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ASPECTOS RELEVANTES DA INSTAURAÇÃO DO REGIME

O Império Brasileiro chega ao seu fim de forma melancólica e mergulhado numa série de crises92, resultado de uma sociedade escravagista e excludente e que manteve a exploração da mão de obra escrava como mecanismo de produção de renda e acúmulo de capitais. A forma de economia adotada pelo Governo Imperial foi muito semelhante àquela dos tempos coloniais. Consistia na monocultura de produtos, como a cana de açúcar e o café, destinados a atender o mercado externo e deixando de lado o consumo interno pela população. A propriedade da terra era vista mais como um meio de exercício de poder econômico e político junto aos órgãos públicos do que o desenvolvimento econômico equitativo da Nação.

92“As crises são habitualmente caracterizadas por três elementos. Antes de tudo, pelo caráter de

subitaniedade e, por vezes, de imprevisibilidade. Em segundo lugar, pela sua duração normalmente limitada. E, finalmente, pela sua incidência no funcionamento do sistema. A compreensão de uma crise se funda sobre análise de três fases do estado de um sistema: a fase precedente ao momento em que se inicia a Crise, a fase de crise propriamente dita e, por fim, a fase depois que a crise passou e o sistema tomou certo “módulo” (Grifo do autor) de funcionamento que não se identifica mais com o que procedeu a Crise” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2010, p. 303).

Foi marcado por um período que manteve o regime dos grandes latifúndios e da concentração da terra herdados do período colonial. Por sua vez, a pobreza e a miséria estiveram presentes em toda essa fase do Brasil, com duas classes sociais bem distintas: a dos senhores do engenho, proprietários dos escravos, e a dos escravos e outros trabalhadores não proprietários. O período foi uma espécie de continuidade de um modelo de exploração agrícola que levou à exaustão do solo e do meio ambiente, devido à prática da monocultura, do extrativismo de espécies nativas existentes na flora brasileira e da exploração de minérios. Foi um período em que se verificou queda na produtividade agrícola devido à utilização de práticas e técnicas de produção ultrapassadas, que levaram ao esgotamento da terra e diminuição da produtividade das lavouras.

Enquanto a mão de obra servil estava sendo abolida em quase toda a Europa, aqui no Império ela foi mantida por influência do Governo e amparada pela própria Constituição de 1824. A legislação que condicionou a libertação da escravatura93 não previu nenhuma forma de proteção ao trabalho e de sobrevivência dos recém-libertos, como por exemplo, a concessão de uma área de terra por parte do Estado a cada uma dessas famílias.

Dessa forma, objetiva-se, com o do presente estudo, identificar fatores que foram relevantes à instauração da República Brasileira, quando surge constitucionalmente a forma de Governo Republicano em 1891 e suas possíveis influências na formação de uma tradição cultural e educacional republicana no Brasil.

É com o advento da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, que o regime Imperial fica extinto. Mas é com a promulgação da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 24 de fevereiro de 1891, que extingue a Constituição Política do Império do Brasil de 1824, e institui juridicamente o Estado Republicano Brasileiro.

Nessa fase inicial da República, tem-se a impressão de que uma das preocupações dos personagens mais envolvidos na Proclamação da República, não

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O escravo liberto, de um modo em geral, teve que deixar a fazenda e deslocar-se para a cidade em busca de alguma forma de sobrevivência, aumentando significativamente a população urbana. De outra forma, boa parte dos escravos permaneceu junto ao seu antigo proprietário em condições semelhantes à anterior. A educação escolar primária, secundária e universitária foi mais um privilégio aos filhos das famílias ricas e nobres, do que uma possibilidade dos filhos dos escravos e dos trabalhadores da terra exercer esse direito, pois, desde muito cedo a criança foi obrigada a trabalhar, a fim de contribuir na renda da sua família.

foi demasiadamente em torno das dificuldades a serem enfrentadas pelos Governos Republicanos. Segundo Carvalho (2013), o advento da República foi uma movimentação militar que não teve vinculação com movimentos civis defensores da ideia republicana. Como sendo uma espécie de parada militar, que aconteceu no dia 15 de novembro de 1889, mas, sob a influência de acontecimentos anteriores, travou-se uma disputa em torno das proclamações, ou seja, quem foi o fundador da República. Essa disputa envolveu, principalmente, Deodoro da Fonseca, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Floriano Peixoto. Dessa forma:

A dança dos adjetivos, definidores do papel de cada um desses homens, prossegue até os dias de hoje. A luta maior é pela qualificação de fundador, disputada pelos partidários de Deodoro e Benjamin Constant. Quintino é raramente fundador; com frequência aparece como patriarca ou apóstolo. Em torno de Floriano há um consenso, pois veio depois: ele será o consolidador, o salvador da República. Os que tiram de Deodoro a qualificação de fundador lhe dão, em compensação, o título de proclamador (CARVALHO, 2013, p. 37).

Essa disputa por adjetivos, num momento de grande importância e em que os Governos Republicanos precisam preocupar-se com os problemas advindos da sociedade imperial e a instalação e funcionamento dos órgãos de Estado, é assunto de comentários humorísticos da literatura e outras formas de expressão artística dessa época. Dessa forma:

Se nenhum líder republicano civil teve qualquer gesto que pudesse ser imortalizado pela arte, o povo também esteve longe de representar um papel semelhante ao que lhe coube a Revolução Francesa de que tanto falavam os republicanos. Apesar dos esforços de Silva Jardim, nem ele próprio foi admitido ao palco no dia 15. O povo seguiu curioso os acontecimentos, perguntou-se sobre o que se passava, respondeu aos vivas e seguiu a parada militar pelas ruas. Não houve tomada de bastilhas, marchas sobre Versalhes nem ações heroicas (CARVALHO, 2013, p. 52).

O rompimento com o Império e a Proclamação da República não tiveram a participação da sociedade civil. Foi resultado de um ato militar que seria representativo dos interesses de parte da oligarquia rural da época. Nossa República inicia sem que o povo saiba o significado de uma República democrática

idealizada pela vontade da sociedade94. Renault (1987, p. 12) contribui para esta linha de pensamento:

E a República – com um ano de vida – é criticada por trazer desencantos e decepções. Na opinião do Diário de Notícias, o golpe de estado não foi apoiado pelos fazendeiros, pelos escravagistas.. A República seria produto de três fatores: educação histórica, meio geográfico e interesses econômicos. O nacionalismo reivindica outras conquistas. Bate-se contra a influência francesa e, mais ainda, contra a portuguesa. Pretende-se evitar o surto migratório.

Inaugurar uma nova fase que levasse o Brasil a enfrentar os problemas sociais, políticos, econômicos e educacionais que assolavam o país, era uma necessidade primordial. Mas a ideia de participação da sociedade nos rumos da República não foi uma questão primordial no Brasil. Benjamin Constant, um dos idealizadores da República, defendia que uma democracia moderna deveria ser fundamentada na:

[...] liberdade dos direitos de ir e vir, de propriedade, de opinião, de religião. A liberdade moderna não exclui o direito de participação política, mas esta se faz agora pela representação e não pelo envolvimento direto. O desenvolvimento do comércio e da indústria não permitia mais, argumentava Constant, que as pessoas dispusessem de tempo para se dedicar a deliberar em praça pública, nem elas estavam nisso interessadas. Hoje, o que se busca é a felicidade pessoal, o interesse individual; a liberdade política tem por função garantir a liberdade civil (CARVALHO, 2013, p. 18).

Sua preferência por um modelo de Estado Republicano não integrava a participação popular. Seu modelo de República consistia numa clara oposição à ideia republicana dos jacobinos95. A participação popular nos negócios da República seria por intermédio da representação parlamentar e na escolha dos representantes ao Poder Executivo. O Estado deve se manter bem afastado da economia, com a

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Fica expresso que a preocupação de parte dos republicanos não estava assentada na instauração de um Governo democrático e republicano que, paulatinamente, fosse criando as condições necessárias à participação dos indivíduos e das coletividades nas diversas esferas do Estado, a fim de construir uma República centrada na tradição, como foi estudada no primeiro capítulo.

95O modelo de república defendido pelos jacobinos era aquela que “[...] caracterizava as repúblicas

antigas de Atenas, Roma e, especialmente, Esparta. Era a liberdade de decidir na praça pública os negócios da República: era a liberdade do homem público. Em contraste, a liberdade dos modernos, a que convinha aos novos tempos, era a liberdade do homem privado, a liberdade dos direitos de ir e vir, de propriedade, de opinião, de religião” (CARVALHO, 2013, p. 17).

mínima participação popular96. Seu papel deve ser apenas o de regulamentar os interesses particulares ou de grupos influentes.

De acordo com Carvalho (2013), no final do século XIX, os defensores da República estavam preocupados em justificar a sua importância para o bem do Brasil. Como não podiam fugir do debate sobre os temas de interesse dos indivíduos, dos grupos sociais, da nação e da cidadania, buscavam fundamentar sua importância encarnados na ideia da virtude republicana, da democracia, da liberdade e da igualdade. Como o Brasil sempre foi um grande exportador de matéria-prima e grande importador de ideias, a opção preferencial nos debates era o modelo republicano francês e americano, já conceituado no primeiro capítulo. Assim:

Tratava-se, portanto, de uma concepção de liberdade que se adaptava perfeitamente à noção de liberdade dos modernos como descrita por Benjamin Constant. O mundo utilitário é o mundo das paixões, ou no máximo o mundo da razão a serviço das paixões, e não o mundo da virtude no sentido antigo da palavra (CARVALHO, 2013, p. 18).

É sob a prevalência de uma visão individualista e utilitarista, que a República Brasileira vai dar seus primeiros passos. Os problemas de caráter individual, social, econômico, político, educacional, ambiental e de organização do Estado parecem não ter grande importância para os republicanos, que assumem o comando do Brasil, agora amparados na Constituição Republicana de 1891.

A respeito dos problemas sociais, políticos, educacionais, financeiros e ambientais que a República Brasileira tem como desafio, Renault (1987, p. 13) explica que “Outros fatores respondem pela perturbação crônica da economia e pelos momentos difíceis da vida nacional. A substituição do trabalho escravo pelo sistema assalariado não foi conduzida de modo que evitasse o desequilíbrio financeiro”.

Segundo Silva (2005), a Constituição de 1891 estabeleceu a República Federativa Presidencialista constituída pela união perpétua e indissolúvel das antigas províncias, agora transformadas em Estados Unidos do Brasil. O antigo município neutro será transformado no Distrito Federal e será a Capital da República. O regime de governo passa a ser o Presidencialismo, fazendo uso do

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Como a população liberta, os imigrantes trabalhadores e os pequenos proprietários familiares não exerciam qualquer forma de influência junto ao aparelho do Estado, caberia à oligarquia dominante decidir sobre o papel a ser exercido pelo Estado e organizar um Governo voltado aos seus interesses.

direito comparado ao modelo norte-americano. A Constituição rompeu com a teoria quadripartite de Benjamin Constant, vigente durante o Império e centrada na existência de Quatro Poderes de Estado. Foi contemplada a teoria dos Três Poderes e a doutrina dos freios e contrapesos de Montesquieu, estabelecendo a harmonia e independência entre o Poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário, como órgãos de soberania nacional. Foi prevista a autonomia aos Estados Membros e dos Municípios, a partir dos limites das suas competências determinadas pela própria Constituição e a escolha por voto direto dos representantes do Executivo e do Legislativo.

Por outro lado, a Constituição da República, poderia constituir-se num caminho mais seguro para apagar certas sequelas deixadas pelo Governo Imperial durante a sua vigência. Para tanto, a instauração do Governo Republicano, escolhido livremente pelo povo, era visto como a grande solução. De outra forma, a organização dos Poderes de Estado funcionando harmonicamente e independentes entre si, de acordo com a teoria dos Três Poderes97 preconizada por Montesquieu, o exercício das liberdades civis e democráticas, como previa a norma Constitucional, seria o prenúncio de novos tempos a serem vividos pela sociedade brasileira.

No entanto, o pensamento de Silva (2005) alerta sobre os conflitos entre os Poderes de Estado, que não tardam a aparecer. O Congresso Constituinte elegeu Deodoro da Fonseca como Presidente do Brasil, e a chapa de oposição elegera Floriano Peixoto como Vice-Presidente. O Executivo foi formado pelo Presidente e Vice-Presidente de partido políticos contrários, que não passaram pela eleição popular. Passada a eleição presidencial, o Congresso Constituinte converte-se em Congresso Nacional, formando o Senado e a Câmara dos Deputados Federais.

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A teoria dos Três Poderes estabelecia limites à atuação do Estado pelo próprio Estado. Os órgãos do Estado exerciam seu poder numa esfera de competências atribuídas a cada um pela Constituição do Estado. Quando um Poder de Estado invadisse a esfera de competência do outro, o mesmo reagiria, estabelecendo assim, os freios e contrapesos. Por sua vez, “Depois da expulsão dos reis, 1°- Estabeleceu que houvesse magistraturas a que os plebeus poderiam candidatar-se; e obteve aos poucos a participação em todas, salvo a de inter rex (Grifo do autor). 2°- Desmembraram o consulado e formaram a partir dele várias magistraturas. Criaram os pretores, a quem deram o poder de julgar os negócios privados; nomearam questores, para mandar julgar os crimes públicos; estabeleceram edis, a quem entregaram a polícia; fizeram tesoureiros, que tiveram a administração do dinheiro público; enfim, pela criação dos censores, tiraram dos cônsules aquela parte do poder legislativo que regula os costumes dos cidadãos e a polícia momentânea dos diversos corpos do Estado. As principais prerrogativas que lhes restaram foram a de presidir as grandes reuniões do povo, de convocar o senado e de comandar os exércitos. 3° - As leis sagradas estabeleceram tribunos que podiam, a qualquer momento, deter as ações dos patrícios; e não impediam só as injúrias particulares, mas também as gerais (MONTESQUIEU, 2010, pp. 184-185).

Assim, o primeiro Congresso não foi eleito pela população brasileira. Por sua vez, o Congresso, insatisfeito com a eleição presidencial, instala processo de impeachment, que não estava regulamentado, a fim de caçar o mandato presidencial98.

Com a nova Presidência, as oligarquias rurais remanescentes do Império instalam-se no poder e passam a dominar os Governos dos Estados Membros. “O poder dos Governadores, por sua vez, sustenta-se no coronelismo, fenômeno em que se transmudaram a fragmentação e a disseminação do poder durante a colônia, contido no Império pelo Poder Moderador” (SILVA, 2005, p. 80).

Segundo Carone (1934 apud SILVA, 2005, p. 80), o poder dos coronéis exercia influência determinante sobre as escolha dos Governadores, dos Deputados Federais e dos Senadores. Por sua vez, os Governadores determinavam a escolha do Presidente da República. Nessa correlação de forças, os Deputados e Senadores garantiam, via Congresso Nacional, a liderança dos Governadores no cenário político brasileiro. Todo esse jogo de forças políticas formava uma espécie de constituição material informal, que agia em descompasso com as determinações da Constituição Republicana de 1891, mediante a influência do coronelismo. Assim:

O fenômeno do coronelismo tem suas leis próprias e funciona na base da coerção da força e da lei oral, bem como de favores e obrigações. Esta interdependência é fundamental: o coronel é aquele que protege, socorre, homizia e sustenta materialmente os seus agregados; por sua vez, exige deles a vida, a obediência e a fidelidade. É por isso que o coronelismo significa força política e força militar (CARONE, 1934 apud SILVA, 2005, p. 80).

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Deodoro da Fonseca, na condição de Presidente da República e como represália, apresentou um projeto de lei que regulamenta os crimes de responsabilidade, sendo vetado pelo Senado e pela Câmara Federal. Em virtude disso, no dia 3 de novembro de 1891, a Presidência da República dissolve o Congresso Nacional. Diante desse episódio, a Armada, tendo como líder o Almirante Custódio José de Mello, reage aos atos unilaterais do Executivo Nacional. Para evitar uma convulsão social, no dia 23 de novembro do corrente, Deodoro renuncia ao cargo de primeiro Presidente da República, possibilitando ao Vice-Presidente Floriano Peixoto assumir a vacância do cargo. Floriano Peixoto na condição de Presidente da República começa uma ofensiva e derruba todos os Governadores dos Estados Membros. Diante de tais atos, o Brasil mergulha numa guerra civil, que passa a ser liderada, principalmente, por Saldanha da Gama e Gumercindo Saraiva. O Exército do Governo domina os revoltosos e o Presidente Floriano só entrega o poder a Prudente de Morais, eleito Presidente da República para os próximos quatro anos (SILVA, 2005).

Importa salientar que Gumercindo Saraiva, um dos líderes revoltosos da Revolução Federalista de 1893 lidera um efetivo de 4.000 homens armados, que se rebela contra os atos praticados pelo então Presidente Floriano Peixoto e sai em defesa dos ideais republicanos ignorados pela Presidência. Após muitas batalhas contra o Exército Oficial da República, Gumercindo morre na Batalha do Carovi em 10 de agosto de 1894 (DORNELLES, 1988). A localidade de Carovi fica localizada entre os

Os fatos abordados denotam que a Constituição de 1891, que instaurou o Governo Republicano e Democrático no Brasil neste primeiro momento, não passou de uma carta de intenções políticas. Mesmo a Constituição determinando que os atos praticados pelos representantes do Estado, devem ser de acordo a norma, não inibiu a influência da oligarquia rural nas esferas de Governo. Tal influência sobre os órgãos de Estado era no sentido de que as vontades dessa classe dominante fossem garantidas pelo Estado, mesmo na contramão da norma vigente.

Uma dificuldade sobre a efetivação da norma está relacionada à lei de 1903 que cria os sindicatos rurais no Brasil. Sodero (1990) menciona que a norma foi proposta mediante projeto apresentado por Joaquim Ignácio Tostes. Seu projeto deu origem ao Decreto n° 979 de janeiro de 1903. Esse Decreto foi regulamentado pelo Decreto n° 6.532 de 1907 e revogado pelo Decreto n° 23.611 de 20 de dezembro de 1907. No ano de 1933, foi regulamentada a criação dos consórcios profissionais cooperativos, cuja determinação legal foi revogada cinco anos após pelo Decreto-lei n° 581 de 193899.

De outra forma, a oligarquia rural atuava de forma contrária à ideia do sindicalismo, e o Governo, por sua vez, pouco colaborava para efetividade dessas normas, mesmo que a Constituição vigente contemplasse a liberdade de participação e de associação sem intervenção do Estado (Artigo 72 parágrafo 3°) (BRASIL, 1891). Para essa classe que dominava o aparelho do Estado, seria inconveniente a organização sindical da classe rural pobre, pois poderia ser um caminho para exercer influências na economia e no próprio aparelho do Estado.

Mesmo que a Constituição determinasse (BRASIL, 1891) a liberdade de associar-se e o sindicalismo representativo do trabalhador rural assalariado, do colono e dos pequenos proprietários familiares, não prosperou com a República. A ocorrência desse episódio não foi por inexistência de regulamentação jurídica, mas, por falta de efetivação da norma. Como o Estado não demonstrava interesse que as organizações sindicais rurais funcionassem de pleno êxito, aquelas existentes foram obrigadas a funcionar na clandestinidade. Por sua vez:

Municípios de Capão do Cipó, Bossoroca, São Miguel das Missões, Santiago e São Luiz Gonzaga, todos no Rio Grande do Sul.

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Essa legislação que normatizou o sindicalismo rural no Brasil não teve efetividade, tornando-se ineficaz num momento em que a capacidade de organização dessas classes representativas do trabalhador rural assalariado, do colono e dos pequenos proprietários familiares era muito insipiente no Brasil.

O Estado é o órgão que deve velar pelo desenvolvimento da liberdade e promovê-la, impedindo que esse trabalho possa ser desempenhado por entes privados não-adstritos ao império da lei, que podem intentar a consecução de interesses próprios. Sua função é potencializar o princípio da liberdade para toda a população, independentemente da condição econômica, social, cultural etc. [...] Mesmo em um Estado Liberal, pleiteia o Republicanismo maior intervenção estatal para suprir a arbitrariedade, já que nenhuma forma de Estado pode atingir seus objetivos enquanto o princípio de liberdade não encontrar guarida (AGRA, 2005, pp. 86-87).

Outro aspecto que mostra a dificuldade do Estado em tornar efetiva sua primeira Constituição Republicana, reside no tocante ao seu artigo 72 parágrafo 17 (1891). O dispositivo Constitucional determina que o direito de propriedade na visão individual de usar, gozar e dispor da propriedade, já previsto na Constituição de 1824, se mantém na sua plenitude. Sendo assim, esse direito fica universalizado a