• Nenhum resultado encontrado

A POLÍTICA EDUCACIONAL NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1824

A política educacional brasileira normatiza-se com a primeira Constituição Brasileira, outorgada por D. Pedro I em 1824. Para a realização do presente estudo, levou-se em consideração o momento histórico da criação do Estado Brasileiro, por ocasião da Proclamação da Independência do Brasil, fator que significou o rompimento dos laços jurídicos com a coroa portuguesa. Significa dizer que o Brasil assume administrativa e politicamente uma forma de governo independente de Portugal e de outras nações. Mas é com essa Constituição que surge juridicamente o Estado Imperial Brasileiro. A forma de Governo Imperial perdurou até a promulgação da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil em 1891.

Neste tópico, objetiva-se estudar alguns aspectos importantes das fases da propriedade rural no Brasil como sendo o ambiente de trabalho para fins da presente tese e as diretrizes educacionais previstas na Constituição Política do Império do Brasil, outorgada em 25 de março de 1824 e que nortearam as políticas públicas a serem desenvolvidas pelo Governo Imperial.

Por este aspecto, será construída uma reflexão crítica a respeito do modelo de educação assumido pela sociedade imperial e as suas relações com a possível tradição54 educacional republicana brasileira. Ressalta-se que, buscar as matrizes

54

Para compreender as influências da tradição educacional imperial brasileira e suas implicações com as bases educacionais da República Brasileira criada juridicamente em 1891, é importante conhecer o pensamento de Arendt a respeito da tradição. Assim, Arendt (2011, p. 53) ao manifestar-se a respeito da tradição, afirma que, “O fim de uma tradição não significa necessariamente que os conceitos tradicionais tenham perdido seu poder sobre as mentes dos homens. Pelo contrário, às vezes, parece que esse poder das noções e categorias cedidas a puídas torna-se mais tirânico à medida que a tradição perde sua força viva e se distancia a memória de seu início; ela pode mesmo revelar toda sua força coercitiva somente depois de vindo seu fim, quando os homens sem mesmo se rebelaram contra ela”.

da tradição imperial da educação brasileira, não significa glorificar o seu passado, como um exemplo a ser seguido, mas conhecer de forma crítica o que esse passado reservou para o Brasil em termos educacionais, bem como os possíveis reflexos que vão acarretar para a tradição republicana brasileira. Quando se fala em tradição, Arendt ensina que:

Hoje, a tradição é, algumas vezes, considerada como um conceito essencialmente romântico, porém o romantismo não faz mais que situar a discussão da tradição na agenda do século XIX; sua glorificação do passado apenas serviu para assinar o momento em que a época moderna estava prestes a transformar nosso mundo e as circunstâncias em geral a tal ponto, que uma confiança inquestionada na tradição não mais fosse possível (ARENDT, 2011, p. 53).

Manter um diálogo com a tradição educacional do Brasil Império significa conhecer certos conceitos que a sociedade e o Estado mantinham a época, no que diz respeito a forma de exercer a educação e a força coercitiva que ela manteve, mesmo após seu final, com os movimentos abolicionistas e republicanos, que culminaram com a queda do Império. Conhecer as diretrizes da educação brasileira nessa fase da história brasileira cria condições para constatar se, os movimentos que levaram à extinção do Governo Imperial e à instauração de um Governo Republicano em 1891, provocaram a ruptura com os conceitos de uma sociedade escravocrata e patrimonialista dirigida por uma oligarquia rural.

No entanto, em primeiro lugar, sentiu-se a necessidade de realizar uma sucinta abordagem a respeito do período colonial do Brasil no tocante à propriedade rural brasileira, como ambiente de trabalho para fins desta Tese. Esse período inicia com a divisão do território brasileiro entre a coroa portuguesa e a espanhola, mediante a celebração do Tratado de Tordesilhas em 1494 e, posteriormente, com a chegada de Cabral em 1500. Sabe-se que antes da vinda dos europeus, o Brasil já era ocupado pelos índios em toda a sua extensão. Portanto, não será utilizada a expressão descoberta do Brasil, mas sim, a ocupação do nosso território pelos portugueses em detrimento da vontade dos nativos que aqui habitavam.

A questão educacional no período do Brasil colônia não será objeto de estudos neste momento. Sua abordagem inicia com a Proclamação da Independência e da Constituição Imperial de 1824. Assim, em relação ao período colonial, o destaque será o regime jurídico da propriedade da terra, que inicia com a

fase das Sesmarias durante o Brasil colônia, a fase das Posses, a fase da Lei de Terras durante o Império e, por último, a fase Republicana da terra. Justifica-se esta abordagem inicial por entender a forma de aquisição da propriedade mediante a doação da terra, a sua concentração em mãos de poucos, a utilização da mão de obra escrava, a utilização da terra como fator de exercício de poder político, religioso e econômico, por parte do senhor do engenho55.

Esses fatores foram preponderantes para a formação de uma oligarquia brasileira, que exerceu influências determinantes para que a educação fosse voltada apenas aos filhos dos sesmeiros proprietários da terra, sem que houvesse possibilidade de os filhos dos cativos e dos indígenas frequentarem a escola.

O domínio do território brasileiro foi exercido pelos portugueses em 1500 e aconteceu mediante a ocupação e o cultivo da terra seguida das atividades de extrativismo de produtos naturais, o que marca o início de um novo relacionamento do homem com a propriedade da terra, que não condizia com aquele que era desenvolvido pelos nativos. Essa nova forma de ocupação e utilização da terra aconteceu por ordem da coroa portuguesa, que estabeleceu um regime jurídico regulamentador das relações do europeu com a terra ocupada.

Para estudar as fases da propriedade rural no Brasil serão levados em consideração alguns aspectos importantes ocorridos durante o período colonial, no período imperial e no início da fase republicana a respeito do regime jurídico da propriedade da terra. A norma que regulamentou o acesso e o uso da terra a partir de 1500, de acordo com os agraristas brasileiros, dentre eles Fernando Pereira Sodero, estabeleceu as fases da propriedade rural. São elas: a fase das Sesmarias, a fase das Posses, a fase da Lei de Terras e a fase Republicana, as quais serão estudadas a seguir.

Utilizou-se o recorte histórico que compreende a chegada do explorador português ao Brasil. Com essa delimitação temporal, não se considera a chegada de Cabral no ano de 1500, como o marco inicial da ocupação dessa terra e a formação da sociedade brasileira. Por sua vez, a ocupação e o cultivo das terras brasileiras nos moldes europeus iniciam-se com a chegada da esquadra de Martim Afonso de

55“Mas o concessionário da sesmaria – agora chamado „Senhor do Engenho‟ (Grifo do autor) –

importou da Europa o técnico e a maquinaria: importou da África o negro escravo; plantou cana e a fez plantar. Requereu e obteve uma, duas, quantas sesmarias quisessem. Apossou-se das terras boas e férteis e não permitiu nem de leve qualquer forma de concorrência do então chamado „lavrador‟ (Grifo do autor), do homem sem cabedais” (SODERO, 1990, p. 12).

Sousa em 1530. Para efeitos do presente estudo, não será levada em consideração a presença dos nativos que aqui estavam muito tempo antes da chegada dos europeus, pois, o episódio da ocupação portuguesa constitui-se no início da implantação da cultura dominante europeia sobre a cultura dos indígenas.

Logo após a chegada de Martim Afonso de Sousa, o rei D. João III divide o território brasileiro localizado a leste da linha de Tordesilhas em quinze capitanias hereditárias56. Sob este enfoque, o episódio marca o início da fase colonial do Brasil, mediante as primeiras ocupações pelos portugueses.

Como forma de promover a ocupação territorial, a criação de núcleos habitacionais e desenvolvimento da atividade agrícola, os donatários das capitanias estavam autorizados a conceder sesmarias, que eram áreas menores, a pessoas da sua inteira confiança. Os contemplados assumiam, perante a coroa, a responsabilidade de promover o desenvolvimento econômico, ocupação territorial e a construção de povoações, fatores de grande interesse por parte de Portugal.

Ferreira (1998, p. 111) ressalta que a coroa portuguesa, representada pelo Rei D. João III, “[...] resolveu implantar no Brasil o regime sesmarialista, que teve sucesso nas pequenas ilhas portuguesas do Atlântico, com a criação do regime de capitanias hereditárias na nova colônia, com grandes poderes conferidos aos donatários, como representantes do rei”.

A propriedade da terra no período colonial do Brasil, desde a ocupação pela coroa portuguesa até o advento da Proclamação da Independência foi regida pelo instituto da doação de sesmarias, e foi denominada de fase das sesmarias. Essa fase consistia na doação de sesmarias57 por intermédio dos representantes do rei na

56

O regime das capitanias hereditárias nada mais fez senão criar grandes latifúndios, como elas mesmas – as capitanias. Cada qual tinha a extensão de 50 léguas de costa, recebendo Martin Afonso, cem (100). Uma dessas capitanias denominadas de São Vicente teve sua carta de doação datada de 12.1.1535, passada a favor de Pero Lopes de Sousa, por El-Rei D. João III. Cinquenta léguas de costa, sendo dez do rio Curupacé até o Rio S. Vicente e quarenta léguas ao sul, começando onde acabava a doação de seu irmão Martin Afonso. Pero Lopes teve ainda uma concessão em Itamaracá e Pernambuco [...]. Dessa forma, o Estado e a propriedade se estruturaram através [...] de enormes extensões de terra sob o mando e poder de senhores com autoridade absoluta sobre as pessoas e as coisas (SODERO, 1990, p. 7). O sistema das capitanias hereditárias no Brasil foi constituído de grandes porções de terras doadas pelo rei de Portugal, àquelas pessoas da sua inteira confiança. Suas áreas foram demarcadas com a face frontal para o Oceano Atlântico, sendo que, os contemplados tinham liberdade de adentrar no sertão até o limite das suas possibilidades de ocupação. Essas enormes extensões de terra foram concedidas a título gratuito, sem que houvesse a obrigação de pagamento pelas áreas transmitidas pela coroa.

57

De acordo com os princípios jurídicos, econômicos e políticos que informaram o Estado Português, quando da descoberta do Brasil, com a vinda de Martin Afonso de Sousa para a Terra de Santa Cruz, a administração da Metrópole expediu, datadas de Castro Verde, em 20.11.1530, as cartas régias, tendo uma delas cuidado da terra, a fim de dar início, à vida e ao desenvolvimento da possessão

colônia a pessoas da sua inteira confiança, que passaram a chamar-se de sesmeiros. O indivíduo contemplado com a doação assumia o compromisso de ocupar a área e desenvolver a produção agrícola, sobretudo da cana de açúcar, que era um produto importante no mercado europeu (FERREIRA, 1998).

Extinto o regime da concessão das sesmarias58, inicia-se um novo regime jurídico sobre a terra no Brasil. Trata-se da fase das posses, que passa a vigorar como um dos primeiros atos emitidos pelo Imperador D. Pedro I a respeito do acesso à propriedade da terra. O regime das posses apresentou uma peculiaridade com relação ao regime das sesmarias, como descreve Sodero (1990, p. 37). “Na sesmaria, o sesmeiro recebia o título para depois trabalhar a terra; na posse, o posseiro59 primeiro explora a terra e, depois de benfeitorizá-la, legaliza sua ação pelo reconhecimento estatal da situação. É a posse aliada ao cultivo, ao trabalho - novo sistema que se firmou no Brasil”.

O imperador, constatando que esse regime apresentava bons resultados em termos de ocupação da terra e de produção agrícola, criou a Lei n° 514 de 1848. Segundo o mesmo autor (1990, p. 50), esse regulamento jurídico estabelecia que, tais terras não seriam objeto de transferência a terceiros “[...] pelos colonos

(SODERO, 1990, p. 6). [...] o Regimento dado por D. João III a Tomé de Sousa, o primeiro Governador Geral do Estado do Brasil, em 17.12.1548. Em dito Regimento, no qual o regime das Capitanias Hereditárias foi minado, como veremos adiante, o rei recomendava: “tanto que viverdes assentada a terra para seguramente se poder aproveitar, dareis de sesmarias as terras que estiverem dentro do dito termo (cujo raio era de seis léguas - nota do autor), às pessoas que vo-las pedirem... com a condição que residam na povoação (Salvador - nota do autor), da dita Bahia ou das terras que assim lhe forem dadas, por três anos, dentro do qual tempo as não poderão vender nem enlear e não dareis a cada pessoa mais terra que aquela boamente e segundo sua possibilidade vos parecer que poderá aproveitar (SODERO, 1990, p. 25). Em relação às sesmarias localizadas no sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, Brum afirma que “Eram propriedades extensas, chamadas de sesmarias, em forma de quadrado, variando de 3 a 6 léguas de lado, podendo atingir até mais de 13.000 hectares, cujos limites quase nunca eram fixados com exatidão. Essas estâncias de gado deram origem ao latifúndio pastoril em toda a área de campo, à medida que foi se processando a ocupação do território (BRUM, 1985, p. 30).

58

Consistia numa forma de concentração de terras, de acumulação de renda e do aumento patrimonial via exploração da mão de obra, seja ela escrava ou assalariada. O sistema de produção vinculou-se especialmente no cultivo da cana de açúcar e na sua industrialização, com destino ao mercado europeu. No entanto: O sistema de monocultura sob organização do plantation (Grifo do autor) apresenta outros caracteres além da não diversificação ou da pequena diversificação de atividades. Trata-se, como se sabe, de tipo de organização agrária apoiada fundamentalmente: quanto à terra, em grandes domínios fundiários subutilizados; quanto à força de trabalho em grande massa de assalariado e quanto ao mercado em áreas extrarregionais. As áreas ocupadas pela cana de açúcar e pelo cacau são as suas zonas principais (SODERO, 1990, p. 16).

59“Ora, o posseiro era o cultivador que se mantinha com o seu trabalho e da família. Fosse qual fosse

o tipo de exploração de terras, o posseiro era elemento de poucos haveres ou mesmo nenhum. Por tais motivos - falta de braços e de capital - cuidava de pouca terra, apenas daquela onde morava e cuidava o que fosse normal para a força de trabalho familiar. A consequência foi a pequena propriedade, advinda do regime de posse e do desbravamento de novas terras” (SODERO, 1990, p. 37).

enquanto não estivessem efetivamente exploradas (roteadas e aproveitadas), revertendo ao domínio provincial se dentro de cinco anos os colonos respectivos não tivessem cumprido tal condição”60

.

Porém, as determinações da Lei n° 601/1850 dificultou a divisão da terra e o seu acesso equitativo a todos como determinava a Constituição de 1824. No entanto, o Governo Imperial, sabedor da importância da propriedade familiar na produção de alimentos destinados a suprir a cesta básica do brasileiro e no suporte à produção monocultora da lavoura canavieira e cafeeira, cria certas condições de pagamento aos imigrantes europeus para aquisição da terra e a formação de novos núcleos coloniais.

Afirma Brum (1988, p. 28) que, “[...] originalmente, as propriedades eram doadas, passando a ser vendidas, com vários anos de prazo para pagamento, a partir de 1854. O tamanho das propriedades também foi sendo reduzido: de 77 ha em 1824, diminuíram para 48 ha em 1848 e para 25 ha a partir de 1875”.

Esse regulamento jurídico garantiu ainda mais a concentração61 da terra em mãos de poucos e o monopólio da produção. Essa realidade foi vigente em todo o período colonial e continuou após o surgimento do Estado Brasileiro. O Império, desde seu início, torna-se incapaz de institucionalizar as condições necessárias a uma justa distribuição e acesso igualitário à terra.

Esgotado o modelo de Estado Imperial, o Brasil projeta esperança nas mudanças estruturais, que deverão ser enfrentadas pelos Governos Republicanos amparados pela Constituição de 1891. Os problemas sociais, econômicos, culturais e políticos não resolvidos durante a vigência da Constituição Imperial, dentre eles, a questão do direito de acesso a propriedade e do monopólio da terra62, são fatores

60

O interessado ocupava a terra, tornava-a produtiva com seu trabalho nos horários de folga do trabalho da fazenda, juntamente com o auxílio da esposa e dos filhos para, posteriormente, receber o título de domínio por parte do Imperador.

61Segundo a Revista do Museu e Arquivo Público do RS, n° 19 de Porto Alegre s/d “Um homem que

tinha a proteção tirava uma sesmaria em seu nome, outra em nome do filho mais velho, outras em nome da filha e do filho que ainda estavam no berço. As propriedades mediam de dez, doze e mais léguas. Em 1808 há famílias que não possuem um palmo” (FREITAS, 1980, p. 15).

62A respeito do monopólio da terra tem-se o caso da Casa da Torre e Guedes de Brito. “À medida que

os povoadores avançavam sertão adentro, reduzindo ou preando os índios, iam requerendo sesmarias. Garcia de Ávila, chefe da Casa da Torre, não se satisfazia com uma nem com duas, bem assim os chefes da família Guedes de Brito. Aonde se descobrissem terras boas, aí estavam eles e outros, que se tornavam grandes proprietários, querendo e obtendo vastas extensões para agregar a seus domínios (SODERO, 1990, p. 20). “De fato, documento dos fins do século XVII, elaborado pelo padre Miguel do Couto, sobre parte do território que percorreu e que atualmente forma o Estado do Piauí, relata que ”de todas estas terras são senhores Domingos Afonso Certão e Leonor Marinho, que as partem de meias” (Grifo do autor) isto é, as dão de meação. E acrescenta que tais sesmeiros

que vão marcar a quarta fase da propriedade rural, denominada de fase Republicana.

Uma herança que a República Brasileira recebe é o monopólio e a concentração da terra. Desde 1821, vozes como as de José Bonifácio de Andrada e Silva, Joaquin Nabuco, André Rebouças e Tavares Bastos denunciam a injusta situação agrária do Brasil. Clamam a respeito da necessidade da divisão e acesso equitativo da terra, para quem nela tivesse interesse e necessidade de trabalhar, como sendo uma espécie de reforma agrária (SODERO, 1990).

Após a Proclamação da Independência e a criação da Constituição Outorgada por D. Pedro I em 1824, o Brasil implanta uma estrutura administrativa e política semelhante àquela mantida durante a fase colonial, ou seja, uma administração altamente centralizada no poder do Imperador, com respaldo constitucional63, que vai ter influências importantes na elaboração e desenvolvimento das políticas educacionais do Império. Esse poder centralizado na figura do Imperador ocorre mediante duas formas, quais sejam:

No aparelho político do governo central, dois órgãos concorriam para reforçar a ação do poder soberano: o Senado e o Conselho de Estado. Aquele, essencialmente conservador, funcionava como órgão de reação contra os movimentos liberais da Câmara dos Deputados. O Conselho de Estado era um órgão consultivo, que tinha enormes atribuições: aconselhava o Imperador nas medidas administrativas e políticas e era o supremo intérprete da Constituição (SILVA, 2005, p. 76).

O poder centralizado do Governo Imperial vai repercutir decisivamente em todas as suas esferas, inclusive na educação. Impede, de certa forma, o surgimento de iniciativas que viriam representar a cultura regional e a construção de uma identidade nacional do povo brasileiro. Segundo o autor em estudo (2005, p. 76), a

tinham nessas terras algumas fazendas de gado; “as mais, arrendam a quem quer meter gados, pagando-lhes 10 rs (dez reis) de foro para cada sítio, e desta sorte estão introduzindo donatários nas terras, sendo só sesmeiros para as povoarem com gado seu” (Grifo do autor) (SODERO, 1990, pp. 20-21).

63Com o rompimento dos laços mantidos com a coroa portuguesa e a criação do Estado Brasileiro, “O

Império Brasileiro realizara uma engenhosa combinação de elementos importados. Na organização política, inspirava-se no constitucionalismo inglês, via Benjamin Constant. Bem ou mal, a Monarquia brasileira ensaiou um governo de gabinete com partidos nacionais, eleições, imprensa livre. Em matéria administrativa, a inspiração veio de Portugal e da França, pois eram esses os países que mais se aproximavam da política centralizante do Império. O direito administrativo francês era particularmente para o viés estadista dos políticos imperiais Por fim, até certas fórmulas anglo- americanas, como a justiça de paz, o Júri e uma limitada descentralização provincial, serviram de referência quando o peso centralizante provocava reações mais fortes (CARVALHO, 2013, p. 23).

ala liberal da Câmara dos Deputados lutou quase “[...] sessenta anos contra esse mecanismo centralizador e sufocador das autonomias regionais. A realidade dos poderes locais, sedimentada durante a colônia, ainda permanecia regurgitante sob o peso da monarquia64 centralizante”.

No aspecto administrativo e na divisão do território nacional, as capitanias hereditárias foram transformadas em Províncias, que por sua vez, foram divididas em Municípios. Com a estruturação do Estado Nacional, criou-se o Poder Executivo, o Legislativo, o Judiciário e o Moderador. Dessa forma:

O Poder legislativo era exercido pela assembleia geral, composta de duas câmaras: a dos deputados, eletiva e temporária, e a dos senadores,