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A Letra "G" e o Esquadro

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 100-104)

Um dos mais interessantes sinais do uso original da letra "G" relacionados à Maçonaria surge em relação à forma do Esquadro. No Capítulo sobre os Instrumentos de Trabalho, diversos autores são citados sobre o verdadeiro formato do Esquadro quando usado em relação à Maçonaria. Parecem existir diversas opiniões que dizem que um Esquadro com braços de diferentes comprimentos foi o usado nos primórdios da Maçonaria, enquanto parece não restar dúvida de que aquilo que é conhecido por esquadro de uma "forca," já esteve em uso popular - (f. 1. S. M. Ward, em An Interpretation of Our Masonic Symbols, destaca que o formato do Esquadro tem, exatamente, o da letra grega "gama", equivalente ao "g" do alfabeto romano e, mais, que na escrita Eclesiástica usada na Europa Medieval, este exato formato de esquadro de uma forca era usado para representar a letra "G" (isto em letra maiúscula e não em minúscula). Ward também concorda com a opinião de Sir lohn Cockburn, de que o Esquadro e a letra "G" eram ilustrados nas Lojas antigas com o mesmo formato. Cockburn é citado com a opinião de que foi a letra "G" que os antigos maçons queriam representar, simbolizando Deus, e assim eles usavam esse formato de esquadro de cadafalso para representar aquela letra. Igualmente simples, podia ser que os antigos maçons quisessem mostrar o Esquadro como o principal Instrumento moral da Arte e que, assim, ele também representaria a letra "G" para a Geometria. Qualquer que tenha sido a situação, ela poderia muito bem ter algum fundamento para a proposição de Ward ao dizer que, se uma Loja for mobiliada de forma absolutamente correta, em concordância à tradição original colocando o Símbolo no centro da Loja, seja pendente do teto ou colocada no Pentágono sobre o chão, ele deve ter o formato de um [f - um esquadro de forca.

Um dos mais completos estudos feitos sobre este Símbolo está em The Letter G, de Harry Carr, no Ars Quatuor Coronatorum, vol. 76. Carr remonta as primeiras referências a ele em Masonry Dissected, de 1730, por Prichard, que também é a primeira referência de qualquer tipo feita a um sistema de três Graus, em vez de um de dois Graus. Para Prichard, a letra "G" é um Símbolo do Segundo Grau e se refere à Geometria. Referências

posteriores o tem posicionado no centro e observa-se uma ampla confirmação de sua existência, na década de 1740, como o Símbolo que convertia a Loja em Loja de Companheiro, e estava associado a uma Estrela Flamejante ou, tal como Hutchinson a descreve, associado a uma glória. Na apresentação satírica em Scald Miserables, publicada pela primeira vez em 1741, há uma referência à letra "G" como sendo o item que converte uma Loja em Loja de Companheiro. Quando lohn Coustos foi interrogado pela Inquisição em Portugal, em 1743, ao descrever a Loja, assim disse:

O piso da dita Loja tem um desenho feito em giz branco, no qual estão configurados diversos contornos servindo de ornamentos, junto com uma estrela flamejante que tem em seu interior, no meio, uma letra "G", que significa a Quinta Ciência da Geometria, à qual todos os Oficiais (Obreiros?) e Aprendizes deveriam aspirar.

A tradução é feita a partir dos próprios registros da Inquisição, sendo a mesma usada pelo dr. Sidney Vatcher em seu texto sobre lohn Coustos. A palavra "Oficiais" parece ter sido usada de forma bastante coerente nas traduções feitas ao inglês, nas quais nós teríamos usado "Obreiros" ou "Companheiros". Como Coustos morara em Lisboa por até dois anos, e antes disso passara algum tempo na França, ele se referia à prática inglesa da década de 1730. Tem se insinuado que ele estava fazendo confusão com a prática da França naquela época, embora, quanto a isso, parece ter sido a mesma da Inglaterra. Seja como for, nos Ritos que derivaram da Maçonaria Francesa daquela época e pouco depois, a letra "G", normalmente no interior de uma Estrela Flamejante, ainda pode ser encontrada como um Símbolo característico do Segundo Grau. Mais adiante, naquele século, William Preston também se refere ao uso da letra "G" em uma Loja de Companheiro, mas a posiciona no centro da "cobertura" (Abóbada) assim sugerindo que era prática de alguns "suspender" a letra "G", desde o princípio do século XIX.

O dr. Wynn Westcott sugere que a origem da letra "G" foi Gimel, a terceira letra do alfabeto hebraico e, assim, representando o "Três" - pela Trindade e, portanto, sua representação de Deus. Carr também menciona outros que tecem comentários acerca daquela letra hebraica; mas algumas dessas explicações parecem um pouco rebuscadas demais.

Geometria

Esta ênfase sobre a Geometria e a colocação de Deus como o Grande Geômetra na posição mais elevada dos primeiros dois graus, assinalam a importância dada por nossos antigos Irmãos à Geometria na estrutura da Maçonaria Especulativa. A mesma versão das preleções dadas por Browne nos diz que:

A Geometria é a origem da Matemática, e os alicerces da Arquitetura, compreendendo a doutrina de tudo aquilo ~e esteja sujeito ao aumento ou diminuição; portanto, não apenas o ponto, a linha, a superfície e o sólido vêm ao nosso estudo, mas também o tempo, o espaço, a velocidade e a magnitude em geral. Pelo estudo adicional desta Quinta Ciência, sobre a qual a Maçonaria está fundamentada, somos levados a meditar sobre as inigualáveis obras do Supremo Grande Geômetra deste vasto Globo Terrestre.

As primeiras edições do livro Il!ustrations of Masonry, de Preston, foram publicadas quase que na mesma época em que Hutchinson estava escrevendo. Preston incluiu uma Vindication of Masonry fundamentada, segundo dizia, num discurso composto por Charles Leslie e por ele proferido por ocasião da Consagração da Vernon Kilwinning Lodge, em 1741, em Edinburgh. Dele consta o seguinte trecho, que passou a ser adotado, quase tal como no original, na preleção-padrão do Segundo Grau:

A Geometria, a primeira e mais nobre das Ciências, é a base sobre a qual a superestrutura da Maçonaria está construída. Pela Geometria, nós podemos seguir os caminhos da Natureza em seus vários caminhos, até os mais profundos recônditos. Assim como, pela Geometria podemos descobrir o Poder, a Sabedoria e a Bondade do Grande Artífice do Universo, e ver com deslumbrante deleite as maravilhosas proporções que conectam e embelezam esta enorme máquina. Por seu intermédio podemos descobrir como os Planetas se movimentam nas diferentes órbitas, e matematicamente demonstrar suas diversas revoluções. Por ela podemos, racionalmente, calcular os ciclos das Estações, e a mesclada variedade de cenários que elas oferecem ao olho atento. Existem incontáveis mundos ao nosso redor, todos arquitetados pelo mesmo Divino Artista, que se deslocam pela vasta imensidão, todos regidos pela mesma infalível lei da Natureza. Como devemos, pois, melhorar? Com quais grandes idéias tal conhecimento deve ocupar as nossas mentes? E quanto exige ela da atenção de todos os seres racionais?

Uma observação da Natureza e de suas maravilhosas proporções foi o que primeiro fez com que o homem tentasse imitar o Plano Divino e estudar sua simetria e ordem. Isso deu início às sociedades, e fez nascer todas as Artes. O Arquiteto começou a desenhar, e os planos que produziu, melhorados pela experiência e pelo tempo, produziram algumas daquelas excelentes obras que eram a admiração das gerações vindouras. Assim, desde o começo do mundo, podemos traçar a fundação da Maçonaria.

Desde quando a Ordem se iniciou e a harmonia mostrou os seus encantos, assim tem sido. Durante muitas eras, e em vários países, ela floresceu. Nenhuma Arte, Ciência a precedeu. Nos períodos sombrios da Antiguidade, quando a Literatura estava em baixa, e as maneiras grosseiras e rudes de nossos antepassados retiraram dela o conhecimento que agora, de forma tão ampla, compartilhamos, a Maçonaria começou a espalhar a sua influência. Revelados os mistérios desta Ciência, as Artes surgiram instantaneamente, veio a Civilização, e o progresso do Conhecimento e da Filosofia gradualmente dissipou a escuridão da ignorância e do barbarismo. O Governo se estabeleceu, a autoridade chegou-se às leis e as assembléias da Fraternidade obtiveram o patrocínio dos grandes e dos bons, enquanto os princípios da profissão eram observados com geral e irrestrita aplicação.

W. L. Wilmshurst assim escreve sobre a Geometria:

A Geometria era uma das "Sete Nobres Artes e Ciências" da Filosofia antiga. Ela significa, literalmente, a Ciência da mensuração terrestre. Porém, a "terra" dos antigos não significava, tal como para nós, este nosso planeta físico. Ela simbolizava a substância primordial, ou a indiferenciada coisa da alma a partir da qual nós, seres humanos, fomos criados, a "mãe-terra" da qual todos brotamos e à qual devemos, sem dúvida, retomar. As Escrituras nos ensinam que o homem foi feito do pó da terra, aquela terra ou substância fundamental de seu ser, que deve ser "mensurada" no sentido de investigar e entender a sua natureza e as suas propriedades. Nenhum construtor competente ergue uma estrutura sem que antes se satisfaça sobre a natureza dos materiais com os quais ele se propõe a construir e na "Real" ou especulativa e espiritual Arte da Maçonaria nenhum maçom pode construir o templo de sua própria alma sem que antes compreenda a natureza das matérias-primas com as quais pode contar para a sua obra.

Portanto, a Geometria é sinônimo de autoconhecimento, a compreensão das substâncias básicas de nosso ser, as suas propriedades e as suas potencialidade. Nos antigos Templos da iniciação aparecia a inscrição: "Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o Universo e Deus". Esta é uma frase que implica, em primeiro lugar, que o homem não-lniciado não tem conhecimento de si próprio e em segundo lugar que, quando conseguir esse conhecimento, ele entenderá que não é mais o indivíduo distinto e separado que supõe ser, mas que é um microcosmos ou um resumo de tudo aquilo que está e que será identificado com o Ser de Deus.

A Maçonaria é a Ciência da realização daquele conhecimento supremo e, assim, corretamente considerada como fundada sobre os princípios da Geometria, como tal definida.

Explanação do Frontispício do Livro das Constituições

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 100-104)