• Nenhum resultado encontrado

O sermão de Pedro: a explicação do Pentecoste (2:14-41)

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 72-97)

A ntes de estudarm os o serm ão de Pedro em p articu lar, é necessário considerar os discursos de Atos em geral.

0. Os discursos de Atos

Todo leitor de Atos se surpreende com a posição proeminente que os discursos ocupam no texto de Lucas. Observamos novamente quão incompleto é o título desse livro, quer os "A tos" se refiram aos de C risto, aos do E spírito ou aos dos ap óstolos; pois ele con tém igu alm ente "d isc u rso s" e "a to s ". Lucas é fiel à sua intenção de relatar o que Jesus continuou a "fazer e a ensinar" (após a ascensão; 1:1). Não menos que dezenove palestras cristãs significativas aparecem em seu segundo livro (sem contar as palestras não cristãs de Gamaliel, do oficial de Éfeso e de Tertúlio). Oito são de Pedro (nos capítulos 1, 2 ,3 ,4 ,5 ,1 0 ,1 1 e 15), uma de Estêvão e uma de Tiago (nos capítulos 7 e 15), e nove de Paulo (cinco sermões nos capítulos 1 3 ,1 4 ,1 7 ,2 0 e 28 e quatro discursos em sua própria defesa nos capítulos 22 a 26). Aproximadamente 20% do texto de Lucas é devotado às palestras de Pedro e Paulo; se acrescentarmos a palestra de Estêvão, o índice sobe para quase 25%.

Mas será que esses discursos foram genuinamente proferidos pelas pessoas às quais são atribuídos? São exatos? Existem três

ATOS 2:1-4?

respostas possíveis.

Em prim eiro lugar, provavelm ente nunca se pensou que os discursos de Atos são relatos verbatim daquilo que se disse em cada ocasião. Existem várias razões para rejeitarm os essa idéia. Eles são muito curtos para serem completos (o sermão de Pedro no dia de Pentecoste, segundo relatado por Lucas, teria levado três m inutos, e o de Paulo em Atenas apenas um m inuto e m eio). Lucas diz especificam ente, no fim do seu relato do serm ão de Pedro, que ele continuou a exortar a multidão "com muitas outras palavras" (v. 40); naturalmente não existia nenhum equipamento de gravação naquela época, mesmo que a taquigrafia estivesse sendo desenvolvida; e, de qualquer form a, Lucas não esteve presente para ouvir pessoalmente cada palestra, de modo que ele deve ter dependido de resum os posteriores fornecidos pelos orad ores ou p or um dos ouvintes. Lucas, p o rtan to, só pode afirmar que está dando um resumo confiável de cada palestra.

Em segundo lugar, a abordagem crítica moderna, desenvolvida e popularizada entre as duas grandes guerras por H. J. Cadbury no m undo anglo-saxônico e por M artin Dibelius na A lem anha, é m uito m ais cética. Suas afirm ações sobre a in au ten ticid ad e su b stan cial dos d iscu rsos baseiam -se em dois argum en tos principais. Primeiro, se alguém comparar os discursos entre si e com as passagens narrativas de Lucas, verá que a totalidade do seu texto reflete o m esm o estilo e vocabulário, enquanto que muitas das palestras apresentam a mesma forma, a mesma ênfase teológica e as mesmas citações das Escrituras. A explicação natural p ara essa sem elhança é que tudo vem da m ente e da pena de Lucas, e não de oradores diferentes. O segundo argumento é que "entre os historiadores antigos, prevalecia o costume de inserir discursos dos personagens principais na narrativa",23 compondo, eles mesmos, livremente esses trechos. Assim, na história grega, os discursos tinham a mesma função interpretativa do coro, no d ram a grego. E m ais, os autores sabiam que seus leitores entendiam e aceitavam esse artifício literário que era empregado tanto por historiadores judeus como gregos.

O exem plar grego mais citado é Tucídides, o historiador da guerra do Peloponeso, no quinto século a.C. A passagem chave de sua crônica inclui a seguinte afirmação:

Quanto aos disci.isos foi difícil para mirri, e para aqueles que os rep o rtaram a m im , reprodu zir as p alav ras exatas.

Coloquei, portanto, na boca de cada orador, os sentimentos próprios à ocasião, expressos da forma que julguei provável que eles expressassem , enquanto que, ao m esm o tem po, esfo rcei-m e para relatar, do m odo m ais fiel p ossív el, o conteúdo geral daquilo que realmente se disse.

Por causa das referências de Tucídides à dificuldade de lembrar aquilo que fora dito e à sua própria opinião sobre o que poderia ter sido dito, em geral se entende que ele simplesmente inventou os discursos que registrou. Geralmente, o exemplo judaico citado é Jo sefo , que parece ter sido m uito m enos rigoroso do que Tucídides, até mesmo completamente desprovido de princípios. H. J. Cadbury descreve como, às vezes, ele transforma a narrativa do Antigo Testamento "em seus próprios chavões tediosos", às vezes, "inserindo em cenas inadequadas longas diatribes de sua própria com posição", e no caso da história mais contemporânea

"é evidente que ele inventou discursos".25 Juntando essa tradição da h istó ria ju d aica e grega, C adbury escreve: "A p artir de T u cíd id es, as p alestras relatadas pelos h isto riad ores são con fessad am ente pura im aginação".26 Sendo esse o costum e supostamente universal dos escritores de história grega e judaica, os críticos da Bíblia entendem que Lucas, como historiador cristão, não era diferente. "A evidência... é forte", escreveu Cadbury, "de que seus discursos geralmente não são baseados em informações d efin id as -- m esm o que as narrativas que os acom p an ham pareçam ser totalmente fidedignas".27

A terceira forma de entender os discursos de Atos, rejeitando o liberalismo extremo e a crítica extrema, consiste em vê-los como resumos confiáveis daquilo que se disse em cada ocasião. Pode-se fazer uma crítica tríplice à reconstrução de Cadbury-Dibelius. Primeiro, ela não faz jus a todos os historiadores antigos. Parece que Josefo e alguns historiadores gregos consideravam que os discursos por eles inseridos pertenciam mais à retórica do que à história. Isso, porém, não diz respeito a Tucídides. Comentaristas conservadores argumentam que Tucídides foi mal-interpretado. P or um lad o, não se deu atenção su ficien te à frase fin al da afirm ação acim a citada, ou seja, que ele se m anteve o m ais próximo possível do conteúdo geral, daquilo que "realm ente se d is se ", um a expressão que, segundo F. F. B ru ce, exp ressa a "consciência histórica de Tucídides".28 Por outro lado, a citação ficou incompleta. Pois Tucídides prossegue:

ATOS 2:1-47

Dos acontecim entos da guerra não me arrisquei a falar a partir de informações incertas, nem de acordo com qualquer noção minha; nada descrevi além daquilo que eu mesm o vi ou ouvi de outros, junto a quem fiz uma investigação muito cuidadosa e particular. A tarefa foi muito trabalhosa ...29

A.W . Gom m e resum iu esse capítulo de Tucídides da seguinte form a: "T en tei relatar esses eventos com a m aior acu id ad e p o ssív el, tanto os discursos com o os atos, apesar de todas as dificuldades."30

Dr. Ward Gasque também ressalta que Políbio, um historiador grego do século II a.C., "vez após vez condena explicitamente o costume de os historiadores inventarem discursos livrem ente". O Dr. Gasque conclui que "a livre invenção de discursos não era uma prática universalmente aceita entre os historiadores no m undo greco-r omano " .31

Em segundo lugar, o ceticismo crítico em relação aos discursos de A tos tam bém não faz ju s a Lucas. Com o já vim os, Lucas afirm ou, em seu prefácio, que estava escrevendo uma história cuidadosamente investigada e, no início de seu segundo livro, que o seu conceito de história incluía tanto palavras com o atos. É, portanto, previam ente im provável que ele tenha inventado os discursos, assim como ele não poderia fabricar eventos. E também é in ju sto p ressu p or que, porque alguns — ou m u itos -­ historiadores antigos tomaram certas liberdades em relação às su as fon tes, Lucas tenha feito o m esm o. Pelo con trário, conhecemos através do seu Evangelho, o respeito consciencioso com que tratou sua fonte principal, Marcos. Até mesmo Cadbury reconheceu que, em seu Evangelho, "ele transfere o m aterial discursivo da sua fonte para o seu próprio manuscrito com um mínimo de alterações verbais".32 Assim, apesar de os discursos de Atos serem diferentes dos discursos e das parábolas de Jesus, existe vasta razão para crerm os que Lucas trataria um com o mesm o cuidado com o que tratou o outro. Além disso, ele de fato ouviu pessoalm ente um certo número das palestras de Paulo e encontrou pessoas que ouviram as outras palestras que ele relata; logo, ele estava bem mais perto dos originais do que os outros historiadores.

Em terceiro lugar, os críticos céticos não são ju stos em sua avaliação da variedade e da adequação dos discursos de Atos.

Q uando lem os os prim eiros serm ões de Pedro em Atos 2 a 5, temos a impressão que estamos ouvindo a primeira formulação apostólica do evangelho. H. N. Ridderbos chamou atenção para o seu caráter decididamente "arcaico", pois "nem a terminologia cristológica nem o notável método de citar as Escrituras usados nesses discursos ... apresentam os sinais do desenvolvim ento p o ste rio r."33 E quando lem os os serm ões de Paulo, ficam os maravilhados com sua capacidade de adaptação, ao falar com os judeus na sinagoga de Antioquia da Pisídia (capítulo 13); aos pagãos ao ar livre, em Listra (capítulo 14); aos filó sofos do A reópago, em Atenas (capítulo 17), e aos anciãos da igreja de Éfeso, em Mileto (capítulo 20). Cada um é diferente, cada um é adequado. D evem os realm ente supor que Lucas possu ía um co n h ecim en to teológico, uma sensibilid ad e h istó rica e um a habilidade literária tão ricos que compôs todos eles? Não seria m uito m ais razoável supor que Lucas estiv esse resum in d o palestras genuínas de Paulo, embora, no processo, o seu próprio estilo e vocabulário tenham se manifestado naturalmente? Como F. F. B ru ce escreve: "E m vista disso tudo, cada d iscu rso é adequado ao seu orador, ao público e às circunstâncias; e isso... dá um a boa b ase... para crerm os que esses d iscu rsos não são invenções do historiador, mas relatos resumidos de discursos que de fato acon teceram , e, portan to, são fon tes in d ep en d entes valiosas de história e teologia da igreja primitiva".34

b. A citação d ejoel (2:14-21)

Então se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. 15Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. 16Mas o que ocorre é o que fo i dito por intermédio do profeta Joel:

17E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos v elh o s;18 até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derram arei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

Pedro agora explica o que Lucas havia descrito nos versículos 1­ 13. O fenôm eno extraordinário dos crentes cheios do Espírito

ATOS 2:1-47

proclam ando as grandezas de Deus em línguas estranhas é o cumprimento da profecia de Joel de que Deus derram aria o seu Espírito sobre toda a carne. A exposição de Pedro é similar àquilo que os R olos do M ar M orto cham am de "p e s h e r" ou "interpretação" de uma passagem do Antigo Testamento à luz do seu cum prim ento. Assim: 1) Pedro começa seu serm ão com as palavras "isso é aquilo" (v. 16, literal), ou seja, isso que os seus ou v in tes testem u nh aram é aquilo que Jo el p ro fetizou ; 2) ele deliberadamente substitui o "depois" de Joel (o tempo em que o Espírito será derramado) por "nos últimos dias" a fim de enfatizar que, com a vinda do Espírito, chegaram os últimos dias, e 3) ele aplica a passagem a Jesus de modo que "o Senhor" que traz a salvação já não é Javé, que abriga os sobreviventes no M onte Sião,35 mas Jesus, que salva do pecado e do julgam ento todos os que o chamam pelo seu nome (v. 21).36

Os autores do Novo Testamento são unânimes na convicção de que Jesus inaugurou os últimos dias ou a era messiânica, e que a prova final disso foi o derramamento do Espírito, já que essa era a prom essa das promessas do Antigo Testamento para o final dos tem pos. A ssim sendo, precisamos ser cuidadosos em não citar novamente a profecia de Joel como se ainda estivéssemos à espera de seu cumprimento, ou como se o seu cumprimento tivesse sido apenas parcial, e ainda esperássemos por algum cum prim ento com p leto e futuro. Pois não foi assim que Pedro en ten d eu e aplicou esse texto. Toda a era messiânica, que se estende entre as duas vindas de Cristo, é a era do Espírito, na qual o seu ministério é abundante. Não é esse o significado do verbo "d erram ar"? A im agem , provavelmente, é a de uma forte tempestade tropical, e parece ilustrar a generosidade da dádiva divina do Espírito (não apenas uma garoa ou uma chuva, mas, sim, uma tempestade), sua irrev ersib ilid ad e (pois o que foi "d erra m a d o " não pode ser recolhido) e sua universalidade (amplamente distribuído entre os diferentes grupos hum anos. Pedro continua enfatizando essa universalidade. Toda a carne (pasa sarx, v. 17a), não significa todas as pessoas, à parte de sua prontidão interior para receber essa dádiva, m as todas as pessoas, à parte de seu status aparente. Ainda existem condições espirituais para que se receba o Espírito, mas não há distinções sociais como sexo (vossos filhos e vossas filhas, v. 17b), idade (vossos jovens ... vossos velhos..., v. 17c) ou categoria

(até sobre os meus servos e sobre as minhas servas, v. 18 - que não são

dignifica como pessoas que pertencem a Ele).

E profetizarão (v. 18). Esse parece ser um em prego do verbo

"p rofetizar" num sentido amplo. Segundo Lutero, "profecias, v isões e sonhos são todos uma coisa só".37 Isto é , um a dádiva universal (o Espírito) levará a um ministério universal (profecia). Mas essa promessa é surpreendente porque em todo o restante de A tos - e no Novo Testam ento em geral - apenas alguns são cham ados de profetas. Com o, então, devem os en tend er um m inistério profético universal? Se, em sua essência, profecia é Deus falando, Deus tomando-se conhecido através de sua Palavra, certamente, então, a expectativa do Antigo Testamento era de que nos dias da N ova A liança, o conhecim ento de D eus fosse universal, e os autores do Novo Testamento declaram que isso se cum priu através de Cristo.38 Nesse sentido, agora, no povo de Deus, todos são profetas, assim como todos são sacerdotes e reis. Assim, L u tero en ten dia a p rofecia "com o o co n h ecim en to d e D eus através de C risto que o Espírito Santo acende e faz qu eim ar através da palavra do evangelho",39 enquanto Calvino escreveu que isso "significa sim plesm ente a rara e excelente dádiva do entendim ento".40 De fato, esse conhecimento universal de Deus através de Cristo pelo Espírito é a base da comissão universal para o testemunho (1:18). Porque o conhecemos, precisamos torná-lo conhecido.

Pedro continua a citação de Joel: Mostrarei prodígios em cima no

céu e sinais em baixo na terra; sangue, fogo e vapor defum o (v. 19). O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor (v. 20). É possível entender essas profecias

literalmente, como fenômenos da natureza (que começaram já na sexta-feira santa,41 e acerca dos quais Jesus profetizou que haveria mais, antes do fim 42), ou metaforicamente, como convulsões da história (já que esse é o simbolismo apocalíptico tradicional que indica os tempos de revolução social e p olítica43). Enquanto isso, entre o dia de Pentecoste (quando o Espírito veio, inaugurando os últimos dias) e o dia do Senhor (quando Jesus virá para encerrá- los) estende-se um longo dia de oportunidade, durante o qual o evan g elho da salvação será pregado em todo o m undo: E

acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo

ATOS 2:1-47

c. O testemunho de Pedro acerca de Jesus (2:22-41)

A m elh or form a, porém , de entenderm os o Pentecoste não é através da profecia do Antigo Testam ento, e, sim , através do cumprimento, no Novo Testamento; não por meio de Joel, mas de Jesus. Quando Pedro pede a atenção dos varões israelitas, suas primeiras palavras são: Jesus, o Nazareno, e ele conta a história de Jesus em seis estágios:

1) Sua vida e ministério (2:22)

Ele verdadeiram ente era varão (homem), aprovado por Deus com obras sobrenaturais, que receberam três nom es -- m ilagres ou, literalm en te, "p o d e re s" (dynam eis, cuja n atu reza era um a demonstração do poder de Deus), prodígios (terata, cujo efeito era provocar perplexidade) e sinais (semeia, cujo propósito era ilustrar ou demonstrar uma verdade espiritual). Deus realizou essas coisas

por intermédio dele, publicamente (entre vós), como vós mesmos sabeis.

2) Sua morte (2:23)

Pedro diz que esse foi morto, em parte porque foi entregue a eles não p or Ju das (apesar de o m esm o verbo ser em pregado em relação à sua traição) mas pelo determinado desígnio e presciência de

Deus, e em parte porque eles, por mãos de iníquos (provavelmente

os rom anos), o m ataram , crucifican do-o. A ssim , o m esm o acontecimento, a morte de Jesus, é atribuído simultaneamente ao propósito de Deus e à iniqüidade do homem. Nenhuma doutrina desenvolvida de expiação é apresentada até aqui, mas já existe um entendimento de que, através da morte de Jesus, o propósito da salvação de Deus estava sendo cumprido. v

\

3) Sua ressurreição (2:24-32)

Ao qual, porém , Deus ressuscitou, rom pendo os grilhões da m orte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela. 25Porque a respeito dele diz Davi:

Diante de mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado.

26Por isso se alegrou o meu coração e a minha língua exidtou; além disso também a minha própria carne repousará em esperança, 27porque

não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.

2SFizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença.

29Irmãos, seja-me permitido dizer-vos claramente, a respeito do patriarca Davi, que ele morreu efo i sepultado e o seu túmido permanece entre nós até hoje. 30Sendo, pois, profeta, e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono; 31prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem fo i deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção. 32A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.

Não era possível fosse ele retido por ela [a morte] (v. 24; Pedro vê essa

im p o ssib ilid ad e m oral sem explicá-la). A ssim , apesar de os homens terem matado Jesus, Deus o ressuscitou, e o libertou dos

grilhões da m orte. "G rilh õ es" significa literalm ente "d ores de

parto", ilustrando a ressurreição como uma regeneração, um novo nascimento da morte para a vida.

Pedro então confirm a a verdade da ressu rreição de Jesu s, apelando ao Salmo 16:8-11, no qual, alega, ela fora predita. Davi não podia estar se referindo a si mesmo, quando escreveu que Deus não o deixaria na m orte, nem perm itiria que o seu Santo visse corrupção (v. 27), pois Davi morreu e fo i sepultado, e seu túmulo ainda estava em Jerusalém (v. 29). Pelo contrário, sendo profeta e lembrando-se da promessa de que Deus colocaria um descendente de destaque em seu trono,44 referiu-se à ressurreição de

C risto (vs. 30-31). O m odo como Pedro usa as E scritu ras

provavelm ente soa estranho para nós, mas precisam os ter três pontos em mente. Primeiro, as Escrituras testemunham de Cristo, especialmente de sua morte, ressurreição e missão mundial. Esse é o seu caráter e o seu propósito. O próprio Jesus disse isso antes e depois da ressurreição.45 Portanto, em segundo lugar, até mesmo devido ao ensino de Jesus ressurreto, seus discípulos passaram naturalmente a entender que as referências do Antigo Testamento ao rei ou ao ungido de Deus, a Davi e a sua descendência real, tinham o seu cumprimento em Jesus.46 Isso é o que Dom Jacques Dupont chamou de "o caráter cristológico radical da exegese cristã prim itiva".47 E, terceiro, uma vez garantido esse fundamento, um em prego cristão do A ntigo Testam ento, c o m o o de Pedro em referên cia ao Salm o 16, é "escru p u lo sam en te lógico e

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 72-97)