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2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

2.1 Perspectivas teóricas da Análise Textual dos Discursos

A Análise Textual dos Discursos é uma abordagem teórica e descritiva para a análise de textos, ancorada, entre outras perspectivas teóricas e áreas de estudo, na Linguística Textual3. Essa abordagem inscreve-se na perspectiva da produção co(n)textual de sentido, fundamentada na análise de textos concretos.

A proposta da A nálise Textual dos Discursos, além de constituir-se de elementos para a análise de textos, objetiva situar o texto e o discurso em novas categorias. Postula uma separação e uma complementaridade das tarefas e dos objetos da Linguística Textual e da Análise de Discurso, pensando o texto e o discurso de forma articulada, aproximando-se, conforme Adam (2011, p. 43), de uma “[...] análise de discurso tal como é delineada por Dominique Maingueneau (1991, 1995)”.

Nesse âmbito, Adam (2011) não aprofunda especificamente os conceitos que propõe Maingueneau (1991, 1995) sobre a Análise de Discurso. Apesar disso, Adam (2011) sinaliza que as referências que utiliza direcionaram para o que o aproxima da perspectiva de Análise de Discurso daquele autor. Adam (2011) considera que o conjunto de suas perspectivas teóricas para análise de textos, ao mesmo tempo que pretende trazer respostas à demanda de proposições concretas sobre a análise de textos, apresenta uma reflexão epistemológica e uma teoria de conjunto.

A análise textual, tal como é perspectivada por Adam (2011) e detalhada em sua obra A Linguística Textual: introdução à Análise Textual dos Discursos, traz como característica principal a elaboração de um quadro teórico, bem como sua constante exemplificação em análises empíricas. Essa obra, além de introduzir os pontos teóricos para uma análise textual, inclui um conjunto significativo de textos analisados. Seu objetivo principal é apresentar uma análise textual dos discursos, na qual focaliza, entre outros aspectos, o estudo das sequências textuais e das estruturas composicionais. Nesse sentido, considera que o ponto central entre o discursivo e o textual encontra -se situado na noção de gênero.

É possível observar, em Adam (2011), um movimento alternativo entre as expressões “análise dos discursos”, “análise do discurso” e “análise de discurso”, as quais flutuam em diferentes partes do texto. Do exposto, entendemos que todas

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A Linguística Textual é uma área de estudo que tem por singularidade trabalhar com a unidade texto.

essas denominações estão relacionadas à proposta do referido autor de articular uma Linguística Textual separada da gramática de texto e uma aná lise de discurso independente da Análise de Discurso Francesa (ADF) (ADAM, 2011).

No que se refere à Linguística Textual, Adam (2011, p. 23) discute-a a partir de Coseriu (1994). Trata-se de uma perspectiva teórica pautada, segundo Adam (2011) na “[...] produção co(n)textual de sentido que deve fundar-se na análise de textos concretos”. A produção co(n)textual de sentidos e a constante análise em textos concretos são os procedimentos que formam as bases da Análise Textual dos Discursos, conforme perspectiva Adam (2011). Nessa direção, Adam (2011) sustenta a concepção teórica de seu modelo de análise textual e os procedimentos dessa atividade analítica, na Linguística Textual.

A esse respeito, Adam (2015, p. 20, tradução nossa)4 discorre sobre o que considera ser trabalho da Linguística textual.

O trabalho da Linguística Textual, que eu considero como um dos desenvolvimentos da “translinguística dos textos” programada por Benveniste é o de definir as grandes categorias de marcas que permit em estabelec er conexões abrindo ou fechando segment os textuais de maior ou menor amplit ude.

Apesar de a Análise do Discurso e a Linguística Textual não terem a mesma origem epistemológica nem a mesma história, a proposta de análise de textos de Adam (2011), a partir de um posicionamento teórico e metodológico, busca pensar o texto e o discurso em novas categorias. Nesse contexto, situa a Linguística Textual no quadro mais amplo da Análise do Discurso.

Adam (2011) justifica seu posicionamento mensurando o texto como um objeto complexo e que, por essa complexidade, sua descrição caberia recurso a categorias diversas. No entanto, a necessidade de Adam (2011), frente à concretização da proposta de análise textual, é de uma teoria do texto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso.

Em relação à textualidade ou ao conjunto de características que faz com que um texto seja considerado não apenas como um agrupamento de palavras ou frases, mas um todo significativo, Adam (2011, p. 25) define como um “[...] conjunto

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“La tâche de la linguistique textuelle, que je c onsidère comme un des développements de la ‘translinguistiques des textes’ programmée par Benveniste, est de définir les grandes catégories de marques qui permettent d’établir des connexions en ouvrant ou en fermant des segments textuels de plus ou moins grande ampleur” (ADAM, 2015, p. 20).

de operações que levam um sujeito a considerar, na produção e/ou na leitura audição, que uma sucessão de enunciados forma um todo significante”. Nesse âmbito, a Linguística Textual é a responsável por fornecer, conforme Adam (2011, p. 25), “[...] instrumentos de leitura das produções discursivas humanas”.

Ainda concernente aos textos e a sua constituição, importa ressaltar o posicionamento de Adam (2015, p. 22, tradução nossa)5, o qual disserta sobre o processo global de sua construção. Para o autor, esse processo,

[...] repousa em uma reavaliação por sequências de tratamento da autonomia relativa de cada unidade frástica ou s ubfrástica. Por ordem crescente e de complexidade, essas “sequências de tratamento” têm amplidão da frase, do período, do parágrafo, das sequências e das part es de um plano de texto. A teorização geral desses níveis intermediários de estruturação textual e de suas fronteiras é a principal tarefa, a meu ver, da Linguística Textual e, põe-se a questão do tratamento desses componentes.

Apoiando-se nos postulados para uma análise textual dos discursos, Adam (2011, p. 43) organiza o Esquema 3, exposto na Figura 1, a seguir, que trata dos fenômenos linguísticos, objeto da Linguística Textual e da análise dos discursos, e suas articulações no texto.

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“Le processus global de construction du texte repose sur une réévaluation par séquences de traitement de l’autonomie relative de chaque unité phrastique ou sub-phrastique. Par ordre croissant de grandeur et de complexité, ces ‘séquenc es de traitement’ ont l’ampleur de la phrase, de la période, du paragraphe, des séquences et des parties d’un plan de texte. La théorisation générale de ces niveaux intermédiaires de structuration textuelle et de leurs frontières est la tâche principale, selon moi, de la linguistique textuelle et la question du traitement de ces composantes reste posée” (ADAM, 2015, p. 22).

Figura 1 – Esquema 3: determinações textuais “ascendentes” e as regulações “descendentes”

Fonte: Adam (2011, p. 43)

Na Figura 1, Adam (2011) apresenta os objetos da Linguística Textual e da análise dos discursos. Nessa apresentação, evidencia as determinações textuais ascendentes, objeto da Linguística Textual, e as regulações descendentes, objeto da análise dos discursos. As determinações textuais ascendentes, que dizem respeito à constituição textual, as quais se situam da direita para esquerda no Esquema 3 (palavras, proposições, períodos e/ou sequências e plano de texto), são responsáveis por reger os encadeamentos de proposições que constituem o texto (ADAM, 2011).

Já as regulações descendentes, cujo foco pauta-se na necessidade de expressão e nas situações de interação, postas da esquerda para a direita, no mesmo esquema (interdiscurso, formação sociodiscursiva, gêneros e língua(s) em uma interação, peritexto), constituem as situações de interação nos lugares sociais, nas línguas e nos gêneros dados que as situações de interação impõem aos enunciados (ADAM, 2011). Frente à necessidade de expressão e de interação, os enunciados podem assumir infinitas formas e, nesse campo, os gêneros e as línguas estão presentes como forma de estabelecer as regularidades.

Tanto os encadeamentos de proposições que constituem o texto quanto as situações de interação desencadeadas frente à necessidade de expressão são objetos de uma proposta de produção co(n)textual de sentidos, a qual se materializa

na análise de textos concretos. Nessa proposta de análise de textos, Adam (2011) discute as relações entre contexto, cotexto e texto.

As noções supracitadas assumem um papel importante nas questões postas por esse autor na proposta de análise de texto e de discurso que apresenta. Tais conceitos estão ancorados na perspectiva da produção co(n)textual de sentidos do texto, um dos pilares da Análise Textual dos Discursos (ADAM, 2011), conforme será discutido a seguir.