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Destaques da matriz republicana norte-americana

1.1 ASPECTOS IMPORTANTES DAS MATRIZES REPUBLICANAS

1.1.5 Destaques da matriz republicana norte-americana

O quinto e último ponto a ser mencionado neste estudo, será a matriz republicana norte-americana. A Revolução Americana que culminou com a

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São pensadores que surgem no cenário público, como sendo educadores que trouxeram propostas para construir uma educação republicana.

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Starling (2013, p. 262) apresenta estudos a respeito da matriz republicana norte-americana. A Constituição dos Estados Unidos da América apresenta “A „Declaração de Independência‟ é composta de cinco seções: Introdução, preâmbulo, lista de agravos, seção dos irmãos britânicos e conclusão”. Para efeitos deste trabalho, foram levados em consideração os seguintes temas dessa Declaração: a) os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum; b) a finalidade de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão; c) o princípio de toda soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que a lei não emane expressamente; d) a liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que assegurem aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites apenas podem ser determinados pela lei. (STARLING, 2013).

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As formas de associação política serão de livre escolha dos cidadãos, com a finalidade de conservar os direitos naturais, que são imprescritíveis. A soberania da nação estará acima de qualquer outra forma de poder, que não emane da Constituição. Por sua vez, a liberdade será

Proclamação de Independência das Treze Colônias Inglesas da América, teve um desfecho marcante para a sociedade norte americana: a promulgação da Constituição dos Estados Unidos da América de 1787, pela Assembleia Nacional Constituinte, como sendo o triunfo da Revolução Americana. Essa Constituição24 se fundamenta nos princípios do humanismo clássico, como a liberdade, a fraternidade e a igualdade.

Sendo assim, o objetivo do atual estudo é conhecer os fundamentos dessa matriz, suas contribuições para republicanismo da modernidade, a importância para a educação ambiental republicana e o Estado de direito do ambiente, assunto a ser delineado nos capítulos posteriores da tese.

Ela se constitui numa matriz importante para retratar o republicanismo da modernidade. “A criação da matriz do republicanismo norte-americano é a consequência mais radical da Revolução Americana – e não a sua causa” (STARLING, 2013, p. 231). Mas é:

No interior da matriz do republicanismo norte-americano, coube construir, por exemplo, a noção de que os direitos constituem uma condição de proteção do indivíduo e representam uma conquista histórica e política; ou de que a ideia de que os interesses possuem um papel egregativo e sua preservação também está atada a própria definição de liberdade; ou, ainda, a convicção de que a república pode ser erguida em um território de extensão continental e sua estrutura institucional sustenta-se em um governo nacional forte, mas, ao mesmo tempo, limitado pela tarefa de preservar as liberdades de um Estado republicano. A força característica do republicanismo norte-americano está imersa em uma experiência comunal participativa intensa, típica do período colonial. [...] (STARLING, 2013, pp. 231-232).

Essa matriz possibilita a criação de condições ao desenvolvimento do espírito associativo, como forma de praticar os ideais do liberalismo clássico mediante uma ação política, que vai equalizar a relação do Estado com o indivíduo e a relação deste com o Estado. Tudo isso para garantir os direitos e deveres civis positivados na Constituição, que agora representa o pensamento de uma sociedade livre das opressões da metrópole. Arendt (2012, p. 25) alerta no sentido de que, a “política

considerada a manifestação individual, que não venha prejudicar a liberdade do exercício dos direitos naturais dos outros cidadãos.

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A Constituição dos Estados Unidos da América promulgada em 1787 é composta por sete artigos. Não prevê o Governo Monárquico como havia na Inglaterra e estabelece que o Poder Legislativo, é representativo da sociedade. Assim, o artigo I seção 1 estabelece que, “Todos os poderes legislativos outorgados pela presente Constituição serão atribuídos a um Congresso dos Estados Unidos, que consistirá de um Senado e de uma Câmara de Representantes” (LEVENE, 1954).

organiza, de antemão, as diversidades absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida as diferenças relativas”.

Neste aspecto, a política como fundamento dessa matriz é considerada como uma possibilidade e não uma garantia de que as relações do Estado com o indivíduo acontecerão em favor dos direitos e deveres civis, pois a igualdade entre os indivíduos é apenas relativa e sua relação política com o Estado e com os outros indivíduos e, é vista com certos preconceitos. Por isso,

[...] a política tem de lidar sempre e em toda a parte com o esclarecimento e com a dispersão de preconceitos, o que não significa tratar-se, no caso de uma educação para a perda de preconceitos, nem que aqueles que se esforcem para fazer tal esclarecimento sejam livres de preconceitos (ARENDT, 2012-B, p. 29).

Como o preconceito vem anteriormente à produção de um juízo, recorrendo ao passado, sua razão se limita a épocas temporais e históricas, formando quantitativamente a maior parte da história, onde o novo é relativamente raro e o velho predomina na estrutura política e social, mediante o juízo estético e de gosto (ARENDT, 2012-B).

Um documento comprobatório que expressa a positivação dos princípios dessa matriz é a Constituição dos Estados Unidos da América, assinada em 17 de setembro de 1787 e efetivada em 21 de junho de 1788. Essa Constituição passa a representar os ideais de luta de um povo, com relação a sua expectativa de construção de uma sociedade futura após o rompimento de laços com a metrópole Inglesa. A preocupação dos revolucionários remeteu à criação de uma Norma Constitucional, em que fosse prevista a organização sociopolítica de uma sociedade livre, independente, soberana, com poderes e mecanismos para controlar a pessoa representante do governo; uma norma constitucional que rompesse definitivamente com a monarquia, como sendo resultado da representação do pensamento coletivo de homens reunidos em associação. A autora em estudo, afirma que:

Se se quer mudar uma instituição, uma organização ou entidade pública existente no mundo, então se pode renovar sua constituição, suas leis, seus estatutos e esperar que tudo mais se produza por si mesmo. Isso está relacionado com o fato de que em toda parte em que os homens se agrupam – seja na vida privada, na social ou na público-política –, surge um espaço que os une e ao mesmo tempo os separa uns dos outros (ARENDT, 2012-B, p. 35).

Esta matriz carrega no seu bojo o princípio da associação, como sendo fruto de vontade política dos homens, cuja Constituição vai estabelecer distinção entre o interesse comum e os interesses privados. É um espaço republicano que é de todos e a ninguém em particular pertence e cuja razão e vontade vão prevalecer. Segundo Arendt (2012-B, p. 37) é “[...] o mundo do qual se fala aqui, o mundo dos homens, quer dizer, o resultado do fazer humano e do agir humano [...]”. Pressupõe que seja o mundo onde os homens podem produzir seus resultados, encaminhando soluções para os assuntos dos humanos.

Outra característica dessa matriz, diz respeito à implantação do federalismo. A forma de Estado Federal25 foi uma estratégia encontrada pelos republicanos americanos, sendo que, o Estado-Nação estrutura-se a partir de uma Constituição Federal. Ela vai positivar os princípios gerais que deverão ser levados em consideração pelas unidades federativas em âmbito regional e local, com relação à administração pública e produção legislativa, ou seja, a ideia da descentralização administrativa e legislativa26.

Por outro lado, o republicanismo americano, através do seu texto constitucional, traduz de forma inequívoca uma vocação ímpar na defesa dos interesses individuais, como por exemplo, o direito individual de propriedade. No pensamento de Agra (2005, pp. 42-43) “[...] na maioria dos casos, o Estado não pode restringir os direitos individuais sob a alegação de garantir a concretização de um interesse público, porque essas prerrogativas são consideradas direitos naturais,

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Dallari (2011, p. 252) conceitua o que é uma federação. “Etimologicamente, federação (do latim foedus) quer dizer pacto, aliança. O Estado Federal é, portanto, uma aliança ou união de Estados. Entretanto, em qualquer época da história humana encontram-se referências à aliança entre Estados, reconhecendo-se que só algumas constituíram federações, o que demonstra, desde logo, que essa união deve apresentar algumas peculiaridades importantes que a distinguem das demais. Na realidade, como se verá, o Estado Federal é um, fenômeno moderno que só aparece no século XVIII, não tendo sido conhecido na Antiguidade e na Idade Média. [...] O Estado Federal nasceu, realmente, com a constituição dos Estados Unidos, em 1787. Em 1776, treze colônias britânicas da América declaram-se independentes, passando a constituir, cada uma delas, um novo Estado. Pouco anos depois celebraram entre si um tratado, conhecido como Artigos de Confederação, aliando-se para uma ação conjunta, visando sobretudo, a preservação da independência”.

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A ideia de federação é oportunizar certas autonomias, para que as unidades federativas possam produzir normas de caráter regional e local, bem como o exercício da administração pública dos Estados Membros. Essa descentralização de poderes, no âmbito do Executivo e do Legislativo, é controlada pela própria Constituição Federal. Tudo no sentido de promover de forma mais eficiente o atendimento ao bem comum regional e local, e, ao mesmo tempo, proteger a soberania do Estado Nação. O grande legado dessa forma de Estado Federal é que boa parte dos Estados Nacionais do mundo inteiro trouxeram essa modalidade para o âmbito das suas Constituições, inclusive o Brasil com a Constituição Republicana de 1891.

e, portanto, invioláveis”, a não ser quanto o interesse privado suplanta o interesse público.

Trata-se de uma matriz, que cria condições ao modelo liberal de sociedade e de Estado, com uma forte predisposição à autodeterminação e participação do indivíduo na produção da norma jurídica, na sua garantia de aplicabilidade por parte do Judiciário e na forma de administrar a coisa pública. Contudo, “A influência do common law27 (Grifo do autor) é preponderante no ordenamento jurídico norte- americano e, sob esse prisma, a produção de leis por parte do Poder Legislativo é considerada um cerceamento na autodeterminação dos cidadãos” (AGRA, 2005, p. 42).

Essa matriz republicana deixa um legado importante para o republicanismo da modernidade, na medida em que o povo das Treze Colônias, mediante um longo debate participativo de toda a sociedade, elabora e promulga sua Constituição. Ela rompe em definitivo com todos os laços culturais da monarquia inglesa. Cria-se um Estado Federal com a descentralização de competências administrativas e legislativas para o âmbito dos Estados Membros e adota-se a forma Republicana de governo e o sistema Presidencialista.

Fica contemplada a Teoria dos Três Poderes discutida por Montesquieu, com a criação do Poder Administrativo, Legislativo e Judiciário, como Poderes independentes e harmônicos entre si. Suas atribuições são determinadas pela própria Constituição, a fim de que nenhum Poder de Estado exceda a sua esfera de competência. Quando isso vier a acontecer, o Poder invadido na área de atuação reagirá e se estabelecerá uma espécie de freios e contrapesos.

A sua Constituição é um marco de implantação do federalismo e o presidencialismo, fator que fora seguido por muitos povos da humanidade, dentre eles o Brasil, com a promulgação da Constituição Republicana de 1891. Essa Constituição adota o federalismo e o presidencialismo à moda americana até a presente Constituição de 1988, bem como as competências administrativas e legislativas para o âmbito da Federação e a teoria dos Três Poderes28.

27De acordo com Agra (2005, p. 42) “Partindo do pressuposto de que a autodeterminação é o alicerce

do ordenamento jurídico, as disposições normativas devem propiciar o maior espaço possível de liberdade aos cidadãos, que pautam suas relações sociais pelos princípios decorrentes do Direito Consuetudinário, com supervisão do Poder Judiciário”.

28Silva (2005, p. 477) menciona que “Os limites de repartição regional e local de poderes dependem

da natureza e do tipo histórico de federação. Numas a descentralização é mais acentuada, dando-se aos Estados federados competências mais amplas, como nos Estados Unidos. Noutras a área de

Portanto, as matrizes republicanas romana, italiana do renascimento, a inglesa, a francesa e a norte-americana deixaram seus legados, em maior ou menor proporção, para a denominada tradição republicana da modernidade, na qual a educação ambiental da atualidade pode manter uma relação crítica. Essa tradição delineada por tais matrizes constituiu-se num fator para o surgimento dos princípios, que fundamentaram o republicanismo da modernidade, assunto que será estudado na sequência do texto.