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2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

2.3 Níveis ou planos da análise de discurso e da análise textual

Na articulação que Adam (2011) faz entre a Linguística Textual e a Análise de Discurso, esse autor afirma que a Linguística Textual tem um papel específico na Análise de Discurso. Conforme observamos,

[...] a linguística textual tem como papel, na análise de discurso, teorizar e descrever os enc adeamentos de enunciados elementares no âmbito da unidade de grande c omplexidade que c onstitui um texto. [...] concerne tanto à descrição e à definição das diferentes unidades como às operações em todos os níveis de complexidade, que são realizadas sobre os enunciados (ADAM, 2011, p. 63).

No campo da análise de textos empíricos, a proposta de Adam (2011) apresenta 8 níveis que compreendem níveis ou planos da análise de discurso e da análise textual. Esses níveis estão postos no Esquema 4 da sua obra, conforme exposto na Figura 2 a seguir.

Figura 2 – Esquema 4: níveis ou planos da análise de discurs o e níveis ou planos da análise textual que podem se distinguir linguisticamente

Fonte: Adam (2011, p. 61)

Na Figura 2, o Esquema 4 de Adam (2011) apresenta os níveis ou planos da análise de discurso e os níveis ou planos da análise textual, os quais se encontram definidos a seguir:

Nível 1 – Trata-se do nível que compreende as ações visadas. Com a ação de linguagem, o locutor deseja alcançar objetivos pretendidos. Esse nível refere-se à ação de linguagem que diz respeito aos objetivos visados pelo locutor em uma dada situação de interação social. Explicita a eficácia da ação sociodiscursiva realizada, bem como informa se os objetivos foram alcançados e se a ação de linguagem foi bem-sucedida.

Nível 2 – É o nível que abrange a interação social. A formação sociodiscursiva diz respeito ao que pode e ao que deve ser dito em um determinado contexto social. Esse nível reflete a formação sociodiscursiva, ou seja, o que é dito

em um contexto específico por esse locutor, q ue sentidos se originaram, no texto, da proposta de dizer do locutor.

Nível 3 – É o nível que diz respeito à formação sociodiscursiva. Os discursos são perpassados por outros discursos. Esse nível corresponde aos socioletos, falares de certa comunidade, bem como aos interdiscursos, inscrevendo-se em práticas discursivas institucionalizadas , em modelos definidos mais pela função do que pela forma, denominados gêneros.

Nível 4 – É o nível que perspectiva a textura. Reflete a estrutura do texto e sua composição linguística. Esse nível corresponde à textura, a como o texto se estrutura, em proposições enunciadas e períodos.

Nível 5 – É o nível que se refere à composicionalidade do texto. Esse nível compreende a estrutura sequencial-composicional, no que se refere às sequências e aos planos de textos, os quais constituem e estruturam a unidade texto.

Nível 6 – É o nível que expressa um conteúdo semântico. Reflete a construção de sentidos do texto. Além de uma estrutura linguística, o texto apresenta também uma estrutura de sentido. Esse nível postula uma dimensão semântica pautada na representação discursiva e nas noções conexas.

Nível 7 – É o nível que focaliza um ponto de vista. Um texto é perpassado por vozes. É, também, uma fonte de dizer segundo o propósito enunciativo do locutor. Esse nível evidencia uma dimensão enunciativa com base nos conceitos de responsabilidade enunciativa e coesão polifônica.

Nível 8 – Trata-se do nível que compreende o valor ilocucioário/argumentativo da proposição enunciada. No projeto de dizer do locutor, certas escolhas são feitas em função de um querer dizer e de uma construção de sentido. Nesse nível, consta uma noção argumentativa orientada a partir dos atos de discurso.

Para Adam (2011, p. 63), a ação de linguagem está inscrita em um espaço social, nesse caso, toda ação de linguagem “[...] inscreve-se, como se vê, em um dado setor do espaço social, que deve ser pensado como uma formação sociodiscursiva, ou seja, como um lugar social associado a uma língua (socioleto) e a gêneros de discurso”.

Entre os oito níveis da análise de discurso e da análise textual propostos por Adam (2011), no nível quatro, concentra-se a definição de uma unidade de composição textual mínima. Para ele, todo texto pode ser compreendido como

sendo uma unidade de tensão situado entre dois princípios, a saber: um princípio de coesão no qual o texto é uma sucessão de enunciados elementares ligados; e um princípio de progressão a partir do qual o texto já se configura como uma sucessão progressiva de enunciados elementares. Essa unidade de composição textual mínima, à qual se refere Adam (2011), entendemos como as unidades textuais mínimas, dotadas de sentido, denominadas proposições-enunciados.

Assim, o referido autor explicita quanto às unidades textuais, que essas “[...] são submetidas a dois tipos de operação de textualização. Por um lado, elas são separadas por segmentação (tipográfica na escrita; pausa, entonação e/ou movimento dos olhos e da cabeça, na oralidade)” (ADAM, 2011, p. 63). Por outro lado, no que diz respeito às operações de ligação, “[...] consistem na construção de unidades semânticas e de processos de continuidade pelos quais se reconhece um segmento textual” (ADAM, 2011, p. 64).

Para Adam (2011), as segmentações estão atreladas à produção de efeitos de sentido na unidade texto. “A segmentação gráfica das unidades escritas e a segmentação entonativa das unidades orais estão ligadas à busca da produção de efeitos de sentido que manifestam as possibilidades variáveis do sistema linguístico” (ADAM, 2011, p. 84).

Ainda discutindo sobre a segmentação gráfica, considera que esta viabiliza instruções para produção de sentido. “Dos níveis mais inferiores aos limites do peritexto, as operações de segmentação gráfica fornecem instruções para a construção do sentido pela segmentação e reagrupamento (ligação) de unidades complexas variáveis” (ADAM, 2011, p. 84-85, grifo do autor).

A Figura 3, a seguir, representa o Esquema 5 posto em Adam (2011). Nesse esquema, o autor detalha o conjunto das operações de textualização focalizadas na Análise Textual dos Discursos.

Figura 3 – Esquema 5: operações de segmentação e operações de ligaç ão das unidades textuais de base

Fonte: Adam (2011, p. 64)

Na Figura 3, identificamos as operações de textualização que são discutidas por Adam (2011). Nesse esquema, observamos elencadas as operações de segmentação (descontinuidade) e as operações de ligação (continuidade).

Uma primeira segmentação [3], proposições enunciadas, recorta as unidades de primeira ordem, ao mesmo tempo que uma primeira operação de ligação [4], frases e/ou versos, reúne-as em outras unidades, de ordem superior de complexidade. Essas unidades, períodos e/ou sequências, são objeto de uma nova segmentação [6], parágrafos ou estrofes, que determina seus limites inicial e final.

A ligação [7], parágrafos e estrofes, dessas unidades de segunda ordem resulta em parágrafos de prosa ou em estrofes constitutivas de um plano de texto [8], bem como em uma unidade textual determinada já por outra operação de segmentação [9] peritextual, fixando limites ou fronteiras materiais de um texto (ADAM, 2011).

Nas operações de segmentação e ligação textual propostas por Adam (2011), entre os elementos que utiliza para realizar, no texto, essas operações, há o que ele define como unidade textual de base, ou seja, a proposição enunciada. Esse autor

compreende o que chama de proposição enunciada, doravante proposição- enunciado8, como produto de uma enunciação, conforme se discute a seguir.