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A educação ambiental e as sociologias das ausências

3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO UM PARADIGMA EMERGENTE DA

3.3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUAS RELAÇÕES COM AS ECOLOGIAS

3.3.1 A educação ambiental e as sociologias das ausências

O objetivo a ser alcançado com o estudo deste subtítulo da tese, é conhecer o papel a ser desenvolvido pela educação ambiental em todos os níveis de ensino da Federação Brasileira diante das sociologias das ausências.

Sousa Santos (2011), ao mencionar a sociologia das ausências, afirma que elas se constituem num modo transgressivo de demonstrar que tudo o que é tido como inexistente, é considerado como uma alternativa descartável que não é vista para a realidade hegemônica169 do mundo. Aquilo que existe como uma realidade

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A escola, ao desenvolver suas ações de educação ambiental não tem por finalidade formar um indivíduo que tenha compaixão pela natureza, ou que seja sensibilizado a desenvolver um trabalho, quando adulto, de restauração dos passivos ambientais deixados pela ação devastadora das gerações passadas e da atual geração. A educação ambiental, como foi verificada na sua legislação regulamentadora e fundamentada nos princípios do Direito Ambiental, que por sua vez possuem suas raízes nos princípios da tradição republicana da modernidade, está desafiada a criar as condições necessárias à cidadania ambiental.

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Santos (2010, pp.105-106) contribui na compreensão do que significa uma realidade hegemônica. Para tanto menciona as verticalidades. “As verticalidades podem ser definidas, num território, como um conjunto de pontos formando um espaço de fluxos. A ideia, de certo modo, remonta aos escritos de Françóis Perroux (1961), quando ele descreveu o espaço econômico. Tal noção foi recentemente reapropriada por Manuel Castells (A sociedade em rede, 1999). Esse espaço de fluxos seria, na realidade, um subsistema dentro da totalidade-espaço, já que os efeitos dos respectivos atores o que conta é, sobretudo, esse conjunto de pontos adequados às tarefas produtivas hegemônicas, características das atividades econômicas que comandam este período histórico. O sistema de produção que se serve desse espaço de fluxos é constituído por redes – um sistema reticular –, exigente de fluidez e seguido de velocidade. São os atores do tempo rápido, que plenamente participam do processo, enquanto os demais raramente tiram todo proveito da fluidez. [...] Tomada

criada pelas pessoas ou pelas coletividades, como sendo representativa da sua vontade ou das suas culturas, é sempre considerada como algo inexistente para a globalização hegemônica. Disso decorre uma contradição com o momento presente, levando as pessoas a crerem na ausência de uma realidade que pode ser resultado da sua criação mediante a utilização das experiências locais.

O autor alude à ideia da crença numa realidade hegemônica que leva a uma forma de pensamento indolente e preguiçoso a respeito daquilo que pode representar para a criação local. Cria-se uma espécie de ausência, tornando invisíveis as experiências locais, para uma dependência do conhecimento hegemônico, mostrado como a única forma concreta e visível a ser utilizada pelas pessoas e pelas coletividades.

No que diz respeito às ausências, elas são produzidas mediante cinco modos, denominados de monoculturas. De acordo com Souza Santos (2011), são: a do saber e do rigor científico, a do tempo linear, a da naturalização das diferenças, a da escala dominante e a do produtivismo capitalista.

No entendimento do autor (2011), a primeira monocultura é a do saber e do rigor científico, que não leva em consideração outras formas de criação de saberes, como por exemplo, o saber individual e local construído de acordo com a cultura vigente de cada povo e de cada nação.

Esta monocultura procura desconsiderar o conhecimento popular, por exemplo, das comunidades de agricultores familiares a respeito da influência dos astros sobre as plantações. Para esta monocultura, o que é considerado como

em consideração determinada área, o espaço de fluxos tem o papel de integração com níveis econômicos e espaciais mais abrangentes. Tal integração, todavia, é vertical, dependente e alienadora, já que as decisões essenciais concernentes aos processos locais estranhas ao lugar e obedecem a motivações distantes. Nestas condições, a tendência é a prevalência dos interesses corporativos sobre os interesses públicos, quanto a evolução do território, da economia e das sociedades locais. Dentro desse quadro, a política das empresas – isto é, sua policy – aspira, e consegue, mediante um governance, a tornar-se política; na verdade uma política cega, pois deixa a construção do destino de uma área entregue aos interesses privatísticos de uma empresa que não tem compromissos com a sociedade local. [...] Chamemos de macroatores àqueles que de fora da área determinam as modalidades internas de ação. [...] O modelo hegemônico é planejado para ser, em sua ação individual, indiferente a seu entorno. Mas este de algum modo se opõe à plenitude dessa hegemonia. [...] O modelo hegemônico é planejado para ser, em sua ação individual, indiferente a seu entorno. Mas este de algum modo se opõe à plenitude dessa hegemonia. Esta, porém, é exercida em sua forma limite, pois, a empresa se esforça por esgotar as virtualidades e perspectivas de sua ação „racional‟. [...] As verticalidades são, pois, portadoras de uma ordem implacável, cuja convocação incessante a segui-la representa um convite ao estranhamento. Assim, quanto mais „modernizados‟ e penetrados por essa lógica, mais os espaços respectivos se tornam alienados”.

cientificamente comprovado, são as cultivares híbridas e daquelas transgênicas170, anunciadas como as mais produtivas e mais resistentes ao ataque das pragas e doenças.

No tocante a adubação e ao combate de pragas e doenças das plantas, esta monocultura vai considerar como aceitável somente a utilização dos adubos solúveis171 e agrotóxicos172 fabricados em laboratório cuja ação é fulminante e de resultado imediato sobre a espécie de inseto ou doença que está provocando danos econômicos às plantações, mesmo que seus efeitos destrutivos atinjam toda a cadeia ecológica do ecossistema.

A adoção de insumos fabricados levou o agricultor brasileiro a abandonar o sistema de policultivos da terra e adotar um sistema de produção monocultora voltada à exportação e cuja base foi um pacote tecnológico de insumos e máquinas

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A respeito das novas tecnologias agrícolas, que tornam os agricultores dependentes da verticalização exercida pelas grandes corporações ligadas ao setor produtivo, como é o caso da soja transgênica, Andrioli (2008, pp. 214 e 215) alerta que, “A tarefa de possibilitar tamanho processo de reflexão social pela a tecnologia agrícola obviamente não pode ser reduzida aos pesquisadores das Ciências Naturais, como os defensores da modernização capitalista parecem estar convencidos e, por isso, com base numa suposta „objetividade dos fatos‟, procuram forçar a legalização de descobertas tecnológicas em benefício de interesses legitimadores da dominação. [...] De acordo com essa compreensão, uma transformação agrotecncológica pelo emprego da agroecologia como ponto de partida para uma mudança social precisa estar associada à transformação das relações de dominação no meio rural, de forma que as experiências concretas dos agricultores com tecnologia e organização cooperativa possam conduzir, em toda a sua capacidade de desvelamento de contradições, à tomada de consciência da opressão existente, à identificação de opressores e possíveis aliados, ao fim do isolamento e à solidariedade. [...] Nesse sentido, o conhecimento especializado somente pode ser assimilado pelos agricultores por meio de uma ação dialógica e combinado ao seu conhecimento tradicional, de forma que, mediante experiências comuns de atingidos, em grupos, possam ser endogenamente desenvolvidas tecnologias novas, progressistas, social, e ecologicamente apropriadas”.

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Já, no tocante ao sistema de adubação das plantações, a monocultura do saber e do rigor científico não considera como válida a experiência das formas de adubação orgânica utilizadas, principalmente por agricultores familiares adeptos da agroecologia, que utilizam a adubação verde, os restos culturais das colheitas como forma de adubação do solo, o adubo produzido pelo composto orgânico elaborado na própria propriedade e a utilização dos excrementos dos animais como forma de adubação das lavouras. Será considerado como válido, por essa monocultura, portanto, o sistema de adubação com base em fertilizantes minerais solúveis à base de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), como sendo a consolidação de um pacote tecnológico “[...] do Banco Mundial e da Fundação Rockfeller e de outros agentes” (PINHEIRO, 1985, p. 14). Constituem-se em fórmulas de adubos solúveis minerais, que são fabricados pelas grandes empresas transnacionais do setor, e que integraram o pacote de insumos agrícolas voltados à revolução verde da agricultura do pós-segunda Guerra Mundial, incentivada pelos Estados Unidos da América aos países menos desenvolvidos da década de 1960, como foi o caso do Brasil.

172De acordo com Machado (2013, p. 726) “Deixou-se, finalmente, ouso do termo „defensivo agrícola‟,

que distorcia o conceito e cuja denominação fugia da linha da terminologia internacional, que é „pesticida‟ ou „praguicida‟. Ainda que o Brasil não tenha inserido na nomenclatura oficial o termo „pesticida‟ a colhida do termo „agrotóxico‟ já coloca em relevo a presença de produto perigoso”. A Lei nº 7802 de 1989 e o Decreto n° 4074 de 2002 regulamentam a fabricação, o transporta, a utilização e o sistema da logística reversa das embalagens de agrotóxicos no Brasil.

agrícolas importados, principalmente dos Estados Unidos da América denominado de revolução verde173.

Portanto, a monocultura do saber e do rigor científico considera como válida apenas a experiência do pacote tecnológico da revolução verde planejada pela fundação Rockfeller, financiada pelo Branco Mundial, e não a experiência do modelo de policultivos adotado pelos pequenos agricultores brasileiros, sobretudo até o início do período pós-segunda guerra mundial.

A segunda monocultura é a do tempo linear. Sousa Santos (2011) explica que esta monocultura leva em consideração que a história tem uma direção e um só sentido. Significa dizer que os países mais desenvolvidos estão na dianteira e, portanto, tudo o que é dito por eles é mais eficiente e deve ser levado em consideração pelas nações menos desenvolvidas. Esta monocultura expõe a ideia de que suas instituições e suas formas de organização estabelecem padrões de desenvolvimento para os países menos desenvolvidos; portanto, são considerados atrasados, pré-modernos, primitivos ou selvagens. Neste aspecto, um país menos desenvolvido jamais poderá ser desenvolvido se não servir de roteiro turístico ao visitante estrangeiro ou que sejam apenas funcionais para os países do norte. Sendo assim, um país menos desenvolvido, sob este ponto de vista, jamais vai ser desenvolvido sem levar em consideração a sua cultura e suas experiências locais.

A estratégia adotada para transmitir a ideia de que a história possui uma só direção e um só sentido, ou seja, aquele estabelecido pelos países economicamente ricos acontece pelo processo de informação. Por este viés:

O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível. Mas na medida em que o que chega às pessoas, como também às empresas e instituições

173Brum (1985, p. 59) conceitua revolução verde, como sendo “[...] um programa que tinha como

objetivo explícito contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética vegetal para a criação e multiplicação de sementes adequadas às condições dos diferentes solos e climas e resistentes às doenças e pragas, bem como da descoberta e aplicação de técnicas agrícolas ou tratos culturais mais modernos e eficientes. Através dessa imagem humanitária, ocultavam-se, no entanto, poderosos interesses econômicos e políticos ligados à expansão e fortalecimento das grandes corporações a caminho da transnacionalização. O programa deu seus primeiros passos por volta de 1943, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, quando a vitória para os aliados, sob a liderança dos EUA, já se delineava no horizonte. O programa foi idealizado e patrocinado pelo poderoso grupo econômico Rockfeller, com sede nos Estados Unidos. O desenvolvimento do programa apresentou duas fases: a fase pioneira e a fase de grande expansão”.

hegemonizadas é, já, o resultado de uma manipulação e tal informação se apresenta como ideológica. O fato de que no mundo de hoje o discurso antecede quase obrigatoriamente uma parte substancial das ações humanas – sejam elas a técnica, a produção, o consumo, o poder - explica o porquê da presença generalizada do ideológico em todos esses pontos. [...] Estamos diante de novo “encantamento do mundo”, em que o discurso e a retórica são o princípio e o fim. Esse imperativo e essa onipresença da informação são insidiosos, já que a informação atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca instruir e outro pelo qual ela busca convencer (SANTOS, 2010, p. 39).

A respeito daquela informação centrada nas duas facetas, o de instruir e de convencer desempenha papel preponderante na construção do pensamento único a respeito da monocultura do tempo linear174, ou seja, aquilo que advém dos países ricos significa desenvolvimento e é bom para todos os povos da humanidade. O autor acima mencionado (2010, pp. 39-40) explica que a “[...] informação tem hoje essas duas caras e a cara do convencer se torna muito mais presente, na medida em que a publicidade se transformou em algo que antecipa a produção”.

Como a necessidade de consumir é criada antes mesmo da criação e lançamento do produto, este consumidor não exerce a condição de escolha daquilo que pode satisfazer às suas necessidades básicas para uma sobrevivência digna. A monocultura do tempo linear vai estabelecer as necessidades, sem que elas sejam necessárias, mediante a técnica do discurso. Para tanto, segundo Santos (2010, p. 50), “[...] as atividades hegemônicas são hoje, todas elas, fundadas nessa técnica. O discurso aparece como algo capital na produção da existência de todos. Essa imprescindibilidade de um discurso que antecede a tudo - a começar pela própria técnica, a produção, o consumo e o poder - abre a porta para a ideologia”175

.

O discurso ideológico do tempo linear não considera o sujeito como pessoa capaz de produzir o conhecimento176, de acordo com o local, o regional e o global.

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Para o tempo linear, o importante é que o indivíduo aceite como natural a informação da forma como ela foi produzida e veiculada. Assim, aquilo que advém das empresas hegemônicas será melhor para ele como um consumidor em potencial. Será bom para a empresa, que vai comercializar seu produto em diversos povos, independente da sua cultura a suas formas próprias de produção e de consumo. “Mas atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzir os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do consumidor, hoje, precede à produção dos bens e dos serviços” (SANTOS, 2010, p. 48).

175De acordo com Wolkmer (1995, p. 91, 93, 95) “As ideologias estão presentes em toda parte,

enquanto crenças e fundamentações do mundo”. Elas representam um significado positivo como “[...] um conjunto de ideias, valores, maneiras de sentir e pensar de pessoas ou grupos” ou um sentido negativo como “falsa consciência das relações de domínio entre as classes ou como ilusão, mistificação, distorção e oposição ao conhecimento verdadeiro”.

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A respeito da relação entre ciência e educação na ótica da aprendizagem e da constituição de sujeitos, Marques (2002, p. 92) firma que, “[...] importa perceber como se relacionam ciência e

Mas de apenas reproduzir tudo aquilo que foi transmitido pelos países mais ricos como o ideal e mais importante para toda a humanidade. Por sua vez, esta monocultura nos trata como selvagens que precisam adaptar-se ao automatismo tecnológico, ao invés levar em consideração o conhecimento construído pelas culturas locais. No entendimento de Souza Santos (2013, p. 80), “Constrói-se, assim, uma personalidade que diminui as capacidades de avaliação do risco e que acaba por transformar ao automatismo tecnológico numa manifestação suprema de vontade”.

Como forma de enfrentamento ao pensamento dominante implantado pelo sistema de informação ideológica, Sousa Santos (2013) propõe a retomada da tradição da modernidade que atualmente encontra-se esquecida. É o resgate da ideia do conhecimento-emancipação mediante sua reinvenção. Será, portanto, um caminho para contrapor ao conhecimento-regulação, estabelecido pelo conhecimento hegemônico e dominante. A reinvenção se justifica pelo fato de a ciência moderna ter- se desenvolvido à luz do conhecimento-regulação e, de alguma forma, ela o recodificou, impossibilitando a construção do conhecimento- emancipação.

O conhecimento-emancipação177 possibilita que a monocultura do tempo linear, centrada numa única forma de conhecimento e válida para todos os países pobres, seja substituída paulatinamente por uma ecologia do saber. Neste sentido, Sousa Santos (2011, pp. 53-54) afirma que “É muito importante, fazer essa mudança, de uma epistemologia baseada somente em uma forma de conhecimento

educação nesta ótica da aprendizagem em que se constitui a humanidade e nela se constituem os sujeitos singularizados enquanto corpos capazes da ação da palavra da palavra da ação, na hermenêutica das tradições e em emancipação humana. E importa retomemos essa questão da intercomplementariedade das ciências, para examiná-la na ótica de sua pluralidade na unidade em que elas se recompõem”. Neste aspecto, a educação ambiental escolar em todos os níveis de ensino contribui para o enfretamento do discurso ideológico do tempo linear, que não considera o sujeito como pessoa capaz de produzir o conhecimento.

177“Assumir a radicalidade de que a própria razão (logos) opera paradigmaticamente, constituindo-se

em um modo de explicar o mundo do qual decorre um modo de agir nos levaria a reconhecer que estamos já situados em um paradigma constitutivo da condição humana; a linguagem. É nela, com ela e por ela que produzimos significações. É ela nosso limite e nossa possibilidade. Logo, não existe um incondicionado, porque não há humano fora da linguagem – o que não significa dizer que tudo é linguagem – mas afirmar que nossa percepção de realidade é sempre medida por ela. [...] Para que isso se coloque como possibilidade, no entanto, dever-se tomar o sujeito como efeito de processos de subjetivação e a realidade como construção histórica. Esta historicidade dos sujeitos, e do mundo é o espaço possível da educação e do exercício da cidadania, e a consciência desta „plasticidade‟ sujeitos e do mundo é que nos possibilita pensar uma educação emancipatória” (FENSTERSEIFER, 2010, pp. 52-53-55).

para outra de ecologia. Quando há uma ecologia de saberes, a ignorância não é necessariamente um ponto de partida, pode ser um ponto de chegada”.

A educação ambiental a ser desenvolvida em todos os níveis e modalidades de ensino, não se constituirá num caminho para o fortalecimento do conhecimento- regulação, que privilegie o conhecimento hegemônico. As ações educativas a serem desenvolvidas criam as possibilidades para o conhecimento que gera autonomia e não dependência, o que possibilita a autodeterminação das pessoas e das relações internas dos povos, como nas relações internacionais entre os Estados e, neste caso, as questões ambientais.

Neste sentido, a educação ambiental republicana deve gerar autonomia dos sujeitos, pois estes sujeitos estão imbuídos em estabelecer uma visão crítica, tanto da tradição republicana da modernidade, quanto da tradição brasileira e promover mudanças necessárias ao momento vigente, sem desconsiderar o passado e nem se tornar refém, como se fosse algo definitivo e imutável. Por isso e educação ambiental a ser desenvolvida em tosos os níveis de ensino, não consiste numa educação que manipule os alunos por parte dos professores e, nem tampouco, aquela que abandona o aluno diante dos desequilíbrios ambientais, considerando que nada existe. Assim, Freire ao ser entrevistado por Shor entende que o professor assume,

[...] um papel diretivo necessário para educar. Essa diretividade não é uma posição de comando, de “faça isso” ou “faça aquilo”, mas uma postura para dirigir um estudo sério sobre algum objeto pelo qual os alunos reflitam sobre a intimidade de existência do objeto. Chamo essa posição de radical democrática, porque ela almeja a diretividade e a liberdade ao mesmo tempo, sem nenhum autoritarismo do professor e sem licenciosidade dos alunos (FREIRE, 1987, p. 203).

O professor ao desenvolver uma postura que leve os alunos a refletir sobre a intimidade de existência do objeto, neste caso as questões ambientais, cria as condições para a emancipação humana e o exercício da democracia. A educação ambiental para não constituir-se num fator de regulação, está desafiada a desenvolver suas ações educativas, que possibilita a recriação e transformação dos produtos da monocultura do tempo linear. Para tanto:

A instituição escolar, como qualquer outro espaço de educação, preserva este lugar de sujeito ao reconhecer que carrega em si o gérmem de sua

própria transformação. Em outras palavras, embora uma instituição se funde e encarne um desejo de segurança, certeza, estabilidade, possui em seu interior, e é este seu móvel, elementos de subversão, o que, embora paradoxal, não é contraditório, dado que reproduzir o humano é reproduzir a capacidade humana de recriar-se (FENSTERSEIFER, 2010, p. 55).

Assim, a monocultura do tempo linear trabalha na lógica de que a história tem uma direção e um só sentido e difunde a ideia de que os países mais desenvolvidos estão a frente de tudo e, portanto, aquilo que é dito por eles deve ser levado em consideração pelas pessoas e as nações menos desenvolvidas, segundo seus