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4 REPRESENTAÇÃO TEXTUAL-DISCURSIVA

4.5 A esquematização segundo Adam (1999)

Adam (2011, p. 110) “[...] após ter definido todo ato de referência como uma coconstrução operada no e pelo discurso de um locutor e como uma (re)construção por um interpretante [...]”, propõe-se a falar do que designa como representação discursiva (Rd). Uma noção desenvolvida segundo os postulados de Grize (1996), a partir na noção de esquematização. Nesse contexto, a representação discursiva, segundo Adam (2011), é entendida em sua proposta como uma atividade de esquematização e de produto textual dessa atividade.

A teoria da esquematização desenvolvida por Jean-Blaise Grize é descrita por Adam (1999, p. 101, tradução nossa)86, como “[...] um modelo de interação verbal suficientemente econômica e assaz delicada para apresentar uma alternativa

83“Ceci conduit à l’idée de schématisation comme résultat, c’est -à-dire comme la représentation d’un

micro-universo” (GRIZE, 1997, p. 36).

84 “Schématiser un aspect de l réalité, fictive ou non, est un acte sémiotique: c’est donner à voir. De là

le fait que mon schéma parle d’imagens. Les sujets situés aux places A et B ont des représ entations, mais la schématisation, elle, propose des images. Je n’ analyserai que trois d’entre elles. Celles de T (le thème, ce dont il s’agit), de A et de B et ceci même si les images des diverses relations sont non moins intéressantes” (GRIZE, 1997, p. 37).

85

“ [...] il faut signaler que toute schématisation contient des aides à la reconstruction ” (GRIZE, 1996, p. 70).

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“[...] une modèle de l’interaction verbale assez économique et assez fin pour prèsent une alternative intéressant aux schémas classiques de la comunication” (ADAM, 1999, p. 101).

interessante aos esquemas clássicos da comunicação”. Nesse sentido, Adam (1999) toma esse conceito para pensar a relação entre o texto e a interação verbal.

Para o desenvolvimento da noção de esquematização como representação discursiva, Adam (1999) toma quatro aspectos do conceito de esquematização e resume-os em forma de definições, a saber: a) uma esquematização é ao mesmo tempo operação e resultado; b) toda representação discursiva é esquemática; c) toda esquematização é uma coconstrução; e d) uma esquematização é uma proposição de imagens.

Ao pensar uma esquematização ao mesmo tempo como operação e resultado, Adam (1999) postula que toda ação interdiscursiva produz uma esquematização, sendo definida como um processo e como um resultado. Ademais, segundo esse autor, pensar todo “[...] texto como uma esquematização, é reunir em um só conceito, a enunciação com processo e o enunciado como resultado” (ADAM, 1999, p. 102, tradução nossa)87.

Para Adam (1999), falar de texto e de discurso “[...] é sempre fazer mais alusão ao resultado de práticas discursivas do que às operações complexas inseparavelmente psicossociais e verbais que o produziram” (ADAM, 1999, p. 102, tradução nossa)88. Além disso, “[...] um texto jamais é isolado, sem riscos: tomado numa cadeia discursiva, todo texto é dinamicamente ligado como resposta a outros textos e, por sua vez, ele evoca outros em resposta” (ADAM, 1999, p. 102, tradução nossa)89.

A esquematização é, para Adam (1999, p. 103, tradução nossa)90,

[...] igualmente um processo interno ou contextual: cada uma das proposições que consistem o texto é um só lugar em um movimento dinâmico complexo que prepara e conduz avante. Assim se tece a densidade da textura na qual são tomados os sucessivos enunciados.

87

“Pens er tout texte comme une schématisation, c’est réunir, en un seul c oncept, l’énonciation comme processus et l’énoncé comme rés ultat” (ADAM, 1999, p. 102).

88

“[...] c’est toujours faire plus allusion au résultat de pratiques discursives qu’aux opérations complexes, inséparablement psychosociales et verbales, qui l’ont produit ” (ADAM, 1999, p. 102).

89

“[...] une texte n’est jamais isolable sans risques: pris dans une chaîne discursive, tout texte est dynamiquement relié, comme réponse, à d’autres textes et il en appelle d’autres, à son tour, en réponse” (ADAM, 1999, p. 102).

90

“[...] également um processus ‘interne’ ou cotextuel: chacune des propositions qui constituent le texte n’est qu’une phase dans un mouvement dynamique complexe qui prépare et amène la suite. Ainsi se tisse la densité de la texture cotextuelle dans laquelle sont pris les énoncés successifs” (ADAM, 1999, p. 103).

No âmbito das quatro definições de esq uematização que propõe Adam (1999), consta que toda representação discursiva é esquemática. Ademais, considera que uma esquematização não diz tudo. Esquematizar é, consoante Adam (1999, p. 103, tradução nossa)91, “[...] construir um esquema, isto é: uma representação verbal por definição parcial, seletiva e estratégica de uma realidade. Do tipo, todo texto propõe um tipo de microssistema ou ‘mundo a parte’”. Além disso, “[...] propõe uma teoria da referência e do contexto assim como de abordagem dinâmica da interação verbal” (ADAM, 1999, p. 104, tradução nossa)92

.

A terceira definição que Adam (1999) postula concernente à esquematização é que toda esquematização é um coconstrução. No ato dessa definição, Adam (1999, p. 104, tradução nossa)93 ressalta que o fato de que “[...] um texto seja uma esquematização põe-nos ante a obrigação de jamais esquecer que se trata do produto de uma interação verbal”.

Ademais, acrescenta Adam (1999, p. 104, tradução nossa)94, que “[...] falando ou escrevendo, os sujeitos esforçam-se para fornecer os indícios que julgam necessários à transmissão daquilo que querem dizer”.

Para Adam (1999, p. 104, tradução nossa)95, apoiando-se em um saber comum,

A (o esquematizador) faz hipóteses quanto a que B (o coesquematizador) pode ou poderá induzir a partir de sua esquematização. E videntemente, isto não implica necessariamente que o que A propõe e o que B reconstrói sejam idênticos, simétricos. Esse último pode narc otizar ou mal interpretar certos indícios. O que Le busca – suas próprias finalidades – não-no obriga(m) forçosamente a encont rar tudo que A textualizou de maneira sempre inconsciente.

91

“[...] construire un schèma, c’est-à-dire une représentation verbale par définition partielle, sélective et stratégique d’une réalité. De la sorte, tout texte propose une sorte de micro-universo ou ‘petit mone’” (ADAM, 1999, p. 103).

92

“[...] propos e une theórie de la référence et du contexte ainsi qu’une approche dynamique de l’interaction verbale” (ADAM, 1999, p. 104).

93

“[...] un texte s oit une schématisation nous met dans l’obligation de ne jamais oublier qu’il s’agit du produit d’une interaction verbale” (ADAM, 1999, p. 104).

94

“[...] par Le fait qu’em parlant ou en écrivant, les sujets s’efforcent de fournir les indices qu’ils jugent nécessaíres à la transmission de ce qu’ils veulent dire” (ADAM, 1999, p. 104).

95

“[...] A (Le schématiseur) fait des hypothèses quant à ce que B (le co -eschématiseur) peut ou pourra induire de sa schématisation. Évidemment, celan n’implique pas nécessairement que ce que A propose et ce que B re-construt soient identiques, symétriques. Ce dernier peut narcotiser ou mal interpreter certains indices. Ce qu’il cherche – ses finalités proposes – ne l’obligue(nt) pas forcément à retrouver tout ce que A y a mis de façon, de plus, souvent inconsciente” (ADAM, 1999, p. 104).

Ademais, acrescenta Adam (1999, p. 104, tradução nossa)96 quanto à seleção e à classificação hierárquica das informações que constituem uma esquematização,

[...] dependem amplamente de saberes enciclopédicos, do grau de familiaridade com o gênero e das finalidades daquele que aparece, de fato, menos como um receptor-destinatário do que como um intérprete (termo que vale tanto para o oral como para a escrita e que destaca a parte ativa do trabalho do ouvinte ou do leitor).

Das proposições de Grize, Adam (1999) apresenta o Esquema 17, representado na Figura 7 a seguir. Trata-se do esquema da comunicação-interação, segundo o autor, mais aprofundado que os esquemas clássicos já apresentados.

96

“[...] dépendent largement des savoirs encyclopédiqes, du degré de familiarité avec le genre et des buts de celui qui apparaît, de ce fait, moins somme un récepteur-destinataire que comme un interprétant (terme qui vaut autant pour l’oral que pour l’écrit et qui souligne la part active du travail de l’auditeur ou du lecteur)” (ADAM, 1999, p. 104).

Figura 7 – Esquema da comunicaç ão-interação

Fonte: Adam (1999, p. 105)

No quadro geral da definição de esquematização como uma coconstrução, Adam (1999) ressalta as finalidades do esquematizador. Nesse contexto, considera que no âmbito dos objetivos, das visadas e das intenções do esquematizador e do coesquematizador, em todo texto há uma interação verbal. Assim, afirma ainda que uma esquematização é o resultado e o meio de uma intenção de (inter)ação (ADAM, 1999).

Concernente Adam (1999), é difícil listar os muitos tipos de ações linguageiras as quais podem lançar mão os sujeitos para interagir. Entretanto, cita algumas, como: informar, ensinar, persuadir, entre outras. Assim, acrescenta que essas ações, “[...] dão lugar a escolhas de textualização que são função de gêneros disponíveis na formação sociodiscursiva no interior da qual a interação acontece” (ADAM, 1999, p. 106, tradução nossa)97. Logo, conclui, “[...] o coesquematizador

97

“[...] donnent lieu à des choix de textualisation qui sont fonction des genres disponibles dans la formation sociodiscursive à l’intérieur de laquelle l’interaction a lieu” (ADAM, 1999, p. 106).

interpreta uma esquematização em função de seus próprios objetivos, visadas e de sua visão da situação de interação” (ADAM, 1999, p. 106, tradução nossa)98

.

Ainda no quadro geral da definição de esquematização como uma coconstrução, Adam (1999) evidencia as expectativas que o esquematizador presta a seu auditório, a partir das quais três parâmetros contextuais devem ser levados em conta, a saber: os da situação sociodiscursiva da interação considerada, as condições de produção e as condições de recepção/interação.

A última definição que propõe Adam (1999) para a esquematização, é que esta é uma proposição de imagens. Desse modo, acrescenta, “[...] boa parte das atividades simbólica dos sujeitos tem por função reconstruir em permanência a realidade do eu, de oferecê-lo aos outros para ratificação, para aceitar ou rejeitar as ofertas que os outros fazem de sua imagem, a imagem de si” (ADAM, 1999, p. 107, tradução nossa)99.

Nessa direção, Adam (1999) afirma que uma esquematização pode conter até seis tipos de imagens que ele define como imagens de base que são propostas pelo discurso e são também tipos de visões de mundo. Essas imagens, Adam (1999) designa como: a) imagem da situação sociodiscursiva em discurso; b) imagem do objeto de discurso (que chamarão tanto de tema como de referente); c) imagens de A (esquemati zador); d) imagens de B (coesquematizador).

A esses quatro casos que Adam (1999) cita reportando os estudos de Grize, acrescenta mais uma imagem possível, a saber: a imagem da língua do outro ou daquela que o outro espera que se produza, a qual é colocada com uma questão fundamental que atravessa os estudos sociolinguísticos, bem como da materialidade, ou seja, da mídia escolhida. Nesse contexto, Adam (1999) retoma Foucault (regime de materialidade) e Michel Pêcheux (1969) (formações imaginárias).

Em síntese, Adam (1999) apresenta que uma esquematização propõe imagens da situação de interação sociodiscursiva, imagens do objeto de discurso, imagens da língua e ou da mídia utilizada, enfim, uma imagem de A sobre ele mesmo. Ao que observamos, essa construção de imagens se dá em relações

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“[...] Le co-eschématiseur interprète une schématisation en fonction de ses propres buts, visées et de sa vision de la situation d’interaction” (ADAM, 1999, p. 106).

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“[...] bonne partie de l’activité symbolique des sujets a pour fonction de reconstituer en permanence la réalité du moi, de l’offrir aux autres pour ratification, d’accepter ou de rejeter les offres que font les autres de leur image d’eux-mêmes” (ADAM, 1999, p. 107).

complexas envolvendo esquematizador, coesquematizador, em uma situação de interação que pode ser oral ou escrita. A seguir, trataremos da esquematização discursiva segundo Adam (2008).