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A Posição da Loja

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 74-78)

Uma Loja maçônica está sempre posicionada, simbolicamente, do leste para o oeste. Muitos maçons acreditam que o layout da Loja deveria ser, fisicamente, dessa forma e, em seus projetos e desenhos, chegarão a qualquer ponto para conseguir isso, ainda que grandes empecilhos possam se interpor. Sempre que possível, as igrejas cristãs são feitas em consonância a essa condição e devido às origens religiosas da Maçonaria, não resta dúvida que esse aspecto teve alguma influência na prática física das Lojas maçônicas, mas muitos caso podem ser encontrados, em que igrejas foram assentadas em linhas diferentes, quando as disponibilidades assim o

determinaram. Na verdade este não é um problema novo e a ele se faz referência no Livro das Constituições, de 1754, da Grande Loja dos Modernos, editado pelo rev. John Entick. A reconstruída Catedral de St. Paul foi erigida do leste para o oeste, provocando um pequeno ângulo de desvio em seu acesso em Ludgate Hill, questão que acabou acarretando problemas de planejamento em recentes plantas de reconstrução. A Igreja St. Clement Danes, que divide a Strand em Londres, e faz com que o tráfego passe em ambos os lados, também está, por ter sido construí da de leste para oeste, em total alinhamento com o leito da rua. Sobre isso, Entick diz:

Como a aparência da Catedral de St. Paul está prejudicada por seu posicionamento oblíquo em relação à rua que lhe dá acesso, a via pública que atravessa a Strand, absurdamente contraída, também está devido à supersticiosa orientação da Igreja de St. Clement de leste para oeste, deixando de estar alinhada à avenida! Em situações limitadas, as interferências idealistas devem dar lugar à conveniência geral.

Porém, simbolicamente, as Lojas são orientadas do leste para o oeste, com a sua porta de acesso no Oriente. O rev. J. T. Lawrence sugere que, como o Guarda Interno é o Assistente do Segundo Vigilante, encarregado da porta de entrada, esta deveria estar situada ao Sul para que o controle fosse mais adequado à função do Segundo Vigilante, tendo o seu Assistente perto de si. Essa sugestão sobreleva uma mudança observada durante o desenvolvimento das Lojas, introduzida por uma razão totalmente diferente.

Algumas razões para uma disposição leste-oeste estão contidas nas antigas Preleções e ainda continuam fazendo parte delas, bem como na Explanação da Tábua de Delinear do Primeiro Grau - sendo esta uma representação emblemática da Loja. A principal razão é novamente extraída das Sagradas Escrituras, na qual está relatado que o Templo do rei Salomão foi assim posicionado e, mais do que isso, direcionado nesse sentido porque Deus disse a Moisés para assim posicionar a Tenda do Tabernáculo usado pelos israelitas como um lugar de adoração durante sua passagem pelo deserto. Além disso, o rei Davi, a quem Deus não permitiu a construção do Templo, transmitiu ao seu filho Salomão as instruções necessárias, já que a este foi, divinamente, incumbida a edificação. Em Êxodo, 27, estão os detalhes da estrutura do Tabernáculo, o qual tinha o comprimento de 100 côvados num eixo leste-oeste e uma largura de 50 côvados - um quadrado duplo. Num texto de William Hutchinson de 1775, ele cita Josephus, o historiador judeu, sobre o assunto do Tabernáculo e a sua influência nas origens simbólicas de uma Loja maçônica. O Grande Templo de Thomas Sandby para a Grande Loja dos Modernos, consagrado em 1776, tinha a forma aproximada de um duplo cubo - com cerca de 78 pés de comprimento e 38 a 39 pés de largura e de altura.

O Templo do rei Salomão estava orientado no sentido leste-oeste, e era dotado de apenas uma entrada, através do pórtico, ao leste. A maioria dos textos e artigos que tratam do projeto e da disposição do Templo concorda nesses pontos. Em Ezequiel, 8: 16, temos o texto que é freqüentemente citado como fundamento:

E levou-me para o átrio interior da casa do Senhor; e eis que estavam à entrada do Templo do Senhor, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte e cinco homens de costas para o templo do Senhor e com os rostos para o Oriente ...

Embora a Maçonaria tenha mantido o eixo leste-oeste nas Lojas em conformidade com o do Templo do rei Salomão, ela alterou a sua orientação, colocando a entrada da Loja no oeste simbólico. Isso criou uma série de confusões em alguns aspectos da orientação simbólica, particularmente no que se refere à Escada de Caracol que leva à Câmara do Meio que, no Templo do rei Salomão, partia do Sul, logo após o Pórtico, levando ao Oeste. Numa Loja maçônica, ela tem que levar ao Pedestal no Oriente e, assim, deve partir do Norte, em direção ao Sul, para que possa ser mantida a mesma posição relativa. As outras razões constantes das antigas preleções nos mostram por que isso é assim e têm um profundo efeito sobre o simbolismo da Loja. A primeira dessas razões é de cunho religioso, ao mencionar ser um costume das igrejas cristãs terem o seu posicionamento leste-oeste; as demais dizem que a Sabedoria originou-se no leste e espalhou a sua divina influência ao oeste e que o Sol nasce no Oriente e se põe no Ocidente. A mudança pode muito bem ter ocorrido porque as igrejas da religião dominante tinham o seu Santuário e Altar instalados no lado leste e a entrada, a oeste. Aqui também é possível que tenha havido a influência (tal como outros detalhes mostraram ter) da Cabala. Na Enciclopédia Judaica há referência a uma essencial doutrina de determinada escola:

Sua majestade ("majestade") também chamada que tem dimensão e forma, e senta-se num trono situado a leste, como a real representação de Deus. Seu trono está separado por uma cortina a leste a Sul e a Norte, do mundo dos anjos; ficando descoberto o lado oeste.

A Enciclopédia Judaica também faz referência aos edifícios adjacentes, com as suas paredes paralelas às do Templo, devidamente construídas em todos os lados, exceto na parte frontal - provavelmente a leste. A Enciclopédia sugere que a entrada desses edifícios adjacentes situava-se do lado Sul, embora também insinua que esses prédios poderiam ter mais do que uma entrada O New Standard Jewish Dictionary (W. H. Allen, 1970) diz que havia muitas entradas às áreas externas, embora seus outros comentários concordem com aqueles feitos pela Enciclopédia Judaica. Sob o ponto de vista ritual, existe um aparente con-

flito ao realçar a existência de uma única entrada ao Templo, aquela situada no pórtico do lado leste, apesar de informar que, quando os Companheiros saem para as suas buscas no Terceiro Grau, eles o fazem em três Lojas, partindo das três entradas do Templo. A única explicação razoável para essa aparente discrepância é que os Obreiros não saíram do Templo, propriamente dito, mas dos prédios ao redor, por três daquelas passagens, ou que as entradas utilizadas naquela ocasião eram três dos portões do Átrio existente ao redor do Templo. O mesmo comentário se aplica às provações passadas por Hiram Abiff nas três entradas (nem todas as antigas preleções são concordantes quanto ao posicionamento dessas três entradas). Isso mais parece ser fruto de um "devaneio poético" usado por aqueles que compilaram essa história alegórica.

A referência feita nas antigas preleções quanto ao curso do Sol ao longo do dia é um lembrete constante da organização da vida cotidiana, uma referência ao fato de que o tempo, para nós, não é infindável na terra e que a função do Mestre no leste era a de abrir a Loja e dar o trabalho aos Irmãos. Porém, o lugar do Mestre no leste era mais do que apenas isso, pois o leste era a fonte do conhecimento e da sabedoria e entre as obrigações estava a de instruir os Irmãos na Maçonaria. Assim, a disposição da Loja nos mostra o simbolismo básico do sistema maçônico - uma entrada no lado oeste que dá acesso tanto à Loja quanto à Arte; o progresso por meio de Graus, demonstrado pelos passos (de diferentes tipos e lugares) dados em direção ao leste. No leste estava aquela fonte de sabedoria, o Mestre, o representante do rei Saio mão e o Mestrado continua sendo a mais elevada honraria que uma Loja pode dar a um de seus membros.

O dr. Oliver dava muita importância a isso:

O Venerável Mestre deveria sempre lembrar que é nele que os Irmãos buscam a instrução - que dele depende o bem-estar e o sucesso -, o crédito e a popularidade da comunidade. A sua posição, como coluna principal da Loja, é por demais importante e, caso venha a falhar no bom desempenho de suas obrigações, ele estará desferindo um golpe fatal, não apenas à Loja, que será a primeira vítima de uma mal versada confiança, mas à própria Ordem, que sofrerá junto à opinião pública se o seu principal Oficial provar incompetência no elevado Oficio a ele incumbido; falhando por desatenção, por negligência ou por incapacidade de aprimorar os Irmãos em conhecimento e em sabedoria ou deixando de justificar e defender a pureza da Ordem contra os ataques e as pretensões daqueles que a ridicularizam ou condenam pelo simples fato de não entenderem o seu objetivo e serem incapazes de compreender a sua beleza e utilidade.

Em muitas Lojas, tanto na prática normal como nas cerimônias, este simbolismo ainda é muito forte. Os assentos dos Irmãos Seniores são aqueles que estão situados próximo ao leste (ao Oriente). No decorrer das cerimônias realizadas em muitas Lojas há duzentos anos, eram dados passos simbólicos, não ao Pedestal do Mestre, mas em sucessivos degraus em direção ao leste. Isso parece ter sido preservado até hoje em alguns trabalhos ritualísticos, com o candidato participando de uma parte dos procedimentos - a exortação, a explanação da Tábua, etc. - numa progressão em direção ao Oriente. Assim, a exortação após a iniciação é dada com o candidato colocado à esquerda do Primeiro Vigilante onde esta prática prevalece, a Tábua de Delinear do Segundo Grau é explicada no centro da Loja e a Explanação da História Tradicional e a do Painel do Terceiro Grau é dada com o candidato colocado à frente do Pedestal do Mestre, no Oriente.

Uma Loja maçônica está sustentada por três grandes colunas. Elas representam a Sabedoria, a Força e a Beleza. Muito tem sido escrito sobre elas - e a isso será mais apropriado nos referirmos mais adiante -, mas elas estão hoje freqüentemente exibidas em Loja como três Colunetas, cada uma acompanhada de um candelabro, colocadas junto às cadeiras do Mestre e dos Vigilantes. Nas antigas Preleções, consta alguma referência a esse respeito - o assento dos Vigilantes no Sul e no Ocidente não era uma prática oficialmente adotada pelos Modernos até 1810:

Quem representa a Coluna da Sabedoria?

- O Mestre, no Oriente (leste), para instruir a Arte e conduzir os trabalhos em ordem e harmonia.

Quem representa a Coluna da Força?

- O Primeiro Vigilante, no Ocidente (oeste), para pagar os salários aos Obreiros, que são a força e sustento dos trabalhos, e dispensá-los do trabalho, para que retomem às suas casas para o natural descanso e orem pela luz de um novo dia.

Quem representa a Coluna da Beleza?

- O Segundo Vigilante, no Sul, por ser dali que ele observa o Sol se aproximando de seu mais alto meridiano, o que é a Beleza do dia, para chamar os Irmãos do trabalho para o descanso e trazê-los de volta do descanso ao trabalho depois de o Sol ter passado pelo seu mais alto meridiano, a fim de que proveito e prazer sejam o resultado ao Mestre.

No documento o Simbolismo Na Maçonaria- Colin Dyer (páginas 74-78)