre. A única diferença foi que Jesus dirigiu suas orações ao Pai, enquanto que Estêvão as dirigiu a Jesus, chamando-o de "Senhor" e colocando-o no mesmo nível de Deus.

Lucas encerra esse episódio com um dramático contraste entre E stêv ão e Sau lo. Estêvão adorm eceu (v. 60b), o que B en gel denom ina "u m a palavra cheia de tristeza, m as d o ce"41 e F. F.

Bruce, "um a descrição inesperadamente bonita e cheia de paz para uma morte brutal".42 Em contraposição, Saulo consentia na sua

morte (8:1a). Voltaremos mais tarde à influência de Estêvão sobre

Saulo. Por enquanto, basta notar de que form a resplandecente brilha a fé tranqüila de Estêvão contra o pano de fundo sombrio da ira assassina de Saulo (8:1,3).

Conclusão

Para muitas pessoas, o que mais interessa em Estêvão é que ele foi o prim eiro m ártir cristão. Porém , a preocupação principal de Lucas está em outro ponto. Ele enfatiza o papel vital que Estêvão representa no desenvolvimento da missão cristã mundial através de seu ensino e sua morte.

O ensino de Estêvão, considerado "blasfêmia" contra o templo e a lei, consistia em que Jesus (como ele mesmo havia afirmado) era o cum prim ento de ambos. Já no Antigo Testam ento, Deus estav a atado ao seu povo, onde quer que estiv esse, e não a edifícios. Da mesma forma, Jesus está pronto para acompanhar o seu povo onde quer que seja. Logo depois, quando Paulo e Barnabé partirem para o desconhecido em sua primeira viagem missionária, eles vão descobrir (como Abraão, José e Moisés antes deles) que Deus está com eles. E é exatamente isso que relatam ao voltar (14:27; 15:12). De fato, essa certeza é indispensável para a missão. Mudanças são dolorosas para todos nós, especialmente quando afetam nossos tão queridos edifícios e costumes, e não d evem os p rocu rar m udanças apenas para m udar. M as o verdadeiro radicalismo cristão está aberto a mudanças. Ele sabe que Deus mesmo se atou à sua igreja (prometendo que ele nunca a deixará) e à sua palavra (prometendo que ela nunca perecerá). Mas a igreja de Deus é um povo, não edifícios; e a palavra de Deus são as Escrituras, não as tradições. Enquanto esses fundamentos forem preservados, os edifícios e as tradições podem continuar, se necessário. Não podemos permitir que eles prendam o Deus vivo ou impeçam a sua missão no mundo.

O m artírio de Estêvão com plem entou a in flu ên cia de seu ensino. Ele não só impressionou profundamente a Saulo de Tarso, contribuindo para a sua conversão, levando-o a se tomar apóstolo dos gentios, mas também ocasionou "um a grande perseguição", que provocou a dispersão dos discípulos "pelas regiões da Judéia e Sam aria" (8:1b).

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A igreja ficou abalada, até mesmo aturdida com o martírio de Estêvão e com a oposição violenta que se seguiu. M as, olhando ad ian te, p od em os ver com o a p ro vid ên cia de D eus usou o testem unho de Estêvão, em palavras e em obras, na vida e na morte, para promover a missão da igreja.

Notas:

1. M organ, pp. 142-143. 2. New English Bible.

3. Lc 21:15; cf. 12:12. 4. M c 14:58; cf. 15:29; Mt 26:61. 5. Jo 2:20. 6. Jo 2:21. 7. M t 12:6. 8. M t 5 :l 7. 9. Êx 34:29ss.

10. P refá cio a Androcles and the Lion, de G eorge B ern ard Shaw (1912; Constable, 1916), p. lxxxv. 11. Dibelius, pp. 167 e 169. 12. N eil, p. 107. 13. SI 27:4; cf. SI 15,42 - 43, 8 4 ,1 2 2 ,1 3 4 ,1 4 7 ,1 5 0 . 14. E.g. Jr 7:4. 15. G n 11:28. 16. Js24:2. 17. G n 15:7; Js 24:3; Ne 9:7. 18. Cf. Gn 15:13; Êx 12:40-41. 19. G n 2 6 :lss. 20. G n 4 6 :ls s.;c f. 28:10ss. 21. Gn 23. 22. G n 33:18-20. 23. G n 47:29-30; 49:29-33; 50:12-14. 24. Gn 50:26; Js 24:32. 25. Veja Gn 12:1-3; 15:18-21; 22:15-18. 26. Dt. 18:15.

27. Crisóstom o, Homilias XVT e XVII, pp. 100-112. 28. 1 Rs 8:27; cf. 2 Cr 6:18. 29. 1 Cr 17:5; cf. 2 Sm 7:6. 30. E.g. Êx 32:9; 33:3, 5; 34:9; Dt 9:6,13; 10:16; 31:27; 2 Cr 30:8; Jr 17:23. 31. E.g. Lv. 26:41; Dt 10:16; 30:6; Jr 6:10; 9:26; Ez 44:7. 32. Cf. Lc 6:23; ll:4 9 s s .; 13:34. 33. Calvino, I, p. 212. 34. SI 110:1; cf. Lc 22:69; At 2:34-35. 35. Dn 7:13-14. 36. Bruce, English,p. 168. 37. Jo 18:31.

38. D tl7 ;7 . 39. Lc 23:46. 40. Lc 23:34. 41. Bengel, p. 584. 42. Bruce, English p. 172. 160

Atos 8:1-40

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