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As Vestimentas Maçônicas

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 166-172)

"Tendes feito um bom trabalho; vós e vossos homens de avental." Este é um trecho extraído da obra de William Shakespeare,

Coriolano, Ato 4, Cena VI; certamente, esta deveria ser a investidura honorífica de todo Mestre de uma Loja. A vestimenta envergada pelos maçons em Lojas subordinadas à Constituição Inglesa segue uma concepção básica estabelecida pelos Grupos de Trabalho e aprovada pela Grande Lojas Unida da Inglaterra em 1814. A necessidade de haver uma uniformidade no uso das vestimentas foi criada pela União das duas Grandes Lojas em dezembro de 1813. A decisão abrangia o tamanho, o formato, a decoração e as cores dos aventais, dos colares e das jóias de oficio. Certamente, podemos observar algum desenvolvimento desde aqueles tempos, porém sem maiores mudanças substanciais. Vez ou outra, surgiu a necessidade de acrescentar outras vestimentas e Jóias, especialmente quando novos ofícios foram criados. Mas este não foi o início das distintivas vestes maçônicas a serem envergadas em Loja. A origem remonta aos nebulosos tempos da Antiguidade, tanto no que se refere a produzir uma insígnia distintiva aos maçons, como para produzir diferenças reconhecíveis quanto ao Grau ou oficio, pois, tal como nos diz a preleção, "as distinções entre os homens são necessárias para que seja preservada a subordinação". Em outras palavras, deve haver um gerenciamento - "Assim é a natureza de nossa Constituição, enquanto alguns precisam necessariamente governar e ensinar, outros devem, certamente, aprender, sujeitar e obedecer". A necessidade de alguma forma de subordinação deve ter exercido alguma influência, pois aqueles eram tempos em que distúrbios políticos e sociais começavam a ser sentidos na Inglaterra. Eram os tempos que

antecederam a verdadeira democracia nos negócios públicos - ainda no mesmo reinado que testemunhou a revolta das colônias americanas. Entre os primeiros esboços de parte do Juramento do Segundo Grau, adotado em 1814 e praticado em alguns lugares, embora tenha sido abandonado em seguida, observamos as seguintes palavras:

... como um Companheiro continuarei a prestar obediência a um Mestre maçom, enquanto ocultarei de um Aprendiz ...

Na sociedade daquela época, o importante era que o homem soubesse qual era o seu lugar e como conservá-lo. Foi sob condições assim que muitos dos nossos procedimentos, usos e costumes de hoje foram inicialmente formulados. Daí a distinção do Grau maçônico sobre a Insígnia.

John Ladd publicou quatro Preleções em 1770 sob o título de The Science of Free-Masonry Explained. Ele reconhecia ter compilado essas Preleções a partir de trabalhos feitos por autores anteriores, de forma que o texto seguinte pode representar o pensamento especulativo existente em meados do século XVIII:

Não é um avental branco, vermelho ou amarelo, ou uma vistosa fita, com uma insignificante Jóia pendurada, que faz com que um Irmão seja considerado ou chamado de um bom maçom; nem é ele quem pode responder por sua vez, e por sua fluência, as perguntas catequéticas, normalmente chamada de trabalho de uma Loja, que merecerá o título de um perfeito maçom, mas também por qualquer coisa que pareça meritório e respeitável à honra e à emulação da Arte é altamente recomendável e deve ser apropriadamente aspirada.

O Avental

Esta básica insígnia de um maçom especulativo foi uma óbvia escolha numa Sociedade moral surgindo de uma que usava tal vestimenta em sua atividade profissional normal. Os nossos antepassados, homens religiosos, procuravam uma justificativa nas Sagradas Escrituras, e encontraram-na em Gênesis, 3. Esta e a menção feita em Deuteronômio, não são as únicas menções feitas a um avental. Existem muitas referências quanto ao uso de um éfode, especialmente pelos sacerdotes hebreus. Tal como nos dão conta diversos autores, o éfode dos sacerdotes era uma espécie de avental feito de linho.

O avental é uma insígnia comum numa sociedade, mas sempre foi usado na Maçonaria com orgulho e originou tantos conceitos e textos quanto qualquer outro símbolo maçônico. Antes de 1814, não havia nenhum desenho padronizado na Inglaterra, normalmente o avental se compunha de uma pele de cordeiro usada de forma conveniente e, nos anos que antecederam

à União de 1813, eram enfeitados ao bel-prazer de quem o usava com Símbolos e hieróglifos maçônicos. A única distinção oficialmente determinada era a adoção de uma cor, normalmente por forro, azul-escuro para os Grandes Oficiais e vermelho para os Grandes Vigilantes. A pele de cordeiro sempre foi branca e, a partir de 1814, continuou branco para o Aprendiz, embora já com um formato definido. Algumas Lojas adotam a prática de ter o Aprendiz usando o avental com a abeta levantada e o Companheiro com a abeta do avental dobrada para baixo. Segundo a Constituição inglesa, esta distinção é desnecessária e não foi pretendida - duas rosetas decoram o avental do Companheiro proporcionando toda a diferenciação necessária. Em algumas Constituições, não existem diferenciações no desenho dos aventais do Aprendiz e do Companheiro, sendo que esse método de manter a abeta do avental levantada ou abaixada é a única

marca de distinção.

A referência feita num Capítulo anterior em Deuteronômio, 15, sobre a decoração dos aventais, indicava um particular Simbolismo no uso de um avental - o de servir como um lembrete para observar os mandamentos de Deus. Diversos autores especulativos tentaram justificar uma posição "levantada" da abeta do avental de Aprendiz ressaltando as lições morais a serem extraídas disso e indicar especialmente: primeiro, a abeta para cima denotando um ingresso sem plenitude, enquanto a abeta abaixada para o Companheiro revelando completa aceitação e absorção e, segundo, a importância e significado da antiga filosofia sobre o avental, como seu formato quadrado, representando as coisas materiais, enquanto a abeta, um triângulo, simboliza o espiritual. Assim, a abeta "levantada" denota a necessária supremacia do espírito para o Aprendiz. Nós dizemos que a Insígnia é de inocência, mas os nossos Irmãos de outrora viam isso como de grande significado moral. William Hutchinson, antes de 1770, assim escreveu sobre o avental branco:

Os maçons, como um de seus primeiros princípios, professam a "Inocência" - eles se revestem de um vestuário branco, como um Emblema de seu caráter, que revela pureza d'alma e inocência.

Temos na obra Biographia Ecclesiastica a seguinte passagem:

"Os antigos também tinham o costume de vestir uma roupa branca na pessoa batizada, como sinal de ter abandonado as ambições e luxúrias da carne, tendo o seu ser purificado de seus pecados passados e que se obrigou a manter uma vida de imaculada inocência. Adequadamente, os batizados são considerados, tanto pelo apóstolo como pelos padres gregos, como 'Iluminado', pois declaram tratar-se dos filhos da Luz, comprometendo-se eles próprios a jamais retomar às obras das trevas. Esta vestimenta

esta veste branca e impoluta e exiba-a sem mácula diante do Tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que possa, assim, ganhar a vida eterna. Amém.' Eles costumavam vestir esta peça de roupa branca durante uma semana depois de serem batizados. Depois disso, a tiravam e a deixavam na Igreja, onde seriam guardadas como testemunho a ser usado contra elas, caso violassem a aliança batismal".

Enquanto o avental com o qual nos revestimos denota uma disposição à Inocência e não desvirtua o coração daquele que o enverga, deixemos que o ignorante ridicularize e zombe: acima do escárnio e da malícia do maldoso, nós nos cingiremos no traje de nossa própria Virtude e seguros em nossa consciência, permaneceremos firmes e inabaláveis em meio às perseguições das adversidades.

A vestimenta que verdadeiramente denota a inocência do coração é uma Insígnia muito mais honrosa do que qualquer outra jamais envergada por reis. A Águia Romana, bem como todas as demais Ordens de Cavalaria, são inferiores. Elas podem se prostituir pelos caprichos de príncipes, mas a inocência é algo inato e não pode ser adotada ou adquirida.

Ser um verdadeiro maçom é possuir este princípio ou, caso contrário, a vestimenta que ele enverga será uma infâmia ao apóstata, expondo-o à vergonha e ao desprezo.

Ao refletirmos sobre esta passagem, devemos ter em mente que foi escrita como parte de uma preleção ministrada aos maçons há mais de duzentos anos, quando as condições podem ter determinado as referências feitas, de forma mais realista, ao menosprezo, ao escárnio e à perseguição. Mas as origens de nossas presentes explanações sobre a insígnia são evidentes nesses aspectos, tanto quanto um simbolismo comparativo da iniciação com um batismo ou conversão de um adulto de antigamente e uma conseqüente readoção da inocência, no sentido de libertação do pecado.

O Dr. Oliver, numa preleção publicada em Signs and Symbols, em 1837, especula de uma forma diferente o significado do Avental:

Uma cerimônia fundamental do Primeiro Grau é a investidura do avental - um inequívoco símbolo, que acompanhará cada passo de sua caminhada e evolução. E para que não haja qualquer mal-entendido que venha a dar uma impressão errada ou distorcida com referência à sua aplicação moral, dizemos ao candidato que se trata de um emblema da pureza e da Inocência, de grande antiguidade e inigualável honra.

A grandiosa função do avental é a de destacar uma divisão figurada do corpo humano em duas partes distintas: separando a parte "nobre", onde estão a cabeça e o coração, a razão, a afeição e o amor, das partes corporais mais básicas, que são meramente aplicadas à realização das funções carnais da Natureza. E, enquanto o homem espiritual se mantém ereto e aberto à visão, o homem natural está velado em obscuridade, de forma tal que nenhum obstáculo ou impedimento pode interromper as buscas e a investigações da Maçonaria. O franco-maçom assim revestido é um marcante emblema da Verdade, da Inocência e da Integridade, pois apenas as partes que são as conservadoras e mantenedoras dessas Virtudes são as que devem estar em atividade, enquanto explora os ocultos mistérios da Ciência, nos recônditos de uma Loja.

A seguir, o Dr. Oliver prossegue ao apresentar doze diferentes exemplos extraídos da Bíblia, de uso cerimonial do éfode ou da faixa no quadril, nos quais ele identifica alguma relação. Ele enfatiza a mensagem aos convertidos Cristãos: "Para atarem à cintura de suas mentes, serem sóbrios, e esperarem pelo fim. E para se conservarem firmes na fé, tendo as suas cinturas atadas com a Verdade". Oliver vai ainda mais além discorrendo sobre outros usos de aventais que encontrou nos antigos Mistérios e, apesar de tomado emprestado, ele inclui uma paráfrase de um trecho da preleção de William Hutchinson citada anteriormente e conclui com uma exortação:

A vós, Irmãos, que estais cingidos com esta grandiosa Insígnia, não devo recomendar uma sistemática fidelidade a todas as Virtudes que ela representa. Em vossa Iniciação, vos foi dito que se esperava de vós que, a partir do momento em que fostes revestido com o avental, a Inocência de conduta e a Pureza de coração passassem a ser vossa característica peculiar. Seria necessário que eu acrescente que a Maçonaria espera de vós uma total obediência a seus preceitos se quiserdes compartilhar de seus benefícios peculiares?

Em outra preleção, Oliver tenta mostrar uma razão para as cores usadas nos forros e nas bordas dos aventais. O azul-escuro e o vermelho foram, desde há muito, as cores estabelecidas para os Grandes Oficiais e Vigilantes, mas, até 1814, outros aventais eram totalmente brancos, e assim a adoção da cor azul-clara nas bordas dos aventais do Mestre Maçom e dos Mestres instalados foi um ato deliberado de 1814. Naquela época, o Dr. Oliver já era um maçom há mais de dez anos (ele foi Mestre de Loja em 1815) e por isso ele pode ter conseguido a informação direta. Seja como for, ele aponta que as três cores seguem as mesmas cores dos véus do

Templo: azul, púrpura e escarlate:

Ou melhor, azurita (azul-celeste), púrpura e carmim. O nome original para a primeira é Tehelet, que é traduzido por hyacinthum, em referência à pedra preciosa de mesmo nome, tal como a safira, acreditava-se antigamente que essa pedra, segundo o testemunho de Oleaster, Tostatus Lyranus e outros doutos, possuía a cor de um céu Iímpido e sereno. A segunda, Argaman, significa púrpura; originada de Ragam, ou "príncipe", que se destacava por seus mantos púrpuras. E a terceira Tolaghath shani. A primeira palavra quer dizer "verme", tal como no Livro de Salmos, 22:6, que foi traduzida por coccinum, de cocus, que tanto corresponde a escarlate como carmim ou carmesim; e shani vem da palavra shanals, traduzida por "duplo" ou "dobro". Daí, a frase significa a cor carmim duplamente aplicada.

W. L. Wilmshurst comenta como cada sucessiva mudança no status de um maçom acarreta modificação também em seu avental. Ele vê isso ainda como uma imagem da própria pessoa, mas relaciona-o a todas as criaturas em diferentes posições progressivas numa mesma trilha, em que nós vemos numa Loja todos os presentes envergando diferentes aventais. Destaca que, assim como ninguém deverá entrar no Céu sem envergar uma "roupa de casamento", nenhum maçom adentrará uma Loja sem estar revestido dessa distintiva Insígnia de qualificação, por meio da qual proclama a sua Fraternidade e Amizade. Ele nos incita para que todos imaginemos estar vestidos com o avental todo o tempo, inspirando-nos em nossas vidas cotidianas.

O autor que escreve sobre o avental em Leaves from Georgia Masonry faz uma reflexão acerca de seu formato quadrado e triangular:

Levantando a abeta do avental veremos um triângulo apontando para cima e um quadrado. Nesse sentido, o quadrado do avental simboliza a matéria, a matéria física, a terra e os apetites e paixões que dizem respeito ao corpo físico. O quadrado, em seus vários aspectos e formas, tem muitos outros significados que o maçom aprenderá quando assim lhe for apropriado. O triângulo eqüilátero com o seu vértice apontando para cima simboliza a existência de Deus, enquanto o ângulo reto, tal como neste caso, apontando na mesma direção, significa Deus em ação e suas obras e como o homem é considerado estar entre as suas maiores obras, significa que sua alma é uma centelha de Deus. Algumas vezes isso é representado por uma chama, simbolizando a tripla natureza do homem: o fogo, a luz e o calor, correspondendo à alma, ao espírito e ao corpo - três em um - e a extremidade do triângulo, virada para cima como uma chama, denota a aspiração.

Há outro significado para o avental. O quadrado é usado para simbolizar as faculdades recebidas e o triângulo., os poderes dados. Neste avental vemos a história de nossa vida, mostrando que o que até aqui recebemos é muito mais do que aquilo que demos. A Maçonaria desde há muito tempo descobriu que a felicidade consiste em dar não menos do que recebemos. Até aqui nós recebemos mais benesses e benefícios do que demos, mas, por meio desse Símbolo, nos é lembrado que isso não pode continuar sendo assim. Devemos dar o tanto quanto recebemos. Nós podemos tirar este avental quando saímos do recinto da Loja, mas, simbolicamente, sempre estará por nós vestido e, até o dia de nossa morte, jamais poderemos nos despir da obrigação simbolizada por essa vestimenta. Se a desonrarmos pela desonestidade, maculá-la pela impureza ou por quaisquer outras coisas que sejam imorais, haveremos de nos tomar basicamente indignos, pois estaremos violando nossa mais sagrada promessa e _ agora desde que já sabemos, haverá de ser uma transgressão deliberada - as fundamentais leis da Natureza e de Deus.

O Avental do Mestre

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 166-172)