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Foto 21 – Moldes vazados de letras e números

2.2 A DEFICIÊNCIA SENSORIAL VISUAL E A COMUNICAÇÃO

2.2.2 A deficiência sensorial visual e o processo de comunicação e conhecimento

Em nosso corpo os órgãos dos sentidos estão encarregados de receber estímulos externos. É por meio deles que nos relacionamos, percebemos o que está ao nosso redor, nos interagimos, nos conhecemos, nos comunicamos, nos defendemos e sobrevivemos no ambiente. Entretanto, o sentido da visão é o que mais possibilita ao ser humano realizar essas ações. Pois, se para a maioria dos animais a visão é apenas um elemento de sobrevivência, para os seres humanos ela é também um instrumento para o pensamento, o conhecimento, à comunicação e às relações com o ambiente e à vida em sociedade.

Todavia, milhões de pessoas, por problemas hereditários, congênitos ou adquiridos, não podem usufruir desse sentido. A ausência da visão, ou a Deficiência Sensorial Visual, ao longo dos séculos da história humana, foi relatada como atribuição de valores ou de punição. Para a Ciência, ela é uma deficiência sensorial que se refere à perda total ou parcial da visão. De acordo com o Decreto nº 5296, de 2 de dezembro de 2004, a cegueira (deficiência visual)

é aquela na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica. E a baixa visão significa que a acuidade visual está entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), “[...] a pessoa com baixa visão ou visão subnormal é aquela que apresenta diminuição das respostas visuais, mesmo após tratamento e/ou correção óptica convencional, e uma acuidade visual menor que 6/18 (fração 6/18 metros significa que o indivíduo vê a 6 metros, o que deveria ver a 18 metros) [...]” (COSTA, 2011, p. 50). Para a autora, a incapacidade visual está dividida desta forma:

- A cegueira parcial, que corresponde aos casos em que a pessoa é capaz de contar os dedos das mãos a pouca distância e aquelas que só veem vultos. Essas pessoas só têm percepção e projeção de luminosidade.

- Próximos de uma cegueira total: são aquelas pessoas que só têm percepção e projeção de luminosidade.

- A cegueira total (amaurose): refere-se à perda completa da visão, sem que a pessoa perceba alguma luminosidade.

Alguns outros tipos de limitações no sistema visual, de acordo com Costa (2011, p. 51), também devem ser conhecidos e chamar nossa atenção:

- “[...] ambliopia: trata-se de uma perda funcional da acuidade visual na presença de um sistema visual íntegro.”

- “[...] daltônico: refere-se à impossibilidade de percepção da maioria das cores, causando impactos na apreciação estética do meio.”

- “[...] deficiência na experiência visual por distúrbios na focalização adequada da imagem (miopia, hipermetropia, astigmatismo): sendo passíveis de melhora com o uso de lentes corretivas.”

Esses tipos de dificuldades visuais apresentados pela autora explicam que nem sempre todos os que possuem uma dificuldade visual são cegos e que muitas circunstâncias podem causar a perda total ou parcial da visão. Sendo assim, a expressão Deficiência Sensorial Visual refere-se às pessoas com diminuição da resposta visual, moderada, severa, profunda, qualquer problema visual ou com a ausência total da resposta visual. Conforme discorre Santos (2008), a deficiência pode ser:

- Adquirida: apresenta-se no decorrer da vida do sujeito, devido a acidentes, doenças oculares, doenças como diabetes, contaminação (toxoplasmose).

- Congênita – é a que o sujeito nasce com ela. Pode ser hereditária, por relações consanguíneas de parentes ou por problemas adquiridos na gestação, por meio da rubéola, má formação ocular.

- Hereditária: os problemas visuais transmitidos de pai para filhos, com certa probabilidade.

Apesar de sua complexidade, o sistema visual pode ser entendido como uma máquina fotográfica que possibilita aos videntes uma interação com outros elementos do seu ambiente. Pois a base desse sistema é uma rede de sensores sensíveis à luz, presentes nos olhos, que enviam sinais ao cérebro. No cérebro, esses sinais são processados, resultando na sensação da visão de luz, formas e cores.

A constituição do olho é capaz de transformar a luz em um sinal (neuronal) dos nervos ópticos, que transportam esses sinais ao cérebro, o qual processa os sinais neuronais e extrai as informações necessárias. O olho, portanto, pode ser considerado como um dispositivo que captura a luz e a focaliza em uma superfície de fundo, na retina (MAIA, 2011).

A cor, por exemplo, existe tecnicamente na nossa mente, após o sistema visual obter respostas de determinados comprimentos de ondas. Ou seja, a luz do sol é composta de muitas cores, assim como no arco-íris. Quando a luz solar ou a artificial toca numa superfície, um objeto, ou em outro lugar ou espaço que tenha cor, passa-se a enxergar cores. A maior parte da luz é absorvida, com exceção de uma, que volta até o olho. Portanto, pode-se deferir que a cor depende dos raios que voltam até a retina (MAIA, 2011).

De acordo com Costa (2011, p. 51-52):

É no cérebro que verdadeiramente ‘enxergamos’. Os estímulos são identificados em seus diversos constituintes: forma, tamanho, dimensão, cor, movimento, etc. As associações dos estímulos visuais com outras percepções (tato, olfato, gosto, localização corporal, etc.) e seus significados (nome, relação a eventos prévios) se darão pela integração dos lobos occipitais a diversas outras estruturas corticais e subcorticais do cérebro.

Para que o cérebro ‘enxergue’ as imagens e os raios de luz perpassam a córnea, o humor aquoso, a pupila, o cristalino e o humor vítreo. Todas essas travessias e/ou meios devem estar diáfanos, para que a luz possa passar por eles e chegar à retina. Dessa forma, a luz que entra no olho e passa por várias camadas e atinge a retina é transformada em estímulos elétricos, os quais são enviados ao cérebro por meio do nervo óptico. O cérebro interpreta as informações recebidas e as armazena na memória, de maneira similar ao banco de dados de um computador.

Na imagem a seguir estão as representações do processo descrito anteriormente.

Imagem 2 – O sistema visual.

Fonte: Barros e Paulino (2000).

No sistema visual do vidente os estímulos são identificados de acordo com a seguinte constituição: forma, tamanho, dimensão, cor, movimento, entre outras. As associações dos estímulos visuais com outras percepções realizadas: tato, olfato, gosto, localização corporal, etc. e seus significados (nome, relação a eventos prévios) se darão pela integração dos lobos occipitais a diversas outras estruturas corticais e subcorticais do cérebro (COSTA, 2011).

Essas associações recíprocas entre as diversas áreas corticais garantem a coordenação entre a chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e associação, e a atividade motora de resposta. Essas funções são chamadas de funções nervosas superiores, desempenhadas pelo córtex cerebral. Conforme discorre Relvas (2011, p. 36-37):

1. Lobo frontal – córtex pré-frontal é o que está relacionado às funções superiores representadas por vários aspectos comportamentais. A lesão bilateral, nesta área, determina a perda da concentração, diminuição da habilidade intelectual e déficit de memória e julgamento.

2. Lobo temporal – tem funções situadas em porções diferentes. Ou seja, a parte posterior se refere à recepção e à decodificação de estímulos auditivos que coordenam com os impulsos visuais. A parte anterior relaciona-se à atividade motora visceral, ao olfato e à gustação e com os aspectos do comportamento instintivo.

3. Lobo parietal – refere-se à interpretação, à integração de informações visuais (provenientes do córtex occipital) e às somatossensitivas primárias, especialmente o tato. Uma lesão do córtex primário occipital determina a perda do campo visual. A lesão do lobo parietal tem como resultado a perda do conhecimento, a falta de adequação do reconhecimento de impulsos sensoriais e a não interpretação das relações espaciais – visual, espacial e motora.

4. Lobo occipital – nesta região se realiza a integração visual, iniciando-se na recepção dos estímulos que ocorre na área primária, leva informações para serem estimadas e decodificadas nas áreas secundárias e de associação visual.

A seguir, nas Imagens 3 e 4, está exposta a anatomia do cérebro referente ao conteúdo descrito anteriormente.

Imagem 3 – Anatomia do cérebro (córtex motor). Imagem 4 – Anatomia do cérebro (Lobos).

Fonte: Sistema visual26.

No quadro a seguir (Quadro 3), está exposta a relação das funções desempenhadas nas diferentes áreas corticais presentes no cérebro.

Quadro 3 – Relação das funções desempenhadas por diferentes regiões corticais.

ÁREA CORTICAL FUNÇÕES

Córtex motor primário (giro pré-central)

Inicia o comportamento motor voluntário

Córtex sensitivo primário (giro pós-central)

Recebe informações sensitivas do corpo

Córtex visual primário Detecta estímulos visuais

Córtex auditivo primário Detecta estímulos auditivos

Córtex de associação motora (área pré-motora)

Coordena movimentos complexos

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Continuação Quadro 3.

Centro da fala (área de broca)

Produção da fala articulada

Córtex de associação Somestésica Base do esquema corporal

Área de associação visual

Processa a visão complexa

Área de auditiva Processa a audição complexa

Área de Wernicke Compreensão da fala

Área pré-frontal Planejamento, emoção, julgamento

Área temporal e parietal Percepção espacial

Fonte: Relvas (2011, p. 37-38).

As características das pessoas com DSV em relação ao crescimento e desenvolvimento se assemelham ao das pessoas videntes, pois o crescimento é sequencial e por etapas. No entanto, a cegueira pode causar graves efeitos no desenvolvimento dessas pessoas. Para Costa (2011), os impedimentos e as restrições pelas quais o indivíduo com DSV passa podem ser diretos, imediatos e intrínsecos, causados pelo próprio impedimento visual, ou indiretos e extrínsecos, estabelecidos pela cultura, ambiente e contexto. Conforme discorre Relva (2011, p. 53):

A cegueira impõe como resultado direto da perda da visão limitações referentes ao alcance e variedade de experiências, formação de conceitos, orientação e mobilidade, interação com o ambiente em acesso às informações impressas importantes. Pela visão a criança estabelece suas primeiras relações com o meio e percebe forma, tamanho, distância, posição e localização dos objetos. A visão, chamada também de sentido da distancia, é a única percepção capaz de propiciar contato com o ambiente de forma global. Estima-se que 80% a 85% do processo ensino-aprendizagem dependem da visão.

No que se refere, simultaneamente, ao conhecimento e à comunicação, várias áreas de pesquisa têm se importado com a memória, tanto para pessoas com nenhuma deficiência, quanto para o deficiente visual e para pessoas com outras deficiências. Dentre essas áreas estão a Comunicação e a Educação. Nessas áreas, a preocupação está direcionada especialmente para a informática, a fim de orientar projetos de software na construção de interfaces que se assemelhem às características da memória humana. E na área da educação baseando-se em parâmetros da Psicologia e da Psicologia Social, quando se referem aos estudos sobre a cognição e o funcionamento da memória.

Segundo Shneiderman (1992), a memória humana é dividida em partes: 1) a memória rápida ou de curto termo; 2) a memória de trabalho ou temporária; e 3) a memória permanente ou de longo termo. Essas memórias funcionam, em síntese, desta forma:

1. A memória rápida ou de curto termo se refere àquela que recebe as informações de entrada pelos órgãos dos sentidos e as transporta ao sistema cognitivo. Nesta memória é que são assentadas as informações de saída. Ou seja, aquelas que se expressam por meio da fala, movimentos e ações. Na memória rápida se armazena informações por um período mais ou menos de dez segundos e em quantidade de sete itens, numa lista de trinta a quarenta itens.

2. A memória temporária é a que trabalha e concatena as informações da memória rápida. Quando o tema ou assunto é de interesse, cria-se na memória um mecanismo para que este chegue à memória permanente a fim de ser procurado em outro momento. Exemplo: uma habilidade adquirida, um conhecimento de interesse ou um assunto estudado. Esta memória também é responsável pela recuperação de dados da informação. As informações que saem da memória permanente são tratadas e organizadas na memória de trabalho.

3. A memória permanente ou de longo termo é a que consegue guardar informações permanentes e/ou para sempre. É uma memória que comporta grande capacidade de informações. Como exemplos, nela podem ser armazenados conteúdos extensos, detalhes de datas, páginas de livros, assuntos e fatos, não só em quantidade, mas em qualidade.

A memória, nesse sentido, atribui aos órgãos dos sentidos a captação e a condução das informações e, na ausência de um dos sentidos, especialmente o da visão, confere ao indivíduo a dificuldade ou até a impossibilidade da aquisição da comunicação e do conhecimento. Isto porque o indivíduo se comunica com outras pessoas e com outros seres, de diversas formas, utilizando-se para isso os sentidos do corpo humano. No quadro a seguir (Quadro 4) estão exemplificados os sentidos e os mecanismos ativados da memória para que ocorra a comunicação.

Quadro 4 – Sentidos e mecanismos de memória ativados.

Sentidos Mecanismos de memória ativados

Visão Memória visual

Audição Memória auditiva

Tato Memória táctil/ mecânica

Olfato Memória gustativa

Gosto Memória degustativa

A partir desses sentidos correlatos às respectivas memórias pode-se estabelecer nove tipos de comunicação. No entanto, algumas restrições funcionais podem impedir que as pessoas com deficiência possam captar informações, memorizar, trabalhar o que foi captado no cérebro e, consequentemente, expressar seus conhecimentos, seus sentimentos e a consciência das aquisições. De acordo com Sartoretto e Bersch (2010), as pessoas com impedimentos na comunicação nem sempre participam de desafios simples, tais como: expressar suas habilidades, dúvidas e necessidades. A seguir, no Quadro 5, estão expostas nove maneiras de se comunicar, que dependem imprescindivelmente dos sentidos e da memória e, consequentemente, comprometem todo o processo comunicativo.

Quadro 5 – Comunicação, sentidos e memórias correlatas.

1. Comunicação pelo Gosto ou Degustativa (Memória Degustativa):

É a comunicação que vem do gosto, pelo toque da língua, bem como pela ação de beber ou comer. O índice de eficiência é cerca de 1%.

2. Comunicação pelo Tato ou Táctil (Memória Táctil):

É a comunicação que vem pelo tato, tanto das mãos (que é a parte mais sensível) como por outras partes do corpo. Isoladamente o grau de eficiência é de 1,5%.

3. Comunicação pelo Olfato ou Olfativa (Memória Olfativa):

É a comunicação que vem pelo olfato, ou seja, o nariz sente um cheiro e levado ao cérebro. O índice de eficiência é da ordem de 3,5%.

4. Comunicação pela Audição ou Auditiva (Memória Auditiva):

É a comunicação que vem pelo que se ouve, ou seja, os ouvidos transmitem ao cérebro o que ouvem, levando ao cérebro as informações captadas. O índice de eficiência é da ordem de 9%.

5. Comunicação Táctil pela Escrita (Memória Mecânica):

É a comunicação que ocorre pela caligrafia quando se copia ou se registra ideias e fatos que se vê ou se imagina. Ou seja, o ato de escrever de próprio punho ativa um mecanismo chamado ‘memória mecânica’. Esta memória combina a memória visual com a do tato, tendo um índice de eficiência da ordem de 10%.

6. Comunicação pela Visão (Memória Visual):

É a comunicação que ocorre pelos olhos e é responsável por cerca de 80% do que se grava na memória. A comunicação por meio da memória visual pode ser captada por quatro formas diferentes:

- Comunicação Escrita (Memória Visual): é a comunicação que ocorre por meio de um documento escrito, em papel ou numa tela. O índice de eficiência da leitura de textos em papel é maior do que em tela.

- Comunicação Gráfica (Memória Visual): é a comunicação que ocorre por meio de símbolos, desenhos, plantas, diagramas, ícones, fotos ou outros recursos gráficos, de forma isolada. Sabe-se que 80% das coisas que se vê são captadas por símbolos, desenhos, etc.

- Comunicação Visual (Memória Visual): é a comunicação que vem da junção da comunicação gráfica com a escrita, em que um símbolo e/ou desenho vem acompanhado de palavras-chave ou textos que os complementam. Usando o exemplo de placas de trânsito, há uma placa que significa ‘cuidado, pista derrapante’, mas que pode vir acompanhada da expressão ‘Em dias de chuva’.

Continuação do Quadro 5.

- Comunicação Audiovisual (Memória Visual e Auditiva): é a comunicação que une

a comunicação visual com a auditiva. É considerada a mais eficiente de todas. O dispositivo cognitivo do cérebro ativa os dois principais sentidos, chegando-se a um índice de cerca de 80% de eficiência.

Fonte: Shneiderman (1992).

Dessa forma, os cinco sentidos podem ser entendidos como uma ‘porta e/ou janela’ de entrada no corpo para chegar ao cérebro. Embora cada um tenha uma parcela de participação no processo de comunicação do corpo humano com o ambiente, pode-se afirmar que, assim como descrito na listagem anterior, é a visão o sentido que promove a maior eficiência no processo de comunicação humana.

Conforme discorre Vilalba (2006), quando a comunicação é entendida como a ação social de ‘tornar comum’ o significado sobre as coisas, a formação desse significado, que é uma resposta mental a um estímulo percebido pelo corpo e tornado em informação na mente, e o não funcionamento dos sentidos e das memórias correlatas podem inviabilizar a comunicação. Dessa forma, é de fundamental importância a utilização do corpo e dos sentidos humanos como instrumentos no processo comunicativo. Isto porque as apreensões dos fatos, dos sentimentos, das emoções, do conhecimento, das coisas e de outras pessoas, bem como o desenvolvimento humano e a construção da formação de sujeito, dependem do bom funcionamento do corpo e dos órgãos dos sentidos.

Contrariando essa maneira de restringir a comunicação apenas às questões biológicas, Lévy (2010), ao se referir, por exemplo, à memória humana, afirma que “[...] ela está longe de ter a performance de um equipamento ideal de armazenamento e recuperação das informações [..]”. Para ele, a memória, os sentidos e toda parte biológica humana são extremamente sensíveis a outros acessos, tal como as representações e os significados que damos às coisas, às pessoas, à cultura, aos acontecimentos e a tudo mais que está ao nosso redor. Para o autor, quanto mais ricos forem as representações e o significado das coisas, dos fatos e do ambiente para o indivíduo, tanto mais ele terá chance de interconectá-los à sua vida, às emoções e aos esquemas pré-conceituais.

Para Lévy (2010), entretanto, emitir uma concepção ecológica cognitiva27 sobre o processo da memória, do conhecimento e da comunicação não significa se contrário a um ‘pensamento mágico’ ou ‘selvagem’ a um ‘pensamento objetivo ou racional’, nem vice-versa.

27 Termo usado por Pierre Lévy em seu livro As tecnologias da inteligência (1993/ 2010), com base nas ideias de Gregory Bateson (1991) e nas de Pierre Félix Guatari (1990) no livro As três ecologias. O termo envolve uma dinâmica de inter-relações entre sujeitos, objetos e meio ambiente que propiciem outras formas de perceber e conhecer o mundo.

Pois o tempo, a cultura, as técnicas e os instrumentos disponíveis para que o conhecimento e a comunicação aconteçam são recursos que podem contribuir e qualificar a vida humana, para que, enfim, uma pessoa possa participar com potencialidades pessoais desses processos.

Capra (2006, p.229), ao se referir ao desenvolvimento humano e da consciência28, afirma que:

À medida que a diversidade e a riqueza das nossas relações humanas aumentavam, nossa humanidade – nossa linguagem, nossa arte, nosso pensamento e nossa cultura se desenvolviam. Ao mesmo tempo, desenvolvemos a capacidade do pensamento abstrato, a capacidade para criar um mundo interior de conceitos, de objetos, de objetos e de imagens de nós mesmos [...].

Para Jorge (2011), também, o ambiente, as pessoas e tudo o que acontece ao nosso redor e mais o que faz parte da intimidade dos pensamentos, cujas explicações estão relacionadas a padrões de energia que se afetam, podem ser captados pelos receptores sensoriais. Para a autora, “[...] tanto os fenômenos como a percepção fenomênica são falíveis, no entanto, e em geral, mais razoavelmente há mais acertos que erros – isso para o bem da continuidade da espécie [...]” (p. 9).

Outra questão apresentada por Jorge (2011) é sobre o entendimento que se tem sobre a percepção. Pois a maneira como a palavra é entendida implica em afirmar que existe uma relação entre seu significado e os significados dados, a priori: 1) o pensamento; 2) a sensoriedade, a compreensão; 3) a interpretação de estímulos e a construção de significados. No caso, por exemplo, de percepção estar relacionada ao pensamento, significa designá-la a quaisquer atividades que gerem conhecimento.

Para Jorge (2011), o termo percepção, usado no decorrer dos séculos por cientistas, filósofos e pesquisadores, tem outros significados, a posteriori, estabelecendo correlação direta com outras ideias e questões ideológicas, que envolvem conexões abrangentes e diversas. Inclusive, dependendo do período histórico e do contexto social, a palavra percepção, de acordo com esses estudiosos, se estabelecia no modo pelo qual o indivíduo conhece e o que conhece também. Ou seja, o modo como a palavra percepção era entendida em cada período histórico influenciou na maneira, concebida como verdadeira, de as pessoas conhecerem, ou ainda, na hipótese de o conhecimento empírico ou intelectual ser válido e verdadeiro. Essas influências afetaram a educação e as pesquisas científicas, por consequência.

28 Para Capra (2006), a formação da consciência para o indivíduo está relacionada às inter-relações humanas com o ambiente e com a cultura.

A seguir, estão listados os significados do termo percepção e a forma como foi empregado, determinado pelo tempo, e as várias formas de pensar no decorrer dos séculos e