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Estêvão, o mártir

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 139-142)

B O s Fundam entos Para A M issão M undial

5. Estêvão, o mártir

A pós a vinda do E spírito e o contra-ataque de Satanás (cuja derrota Lucas comemorou em 6:7), a igreja está quase pronta para dar início à sua m issão m undial. Até agora, ela se com punha apenas de judeus e estava restrita a Jerusalém. Agora, porém , o E sp írito Santo está para espalhar seu povo pelo m un d o, e o apóstolo Paulo (o herói de Lucas) é o instrumento escolhido de Deus para ser o pioneiro desse desenvolvimento. Primeiramente, porém , nos próximos seis capítulos de Atos, Lucas explica como os fundamentos da missão entre os gentios foram lançados por dois homens notáveis (Estêvão, o mártir, e Filipe, o evangelista), seguidos por duas conversões notáveis (a de Saulo, o fariseu e a de C orn élio, o centurião). Esses quatro h om ens, cada um à sua própria maneira, juntamente com Pedro, cujo ministério alcançou C orn élio, deram um a contribuição indispensável à expansão global da igreja.

E stêv ão , o m ártir, foi o p rim eiro (6:8-8:2). Sua preg ação provocou fortíssim a oposição dos judeus, m as em sua defesa perante o Sinédrio, cuidadosamente elaborada, ele enfatizou que o Deus vivo é livre para ir aonde bem entende e, também, para lev ar o seu povo a avançar. A pesar de não ter con seguido convencer o conselho e ter sido apedrejado até a m orte, o seu martírio parece ter exercido uma profunda influência em Saulo de Tarso, além de provocar a dispersão dos discípulos por toda a Judéia e Samaria.

F ilipe, o evangelista (8:4-40), teve a distinção de ter sido o p rim eiro a com p artilhar as boas novas com os sam aritanos odiados e desprezados, e o meio pelo qual a barreira ju daico- samaritana foi derrubada. Ele também levou a Cristo o primeiro

africano, o eunuco etíope, e o batizou.

A conversão e a comissão simultânea de Saulo, o fariseu (9:1­ 31), foram um prelúdio indispensável à missão entre os gentios, já que fora chamado para ser, preeminentemente, o apóstolo dos gentios.

Cornélio, o centurião (10:1-11:18), foi o primeiro gentio que se converteu e foi recebido na igreja. A dádiva do Espírito a ele, autenticou plenamente sua inclusão na comunidade messiânica, nos mesmos termos dos judeus, vencendo assim os resquícios de preconceito judaico do apóstolo Pedro.

E somente após a participação desses quatro homens na história de Lucas que entra em cena a prim eira viagem m ission ária, relatada em Atos 13 e 14.

Lucas já introduziu Estêvão: sendo um dos sete, ele estava "cheio do Espírito e de sabedoria" (6:3). E fora particularm ente descrito com o "cheio de fé e do Espírito San to" (6:5); agora é novamente apresentado como alguém cheio de graça e poder (6:8a). Estando cheio do Espírito e igualmente cheio de sabedoria, fé, g raça e poder, é evidente que causava um a im p ressão de plenitude ao povo. "G raça e poder" form am uma com binação surpreendente que Campbell Morgan descreve como "doçura e força ... m esclad as em uma só p erso n alid ad e".1 "G ra ç a " certam en te indica o caráter bondoso, sem elhan te a C risto, enquanto que seu "poder" era visto em prodígios e grandes sinais que fazia entre o povo (v. 8b). Até o m om ento, Lucas creditara prodígios e sinais apenas a Jesus (2:22) e aos apóstolos (2:43; 5:12); agora, pela primeira vez, diz-se que outros os realizam. Alguns concluem que Estêvão (6:8) e Filipe (8:6) eram casos especiais, porque os apóstolos haviam imposto as mãos sobre ambos (6:6), in clu in d o -o s assim em seu próprio m in istério ap o stó lico , e tam bém porque ocupavam um lugar esp ecial na h istó ria da salvação, na transição de um movimento judaico para uma missão m u n d ial. M as isso não pode ser provado. E stêvão e F ilipe certamente são testemunhas de que, embora, segundo Lucas, os sinais e prodígios se limitassem basicamente aos apóstolos, essa restrição não era absoluta.

Mas, apesar de todas as qualidades extraordinárias de Estêvão, o seu m inistério provocou um antagonism o feroz. A inda não sabemos a razão, mas Lucas explica que levantaram-se alguns dos

que eram da sinagoga, chamada dos Libertos. Ele menciona também Cireneus, Alexandrinos e judeus da Cilicia eÁ sia (v. 9a). Os "Libertos"

ATOS 6:8-7:60

(.libertinoi, uma transliteração grega de uma palavra latina) eram

escravos libertos e seus descendentes. Mas quem eram os judeus de Cirene, Alexandria, Cilicia e Ásia? Alguns acreditam que eles formavam quatro sinagogas diferentes, com os Libertos formando a quinta. Outros pensam que duas, três ou quatro sinagogas estão em mente. Mas talvez seja mais plausível entender que Lucas se refere a apenas uma sinagoga (pois a palavra está no singular). A ERA B e a ERC adotam essa interpretação, d escrevendo um a sinagoga composta de pessoas dos quatro lugares m encionados. Por terem sido libertos da escravidão, seriam judeus estrangeiros que haviam se mudado para Jerusalém. Era possível até que Saulo de T arso estiv esse entre os da C ilicia. De qu alqu er m od o, a indicação de Estêvão como um dos sete encarregados do cuidado com as viúvas não exigiu que ele deixasse de pregar, pois foi contra a sua mensagem que os membros da sinagoga levantaram objeções.

Em primeiro lugar, aqueles homens começaram a discutir com Estêvão (v. 9b). Mas não tinham reconhecido o calibre do homem que estavam enfrentando, pois não podiam sobrepor-se à sabedoria e

ao Espírito com que ele falava (v. 10), significando talvez "a sabedoria

in sp irad a com que falav a".2 Isso foi um cu m p rim en to da prom essa de Jesus, relatada por Lucas, de que ele daria aos seus seguidores "palavras e sabedoria", às quais os seus adversários não poderiam resistir ou se opor.3

Em segundo lugar, frustrados em debate aberto, os adversários de Estêvão deram início a uma campanha de difamação contra ele, pois quando faltam os argumentos, muitas vezes a lama parece ser um excelente substitutivo. Assim, subornaram homens que disseram:

Temos ouvido este homem proferir blasfêmias contra M oisés e contra D eus (v. 11). D essa form a, sublevaram ao povo, aos anciãos e aos escribas (v. 1 2a).

Em terceiro lugar, investiram contra Estêvão, arrebataram -no,

levaram-no ao Sinédrio (v. 12b) e apresentaram testemunhas falsas (v.

13b).

A ssim , a oposição desceu da teologia para a violência. Essa m esm a ordem de acontecim entos repetiu-se m uitas vezes. No in ício, há um sério debate teológico. Quando isso fracassa, as p esso as com eçam um a cam panha p essoal de m entiras. F in alm en te, recorrem a ações legais ou quase leg ais num a tentativa de se livrarem do adversário pela força. Talvez outros usem essas armas contra nós, mas que Deus nos ajude para que

nunca recorramos a elas.

Depois dessa introdução a Estêvão, Lucas esclarece a acusação que foi levantada contra ele (6:13-15), então resume a defesa que ele apresentou perante o conselho (7:1-53), e finalmente descreve o julgamento sumário que foi executado, em outras palavras, sua morte por apedrejamento.

No documento A Mensagem de Atos - John-Stott (páginas 139-142)