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Contribuições de Rousseau para a educação republicana

1.3 DESTAQUES À TRADIÇÃO EDUCACIONAL REPUBLICANA DA

1.3.3 Contribuições de Rousseau para a educação republicana

A terceira abordagem sobre a tradição da educacional republicana, se fundamenta em Rousseau46, por intermédio da sua obra “O Contrato Social”47, publicada em 1762. “É um impactante clássico que fundamenta o nascimento dos direitos humanos e dos ideais igualitários”48

, trazendo uma contribuição decisiva, quanto ao papel a ser desempenhado pelo Estado na promoção do bem comum e na eliminação de qualquer forma de desigualdade entre as pessoas. Nesta data, Rousseau publicou o “Contrato Social”, obra importante sobre o que se tornaria um clássico fundamental para o governo republicano. Sendo assim,

Pois terá sido por acaso que Rousseau publicou no mesmo ano de 1762, a grande plataforma de república moderna, o Contrato Social e, o grande manifesto da educação também moderna, o Emílio? Até então, a república exigia um combate incessante à natureza humana. Mas com Rousseau surge a ideia de que o ser humano tem uma natureza plástica, flexível, mutável. A boa educação orienta essas mudanças no melhor rumo possível - o de valores que incluam ou possam inclui os republicanos (RIBEIRO, 2008-A, pp. 71-72).

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Rousseau ascendeu de uma origem relativamente humilde para tornar-se um dos personagens mais importantes da história da filosofia política. O que Rousseau defendia era um novo contrato social que, a seu ver, serviria de modelo para a sociedade. Uma reforma completa transformaria a civilização de que tanto desconfiava em um modelo de Estado inteiramente novo, em que a liberdade caminhasse lado a lado com a lei e a justiça. Os cidadãos seriam criados e instruídos, de modo que se identificassem com os interesses do Estado, dispostos a votar pelo que definiu como o bem comum. Pela mesma razão, o Estado não toleraria a existência de desigualdades de classe social e riqueza material. As palavras de ordem seriam “liberdade, igualdade, fraternidade” (HARWOOD, 2013, pp. 84-85).

47Para Rousseau (2011, pp. 21-22), o Contrato Social significava “Encontrar uma forma de

associação que defende e proteja de toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um se unindo e a todos obedeça, todavia, apenas a si mesmo e permaneça tão livre como antes. Eis o problema fundamental para o qual o contrato social obedece à solução. As cláusulas desse contrato são de tal forma determinadas pela natureza do ato, que a menor modificação as tornaria vãs e de nenhum efeito, de sorte, mesmo sendo enunciadas de maneira formal, são em todas as partes as mesmas, em todas as partes tacitamente admitidas e reconhecidas, de modo que sendo o pacto social violado, cada um retornaria aos seus primeiro direitos e retomaria sua liberdade natural, perdendo a liberdade convencional pela qual renunciaria a favor daquela”.

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É por intermédio do Contrato Social que Rousseau contribui decisivamente com as bases para os governos republicanos. Traz para o debate a importância de o indivíduo participar da vida pública e da ideia de bem comum, mediante um ato de boa vontade e racional. Esta vida social voltada à construção do bem comum será definida por um pacto a ser celebrado entre os membros da sociedade a partir da manifestação da vontade individual de cada um em favor do bem comum. São condições para o exercício da participação democrática e a proteção dos direitos das pessoas, fatores necessários numa república.

Será mediante a celebração do pacto social, de acordo com Rousseau (2011, p. 41) que “[...] devemos existência e vida ao corpo político: trata-se agora de lhe dar movimento e vontade mediante a legislação, já que o ato primitivo por meio do qual esse corpo se forma e se une, nada determina quanto àquilo que ele deverá realizar para se conservar”.

Por sua vez na obra “O Emilio”, Rousseau julga necessária a boa educação, como pressuposto ao desenvolvimento de uma república, um valor intrínseco de cada pessoa, para a construção do bem comum e o desenvolvimento de uma república, pois todo homem é dotado de uma bondade que é inerente a sua natureza humana.

No entendimento de Simpson (2009, p. 150), essa obra tem como objetivo mais “[...] abstrato e filosófico de mostrar como a tese da bondade natural do homem pode ser reconciliada com a inegável imoralidade de muitos ou da maioria das pessoas, o que significa dizer que ele apresenta uma teoria da natureza humana e da sociedade”. Neste sentido, a proposta de Rousseau, através desta obra, era ir além, mostrando que, através de uma educação “[...] apropriada pode ser bem sucedida na formação de um jovem que é feliz e virtuoso, mas tinha o objetivo maior de defender a tese de que as pessoas são naturalmente boas e que são feitas ruins e infelizes pela sociedade” (2009, p. 150).

Para Simpson (2009, p. 151) “De alguma maneira, a educação que Rousseau recomenda não deveria ser fácil de compreender, pois, sua essência é deixar que Emílio seja ele mesmo. O professor só precisa sair do caminho da natureza”. No entanto, “[...] os problemas humanos são causados pelas instituições humanas, ao invés de algo no mundo natural ou inevitável defeito na própria natureza humana”.

Partindo do pressuposto que todas as pessoas são naturalmente boas, esse fator pode contribuir decisivamente na construção do pacto social em favor do bem

comum, o que, certamente levaria o indivíduo a ter preocupações não só com suas questões privadas, mas também com as coisas da república. A construção do pacto social, que estabelece as relações comuns em sociedade, vai determinar responsabilidades a cada um e a todos ao mesmo tempo, necessitando, pois, o conhecimento das instituições que formam a sociedade e o próprio corpo do Estado republicano. Por esse aspecto:

Aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve se sentir no estado de mudar, por assim dizer, a natureza humana; de transformar cada indivíduo, que por si só é um todo perfeito e solitário, em parte de um todo maior do qual esse indivíduo recebe de alguma maneira sua vida e seu ser; de alterar a constituição do homem a fim de reforça-la; de substituir por uma existência parcial e moral e existência física e independente que todos nós recebemos da natureza (ROUSSEAU, 2011, p. 44).

Seu entendimento é de que o indivíduo precisa passar por um processo de transformação que o retire do seu estado de individualidade, preparando-o para a sua convivência em sociedade a partir da sua convenção social. Rousseau entende que essa passagem do estado de natureza e de liberdade plena para um estado de convivência social em favor da construção do bem comum, vai ocorrer por meio de um processo de formação para a vida pública.

Dessa maneira, no entendimento de Simpson (2009), Rousseau começa a pensar num processo de educação voltado para a vida comum, num espaço que é público. É nesse intento que as pessoas vão entender a importância da república, mediante um processo educativo, para participar da construção do pacto social, bem como executá-lo em favor do bem comum.

No entanto, a “[...] chave para reduzir o conflito entre ideal e psique é a educação. Ela é uma das principais instituições, se não a principal, na socialização humana” (RIBEIRO, 2008-A, p. 71). O autor afirma ter sido com “[...] Rousseau que surge a ideia de que o ser humano tem uma natureza plástica, flexível, mutável. A boa educação orienta essas mudanças no melhor rumo possível - ou de valores que incluam ou possam inclui os republicanos”. “Finalmente, há uma prática que articula bastante bem a democracia e república. É a participação. O ideal republicano está na dedicação à coisa comum ou coletiva” (RIBEIRO, 2008-A, pp. 71-72).

Simpson (2009, p. 155) menciona que a preocupação demonstrada por Rousseau, através da sua proposta de educação das pessoas para a modernidade

“[...] era mais moderada do que nos pareceu à primeira vista, pois mostra que as pessoas podem ser formadas como cidadãos decentes e felizes, por uma educação que define e purifica seus instintos naturais e não por uma que os elimina”.

De igual sorte, suas ideias foram objeto de estudos por parte de teóricos da educação, que apresentaram propostas educacionais logo após a instauração de governos revolucionários com compromisso republicano e democrático, como é o caso da Revolução Americana e a Francesa. De igual sorte, suas propostas educacionais devem ser levadas em consideração, quando as escolas planejam e desenvolvem as práticas de educação ambiental em todos os níveis de ensino.