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3 HUMANISMO INTEGRAL E FRATERNIDADE

3.3 A doutrina do Humanismo Integral

A doutrina identificada como Humanismo Integral nasceu como resultado

de lições (conferências

– seis no total) ministradas pelo filósofo francês Jacques

Maritain na Universidade Internacional de Verão de Santander, em agosto de 1934.

Originalmente publicadas em língua espanhola, sob o título Problemas espirituais e

temporais para uma nova cristandade, as magistrais aulas foram, posteriormente,

objeto de divulgação, agora em 1936, com o texto primitivo revisado e ampliado,

acrescido de uma introdução, de um capitulo novo e de um anexo, dois anos após a

original apresentação, desta feita no seu país natal, França, em obra agora intitulada

como Humanisme Intégral. Para tanto, valeu-se o autor de outros seus estudos

(Religion et Culture; Du Régime temporel et de la Liberté e Science et Sagesse), por ele

mesmo destacados no prefácio da obra ora apresentada

140

e, de fato, evidenciados em

notas de rodapé apostas no decorrer do texto.

As questões tratadas na obra concernem, consoante expresso registro do

autor

141

, à parte da filosofia que Aristóteles e Tomás de Aquino chamavam de Filosofia

prática, por envolver ―de uma maneira geral toda a filosofia do agir humano‖. Averba

140 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral

– Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5 .ed., São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, p. XIII. As seis conferências foram distribuídas segundo os seguintes temas centrais: 1ª) A tragédia do humanismo; 2ª) Um novo humanismo; 3ª) O cristão e o mundo; 4ª e 5ª) O ideal histórico de uma nova cristandade; e 6ª) As condições de instauração de uma nova cristandade. As três primeiras tiveram como foco os problemas espirituais e as três últimas trataram dos problemas temporais de uma nova cristandade. O autor fez questão de destacar, logo no início da sua primeira lição, que as apresentará a partir de uma posição pessoal católica, sem ser, no entanto, clerical. Jacques Maritain, logo no início da inaugural exposição, justifica que três idéias básicas dirigirão as suas lições: a primeira, com o reconhecimento de que é necessário emitir um duplo juízo sobre os diversos momentos da história do mundo e da civilização, considerando o progresso da história do homem, tanto do ponto de vista material, como também espiritual; a segunda, considerando a liquidação do mundo do Renascimento e do humanismo clássico (momento epocal talvez mais relevante que o do Império Romano antes do surgimento da cristandade medieval) e a terceira, valendo-se da terminologia escolástica, com a utilização de um conceito analógico de cristandade, diverso daquele conhecido como unívoco ou mesmo equívoco. Cf. o texto transcrito da primeira conferência, com o título ―A tragédia do

humanismo‖. Disponível em: <http://humanismointegral.com/zip_LEA-1/003_TragHum.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2013.

141

MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral – Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5 .ed., São Paulo:

que, ―à diferença porém da metafísica e da filosofia da natureza, é ordenada desde o

princípio a um objeto que é ação‖. E conclui: ―é ela antes de tudo uma ciência da

liberdade‖.

Aduna Lafayette Pozzoli

142

, que Humanismo Integral, de Jacques Maritain,

―é considerado uma obra fundamental e diz respeito à moral social e política,

constituindo-se numa espécie de propedêutica de toda a sua filosofia prática, de

natureza social e política‖.

De fato, pretendia o filósofo francês, com a sua original doutrina, responder

às correntes humanistas construídas em um mundo saído da Renascença e da

Reforma, a seu juízo, devastado. Nesta linha, afirmou

143

:

É o mundo saído da Renascença e da Reforma devastado desde esta época por energias poderosas e verdadeiramente monstruosas, nas quais o êrro e a verdade se misturam estreitamente e se nutrem uma do outro, verdades que mentem e ―mentiras que falam a verdade‖, Cumpre aos que amam a sabedoria tentar a purificação desses produtos anormais e mortíferos, e procurar salvar as verdades que êles fazem delirar.

Maritain inicia a fundamentação de sua doutrina filosófica

144

com uma

admoestação que se remonta às lições de Aristóteles quando questionava que ―propor

somente o humano ao homem (...) é trair o homem e desejar sua infelicidade,

porquanto pela sua parte principal, que é o espírito, o homem é solicitado para melhor

do que uma vida puramente humana‖.

Partindo da constatação de que a palavra humanismo é vocábulo ambíguo,

poder-se-ia entender a nota aristotélica antes destacada, inclusive, como anti-

142 POZZOLI, Lafayette. Maritain e o Direito. São Paulo: Edições Loyola, 2001, p. 64.

143 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral – Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5 .ed., São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965Humanismo Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965, p. XIV.

144

humanista, a depender da concepção que se faz do homem. Nesse passo,

acrescenta

145

(sem o negrito no original):

(...) devemos ser advertidos em qualquer caso em não definir o humanismo pela exclusão de tôda ordenação ao super-humano e pela abjuração de tôda transcendência. Para deixar as discussões abertas, digamos que o humanismo (e tal definição pode ser desenvolvida por linhas divergentes) tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e a manifestar sua grandeza original fazendo-o participar de tudo o que o pode enriquecer na natureza e na história (―concentrando o mundo no homem‖, como dizia Scheler, e ―dilatando o homem ao mundo‖: êle exige ao mesmo tempo que o homem desenvolva as virtualidades nele contidas, suas fôrças criadoras e a vida da razão, e trabalhe por fazer das fôrças do mundo físico instrumento de sua liberdade.

Assim entendido, o humanismo é inseparável da civilização ou da cultura, tomando-se estas duas palavras como sinônimas.

Maritain não desconhece que, para muitos, um humanismo autêntico só deve

ser, por definição, anti-religioso e, neste sentido, absolutamente secular. Isto, em razão

do momento em que vivia o mundo, na passagem do regime de heroísmo sacral cristão

a um regime denominado pura e exclusivamente humanista, a partir da Renascença.

No entanto, como explicita o autor

146

, o humanismo ocidental tem também

fontes religiosas e, portanto, transcendentes. É inegável. Invoca, assim, para justificar a

sua argumentação, fontes clássicas e cristãs, não somente na antiguidade medieval,

mas também na herança da antiguidade pagã, representada, por exemplo, em nomes

como Homero, Sófocles, Sócrates, ou mesmo Virgílio.

Recorde-se que as lições de Maritain foram desenvolvidas nos anos 30 do

séc. XX, em plena efervescência e avanço dos regimes totalitários na Europa, poucos

145MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral – Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5 .ed., São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, p. 4.

146 Ibidem, p. 5 e 6. Tal definição de humanismo também é destacada por Francisco de Araújo Santos, no

seu Humanismo de Maritain no Brasil de Hoje – ciência, arte e sociedade. São Paulo: Edições Loyola,

anos antes da eclosão da II Grande Guerra. Logo, justificando as raízes da sua teoria,

mais uma vez adverte o filósofo

147

:

a considerar o humanismo ocidental e suas formas contemporâneas aparentemente as mais antecipadas de toda metafísica da transcendência, é fácil ver que, se um resto de concepção comum subsiste ainda da dignidade humana, da liberdade, dos valores desinteressados, é uma herança de ideia e sentidos outrora cristãos, hoje desviados.

E como definir o Humanismo Integral? O próprio autor assim o faz, ao

sentenciar

148

:

Este novo humanismo, sem medida comum com o humanismo burguês, e tanto mais humano quando menos adora o homem, mas respeita realmente e efetivamente a dignidade humana e dá direito às exigências integrais da pessoa, nós concebemos como que orientado para uma realização social- temporal desta atenção evangélica ao humano, a qual não deve existir somente na ordem espiritual, mas incarnar-se, e também para o ideal de uma comunidade fraterna. Não é pelo dinamismo ou pelo imperialismo da raça, da classe ou da nação que êle pede aos homens de se sacrificarem, mas por uma vida melhor para os seus irmãos, e pelo bem concreto da comunidade das pessoas humanas; pela humilde verdade da amizade fraterna a fazer passar – ao preço de um esfôrço constantemente difícil, e da pobreza, – na ordem do social e das estruturas da vida comum; é deste modo sòmente que um tal humanismo é capaz de engrandecer o homem na comunhão, e é por isto que êle não poderia ser outro senão um humanismo heroico.

O humanismo maritainiano parte do pressuposto de que o homem não é um

ser (animal) constituído somente de razão. É também pessoa. Pessoa como universo

de natureza espiritual dotada de liberdade de escolha

149

. O homem não se constitui

exclusivamente de matéria, mas possui inteligência e vontade. Assim, não se compõe

exclusivamente de parte física. A imagem do homem do humanismo integral é a de um

ser feito de matéria e espírito

150

. É humanismo personalista.

147

MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral – Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5 .ed., São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, p. 7.

148

Ibidem, pp. 7-8.

149 Ibidem, p. 10. 150

MARITAIN, Jacques. Humanismo Cristiano (trabajo corresponde al Capítulo XIV del libro ‗El Alcance de la Razón‘. Su versión original fue publicada en Estados Unidos, en Abril de 1942, por la revista

Com fundamento tomista

151

, afasta-se da compreensão humana pessimista

apresentada por Thomas Hobbes

152

e dos teóricos do absolutismo, como também

daquela desenvolvida pelo otimismo absoluto de Jean Jacques Rousseau

153

(teologia

humanista absoluta ou teologia da bondade natural) que, diferentemente da doutrina do

filósofo absolutista, considerava a natureza humana como boa.

O homem, para Maritain, como registra Ricardo Haro

154

, é uma totalidade

independente, é um universo em si mesmo, um todo e não uma parte. O professor

Fortune Magazine). Disponível em:

<http://www.humanismointegral.com/DOCUS_SP_OB/3_HUM/01_305_OB.html>. Acesso em: 26 set. 2013.

151

MARITAIN, Jacques. El humanismo de Santo Tomás de Aquino (Conferencia dictada en 1941 ante la Medieval Academy of America, Princeton University, e incorporada en 1944 al libro ‗De Bergson a Santo Tomás de Aquino‘). Disponível em: <http://humanismointegral.com/zip_ob-4/OB_51_HumSTA.pdf>. Acesso em: 26 set. 2013.

152

Em razão da visão hobbesiana do homem, expressa na máxima homo homini lupus, a teoria de Thomas Hobbes é associada ao pessimismo antropológico. A partir de tal constatação, compreende-se o seu pensamento político contratualista que exige a presença de um poder coercitivo e absoluto para viabilizar a paz entre os homens maus por natureza e naturalmente inimigos. Nesse sentido ver: LIMONGI, Maria Isabel. Hobbes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002, pp. 8-9. Para ilustrar a conclusão antes apresentada relativa ao pessimismo de Thomas Hobbes, significativo é o seguinte trecho do seu Leviatã (São Paulo: Martin Claret, 2013, p.136): ―A causa final, fim ou desígnio dos homens (que apreciam, naturalmente, a liberdade, e o domínio sobre os outros), ao introduzir a restrição a si mesmos que os leva a viver em Estados, é a preocupação com a sua própria conservação e a garantia de uma vida mais feliz. Ou seja, a vontade de abandonar a mísera condição de guerra, conseqüência necessária (conforme dito anteriormente) das paixões naturais dos homens, se não houver um poder visível que os mantenha em atitude de respeito, forçando-os, por temor à punição, a cumprir seus pactos e a observar as leis naturais...‖ (sem os destaques no original).

153 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, p. 20. Em outro importante trabalho, Jacques Maritain destaca o perigo de se confundir pessoa e indivíduo ou ver na pessoa nada mais que o indivíduo, como o faz a doutrina de Nicolau Maquiavel. Nesse passo, o autor contesta também o idealismo de Rousseau que, a seu turno e de forma diversa de Maquiavel, toma o indivíduo por pessoa em ato puro. Conferir MARITAIN, Jacques. La distinção entre persona e individuo (Conferencia dictada por Maritain en los

Cursos de Cultura Católica desarrollados en Buenos Aires, Argentina, en Agosto y Septiembre de 1936. Forma parte del libro ‗Para una Filosofía de la Persona Humana‘). Disponível em:

<http://humanismointegral.com/zip_LEA-1/007_PersIndiv.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2013. Distinguindo também as visões do homem em Rousseau e Hobbes, ver ainda STRATHERN, Paul. Rousseau em 90

minutos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004, pp. 30-31. Sobre a natureza original do homem, em

Rousseau, caracterizada pela bondade (virtude genuína) e a necessidade de se encontrar uma forma de associação fundamentada no contrato social para a ―realização concreta do eu comum e da vontade geral‖, e ainda para assegurar a liberdade e igualdade ―junto a cidadãos que aceitam o mesmo ideal‖, ver a introdução, com o título ―O supremo bem: a liberdade‖ à edição da Martin Claret, Do Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau (São Paulo, 2004, pp. 12-13), extraída do livro Rousseau – Vida e Obra,

Coleção Os Pensadores, da Editora Nova Cultural.

154 HARO, Ricardo. Reflexiones sobre el humanismo e la democracia en el pensamiento de Jacques

Maritain. Disponível em:

<http://www.humanismointegral.com/DOCUS_SS/b%29%20HUM/12_513_HUM.html>. Acesso em: 26 set. 2013.

argentino, com lastro nos ensinamentos de Jacques Maritain, identifica quatro

dimensões de existência da pessoa em seu viver

155

, para expressar o Humanismo

Integral (sem o destaque no texto original):

a) Dimensión individual, el "yo" consigo mismo que procura una "relación

de identidad", de autenticidad individual, de coherencia; el ser plenamente ―yo‖ y no ―otro‖;

b) Dimensión social, con los demás hombres, cuya convivencia la necesita

para ser pleno, en una "relación de fraterna solidaridad" con los demás, porque recordando aquí a Maritain, el Hombre es un todo, pero no cerrado, sino abierto, que tiende, por naturaleza, a la vida social y a la comunión;

c) Dimensión cósmica, que lo une al hombre con el cosmos, en una

"relación de señorío", de "dominus", colaborando en el desarrollo de la obra de la creación divina respecto de la naturaleza y el universo, y cuidando de sus bienes que Dios nos entregó para nuestro legítimo uso y goce;

d) Dimensión trascendente, con el misterio del Ser, que al decir de Kant,

es "lo Absoluto" para el filósofo, y es el Dios de los creyentes. Esta relación está inspirada básicamente en una "relación de profundo amor filio-paternal", del hombre redimido por Cristo y que la gracia sobrenatural, lo ha hecho hijo, amigo y heredero de Dios. Paulo VI afirma al respecto: ―No hay, pues, más que un humanismo verdadero que se abre al Absoluto, en el reconocimiento de una vocación, que da la idea verdadera de la vida humana, en una constante superación‖ ('Populorum Progressio', 42).

É de se compreender, assim, em perfeita sintonia com o pensamento

tomista

156

, insista-se, que o homem deve ser considerado como pessoa e como

indivíduo. No entanto, em que pese parecer contraditório, tal concepção deverá ser

contra todo individualismo e contra todo personalismo extremado, e ainda contra toda

concepção totalitária

157

.

Maritain

158

, invocando mais uma vez, as lições do Aquinate, registra que

―cada pessoa humana existe em face da comunidade como a parte em face do todo, e,

155 Ibidem.

156 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, p. 107.

157

Reação de Jacques Maritain contra posturas de doutrinas fascistas onde a comunidade política (Estado ou coletividade) reivindica para si o homem inteiro (ver nota 66 aposta na p. 107 do Humanismo

Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965).

158 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 196, p. 107. Em outra importante obra Os Direitos do Homem e a Lei

Natural. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria JOSÉ OLYMPIO Editôra, 1967, p. 18, afirma: ―a pessoa é um todo, mas não um todo fechado. É um todo aberto, e não um pequeno deus sem portas nem janelas com a

portanto, a esse título é subordinado ao todo‖. Diz mais: ―o homem não é somente

pessoa, isto é, subsiste espiritualmente, é também indivíduo, fragmento individualizado

de uma espécie‖. Exatamente por isto é que o homem se apresenta como membro da

sociedade na condição de parte.

Pessoa e indivíduo; indivíduo e pessoa. A partir dos ensinamentos de Tomás

de Aquino, cujas lições foram pelo filósofo francês incorporadas, assim se expressa

Jacques Maritain: ―para o homem, como para os outros seres corporais, a matéria é a

raiz ontológica da individualidade‖

159

. Como indivíduo, é ―fragmento de uma espécie; é

parte do universo e parte singular da imensa rede de influências cósmicas e históricas

que o dominam‖

160

. Mas não é somente indivíduo: é também pessoa e como tal se

apresenta como um universo de natureza espiritual, dotado de livre arbítrio e, assim, um

todo independente frente ao mundo.

O Humanismo Integral apresenta-se diverso do humanismo clássico. Dele se

distancia, pois, como registra Maritain

161

, o vício radical do humanismo antropocêntrico

(clássico) foi de ser antropocêntrico e não de ser humanismo. É humanismo inumano e

sua dialética deve ser encarada como a tragédia do humanismo.

mônada de Leibniz, ou um ídolo que não vê, não ouve, nem fala. Por sua própria natureza ela tende para a vida social e para a comunhão‖.

159 MARITAIN, Jacques. La distinção entre persona e individuo (Conferencia dictada por Maritain en los

Cursos de Cultura Católica desarrollados en Buenos Aires, Argentina, en Agosto y Septiembre de 1936. Forma parte del libro ‗Para una Filosofía de la Persona Humana‘). Disponível em: <http://humanismointegral.com/zip_LEA-1/007_PersIndiv.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2013.

160 Ibidem.

161 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, pp. 21-24. Seguindo a linha maritainiana, as considerações de Eduardo Frei Montalva (1911-1982), líder cristão e estadista chileno, discípulo do filósofo francês – de quem foi também amigo – ao afirmar que o perigo mais grave para o Humanismo é o endeusamento do próprio homem, em texto publicado em 1976, onde comenta outra obra de Jacques Maritain (Prólogo A

‗El crepúsculo de la civilización‘. Disponível em:

<http://www.humanismointegral.com/DOCUS_SS/b%29%20HUM/13_515_HUM.html>. Acesso em: 07 out. 2013). Distinguindo o verdadeiro humanismo do antropocentrismo, o maior, talvez, responsável pela difusão do pensamento de Jacques Maritain no Brasil, o também tomista Alceu Amoroso Lima (Introdução à Economia Moderna, Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editôra, 1961, p. 137), afirma: ―O humanismo é a doutrina que faz do homem o centro da sociedade. O antropocentrismo, a que faz do homem e da sociedade um fim em si, e começando pelo individualismo termina no socialismo. O humanismo vê no homem um ser completo, com uma finalidade própria, e na sociedade um meio para o alcance dessa finalidade. (...). Não devemos, portanto, confundir teòricamente antropocentrismo com humanismo. Pois o erro da evolução moderna foi exatamente ter passado deste para aquêle, não sendo o antropocentrismo senão um humanismo degenerado‖.

O humanismo maritainiano é um humanismo teocêntrico, enraizado lá onde o

homem tem suas raízes, humanismo integral, Humanismo de Encarnação

162

. Explicita o

filósofo

163

que se trata de

um nôvo humanismo – essencialmente diferente do humanismo no sentido ordinário da palavra, do humanismo antropocêntrico, cujo tipo era o herói da Renascença ou o ―honnête homme‖ clássico; ao passo que o humanismo teocêntrico encontra o seu tipo no santo, e só se pode realizar se nêles santos põem a mão.

O assim chamado Humanismo de Encarnação

164

se ocuparia, pois, de cuidar

(...) de las masas, de los derechos de éstas a una condición temporal digna del hombre, y a la vida espiritual, y también atendería al movimiento que lleva a las clases trabajadoras a la responsabilidad social propia de su madurez. Tendería a substituir la civilización materialista individualista y un sistema económico basado en la fecundidad del dinero, no por una economía colectivista, sino por una democracia "personalista cristiana".

Em feliz síntese conclusiva, acrescenta Jacques Maritain

165

:

Después de la gran desilusión determinada por el "humanismo antropocéntrico" y de la atroz experiencia del antihumanismo de nuestros días, lo que el mundo necesita es un nuevo humanismo, un humanismo "teocéntrico o integral" que considere al hombre en toda su grandeza y en toda su debilidad naturales, en la totalidad de su ser herido y habitado por Dios, en toda la realidad de su naturaleza, de su pecado y de su santidad. Tal humanismo reconocería todo lo que hay de irracional en el hombre, para hacerlo dócil a la razón, y todo lo que

162 MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral: Uma Visão Nova da Ordem Cristã. 5. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1965, p. 58.

163

Ibidem, p. 59.

164

MARITAIN, Jacques. Humanismo Cristiano (trabajo corresponde al Capítulo XIV del libro ‗El Alcance de la Razón‘. Su versión original fue publicada en Estados Unidos, en Abril de 1942, por la revista

Fortune Magazine). Disponível em:

<http://www.humanismointegral.com/DOCUS_SP_OB/3_HUM/01_305_OB.html>. Acesso em: 26 set. 2013.

165

tiene de suprarracional, a fin de que la razón quede vivificada por ello, y de que el hombre sea accesible al descenso, en él, de lo divino. La obra principal de