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Contribuições de John Locke para a educação

1.3 DESTAQUES À TRADIÇÃO EDUCACIONAL REPUBLICANA DA

1.3.1 Contribuições de John Locke para a educação

Para enfocar a tradição educacional republicana, o primeiro estudo será alicerçado no pensamento de John Locke. Trata-se de um autor clássico, que trouxe contribuições importantes no momento de transição do feudalismo para a modernidade. Seu pensar constitui-se num prenúncio do que viria acontecer em termos de transformações políticas e sociais a partir da sua época. Sua contribuição antecede a instalação das repúblicas da modernidade e, com isso, colabora decisivamente com os movimentos sociais de ruptura a certos regimes despóticos existentes no seu tempo. Sua forma de pensar é retratada nas suas obras, principalmente o “Segundo Tratado Sobre o Governo”, que foi publicada em 1690. Essa obra antecede o que aconteceria em termos políticos, sociais e culturais com certos povos insatisfeitos com seus regimes de governo.

Harwood (2013, p. 76) ao estudar Locke como um pensador político, a firma que ele “[...] defendia a ideia de um contrato social entre os cidadãos e o Estado, argumentando que aqueles tinham o direito de se rebelar contra uma decisão do governo sem seu consentimento”. Seus argumentos repercutiram de forma decisiva na formação do pensamento da época, quando afirmava que “[...] a soberania, em última análise, estava no povo”.

Em relação à liberdade, sua afirmativa reside no sentido de que, “[...] ao nascermos, já somos livres e racionais, embora não tenhamos de fato o exercício da razão ou da liberdade; a idade que nos traz uma coisa traz-nos também a outra”. “[...] O filho é livre pelo direito do pai, pelo entendimento do pai que terá de dirigi-lo até que tenha o dele próprio” (LOCKE, 2011, p. 47). Significa dizer que a primeira fase da educação do filho começa pela família. A lições de educação sobre a liberdade como condição humana, vai depender da situação civil que o pai se encontra. Se ele é livre do jugo de terceiros poderá mostrar isso a seu filho, a partir da sua experiência de vida e criar as condições para que o mesmo construa a liberdade de acordo com sua vontade.

Para o autor (2011, p. 48), “[...] a liberdade do homem e a liberdade de agir consoante à própria vontade baseiam-se no fato de possuir ele a razão bastante

para instruí-lo na lei44 que terá o seu rumo, dando-lhe a saber até que ponto estará ao sabor da própria vontade”.

Dessa maneira, a família se constitui numa escola doméstica, cuja responsabilidade do pai é educar o filho para a razão, proporcionando assim, a condição de ser livre para sua vontade. Mas, de acordo com o pensamento de Locke (2011, p. 48) “Soltá-lo ilimitadamente para ser livre conforme a natureza não significa conceder-lhe o privilégio de ser livre conforme a sua natureza, mas sim atirá-lo entre os brutos e abandoná-lo numa condição tão miserável e tão subumana como a destes”.

Significa que a autoridade do pai sobre o filho determina um campo obrigacional daquele sobre este. No entanto, educar o filho para respeitar e agir de acordo com a lei, para que sua liberdade seja fundamentada na razão, não significa que o seu descumprimento seja fator de aplicação da pena capital, por parte do pai. Essa é uma tarefa do Magistrado. O papel da escola doméstica é de que o pai seja um educador repleto de ternura e afeto para com o filho, cuja responsabilidade é criar as condições necessárias para a razão humana, até atingir a sua maioridade (LOCKE, 2011) e, posteriormente, construir sua liberdade e exercer suas vontades.

Locke (2011) alerta para uma situação emblemática, sobre o processo de educação dos pais, para com os filhos. Esse poder de mando não pode estender-se além da menoridade, pois ceder ao poder de mando do pai é uma situação natural dos filhos, que já estavam acostumados desde sua infância, reportando-se como se fosse um juiz, ou um monarca. Esse processo lento e gradual seria a condição para, ao longo do tempo, os pais naturais tornarem-se monarcas políticos, deixando herdeiros capazes de exercer o mesmo nas gerações futuras. Dessa forma, estar- se-iam lançando as bases para os reinados consanguíneos ou eletivos de acordo com as circunstâncias.

A educação dos filhos até atingirem sua maioridade, para que possam ser homens livres no exercício das suas vontades num contexto social além da família, levando em consideração os rumos da lei, parece ser uma condição para a razão humana e mostra claramente o papel a ser exercido pelos pais, na construção de

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Por essa concepção, os homens já nascem livres, fazendo uma alusão Aristotélica. São livres para pensar e agir de acordo com sua vontade e arbítrio. No entanto, cabe aos pais como primeiros educadores dos seus filhos, instruí-los no sentido de que a sua liberdade e a vontade de agir devem ser guiadas pelos rumos que a lei vai determinar.

uma sociedade livre, soberana, autônoma e democrática desde o seio familiar, proporcionando condições ao exercício das liberdades.

Portanto, com sua forma de pensamento, Locke traz contribuições importantes para as bases de uma educação ambiental republicana centrada na formação de indivíduos livres e autônomos para exercer suas vontades, num contexto social e político pautado pela lei republicana. Sua preocupação com a educação familiar é um prenúncio do que vem a ser discutido posteriormente, quando segue o debate sobre a educação na modernidade, servindo de fundamento para os pensadores que vão discutir as bases para a educação republicana.