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A Escada de Jacó

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 115-118)

A União das Grandes Lojas na Inglaterra em 1813 levou a uma boa dose de reflexão acerca do simbolismo maçônico, e muito em relação aos "hieróglifos" da Maçonaria, tal como se apresentam naquelas que hoje chamamos de Tábuas de Delinear. Isso envolveu a completa e final divisão dos símbolos dos três Graus em grupos separados e em diferentes Tábuas de Delinear. Isso não significa que, antes disso, não havia símbolos que eram tidos como peculiares a determinado Grau, mas existia certa confusão em determinados lugares quanto ao lugar onde eles mais se adaptariam. No entanto, nunca apareceram quaisquer diagramas oficiais das Tábuas de Delinear, embora houvesse, pelo menos de forma sem i- oficial, descrições sobre os símbolos que deveriam integrá-las - e muitos desses símbolos tinham uma história na Maçonaria que remontava à Antiguidade. O único desenho oficial publicado foi o do Certificado da Grande Loja que começou a ser usado em 1819 e está baseado no tipo de Tábua de Delinear do Primeiro Grau em uso àquela época. Esse famoso Certificado "basilar" teve a parte central do desenho da Tábua de Delinear deixada de lado, de forma a dar espaço ao texto. É exatamente esta parte central da Tábua de Delinear que ilustra um pedestal com um círculo. Sobre este pedestal está o Volume das Sagradas Escrituras "apoiando a escada de Jacó, cujo topo alcança o Céu". Normalmente, esta Escada é composta de três "lances", e o seu topo desaparece numa nuvem, ou numa glória de luz, com o Sol, a Lua e as sete Estrelas situadas ao redor.

Em sua obra Signs and Symbols, o dr. Oliver fez comparações com os mistérios em outras partes do mundo, e expressou certa surpresa com o fato de o simbolismo maçônico da escada apresentar três lances principais, enquanto em todos os demais casos ele constata serem sete lances. Ele fala, por exemplo, de sua análise sobre os mistérios hindus:

A escada com sete degraus era usada nos mistérios hindus para ilustrar a aproximação da Alma à perfeição. Os degraus eram normalmente chamados de "portões". O significado é, sem dú

vida, o mesmo, pois podemos observar que Jacó, em referência ao lance inferior de sua escada, exclamou: "esta é a Casa do Senhor, e o 'Portão' do Céu". Aqui podemos encontrar a noção de ascender ao Céu por meio da prática da Virtude Moral, descrita pelos patriarcas hebreus e por uma remota nação idólatra sob o conceito de uma "escada", donde podemos concluir tratar-se de um símbolo maçônico.

Certamente é verdade que, em alguns outros aspectos da Maçonaria, uma escada de sete degraus pode ser encontrada. Em todos os antigos sistemas maçônicos, podemos encontrar em alguns lugares tentativas de mostrar o positivo progresso obtido ao elevar-se acima do chão e surge alguma confusão entre usar uma escada ou uma escadaria para ilustrar isso, bem como quanto à quantidade e significado dos degraus envolvidos. Nas preleções atualmente em uso, os três principais degraus - a Fé, a Esperança e a Caridade são descritos simplesmente como principais degraus entre muitos outros, sem mencionar quantos seriam eles. Como os números se tomaram associados com os Graus, o número "três" acabou se relacionando ao Grau de Aprendiz, sendo que a Escada acabou se tomando mais usada como um caminho ascendente ligado àquele Grau. No mesmo livro, o dr. Oliver resume o simbolismo maçônico da escada:

Assim as escuras nuvens da ira Divina se dissipam e abrem-se os Céus, passamos a desfrutar de um raio de Sua glória na "Abóbada Celestial da Loja". E, mais que isso, o mesmo Ser Divino nos ensinou como conseguir chegar ao topo da mesma, pelos meios emblematicamente ilustrados por uma Escada composta de três principais "lances", que levam às três virtudes teológicas: a Fé, a Esperança e a Caridade. Passamos agora a analisar a origem, a aplicação e o uso desse símbolo, pelo qual um canal é aberto para comunicação entre a criatura e o seu Criador, com o cativante objetivo de restaurar ao homem aquela felicidade suprema da qual foi privado pela transgressão de Adão.

A utilização desse emblema deve ter se originado na visão de Jacó. Quando o Patriarca, com o intuito de escapar à ira de seu irmão Esaú, fugiu para Padã-Arã (Padán Aram), surpreendido pela noite, adormeceu, tendo a terra como cama e uma pedra como travesseiro, e o nublado dossel celeste como coberta vislumbrou uma escada, cujo pé apoiava-se no lugar onde ele estava, e o seu topo perdido no sutil firmamento. Por esta escada anjos subiam e desciam sem parar para receber as comunicações do Altíssimo que, visivelmente, aparecia acima do mais alto lance da escada para espalhar as suas divinas atribuições sobre toda a terra. Aqui Deus graciosamente condescendeu em firmar um pacto específico com o adormecido Patriarca. Este ficou

assim tão impressionado com os sentimentos de gratidão e devoção que, ao acordar, consagrou aquele local como "a casa de Deus, e Portão do Céu". Conforme a Maçonaria antiga, a escada se apoiava na Sagrada Bíblia, e consistia de três lances "principais", embora a quantidade geral não fosse definida conduziam à Fé, à Esperança e à Caridade, como as virtudes fundamentais que exaltam a Humanidade da terra ao Céu., Temos aqui uma extraordinária coincidência de usos em relação à Escada maçônica existente em todos os lugares do mundo e igualmente aplicável a uma gradual ascensão ao Céu pela prática da Virtude Moral. Entre nós essa prática está fundamentada na forte base da Fé, que é o primeiro degrau da escada e apoiada na Palavra de Deus. Ela produz uma firme Esperança de compartilhar as promessas gravadas naquele Livro Sagrado; e este é o segundo degrau da escada maçônica. O terceiro, ou mais perfeito, degrau é a Caridade, metaforicamente falando, o domínio da felicidade e glória, e a mansão do mais puro e perene deleite e encanto.

O uso da Escada de Jacó dessa forma no simbolismo maçônico parece ter sido resultado dos últimos anos do século XVIII, uma vez que não há menção sobre ela na exposição de Prichard de 1730, bem como em nenhum dos antigos catecismos. Já as Pranchas de Traçar do final daquele século ostentam a escada e as preleções passam a se referir à Fé, à Esperança e à Caridade. Nos desenhos das Pranchas de Traçar mais antigas, as Virtudes são ilustradas nos lances da escada por suas letras iniciais: "F", "E" e "C". Símbolos ilustrando as Virtudes apareceram inicialmente nos antigos certificados ingleses, os precursores do presente Certificado da Grande Loja, e emitidos pela primeira vez na segunda metade do século XVIII. Um trabalho sobre os Certificados da Maçonaria Simbólica Inglesa, preparado por T. O. Haunch, está no Ars Quatuor Coronatorum - voI. 82, onde podem ser apreciadas diversas ilustrações representando as três Virtudes Teológicas. No Certificado outorgado a William Preston pela Lodge of Antiquity n° 1, aparecem três colunas arquiteturais, com as Virtudes representadas em seu topo. Todas trazem figuras femininas: a da Fé, uma cruz; a da Esperança, traz uma âncora; e a da Caridade, cuida de uma criança, ajuda um pobre e um coxo; naquela época não havia qualquer relação com a escada, bem como também não existia qualquer tema semelhante adotado pela Grande Loja dos Modernos numa ilustração que faz parte de seu Livro de Constituições de 1784. O uso da escada apareceu mais tarde, junto com outros símbolos ligados às Virtudes, embora com uma patente conotação religiosa cristã. Também nesta questão, uma vez mais, tal simbolismo era prática comum na época, especIalmente num contexto artístico e arquitetônico, nada havendo de especial em sua utilização na Maçonaria.

Com o advento da União das Grandes Lojas e a resultante decisão de tornar a Maçonaria na Inglaterra não-sectária, sob o ponto de vista religioso, muitos esforços foram encetados quando foi definido que as novas Tábuas de Delinear deveriam conter símbolos não associados com o Cristianismo. Não existiam desenhos oficiais, e foi deixado ao bel-prazer dos artistas a sua criação de tal forma que, embora um Livro tenha sido usado durante um certo tempo para representar a Fé o que fez com que as três figuras femininas desaparecessem, as Tábuas que vieram mais tarde muitas vezes voltavam à Cruz. Outros dispositivos também apareceram. Josiah Bowring desenhava Tábuas de Delinear pouco tempo antes da União e adotou a prática de pendurar uma chave na Escada - representando aquela "Excelente Chave", e não como uma das Virtudes - enquanto, para representar o Céu no topo da escada, alguns artistas ilustrassem o Santo Graal sendo levado ao Céu por uma mão que, novamente, era um retorno a um símbolo cristão. Alguns artistas que vieram depois copiaram esses Símbolos, muitas vezes sem entender o significado e, em alguns exemplares, o Graal aparece representando a Caridade, uma vez que não há nenhum outro símbolo para isso e a chave aparece como um lance adicional.

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 115-118)