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Foto 21 – Moldes vazados de letras e números

2.1 DA HISTORICIDADE DAS DEFICIÊNCIAS AO PARADIGMA DA INCLUSÃO

2.1.1 Breve histórico sobre a deficiência no mundo

O percurso histórico das pessoas com deficiências físicas, sensoriais ou intelectuais, não se diferencia muito do trajeto de outros indivíduos de vários segmentos sociais. Pois, essa é a jornada dos que persistem há muitos séculos para serem recolocados num lugar devido em sociedade. Isto porque, em cada período histórico da humanidade, as estruturas sociais e as suas ideologias é que definem os padrões, a normalidade e a eficiência das pessoas e das coisas. Portanto, a deficiência, apesar de ser um tema tão atual na Era das grandes invenções tecnológicas e do imenso avanço científico, o seu teor pressupõe assuntos relacionados à exclusão em todos os períodos do passado.

Apesar de não haver tantos estudos e indícios de como os primeiros grupos humanos se comportaram frente às pessoas com deficiência, o que se pode afirmar, no entanto, pelas poucas literaturas encontradas sobre o assunto, é que os maus tratos, a disputa pelo poder e a discriminação são atitudes presentes na historicidade humana. Além do que, a disputa e a guerra foram, e ainda são, as maneiras encontradas, muitas vezes, para posicionar o indivíduo no topo do poder e na luta pela sobrevivência. Uma questão a ser observada nessa história humana é que relatos de estudos acentuam que as ações de intolerância e adversárias nem sempre são contra as espécies diferentes. Em muitas circunstâncias, sem motivos que justifiquem, os oponentes são os outros seres humanos.

Perguntar por quais motivos nós seres humanos construímos, destruímos, criamos e evoluímos não se esgota nas respostas sobre as questões filosóficas sobre o porquê e o para quê existimos. Essas discussões, apesar de serem instigantes, ainda são incógnitas. E, embora, na inter-relação entre a natureza humana e os outros elementos do universo, a razão, a capacidade de conhecer, de transformar as circunstâncias e o que produzimos nos diferenciem de outras espécies, a história humana evidencia que ainda não transcendemos aos limites impostos pelas nossas necessidades primárias.

Movidos, então, por instinto de sobrevivência, segurança e domínio, seguimos os impulsos da imposição, da intervenção e/ou do combate. Paradoxalmente, o indivíduo elimina o outro, seja por um lugar e posição nos grupos sociais, ambição, ou meramente por motivos íntimos e inexplicáveis. Na visão de Regis de Moraes (1998), o maior problema que hoje o homem enfrenta é não ter domínio, controle e poder sobre seu próprio poder. Para o autor, o homem perdeu o governo sobre suas próprias capacidades e possibilidades.

Outra questão a ser analisada sobre a historicidade humana é o porquê de os indivíduos estarem sempre construindo algum instrumento, não apenas para conviver em seu ambiente, mas, sobretudo, para combater, extinguir e/ou contrariar o outro de sua mesma espécie. Parece uma ideia obsoleta depender de seu grupo e de outros seres da natureza e, ao mesmo tempo, aniquilar e, por meio dessa destruição, dominar o seu possível antagonista. Essa adversidade também pode ser considerada anacrônica diante da evolução, do desenvolvimento e do progresso no mundo em que vivemos.

Dessa forma, pode-se inferir que acerca do tema deficiência estão tantos outros, de cunho social, político e econômico, tais como a acessibilidade e a inclusão. Pois, conforme Fernandes e Orrico (2012), além de a acessibilidade e inclusão serem princípios imanentes, são significados presentes no convívio com a diversidade, desde os primórdios da existência humana e, também, são significantemente presentes nos argumentos de autoridades teórica e normativa, no contexto social sobre a inclusão da pessoa com deficiência na atualidade.

As nomenclaturas usadas para identificar as dificuldades físicas, intelectuais ou sensoriais das pessoas, no decorrer da história, também são elementos que retratam a forma como as pessoas portadoras de deficiência foram tratadas e, ainda, o são no presente. A expressão ‘com deficiência’, por exemplo, substitui atualmente o termo ‘deficiente’, porque chamar alguém de deficiente é inadequado, diante da política correta voltada para a inclusão.

Para Alvarez (1998), no tratamento dado às pessoas em determinados períodos históricos, pode-se identificar ao menos quatro paradigmas sobre o assunto, conforme descritos a seguir:

- O primeiro: refere-se ao tratamento tradicional que confinava a pessoa com deficiência em asilos e manicômios. Nesse paradigma a pessoa deveria ser assistida e o seu problema era de saúde.

- O segundo: aqui se pode identificar o surgimento da reabilitação. Segundo esse paradigma, o problema da deficiência encontra-se na pessoa (considerada objeto) que precisa da intervenção de profissionais que a reabilite.

- O terceiro: nesse o problema não é a deficiência, mas a dependência. Nesse paradigma surgem os ideais da reintegração e da supressão das barreiras físicas com as oportunidades de equipamentos de acessibilidade a todos.

- O quarto: em que a qualidade de vida se define como meta. Nesse paradigma refletem- se as condições necessárias para que as experiências de vida pessoal, com as pessoas e com o contexto, reforcem a independência, a normalização, a integração e a equiparação de oportunidades.

Neste quarto e último paradigma, estão fundamentadas as discussões da contemporaneidade. Pois nele, se institui a qualidade de vida no lar, na comunidade, no emprego, no estado social, no estado de saúde e nas possibilidades de escolhas das pessoas com deficiência. E, ainda, determina que toda a tecnologia deva estar à disposição da qualidade de vida da humanidade. Entretanto, embora esse paradigma baseie-se nos discursos e nas teorias normativas, ainda será preciso uma longa caminhada entre o discurso e a prática (FERNANDES; ORRICO, 2012).

Conhecer, então, o que aconteceu até aqui com as pessoas portadoras de deficiências é percorrer um trajeto cuja finalidade seja proporcionar análises e reflexões, conforme discorre Fernandes e Orrico (2012, p. 45):

[...] acerca de um passado, um presente e um futuro anunciados pelos anseios de tornar acessível a todos os seres humanos, mesmo marcados pela diferença, a responsabilidade de ser, de conviver, de fazer e compartilhar de uma sociedade sustentável, em que a exclusão de algum dos membros representa uma perda para todos.

2.1.1.1 Períodos históricos e as deficiências

Não se têm muitas evidências de como os seres humanos se mantinham vivos na Terra durante a Pré-história, mas é possível deduzir que as pessoas com deficiência não sobreviveram aos ambientes desfavoráveis daquele tempo. Isto porque não havia abrigo satisfatório, as mudanças climáticas eram bruscas, a caça insuficiente, a refeição não era garantida cotidianamente, pois a plantação não era realizada para o sustento diário. E, mesmo quando o alimento era encontrado, por falta de recursos, não era possível conservá-lo ao longo de alguma estação do ano.

Há cerca de dez mil anos, as condições físicas e do clima ficaram mais agradáveis, os grupos humanos manifestaram mais a inteligência e, assim, se organizaram para garantir a caça, a saúde e o sustento de todos. Esses componentes grupais começaram a observar mais o

ambiente e seus elementos. No entanto, alguns estudos concluem que a sobrevivência da pessoa com deficiência, no período primitivo, era impossível, porque para se conseguir alimento e abrigo os obrigaria a ter mais forças e condições físicas para tanto.

Para Silva (198ι, p. 15), “[...] os seguintes males sempre foram e sempre serão muito sérios para a sobrevivência do homem, ou para sua integração ao seu grupo principal como elemento participante”:

Quadro 1 – Categorização de doenças de todos os tempos.

DOENÇAS FÍSICAS DOENÇAS SENSORIAIS DOENÇAS

MENTAIS/INTELECTUAIS - Amputações em vários

níveis e membros. - Artrites em suas várias

caracterizações. - Defeitos de nascimento ou malformações. - Afasia ou problemas de comunicação oral. - Desordens sanguíneas graves.

- Câncer em suas muitas caracterizações. - Queimaduras em vários graus e localizações. - Desordens cardíacas de gravidades diversas. - Fibrose cística. - Epilepsia. - Diabete. - Problemas renais. - Esclerose múltipla. - Distrofia muscular. - Gota em suas manifestações mais graves. - Fraturas e problemas ortopédicos os mais variados. - Problemas respiratórios e/ou pulmonares. - Paralisias (paraplegia, tetraplegia, hemiplegia). - Cegueira ou limitações de visão. - Surdez ou reduções graves de audição. - Problemas de abuso de medicamentos ou de álcool. - Síndromes incapacitantes diversas. - Desordens neurológicas diversas.

- Deficiências mentais nos variados graus e intensidades. - Afasia ou problemas de comunicação oral. - Paralisia cerebral de intensidades diversas. - Problemas cerebrais.

Continuação Quadro 1. - Doenças venéreas. - Fissuras labiopalatais. - Hemofilia. - Hanseníase. - Paralisia infantil. - Incapacidades múltiplas. - Doenças crônicas. - Doenças dermatológicas transmissíveis.

Os ‘males’ citados no Quadro 1, e considerados por Silva (1987) como pertencentes a todos os tempos, representam as relações estabelecidas entre a natureza humana e os elementos do universo. Com base nesses estudos e nos da Sociobiologia, pode-se afirmar que o ser humano se adapta ao ambiente ou o transforma. O fato é que nem sempre essa transformação o beneficia. Dessa forma, pode-se explicar o porquê de tantos ‘males incapacitantes’ nos primórdios da Pré-história, que foram contínuos nas sociedades vigentes, apesar do grande avanço técnico-científico. Talvez a falta de equidade explique o porquê de tanta dificuldade para que uma pessoa com deficiência tenha qualidade de vida, quando lhe fora permitido sobreviver nas diferentes culturas do mundo.

Conforme exemplifica Silva (1987), embora em alguns episódios marcados na forma de desenhos em cavernas, em achados arqueológicos e em rudimentos de próteses, apontem que havia em alguns grupos a preocupação com os mais frágeis e ineficientes, só os mais fortes conseguiam se manter vivos, mesmo que isolados. Dessa forma, pode-se inferir que as pessoas com algum tipo de dificuldade naturalmente eram dispensáveis e sujeitas à rejeição e eliminação sumária.

Para Fernandes e Orrico (2012), mesmo em períodos adiantados da Pré-história, há evidências tanto da exposição de artefatos arqueológicos, na forma de vasos ou quadros de pessoas adultas com deformidades congênitas, entre eles: corcundas, amputados e anões; quanto há registros de tribos primitivas que tinham rituais de abandono e extermínio. A forma como eram tratadas as pessoas portadoras de ‘má formação’ dependia, nesse sentido, do reconhecimento, das atribuições, da utilidade e dos valores dados a elas. À vista disso:

[...] em outras tribos há evidências de que as pessoas com deficiências físicas ou cegas possuíam condições especiais no grupo, sendo conselheiros, líderes espirituais, estando sempre presentes em rituais de caça e pesca. Em certas tribos, como os Azande, que habitavam o Sudão e o Congo era comum o orgulho pela polidactilia15. Algumas tribos ainda possuem esse hábito (FERNANDES; ORRICO, 2012, p. 17).

Em consequência do modo pelo qual a ‘deformidade’ foi encarada no decorrer dos séculos, promoveu-se, por meio de pesquisas, vários estudos paleopatológicos e arqueológicos. Esses estudos evidenciam que o homem primitivo também desenvolveu procedimentos e técnicas para minimização dos problemas físicos ou espirituais, correlatos com suas concepções e crendices. As trepanações16, por exemplo, foram as primeiras experiências com os sintomas de comportamentos das deficiências. As perfurações feitas no cérebro tinham o objetivo de libertar os espíritos malignos, pois nele estaria a residência das doenças.

Os Incas também usaram um instrumento de nome Tumi, semelhante a um bisturi, que tinha o mesmo objetivo das trepanações. Ou seja, eliminar os maus espíritos, justificar as atitudes sobre as pessoas com deficiência e explicar as expulsões demonológicas das deficiências residentes no cérebro. O fato é que todas as técnicas ou entendimentos anunciaram no passado algumas das pesquisas atuais, como as da Neurociência (SILVA, 1987).

De acordo com relatos, na História Antiga, a partir de 2.500 a.C, com o aparecimento da escrita e a partir dos indícios remanescentes das múmias, dos vestígios dos papiros e da arte dos egípcios, foram encontrados registros de como é que os ‘males incapacitantes’ ou ‘deformidades’ (assim eram chamadas as deficiências) recebiam um tratamento que possibilitava a sobrevivência das pessoas com algum tipo desses males ‘disformes’, que obtinham as limitações físicas, intelectual ou sensorial como consequência dos estigmas corporais.

A conservação das múmias e dos restos mortais de faraós e nobres no Egito também possibilitou estudos sobre as distrofias e as limitações físicas presentes neles. Nesses estudos,

15 A polidactilia ou polidatilia é uma anomalia causada pela manifestação de um alelo autossômico dominante com penetrância incompleta, consistindo na alteração quantitativa anormal dos dedos da mão (quirodáctilos) ou dos dedos do pé (pododáctilos).Há uma variação muito grande na expressão dessa característica, desde a presença de um dedo extra, completamente desenvolvido, até a de uma simples profusão carnosa.

16A trepanação consiste na abertura de um ou mais buracos no crânio, por meio de um tipo de broca ou bisturí. A

cultura da trepanação esteve presente desde o tempo dos Mesolítico e há cadáveres com sinais de trepanação em praticamente todas as antigas civilizações do mundo. O procedimento, ainda existe até hoje em dia, com outras finalidades.

pode-se perceber que os ensinamentos morais contribuíram para que alternativas fossem criadas entre os egípcios para a ocupação das pessoas com deficiência e a sua integração nas diferentes classes hierarquizadas como: faraós, nobres, altos funcionários, artesãos, agricultores, escravos, porteiros, etc. Portanto, a partir desses estudos infere-se que as pessoas não tinham, no Antigo Egito, qualquer impedimento para ocupações, ofícios e o convívio (GUGEL, 2007).

A referência feita aos cegos, no Egito, é de que eles realizavam atividades artesanais e que por muito tempo as suas terras foram conhecidas como a Terra dos Cegos. Isto porque os egípcios eram constantemente acometidos de infecções nos olhos, o que lhes causavam cegueira. No estudo dos papiros foram encontradas muitas fórmulas para tratar das muitas doenças existentes, especialmente das doenças dos olhos. As pessoas com deficiência física também exerciam, sem problemas, uma variedade de ofícios considerados como importantes. As pessoas com nanismo (os anões), por exemplo, eram empregadas em casas de pessoas da alta sociedade egípcia, além das ocupações de dançarinos e músicos que exerciam. A arte egípcia, os papiros, os túmulos e os afrescos17 são os registros encontrados, ainda hoje, repletos dessas revelações.

Se não havia restrições quanto ao trabalho para as pessoas com deficiência entre os egípcios, o mesmo não se pode dizer sobre as punições e castigos por ações consideradas crimes ou pecados. De acordo com Silva (1987), durante muito tempo, por longos séculos, os criminosos e/ou pecadores recebiam a penalidade de morte, de trabalhos forçados, da servidão e do flagelo, a mutilação das mãos, das partes genitais, do nariz, da língua ou das orelhas, o jejum forçado, a infâmia, o confisco de bens e as multas. Sobre essas correções não há indícios de amenizações por parte dos Faraós. A parte do corpo com o qual o cidadão egípcio cometia crime ou pecado era um aspecto a ser considerado nas definições sobre o tipo de castigo a ser aplicado. Essas repreensões estavam baseadas num código de ética moral e religioso do povo egípcio.

Na civilização ocidental, na Grécia Antiga, as pessoas nascidas ‘disformes’ ou eram abandonadas ou eram atiradas de altas montanhas. Os abortos eram definidos por critérios biológicos e anatômicos pelos conselhos dos anciãos e sábios. No livro A Política de

Aristóteles há incitação para que as pessoas impedidas pelos costumes das cidades de

abandonar seus filhos deficientes devessem abortar antes que começassem as sensações e a vida. Acordos esses que deveriam se amparar nos critérios estabelecidos por dispositivos

17Afresco é o nome dado a uma obra pictórica feita sobre parede, com base de gesso ou argamassa. Assume frequentemente a forma de mural.

legais. No livro de Platão, A República, também eram defendidas as premissas de não tratar os desiguais como iguais, pois isto seria injusto. Portanto, os ‘desiguais’ deveriam ser escondidos num lugar interdito e oculto, como convém ao grupo (GUGEL, 2007).

Em Esparta, cidade-estado da Grécia Antiga, a principal característica era o militarismo. Sendo assim, as marcas de guerra, tais como amputações de braços e pernas, eram comuns. Entretanto, pelo costume espartano, os nascidos com deficiências eram eliminados, pois somente os fortes eram destinados a servir o exército de Leônidas. Assim, influenciados por Aristóteles, os bebês ou pessoas que nasciam ou adquiriam alguma deficiência eram lançados ao mar ou em precipícios. Pois, os que ficassem vivos deveriam ser fortes para o militarismo e para a guerra.

Desse modo, os recém-nascidos das famílias dos Homoio18 deveriam ser apresentados

a um Conselho. Se o Conselho, composto por espartanos, avaliasse que a criança era normal, ela era devolvida ao pai, que cuidava dela até os sete anos de idade, quando então o Estado assumia essa responsabilidade ensinando-a a arte de guerrear. Para tanto, o Conselho deveria avaliar a criança e se esta se apresentasse feia, ‘disforme’, sem força, ou tivesse indício de algum tipo de limitação física, os mais velhos e sábios ficavam com ela e cuidavam do seu destino. De acordo com Silva (1987, p. 105):

[...] em nome do Estado a levavam para um local conhecido como Apothetai (que significa depósito). Tratava-se de um abismo onde a criança era jogada, pois tinham a opinião de que não era bom nem para a criança, nem para a república que ela vivesse, visto que desde o nascimento não se mostrava bem constituída para ser forte, sã e rija durante toda a vida.

O Direito Romano não reconhecia a vida de bebês precoces ou que aparentassem ‘defeitos’. Embora seus costumes não se restringissem apenas à execução sumária, entre os romanos havia a opção do abandono dos filhos, cuja paternidade vigente fazia parte das nobres famílias. Os bebês poderiam ser depositados em cestos no rio Tibre, ou em outros lugares considerados sagrados. Entretanto, os que sobreviviam eram explorados nas polis, pedindo esmolas em circos, para a diversão dos ricos, ou para fins de prostituição, ridicularização e exploração comercial. De acordo com Silva (1987, p. 130):

Cegos, surdos, deficientes mentais, deficientes físicos e outros tipos de pessoas nascidos com má formação eram também, de quando em quando, ligados às casas comerciais, tavernas, e bordéis, bem como à atividade dos circos romanos, para serviços simples e às vezes humilhantes.

No Império Romano, no século IV d.C, o Cristianismo reteve as práticas de eliminação dos bebês que nasciam com deficiência. Pois as manifestações dos cristãos, contrárias às concepções dos romanos, até então havia modificado o modo de pensar e agir dos romanos. Essas manifestações, entre outras, custaram aos cristãos perseguições, mas também os motivaram a insistir com os seus propósitos. Todavia, também modificaram o modo de conceber as questões de deficiências e pobreza dos romanos, a partir de então.

Na Idade Média, com períodos marcados pelo fim do Império Romano e também por precárias condições de saúde e de vida, a população ignorante entendia a deficiência como castigo de Deus e ira divina. Os supersticiosos consideravam as pessoas com deficiências com poderes especiais, comparando-as aos bruxos e aos feiticeiros. As explicações sobre os porquês dos ‘males incapacitantes’ justificaram as mortes nas fogueiras e outros tipos de mortes brutais, das pessoas com deficiência.

De acordo com os registros históricos, apesar da influência da Era Cristã sobre o modo de encarar as deficiências e sobre a população pobre, havia sobre esses grupos preconceito, segregação e marginalização, fundamentados no predomínio da superstição e da ridicularizarão que poderiam causar às comunidades que as protegessem. Pois, para os sãos, a deficiência fazia parte com elementos mágicos, misteriosos, que trariam má sorte para o restante dos indivíduos participantes desses grupos. Esses comportamentos preconcebidos e desprezíveis sobre as ‘deformidades’ estavam presentes nos relacionamentos, bem como na visão dualista das elites conselheiras dos romanos.

A Europa Medieval, também viveu por longos anos com ameaças de epidemias e doenças como a hanseníase, a peste bubônica e a difteria. Esses males mataram muitas pessoas e as que conseguiram sobreviver ficaram com muitas sequelas e incapacitadas para produzirem ou interagirem para e com os outros. Nesse sentido, as deficiências, tanto quanto as doenças adquiridas, eram sinônimos de rejeição, desprezo, privação, segregação e marginalidade.

Entre os séculos XIV e XVI, com a chegada da Idade Moderna e com base nos ideais Renascentistas, houve um período de maior esclarecimento sobre as deficiências. As pessoas