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O conselho leva os apóstolos a julgamento (4:1-22)

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 105-109)

Falavam eles ainda ao povo quando sobrevieram os sacerdotes, o capitão do tem plo e os sadu ceu s,2 ressentidos por en sin arem eles o povo e anunciarem em Jesus a ressurreição dentre os mortos; 3e os prenderam, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, pois já era tarde. 4Muitos, porém , dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil.

Lucas deixa bem claro que ambas as ondas de perseguição foram iniciadas pelos saduceus (4:1 e 5:17). Eles eram a classe governante dos aristocratas ricos. Politicam ente, integraram -se ao sistem a rom ano e adotavam uma atitude de colaboração, de m odo que tem iam as im plicações subversivas dos ensinos dos apóstolos. Teologicam ente, criam que a era m essiânica havia iniciado no período dos m acabeus; portanto, não estavam à espera de um M essias. Eles também rejeitavam a doutrina da ressurreição dos

m ortos que os apóstolos proclam avam em Jesus (v. 2b). A ssim ,

viram os apóstolos como agitadores e hereges, perturbadores da paz e inim igos da verdade. Com o conseqüência, eles ficaram

ressentidos, "doendo-se m uito" (ERC), até mesmo "aborrecidos"

(BLH) com o que os apóstolos estavam ensinando ao povo (v. 2a), pois aquilo era "um a pregação não autorizada de pregadores não profissionais".22

Liderados pelo capitão do templo (v. 1) isto é, o chefe da guarda do templo, responsável pela manutenção da lei e da ordem, cujo cargo sacerd o tal ficava abaixo apenas do sum o sacerd o te,

prenderam Pedro e João, e, porque já era tarde, isto é, tarde demais

para reunir o conselho, recolheram-nos ao cárcere até ao dia seguinte (v. 3). Im ediatam ente Lucas assegura aos seus leitores que a oposição dos homens não impediu o avanço da Palavra de Deus. Os saduceus podiam prender os apóstolos, mas não o evangelho. Pelo contrário, muitos ... dos que ouviram a palavra a aceitaram ,

subindo o número de homens a quase cinco mil (v. 4) - sem contar as

No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades (ou seja,

o Sinédrio, que era composto de setenta e um membros, presidido pelo sumo sacerdote), incluindo os anciãos (provavelmente líderes dos clãs) e os escribas (que copiavam , con serv avam e in terp retav am a lei) (v. 5). Lucas nos conta que Anás estava presente. Ele também o chama de sumo sacerdote pois, apesar de os rom anos terem -no deposto em 15 d.C ., ainda m antinh a seu prestígio, sua influência e seu título entre os judeus.23 Caifás, genro de Anás, também estava presente. Ambos tinham desempenhado papéis im portantes no julgam ento e na condenação de Jesu s.24

Lucas também menciona João e Alexandre (a respeito de quem nada se sabe com certeza) e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote (v. 6). Quando eles se sentaram em m eio-círculo, com o era de costum e, e pu seram Pedro e João perante eles (v. 7), algum as lem branças do julgam ento devem ter surgidos na cabeça dos apóstolos. Será q u e a história se repetiria? Dificilmente poderiam esperar justiça daquele tribunal que tinha dado ouvidos a falsas testemunhas e condenado o Senhor injustamente. Será que iriam ter o m esm o destino? Será que também seriam entregues aos romanos e crucificados? Eles devem ter feito essas perguntas para si mesmos.

a. A defesa de Pedro (4:8-12)

O tribunal começou o interrogatório com uma pergunta direta a Pedro e João: Com que poder, ou em nome de quem fizestes isto (ou seja, curar o coxo)? Lembramo-nos dos líderes judeus que perguntaram a Jesus com que autoridade ele tinha purificado o tem plo.25 Como resp o sta, os ap óstolos deram testem unho de Jesu s C risto. Pregando à multidão no templo ou respondendo às acusações no tribunal, a preocupação deles não era a sua própria defesa, mas a honra e a glória do Senhor. Naquele momento de necessidade, e em cu m prim en to da prom essa de Jesu s de q u e"p alav ras e sabed oria" lhes seriam dadas sempre que fossem acu sad os,26

Pedro foi novamente cheio do Espírito Santo, e lhes disse: Autoridades

do povo e anciaõs (v. 8): Visto que hoje somos interrogados a propósito

do benefício feito a um homem enfermo e do modo por que fo i curado (v.

9), tomai conhecimento vós todos e todo o povo de Israel de que, em nome

de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós (v. 10). Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores,

ATOS 3:1 -4:31

a qual se tornou a pedra angular (v. 11). Esta é a terceira vez que

Pedro usa essa fórmula vívida: "a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou" (2:23-24; 3:15), pois Jesus é a pedra do Salmo 118 que os construtores rejeitaram, mas que Deus promoveu, fazendo- a pedra angular (v. 11), uma passagem citada por.Jesus.27 E mais,

não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os hom ens, pelo qual im porta que sejamos salvos (v. 12). Percebemos a facilidade com que Pedro passa

da cura para a salvação, do particular para o geral. Ele vê a cura física de um hom em com o uma ilustração da salvação que é oferecida a todos em Cristo. Os dois negativos (nenhum outro e

nenhum outro nome) proclamam a singularidade positiva do nome

de Jesus. A sua morte e ressurreição, sua exaltação e autoridade fazem dele o único Salvador, já que nenhum outro possui tais qualificações.

b. A decisão do tribunal (4:13-22)

Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus. 14Vendo com eles o homem que fora curado, nada tinham que dizer em contrário. 15E, mandando-os sair do Sinédrio, consultavam entre si, 16 dizendo: Que farem os com estes homens? pois, na verdade, é manifesto a todos os habitantes de Jerusalém que um sinal notório fo i feito por eles, e não podemos negar; 17mas, para que não haja maior divulgação entre o povo, ameacemo-los para não mais falarem neste nome a quem quer que seja.

18Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem nem ensinassem em o nome de Jesus. 19Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos ante.s a vós outros do que a D eus; 20pois nós não podemos deixar de fa la r das coisas que vimos e ouvimos.

21Depois, ameaçando-os ainda, os soltaram, não tendo achado como os castigar, por causa do povo, porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera. 22Ora, tinha mais de quarenta anos aquele em quem se operara essa cura milagrosa. ..

Os m em bros do tribunal adm iraram -se ao verem a intrepidez de

Pedro e João, especialmente porque eles eram iletrados (agrommatoi

não significa que eram analfabetos, mas que não haviam recebido treinam ento adequado em teologia rabínica) e incultos (idiotai

significa "leigos" ou "não profissionais"). Então, reconheceram que

haviam eles estado com Jesus, que tam bém não p ossu ía um a

educação teológica formal28 nem status profissional como rabino (v. 13). E n tretanto podiam ver diante de seus olhos a prova inegável do coxo curado. Apesar de se saber em toda a cidade que o homem nunca tinha andado em sua vida, ali estava ele, de pé, ao lado dos apóstolos. Assim, nada tinham que dizer em contrário (v. 14). Eles não podiam negar e não queriam reconhecer. C onfusos, mandaram que saíssem do Sinédrio, para que pudessem ter uma conversa particular (v. 15).

Os críticos liberais regalam-se indagando como Lucas podia saber o que aconteceu na discussão confidencial do Sinédrio. "O au tor relata as decisões secreta s", com enta H aen ch en sarcasticamente, "com o se tivesse estado presente".29 Mas Paulo pode ter estado lá. É bem provável que Gamaliel estivesse, e ele pode ter contado a Paulo, mais tarde, o que aconteceu. Em todo o caso, o conselho estava num verdadeiro dilema. Por um lado, um

sinal notório havia sido feito, todos os habitantes de Jerusalém bem

sabiam; portanto, não podiam negá-lo (v. 16). Por outro lado, eles tinham de fazer algo para que não houvesse maior dividgação entre

o povo (v. 17a). (Lembramos de passagem que eles não fizeram

nenhum a tentativa de desm entir o testem unho dos apóstolos sobre a ressurreição, apesar de saberem que ela era o centro da mensagem deles, v. 2.) O que, então, poderiam fazer? Tudo que conseguiram pensar foi ameaçá-los, fazer uma advertência legal diante de testemunhas, para não mais falarem neste nome a quem quer

que seja (v. 17b) - o poderoso nome pelo qual o coxo fora curado,

que Pedro havia pregado, e que eles não tinham nem coragem de pronunciar.

A ssim , cham ando-os, ordenaram -lhes solenem ente que não

falassem nem ensinassem em o nome de Jesus (v. 18). Diante dessa

proibição, os apóstolos reagiram com uma resposta espirituosa, desafian d o o tribu nal a ju lg ar se seria ju sto diante de D eus obedecer a eles ou a Deus. Porque, acrescentaram: nós não podemos

deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos (v. 2 0). O tribunal os ameaçou mais uma vez e depois os soltou. Não parecia possível

castigá-los, por causa do povo, porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera (v. 2 1), especialmente porque o coxo que fora curado

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No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 105-109)