• Nenhum resultado encontrado

1.1 ASPECTOS IMPORTANTES DAS MATRIZES REPUBLICANAS

1.1.4 Fundamentos da matriz republicana francesa

O quarto ponto deste estudo será a matriz republicana francesa, tendo o povo francês como protagonista. Esse povo, após promover um movimento revolucionário que culminou com a queda da bastilha e a decapitação do rei, assume o controle do Estado, com ideais de mudanças, dentre elas, a forma de governo, a liberdade como sendo um direito universal, a igualdade de todos perante a Constituição e a fraternidade como produto das relações entre os cidadãos.

Neste tópico, o objetivo do estudo é conhecer os fundamentos dessa matriz, suas contribuições para republicanismo da modernidade e a importância para a educação ambiental republicana e o Estado de direito do ambiente, assunto a ser delineado nos capítulos posteriores da tese.

Após a Revolução Francesa, coube ao povo eleger uma Assembleia Nacional a fim de elaborar um texto Constitucional, que seria a concretização das ideias libertárias defendidas no movimento revolucionário. Esta Assembleia representativa do povo francês, no dia 26 de agosto de 1789, aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão18, e constituiu-se num documento irradiador do liberalismo humano. Tal Declaração tornou-se universal em virtude do alcance dos seus preceitos, com relação aos direitos e garantias do homem e do cidadão.

Grande contribuição à construção dos princípios desta matriz republicana vem de Montesquieu. A sua obra “Do Espírito das Leis”, publicada em 1747, torna-se um dos fundamentos para os ideais a serem defendidos pela Revolução Francesa, que culmina com a Assembleia Nacional Francesa. Assim,

Considerados como habitantes de um planeta tão grande, que é necessário haver diferentes povos, eles têm leis sobre a relação que esses povos têm entre si: tal é o Direito das Gentes. Considerados como seres que vivem numa sociedade que deve ser considerada, têm leis sobre a relação que os governam e têm com os que são governados: tal é o Direto Político. Têm ainda leis sobre a relação que todos os cidadãos têm entre si: é o Direito Civil (MONTESQUIEU, 2010, p. 25).

18

Levene (1954, p. 5) destaca o preâmbulo da Constituição Política dos Estados Unidos da América que estabelece: “Nós, o Povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma união mais perfeita, estabelecer a justiça, assegurar a tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover a bem- estar geral, e assegurar as bênçãos da liberdade para nós mesmos e para a nossa posteridade, decretamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América”.

Sua contribuição é no sentido de que a cultura de todos os povos deve ser respeitada, na sua essência, como formação original das diferenças. Cada povo deve ter a liberdade de estabelecer suas próprias leis, retratando sua vontade e a sua cultura. Todos devem ser iguais numa mesma sociedade, pois estão sob a proteção das suas próprias leis, que vão estabelecer a relação entre quem governa e quem é governado, como sendo uma relação política. E ainda, cada sociedade deve positivar o rol necessário de leis, que vão determinar a relação entre os indivíduos.

Ressalta-se que a contribuição da matriz Republicana Francesa, é de que, a relação entre os povos deve ser soberana e voluntária, mas limitada por legislação internacional19 validada para todos os povos.

A definição de regulamentos que vão definir as relações entre as gentes, entre estas e o Estado e vice versa, bem como as relações entre os diferentes povos, não serão obra das revelações divinas. De acordo com Montesquieu (2010, pp. 25-26) a lei “[...] em geral, é a razão humana enquanto governa todos os povos da terra: e as leis políticas e civis de cada nação devem ser apenas os casos particulares a que se aplica tal razão humana”. “Tais leis devem ser tão próprias ao povo para o qual foram feitas, que é grande sorte se as de uma nação puderem convir a outra”.

Outra contribuição importante para a matriz Republicana Francesa, foi a de Rousseau, através da sua obra “O Contrato Social”, que começou a circular na França em 1762. Seu pensamento proporciona um aporte importante na definição dos princípios dessa matriz republicana. Segundo o autor

Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um se unindo a todos obedeça, todavia, apenas a si mesmo e permaneça tão livre como antes. Eis o problema funcional para o qual o contrato social oferece a solução (ROUSSEAU, 2011, p. 21).

Bignotto (2013) ressalta que Rousseau representa, ao mesmo tempo, o ápice do debate sobre a natureza da opressão imposta pelos regimes tiranos e o momento

19

As relações entre os povos, pautada por uma normatização supranacional, vai evitar a hegemonia dominante daqueles mais fortes sobre os mais fracos. Sua contribuição vai fortalecer as bases para um ordenamento jurídico internacional, que determina os direitos e as obrigações a todos os povos, quando vão estabelecer suas relações estatais.

em que o republicanismo encontra uma linguagem teórica inovadora, para além da conotação moral que tivera até então. Isso justifica sua escolha, ao lado de Montesquieu, como nosso primeiro apoio. Com ele, surge uma nova maneira de colocar a questão republicana, que se associa aos muitos avanços que haviam sido alcançados pelos pensadores contratualistas na tarefa de compreender a origem e o funcionamento dos corpos políticos.

Na construção da matriz republicana francesa, contribuição importante vem de Jonh Locke, mediante sua obra o “Segundo Tratado Sobre o Governo”, que fora publicada em 1690. Sua teoria vem no sentido de fortalecer o debate sobre o direito de propriedade da terra, realizado com intensidade durante o império romano. Paralelo ao direito de propriedade, Locke fortalece a ideia do principio da função social da propriedade e a preservação do meio ambiente, atualmente convencionado de função socioambiental da propriedade da terra. Entende que:

A extensão de terra que um homem lavra, planta, melhora, cultiva e de cujos produtos desfruta, constitui a sua propriedade. Pelo trabalho, digamos, destaca-a do que é comum. Nenhum anulará este direito ao afirmar que qualquer outro teria igual direito a essa extensão de terra, não sendo pois, legítimo àquele apropriar-se ou fechá-la sem o consentimento dos demais membros da comunidade (LOCKE, 2011, p. 32).

Dessa maneira, a propriedade da terra não poderia permanecer aos domínios privados, sem que cumprisse com sua função social. Caso o proprietário ou usuário da terra não a utilizasse para fins de produção ou de criação de animais, os membros da comunidade promoviam uma espécie de desapropriação por não atender aos interesses sociais. Essa propriedade passava aos domínios do Estado, e, posteriormente, era repassada a outra família que assumisse o compromisso de cultivá-la20.

Para tanto, o republicanismo francês contribui com importantes fundamentos para o republicanismo da modernidade. Dessa maneira:

O traço específico do pensamento republicano francês conduziu alguns de seus tenores a insistir na ideia de que a implantação de um regime de liberdades, em oposição a uma monarquia absoluta de longa vida, foi um fato novo, que não pode se comparar a nada do passado e nem dele se

20

Esse procedimento, nos dias atuais denomina-se de expropriação do bem privado por parte do Estado. O Estado, por sua vez, desapropria e repassa à outra pessoa privada, para que ela cumpra com a sua função social e atenda os interesses da sociedade (Artigo 184 da Constituição Brasileira de 1988).

servir para compreender o que aconteceu. Nesta lógica, a Revolução de 1789 constituiu um marco na criação dessa matriz, mesmo se não podemos pretender que o republicanismo tenha encontrado nela sua origem ou sua consolidação (BIGNOTTO, 2013, pp. 175-176).

De igual sorte, os acontecimentos do século XVIII contribuíram para a formação deste pensamento, mediante a crítica aos governos absolutos, que se intensificou com os pensadores iluministas. Segundo Bignotto (2013. p. 176) “No outro extremo temporal, a experiência republicana só encontrará uma forma estável de governo quase um século depois, por ocasião da implantação da Terceira República, já na década de 1870, quando brilhou o gênio de homens como Littré, Ferry e Gambeta”21

.

Se não podemos afirmar que o republicanismo francês seja totalmente fundamentado na Revolução Francesa, por outro lado, a Constituição dos Estados Unidos da América de 178722 trouxe contribuições significativas para consolidação dessa matriz republicana. Sua contribuição reside na afirmação de que, os homens nascem livres e iguais por uma condição natural. Algumas distinções23 serão aceitas na condição de promover o bem comum. Na sequência do trabalho, serão estudados os aspectos gerais da matriz republicana norte-americana.