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As Luzes Menores

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 144-151)

A natureza das Luzes Menores e as suas posições na Loja já foram abordadas ao descrevermos a própria Loja. Desde os mais antigos catecismos as Luzes se referem a posição do Sol, tanto com o um lembrete de ser o tempo fugas e o dia regular, como a luz material para ser usada na leitura das Escrituras. A denominação de “luzes menores" surgiu mais tarde na Inglaterra, associando a Preleções dos Antigos, as referências que constam nos antigos catecismos e nas posteriores Preleções associando essas Luzes aos Modernos, citam-nas como as Grandes Luzes da Maçonaria (a Bíblia, o Esquadro e o Compasso, sendo os Utensílios da Loja). Aparentemente, em tempos remotos, elas pareciam estar associadas com o Sol, a Lua e o Mestre, sendo dever deste dar a Luz da Instrução a partir do Livro e por meio do exemplo moral do Esquadro e do Compasso.

As Cerimônias

Toda a Maçonaria é baseada em progresso e este acontece em dois sentidos. Em primeiro lugar, está o principal objetivo do progresso: a busca e a constante aproximação, mas a quê? A máxima perfeição, quiçá inatingível nesta vida, mas aproximar-se o máximo possível dessa meta. Talvez a proliferação de Graus maçônicos no século XVIII foi causada pela percepção de que aquela perfeição é inatingível e que, independentemente do quão positivo o progresso do homem é mantido, sempre haverá algo mais a ser feito, e conseguido. No que tange à Inglaterra, seu lugar de origem, a Maçonaria baseou-se em crenças religiosas, de caráter cristão e mesmo da Igreja estabelecida, considerando a Bíblia como o Livro Sagrado. A Maçonaria usava histórias bíblicas nas Cerimônias e nas Instruções, de tal forma que, quando os graus de um novo caráter eram formados ou, mais apropriadamente, "armazenados", cada um poderia extrair de seu tema mais um aspecto do ensinamento ou história da Sagrada Escritura. Assim, ao longo de toda a vida, o dedicado maçom jamais poderia se considerar satisfeito ou saciado, devendo continuar o seu esforço.

Ao longo dos anos que antecederam essa proliferação e mesmo depois dela, para aqueles muitos que se contentavam somente com os Graus da Maçonaria Simbólica, a meta maçônica era a Perfeição do Terceiro Grau, simbolizada pelo velho maçom como aquela estrutura perfeitamente regular, o Cubo. Esse conceito ainda é expresso no ensinamento maçônico por consideração e respeito dado à pedra bruta e à pedra cúbica. Estas são tratadas como as Jóias Fixas da Loja e, hoje em dia, explicadas no Primeiro Grau. Porém, a dedução e conclusão aí estão: a pedra bruta representa o Aprendiz, enquanto a pedra perfeita, de perfeita forma e esquadro - ou seja, um cubo, exato em todas as suas proporções - simboliza o maçom no declínio dos anos após uma vida regularmente bem vivida em atos de piedade e virtude.

Esta perfeição do cubo, simbolicamente aplicada ao maçom, é elaborada por meio de uma progressão dos três Graus. O Terceiro Grau é considerado, em algumas antigas preleções ministradas em uma Loja, como a forma simbólica de um cubo - uma vez que era este o formato do Sanctum Sanctorum do Templo do rei Salomão, tal como nos descreve a Bíblia. As suas dimensões estão resumidas em uma das antigas preleções do Terceiro Grau:

Qual era o seu comprimento? Sessenta côvados. Qual a sua largura? Vinte côvados

Qual a sua altura? - Trinta côvados, mas vinte côvados

de comprimento na parte oeste com uma altura de vinte côvados.

Como se chamava aquele lugar? - O Sanctum Sanctorum ou Santo

dos Santos.

O pórtico de entrada estava localizado no leste e levava ao edificio principal, cujo traçado tinha o formato de um duplo quadrado e na parte do fundo, no oeste, possuía um aposento de vinte côvados de comprimento, de altura e de largura, formando um cubo. Assim, os três graus podem ser vistos como um progresso, partindo da parte externa do pórtico, pelas várias partes do Templo, em direção àquele cubo da perfeição, no fundo.

A Enciclopédia Judaica (Keter, Jerusalém, 1971) compara as referências bíblicas e acrescenta outras notas. Ela estabelece que os Templos cananeus originais daquele período e mesmo antes dele, possuíam apenas uma entrada ou átrio. O Templo construído pelo rei Salomão, nesse aspecto, era diferente; além de sua principal entrada, ele tinha outras estruturas em cada lado. Isso significava que o Templo possuía três diferentes aposentos: 1) o pórtico ou entrada (‘ulam), 2) a sala principal para o Serviço Divino (hekhal), e 3) o Santo dos Santos (devir). A planta assim apresentada destaca a tríplice natureza da construção e a progressão partindo do Pórtico ou Entrada, até o Santo dos Santos. As dimensões variam um pouco daquelas apresentadas nas Preleções, mas o formato cúbico do Santo dos Santos é igualmente frisado. O segundo aspecto do progresso é em relação aos acontecimentos ocorridos durante a jornada rumo à perfeição. Isso pode parecer bastante análogo ao tema do Pilgrim's Progress, mas este livro é um produto dos primórdios do desenvolvimento da Maçonaria Especulativa. Esta, possivelmente, tenha sido a moda daqueles tempos, ou John Bunyan (1628-1688

com seus textos, pode ter influenciado o desenvolvimento, da mesma forma que tantos autores fizeram mais tarde. Existem eventos simbólicos ao longo da caminhada pelos Graus, que proporcionam lições a serem extraídas que, se aprendidas, levarão o maçom para mais próximo da perfeição buscada. Este aspecto fica bem mais claro nas cerimônias realizadas no século XVIII do que nos dias de hoje. Certamente, cada um dos Graus pode ter um objeto intermediário próprio, cada um fazendo com que o maçom seja parte da estrada que deve percorrer. Sobre esse desenvolvimento das cerimônias, William Hutchinson assim escreveu:

Não há dúvida de que as nossas cerimônias e mistérios derivaram dos ritos, cerimônias e instituições dos antigos, e alguns deles vêm das mais remotas épocas. A nossa moralidade é deduzi da das máximas dos filósofos gregos, e aperfeiçoada pela revelação cristã. Os instituidores desta sociedade tinham os olhos voltados ao progresso da religião, e a simbolizavam, tanto no primeiro estágio como no avanço dos maçons. O reconhecimento do Deus da Natureza forma o primeiro estágio de nossa profissão; o culto a Deus sob a lei judaica está descrito no segundo estágio da Maçonaria; e a graça cristã é distinguida na última e mais elevada ordem.

É extremamente difícil rastrear, com segurança, a exata origem de nossos símbolos ou de onde vieram nossas cerimônias ou mistérios.

Hutchinson escrevia sobre as cerimônias de sua época que, na Inglaterra, foram mais tarde adaptadas para o propósito de acomodamento e uniformidade às bases hoje em uso, mas mostra que esta progressão já existia e não por acaso.

No curso das antigas cerimônias, os candidatos eram levados a desfilar ao redor da Loja, algumas vezes fora da assembléia, pois existem várias referências a deparar-se com obstáculos "atrás do" Mestre ou Vigilantes, e algumas vezes no "interior". Isso acabou se tornando parte dos procedimentos da progressão ritualística, pois a progressão era sempre feita no sentido horário - que trazia o candidato da escuridão do Norte, passando pelo leste e, através do Sul, de volta ao oeste3• A quantidade de perambulações - ou, mais adequadamente,

circungiros - variava de um Grau para outro e dava-se numa progressão de número crescente ou decrescente. Isso era combinado com o elemento de teste ou prova incluído nas cerimônias e possibilitava aos presentes não apenas testemunhar a prova, mas também reconhecer o candidato como sendo

3. A Maçonaria se desenvolveu no Hemisfério Norte, e o movimento aparente do Sol foi adotado pela Maçonaria com os parâmetros daquele hemisfério.

aquele a quem a cerimônia estava sendo dedicada. Há algo referente a isso na Exortação que o Mestre da Loja faz aos Irmãos antes da perambulação do candidato: " ... a fim de mostrar que é um candidato ... "

ou, tal como consta nas antigas preleções: " para que todos os Irmãos presentes possam ver que eu era o candidato ".

É possível que alguns detalhes intermediários dos Graus de antigamente tiveram de mudar com o tempo e com o desenvolvimento da Maçonaria, particularmente quando este se dava em duas Grandes Lojas separadas. Isso também foi afetado pela deliberada reestruturação ocorrida na Inglaterra no que tange às cerimônias em decorrência da fusão das duas Grandes Lojas, em 1813. Uma versão das antigas preleções do início do século XIX nos dá uma boa noção acerca desta questão:

Quantos são os diferentes Graus na Maçonaria?

- Três que, geralmente, são recebidos sob diferentes nomes, com privilégios distintos em cada um deles e determinados meios adotados para preservar tais privilégios ao justo e ao merecedor. A Honra e a Probidade são as recomendações feitas à Primeira Classe na qual a prática da Virtude é enfatizada e o dever da Moralidade é inculcado, enquanto a mente é preparada para a conversão social e um constante progresso nos princípios do Conhecimento e da Filosofia.

Aplicação, assiduidade e zelo são qualidades que habilitam a Segunda Classe, na qual um correto esclarecimento da Ciência, na teoria e na prática, é dado. O raciocínio humano é cultivado por uma adequada aplicação dos nossos poderes racionais e intelectuais; são apresentadas belas e difíceis teorias, novas descobertas são feitas, e mesmo aquelas já conhecidas são graciosamente embelezadas.

A Terceira Classe é reservada àqueles poucos cuja Fidelidade e Dedicação os distinguiram. Àqueles cujos anos aperfeiçoaram sua experiência, e cujos méritos, capacidade e talentos habilitaram-nos à promoção. Com eles, os antigos Landmarks da Ordem estão preservados, e com eles podemos aprender e praticar aquelas tão necessárias e instrutivas lições, que sempre dignificaram a Arte e qualificaram seus detentores a convencer os não-instruídos acerca de sua excelência e utilidade. Eis o modo estabelecido de nossa direção quando agimos em conformidade às nossas normas e regras, a partir daí a verdadeira Fraternidade é cultivada entre as diferentes classes e graus dos homens, a Hospitalidade é estimulada, a Atividade é recompensada, e a Engenhosidade é incentivada.

Esta passagem é uma adaptação feita pelo compilador dessa versão das Preleções na obra Illustrations of Masonry, de William Preston, e

ilustra o tipo de empréstimo que ocorreu nesse desenvolvimento, fazendo com que esses trechos fossem acomodados nos trabalhos das Lojas. Um empréstimo de um tipo diferente é mostrado na passagem seguinte, extraído dos textos do dr. Oliver. Ele tomou o conceito básico do separado significado dos Graus da passagem de William Hutchinson mencionados há pouco, embora Oliver estivesse escrevendo sobre as Cerimônias que eram realizadas após os rearranjos introduzidos com a União das duas antigas Grandes Lojas:

O primeiro passo dado por um Candidato ao entrar numa Loja maçônica o ensina a perniciosa propensão para o deísmo e para a infidelidade; e mostra-lhe que os fundamentos sobre os quais está Maçonaria são a crença e o reconhecimento de um Ser Supremo, o Criador e o Governador do mundo, acompanhados de uma confissão de que é somente Nele que poderá, com toda segurança, depositar uma cega confiança para proteger os seus passos em todos os perigos com os quais poderá se defrontar em sua caminhada nos labirintos do bem e do mal que abundam este mundo, na certeza de que se a sua fé estiver firmemente agarrada naquele Ser Supremo, certamente nada terá a temer. Em relação a esta fé, o Primeiro Grau da Maçonaria o ensina que as suas ações devem ser esquadradas pelos preceitos contidos na Bíblia Sagrada, cujo constante estudo é veementemente recomendado. Ela nos incita à prática dos três deveres da Moralidade: para com Deus, para com o seu semelhante e para consigo próprio. Ela nos lembra do valor do tempo, por meio de um Emblema que assinala a divisão do dia em vinte e quatro partes iguais e é inculcada em sua mente a absoluta necessidade de, regularmente, reservar parte deste tempo para o trabalho, para o descanso e para a adoração ao seu Criador. Ela lhe ensina as Três Virtudes Teológicas (a Fé, a Esperança e a Caridade) e as Quatro Virtudes Cardeais (a Justiça, a Prudência, a Temperança e a Fortaleza); indicando-lhe a necessidade de cultivar o Amor Fraternal, a pedra fundamental, a glória e o cimento da Instituição; ela o incita ao dever de aliviar as necessidades de seus semelhantes com as superfluidades de sua própria essência e, em todos os lugares, em todas as ocasiões, manter-se estritamente fiel, como um grande e efetivo meio de agradar a Deus. Estas são todas emanações da fé que o Candidato declara ao ser Admitido. Nós temos Três Luzes em nossas Lojas. O que elas assinalam? Elas se referem aos três preceitos do Profeta Miquéias, que nós, como Maçons, temos a obrigação de agir com justeza em todas as transações da vida: a amar com Misericórdia e a caminhar com Humildade com nosso Senhor.

Nos cingimos de branco, como um Emblema da Inocência e da Integridade que deve sempre distinguir um maçom Livre e Aceito. Todas as nossas Jóias têm uma tendência Moral e não existe qualquer imagem, letra ou caractere na Maçonaria que não destaque algum dever Moral ou Teológico.

Ao passarmos para o Segundo Grau, o primeiro objeto que nos surpreende é o Símbolo de um Deus Eterno, que haverá de, por todo o sempre, nos recompensar ou punir conforme as nossas ações e nossos atos. Neste Grau, nós somos solenemente lembrados de que o Olho da Providência que Tudo Vê observa as nossas ações e atos, e registra cada palavra e pensamento impróprio, pelos quais haveremos de responder no Dia do Julgamento. A Estrela neste Grau denota aquela aparição sobrenatural no Céu que orientou os sábios do Oriente até o local onde o Deus Encarnado estava preparado para receber as ricas oferendas de sua adoração.

Quando o véu do Terceiro Grau é levantado, nos deparamos com uma série de fatos históricos e cerimônias que ilustram muitas passagens das Escrituras judaicas e se referem às Verdades de nossa sagrada fé. Este é, de fato, chamado de um Grau Sublime, pois contém a essência da Pureza e da Luz.

Este Grau tem uma referência à revelação cristã, quando o dia da Salvação é mais plenamente revelado, a expiação do pecado é feita e a Ressurreição do morto plenamente comunicada e confirmada pela Ressurreição do Cristo de sua sepultura.

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 144-151)