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OS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO UM PARADIGMA EMERGENTE DA

3.2 OS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Com o estudo a ser realizado no presente tópico, o objetivo é constatar a presença dos princípios do Direito Ambiental no conteúdo dos princípios norteadores da tradição republicana da modernidade, na tradição brasileira, no conteúdo da Conferência de Estocolmo de 1972, na Conferência de Tbilisi de 1977, na Conferência da ECO-92 e no conteúdo da legislação federal a respeito da educação ambiental no Brasil.

O roteiro de estudo a ser adotado para produção desta pesquisa será em primeiro plano, os princípios que fundamentam o Direito Ambiental e a sua presença normativa nas Declarações de Estocolmo de 1972 e de Tbilisi de 1977. Na sequência, relacioná-los aos princípios norteadores da tradição republicana da modernidade estudados no primeiro capítulo da tese e à tradição colonial, imperial e republicana brasileira, estudadas no segundo capítulo da tese para, finalmente, abordar a investigação da sua presença na norma que regulamenta a educação ambiental no Brasil, estudada no subtítulo anterior deste capítulo.

Ao mencionar os princípios do Direito Ambiental, é necessário conhecer a sua importância e as suas finalidades para o direito e para a norma de direito. Segundo Canotilho (1998 apud LEITE, 2007, p. 156), eles apresentam as seguintes

finalidades: “1) constituem um padrão que permite aferir a validade das leis, tornando inconstitucionais147 ou ilegais as disposições legislativas ou regulamentares ou os atos que a contrariam: 2) são auxiliares na interpretação de outras normas jurídicas; e 3) permitem a integração das lacunas”. Com base nestas finalidades serão estudados os princípios que fundamentam o Direito Ambiental e as suas relações com a norma de educação ambiental brasileira.

Da mesma forma é necessário conhecer a distinção existente entre um princípio e uma regra para, posteriormente, investigar a sua presença na norma que regulamenta a educação ambiental no Brasil. Tal propósito é no sentido de constatar se a norma brasileira que regulamenta a educação ambiental apresenta fundamentação nos princípios do Direito Ambiental, a fim de possibilitar o desenvolvimento das políticas educacionais com base nestas fundamentações principiológicas.

Sendo assim, o presente estudo considera os princípios que fundamentam o Direito Ambiental e produção da sua norma. Segundo Machado (2013, p. 67), a respeito do Direito Ambiental, ele “[...] tem entre suas bases a identificação das situações que conduzem as comunidades naturais a uma maior ou menor instabilidade e é também sua função apresentar regras que possam prevenir, evitar e/ou reparar esse desequilíbrio”. Em relação aos princípios do Direito Ambiental, eles apresentam os fundamentos para a busca de um estado de equilíbrio, pois ”Cada ser humano só usufruirá plenamente de um estado de bem-estar e de equidade se lhe for assegurado o direito fundamental148 de viver num meio ambiente ecologicamente equilibrado” (MACHADO, 2013, p. 68).

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Normas inconstitucionais são aquelas que contrariam algum dispositivo da Constituição. Por exemplo, uma lei ordinária federal, que fere a Constituição Brasileira de 1988 é considera inconstitucional e seu conteúdo passa a não ter validade jurídica, quando identificada sua inconstitucionalidade.

148“É com o nascimento do Estado de direito que ocorre a passagem final do ponto de vista do

príncipe para o ponto de vista dos cidadãos. No Estado despótico, os indivíduos singulares só têm deveres e não direitos. No Estado absoluto, os indivíduos possuem, em relação ao soberano, direitos privados. No Estado de direito, o indivíduo tem, em face do Estado, não só direitos privados, mas também direitos públicos. O Estado de direito é o Estado dos cidadãos” (BOBBIO, 1992, p. 61). A respeito dos direitos fundamentais, Silva enquadra-os na Constituição Brasileira de 1988. Assim, “De acordo com o critério de conteúdo, teremos: a) direitos fundamentais do homem-indivíduo, que são aqueles que reconhecem autonomia aos particulares, garantindo iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da sociedade política e do próprio Estado, por isso são reconhecidos como direitos individuais, como é a tradição do Direito Constitucional brasileiro (Artigo 5°) e ainda as liberdades civis e liberdades-autonomia (liberdade, igualdade, segurança, propriedade); b) direitos fundamentais do homem-nacional, que são os que têm por conteúdo e objeto a definição da nacionalidade e suas faculdades; c) direitos fundamentais do homem-cidadão, que são direitos políticos (Artigo14, direito de eleger e ser eleito); d) direitos fundamentais do homem-social

Para efeitos deste subtítulo, considerar-se-ão, em primeiro lugar, os princípios mencionados por Machado (2013) e por Canotilho (2007): o princípio do direito à sadia qualidade de vida; da sustentabilidade; do acesso equitativo aos recursos naturais; do usuário-pagador e do poluidor-pagador; da precaução; da prevenção; da reparação; da informação; da participação, da obrigatoriedade da intervenção do Poder Público e da proibição do retrocesso ecológico.

Ressalta-se que o conteúdo dos princípios do Direito Ambiental mencionados por Machado e por Canotilho possuem, de uma forma direta ou indireta, suas raízes no princípio do federalismo e do governo republicano, no princípio da participação cidadã republicana e no princípio da virtude e renúncia a certas vantagens em favor do bem comum, constituindo-se em princípios norteadores da tradição republicana da modernidade.

Em segundo lugar, será verificada a presença destes princípios no conteúdo da norma brasileira sobre a educação ambiental, quais sejam, a Constituição Brasileira de 1988 e a Lei 9795 de 1999. Já o Decreto 4281 de 2002 e a Resolução 02 de julho de 2012 do Conselho Nacional de Educação, mencionados, não serão objeto de análise a respeito da presença dos Princípios do Direito Ambiental, por se tratar de normas que regulamentam a Lei 9795 de 1999; portanto, apenas explicam de forma mais detalhada o conteúdo da referida Lei.

O princípio da sadia qualidade de vida, que é mencionado por Machado (2013, p. 69) estabelece que “Não basta viver ou conservar a vida. É justo buscar e conseguir a „qualidade de vida‟. A Organização das Nações Unidades – ONU – anualmente faz uma classificação dos Países em que a qualidade de vida é medida, pelo menos, em três fatores: saúde, educação e produto interno bruto”. Este princípio tem previsão na Conferência de Estocolmo de 1972 no seu princípio de n° 1 e na Declaração do Rio de Janeiro de 1992. Da mesma forma, encontra-se elencado no conteúdo da Conferência de Tbilisi sobre a educação ambiental de 1977 na sua segunda finalidade, qual seja: ela deverá ser objeto de informação a respeito da legislação ambiental149.

(Artigo 6º); e) direitos fundamentais do homem-membro de uma coletividade (Artigo 5º); f) uma nova classe que se forma é a dos direitos fundamentais ditos de terceira geração, direitos fundamentais do homem-solidário, ou direitos fundamentais do gênero humano (direito a paz, ao desenvolvimento, comunicação, meio ambiente, patrimônio comum da humanidade)” (SILVA, 2005, pp. 183-184).

149Assim, a educação ambiental está desafiada a levar o conhecimento a respeito da “[...] legislação

ambiental, sobre os mecanismos de participação comunitária, a fim de que, organizados, possam fazer valer os seus direitos constitucionais de cidadãos, ter um ambiente ecologicamente equilibrado

Já, o princípio da sustentabilidade se fundamenta em pelo menos dois critérios, segundo o pensamento de Machado (2013, p. 71): “[...] primeiro, as ações humanas passam a ser analisadas quanto à incidência de seus efeitos diante do tempo cronológico, pois esses efeitos são estudados no presente e no futuro; segundo, ao se procurar fazer um prognóstico do futuro, haverá de ser pesquisado que efeitos continuarão e quais as consequências de sua ação”. Este princípio aparece no conteúdo da Conferência de Estocolmo de 1972, na qual o desenvolvimento global e interno dos Estados deverá ser pautado pelo viés ambiental, social, político, cultural, jurídico e econômico, visando à sustentabilidade das ações humanas nas presentes e futuras gerações. Tal princípio integra o texto da Declaração de Tbilisi, constituindo-se na sua finalidade n° 1150.

O princípio do acesso equitativo aos recursos naturais que se encontram disponíveis para a sua utilização, são de uso e de interesse comum de todos. Machado (2013, p. 90) alerta que “Os bens que integram o meio ambiente planetário, como a água, ar e solo, devem satisfazer às necessidades comuns de todos os habitantes da terra”. Significa dizer que os bens ambientais não são de propriedade exclusiva de alguém só porque estão localizados em propriedades privadas. Assim, a equidade em relação ao uso dos bens ambientais, como por exemplo, a água, deve “[...] orientar a fruição ou o uso da água, do ar e do solo” (2013, p. 91).

O princípio do usuário-pagador e do poluidor-pagador, de acordo com Machado (2013, p. 94), estabelece que “O uso dos recursos naturais pode ser pago. A raridade do recurso, o uso poluidor e a necessidade de prevenir catástrofes, entre outras coisas, podem levar à cobrança do uso dos recursos naturais”. O princípio do usuário-pagador151 dá origem ao princípio do poluidor-pagador, que “[...] obriga o poluidor a pagar152 a poluição que poderá ser causada ou que já foi causada”.

e, consequentemente, uma boa qualidade de vida” bem como o conteúdo da recomendação n° 7 (DIAS, 2014).

150A educação ambiental deve “promover a compreensão da existência e da importância da

interdependência econômica, social, política e ecológica”. Da mesma forma aparece como o sétimo princípio deste Documento, o qual estabelece que deve “Considerar, de maneira explícita, os aspectos ambientais nos planos de desenvolvimento e de crescimento” (DIAS, 2014, pp. 109-119).

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Este princípio visa a estabelecer responsabilidades ao usuário dos bens ambientais, como os padrões de qualidade ambiental. Encontra-se previsto na Declaração de Estocolmo de 1972 no seu princípio de n° 13, e recomenda aos Estados a elaboração de legislação interna a respeito da responsabilidade sobre a utilização dos bens ambientais. De igual forma, ele aparece elencado na Conferência de Tbilisi na terceira finalidade da educação ambiental, ou seja, “Induzir novas formas de

Neste aspecto, o princípio da precaução está relacionado na obrigatoriedade de proteger o meio ambiente quando utilizado pelas pessoas físicas e jurídicas de direito privado ou de direito público. Machado (2013, p. 99) alerta que “A implementação do princípio da precaução não tem por finalidade imobilizar as atividades humanas. Não se trata da precaução que tudo impede ou que tudo vê catástrofes ou males”, vai estabelecer a necessidade de se ter cuidados para que o equilíbrio natural dos ambientes não seja afetado pelo uso descontrolado, com a intenção de auferir maiores lucros à custa do meio ambiente.

Este princípio integra o texto da Declaração de Estocolmo de 1972 no seu princípio de n° 15153, o qual determina que o desenvolvimento a ser adotado pelos povos, quando anunciar possíveis riscos ao meio ambiente mediante a incerteza científica, deve ser evitado. Este princípio corresponde à segunda finalidade da educação ambiental apresentada por Dias (2014, p. 110), que é “Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar o meio ambiente”.

O princípio da prevenção estabelece a obrigatoriedade da utilização de medidas preventivas como mecanismo de evitar possíveis riscos e danos ao meio ambiente quando for utilizado nas intervenções humanas e do próprio Poder Público. Tais medidas serão previstas mediante os estudos prévios de impactos ao meio ambiente154, que serão realizados por conta do empreendedor antes dele solicitar o licenciamento ambiental, seja ele pessoa física ou jurídica. Para Machado (2013, p. 124), “A prevenção não é estática; e sim, tem-se que atualizar a fazer reavaliar, para poder influenciar a formulação das novas políticas ambientais, das ações dos

conduta nos indivíduos e na sociedade a respeito do meio ambiente” (DIAS, 2014, p. 110), responsabilizando-os pelos danos provocados pelas suas intervenções ambientais degradantes.

152O termo “pagar” não significa somente pagamento pecuniário pelos danos causados ao meio

ambiente, por parte do poluidor. A Lei 9605 de 1998 e o Dec. 5614 de 2008 estabelecem as formas de responsabilidades a serem atribuídas ao poluidor, como por exemplo, a suspensão temporária das obras e das atividades e penas privativas e restritivas de liberdade.

153“Deve-se aplicar a planificação aos agrupamentos humanos a à urbanização, tendo em mira evitar

repercussões prejudiciais ao meio ambiente e a obtenção do máximo de benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos. A esse respeito, devem ser abandonados os projetos destinados à dominação colonialista e racista” (MAZZUOLI, 2008, p. 1086).

154“O Estudo de Impacto Ambiental (EPIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresentam

algumas diferenças. O estudo é de maior abrangência que o relatório, e o engloba em si mesmo. O EPIA compreende o levantamento da literatura científica e legal pertinente, trabalhos de campo, análises de laboratório e a própria redação do relatório. Por isso, diz o art. 9º da Resolução 1/1986- CONAMA que o “Relatório de Impacto Ambiental-RIMA refletirá as conclusões do Estudo de Impacto

empreendedores e das atividades da administração Pública, dos legisladores e do Judiciário”.

Este princípio encontra-se previsto no texto da Declaração de Estocolmo de 1972, em seu princípio 18155, o qual estabelece que o desenvolvimento deve utilizar a ciência e a tecnologia para evitar e combater possíveis riscos ao meio ambiente. Da mesma forma, se constitui no princípio de n° 6 da Declaração de Tbilisi mencionado por Dias (2014, p. 119), e estabelece a necessidade de “Insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e internacional, para prevenir e resolver os problemas ambientais”.

Por sua vez, o princípio da reparação está voltado à obrigatoriedade de reparar ou restaurar os danos ambientais provocados pela pessoa física e jurídica de direito privado ou de direito público quando as suas intervenções provocarem danos ao ambiente natural, ao urbano, ao cultural e ao do trabalho. Mazuolli (2008, p. 1084) destaca o conteúdo do preâmbulo da Declaração de Estocolmo de 1992. Para “Atingir tal fim, em relação ao meio ambiente, exigirá a aceitação de responsabilidades por parte de cidadãos e comunidade, e por empresas e instituições em todos os níveis, participando todos de maneira justa nos esforços comuns”.

No entanto, Machado (2013, p. 124) afirma que a ECO 92 apresenta um texto tímido a respeito dessas responsabilidades, determinando apenas indenização às vítimas atingidas pelos danos ambientais, e não a restauração e recuperação do ambiente afetado. Por sua vez, a Declaração de Tbilisi contempla o princípio da responsabilidade em matéria ambiental e estabelece que a educação ambiental precisa “[...] contribuir para o desenvolvimento de um espírito de responsabilidade e de solidariedade entre os países e as regiões, como fundamento de uma nova ordem internacional que garanta a conservação e a melhoria do meio ambiente” (DIAS, 2014, p. 107).Importa salientar que, essa Declaração institui a responsabilidade compartilhada entre o Setor Público e as coletividades no tocante a preservação do meio ambiente.

Ambiental, ficando patente que EPIA precede o RIMA e é seu alicerce de natureza imprescindível” (MACHADO, 2013, p. 276).

155“Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser utilizadas a

ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade” (MAZZUOLI, 2008, p. 1086).

O próximo princípio a ser estudado é o princípio da participação popular156 no tocante à conservação ambiental. Machado (2013, p. 129) entende que ele “[...] insere-se num quadro mais amplo da participação diante dos interesses difusos e coletivos da sociedade”. Este princípio está previsto na Declaração de Estocolmo de 1972 no seu princípio de n° 19157, que trata da educação ambiental, e o princípio de n° 10 da Declaração do Rio de Janeiro – ECO 92, que se refere à participação como fator de aumentar os cuidados com o meio ambiente. Da mesma forma, este princípio integra o conteúdo do Documento de Tbilisi, por meio da segunda finalidade da educação ambiental a respeito de atitudes158 a serem tomadas em favor do meio ambiente.

Neste sentido, o princípio da obrigatoriedade da intervenção do Poder Público159, segundo Machado (2013, p. 137) determina que “Deve ser confiada às instituições nacionais competentes a tarefa de planificar, administrar e controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fim de melhorar a qualidade do meio ambiente”. Este princípio está previsto no texto da Declaração do Rio de Janeiro – ECO 92 em seu princípio de n° 11160

. Estabelece que os Estados precisam produzir suas legislações internas, a fim de regulamentar a responsabilidade dos Órgãos ambientais estatais na gestão do meio ambiente.

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A participação na conservação ambiental é um direito e um dever do Poder Público e das coletividades no planejamento, no desenvolvimento e na avaliação das políticas públicas de meio ambiente em âmbito global e interno dos Estados. O princípio da participação estabelece o direito às informações em questões de meio ambiente, que serão obtidas mediante as ações de educação ambiental ou aquela proporcionada pelo Poder Público em todas as esferas de uma Federação, como é caso do Brasil.

157“É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto às gerações

jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio ambiente, em toda sua dimensão humana” (MAZZUOLI, 2008, p. 1086).

158Essa finalidade estabelece que a educação ambiental deve “proporcionar a todas as pessoas a

possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para protegerem e melhorarem o meio ambiente” (DIAS, 2014, p. 110).

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No caso brasileiro, os órgãos responsáveis de controle e gestão ambiental são de âmbito da União, dos Estados Membros, dos Municípios e do Distrito Federal. Da mesma forma, ele integra o conteúdo da Declaração de Tbilisi na sua recomendação de n° 1, alínea k, estabelecendo que “A educação ambiental deve vincular-se à legislação, às políticas, às medidas de controle e às decisões que o governo adote em relação ao meio ambiente” (DIAS, 2014, p. 108).

160“Os Estados deverão promulgar legislação ambiental eficaz. Os padrões ecológicos, os objetivos e

as prioridades de gestão do ambiente devem refletir o momento ambiental e o desenvolvimento a que se aplicam. Os padrões aplicados por alguns Estados podem não ser convenientes e ter um custo econômico e social injustificado para outros países, especialmente para os países em desenvolvimento” (MAZZUOLI, 2008, p. 1088).

Por último, o estudo versa a respeito do princípio da proibição do retrocesso ecológico. Canotilho (2007, p. 7-8) entende que “A proibição de retrocesso não deve interpretar-se como proibição de qualquer retrocesso referido a medidas concretas ou como proibição geral de retrocesso”. Ressalta-se que no âmbito do direito interno dos Estados:

[...] o princípio da proibição do retrocesso ecológico, espécie de cláusula rebus sic stantibus, significa que, a menos que as circunstâncias de facto se alterem significativamente, não é de admitir o recuo para níveis de proteção inferiores aos anteriormente consagrados. Nesta vertente, o princípio põe limites a adopção de legislação de revisão ou revogatórias. Internamente, o princípio da proibição do retrocesso ecológico significa, por exemplo, que a suspensão da legislação em vigor só é de admitir se verificar uma situação de calamidade pública, um estado de sítio ou um estado de emergência grave. Neste caso, o retrocesso ecológico será necessariamente transitório, correspondendo ao período em que se verifica o estado de exceção (Grifo da autora) (ARAGÃO, 2007, pp. 36-37).

Dessa maneira, o princípio da proibição do retrocesso ecológico161 deverá ser aplicado quando se verificar o recuo em termos de proteção ambiental mediante a elaboração de novas normas ambientais internas dos Estados ou quando se tratar de reformas à norma vigente, tanto no âmbito interno dos Estados, quanto no âmbito internacional, aplicando as situações de exceções mencionadas pela autora em estudo.

O Congresso Constituinte de 1988, o Congresso Nacional e os Órgãos de Governo ao regulamentarem a educação ambiental no Brasil, anteriormente estudada, encontravam-se sob a obrigação de produzir a norma com base nos princípios do Direito Ambiental.

Neste sentido, a segunda parte deste estudo tem como propósito analisar a presença deles no conteúdo da Constituição Federal de 1988 e no conteúdo da Lei nº 9.795 de 1999, que regulamenta a própria Constituição no tocante a educação ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino.

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Este princípio está representado como conteúdo transversal no texto da Declaração de Tbilisi, pois seus princípios, seus objetivos e as suas recomendações estabelecem que a educação ambiental precisa levar em consideração a proteção e a garantia dos avanços e dos níveis de proteção ambiental já consagrados, seja no âmbito global ou no âmbito internos dos Estados. Que os bens ambientais sejam protegidos, a fim de que as novas legislações a serem criadas, não retrocedam o conteúdo daquelas mais benéficas ao meio ambiente e a qualidade de vida em todas as suas formas.