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3 REPRESENTAÇÃO DISCURSIVA

3.1 Panorama de estudos sobre a representação discursiva

3.1.4 Categorias de análise

O conjunto de categorias apresentado por trabalhos que abordam a representação discursiva, conforme os postulados da Análise Textual dos Discursos, constitui-se de sete operações semânticas. São elas: referenciação, predicação, modificação da referenciação, modificação da predicação, localização espacial, localização temporal, analogia e conexão.

O Gráfico 1, a seguir, apresenta o levantamento dessas categorias de análise utilizadas no processo de (re)construção de representações discursivas. Nesse gráfico, é possível observar, por meio dos percentuais expostos, a recorrência dessas categorias nos trabalhos analisados.

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Gráfico 1– Categorias de análise

Fonte: Elaboração própria

No Gráfico 1, é observável que as categorias de análise mais utilizadas são as referenciações e as predicações. Essas duas categorias foram apresentadas em todos os trabalhos analisados que utilizaram categorias desse conjunto mais. Essas categorias apresentam definições específicas quando utilizadas para analisar a representação discursiva conforme a Análise Textual dos Discursos. A seguir, consta a definição mais geral de cada uma delas conforme sua utilização nesses trabalhos:

a) Referenciação – definida como uma categoria de análise para a construção das representações discursivas que focaliza a designação/redesignação dos participantes;

b) Predicação – é entendida e utilizada para remeter à operação de seleção dos predicados, isto é, tanto à designação dos processos como ao estabelecimento da relação predicativa no enunciado;

c) Modificação – refere-se às características ou às propriedades tanto dos referentes como das predicações. Há trabalhos que utilizam a terminologia modificação, direcionando para o modificador do referente e para o modificador da predicação, porém, há outros que utilizam as duas terminologias: modificador do referente e modificador da predicação;

17,17% 14,14% 17,17% 13,13% 12,12% 12,12% 9,09% 5,05% Ref erenciação Modif icação da Ref erenciação Predicação Modif icação da Predicação Localização Espacial Localização Temporal Analogia Conexão

d) Localização – essa categoria caracteriza-se por indicar as circunstâncias espaçotemporais nas quais se desenvolvem os processos e os participantes. Linguisticame nte, a localização é marcada no texto por expressões que indicam tempo e lugar. Nos trabalhos analisados, aparece como localização espacial (indicando circunstâncias espaciais) e localização temporal (indicando circunstâncias de tempo);

e) Analogia – estabelece relações de sentido por meio do processo de comparação. É abordada nos trabalhos analisados como um desdobramento das operações de relação por assimilação proposta por Adam (2011);

f) Conexão – é entendida, nos trabalhos analisados, como uma categoria que proporciona a relação semântica entre um enunciado anterior e um posterior, de modo a formar a coesão do texto, a juntar os enunciados para construir as relações de sentido existentes.

Do exposto, observamos que todas essas categorias foram rearticuladas e redefinidas conforme os propósitos dos trabalhos desenvolvidos, estabelecendo ligações com diferentes abordagens teóricas. Não é um quadro fixo e predefinido para construção das representações discursivas, que seja necessário ser utilizado em todos os trabalhos fundamentados nessa perspectiva teórica, aplicando-o sempre da mesma maneira; pelo contrário, trata-se de um bloco flexível, modelado à escolha do autor da pesquisa, conforme suas necessidades, seus objetivos e mediante os dados que vai analisar.

Nosso entendimento é de que, desse modo, os autores têm autonomia para escolher, dentro do conjunto de categorias apresentado, as que melhor proporcionam uma análise mais aprofundada dos seus dados, bem como podem trazer categorias novas, que venham a comple mentar o conjunto de categorias de análise já existente. Tudo isso, a depender dos dados que vai analisar e dos objetivos pretendidos.

A aplicação dessas categorias oportunizou identificar marcas linguísticas na superfície textual que construíram os enunciados analisados, corroborando a construção das representações discursivas e reforçando a pertinência dessas análises para os estudos linguísticos do texto.

Do que observamos, a aplicação das categorias oportunizou, também, a construção de uma metodologia de análise bastante relevante. Essa metodologia diz

respeito à organização dos dados analisados em tabelas e quadros, sintetizando e tornando mais evidentes os elementos construtores das representações discursivas, uma forma de articular as análises e valorizar a exposição dos dados.

Em síntese, essas categorias foram estruturadas a partir do que Adam (2011) define para período/sequência descritiva. Como Adam (1999) aborda a representação discursiva nos termos da noção de “esquematização” de Grize (1990, 1996), também foram tomadas as “operações lógico-discursivas” deste autor.

O Quadro 14, a seguir, apresenta de forma sintética as categorias de análise utilizadas, o conteúdo que expressam e as expressões linguísticas que identificam as representações discursivas no texto.

Quadro 14 – Síntese das categorias de análise

Categorias de análise Conteúdos Expressõe s linguí stica s que

identificam as representações discursi vas

Referenciação Participantes Expressões nominais e equivalentes

semânticos. Predicação Processos: ação (fazer) estado (ser) mudança de estado (tornar-se)

Verbos, locuções verbais e equivalentes semânticos.

Modificação Modificadores indicam

propriedades e qualidades de referentes e predicados:

Modificadores de referentes Modificadores de predicados

Expressões qualificativas e atributivas Expressões adverbiais, exceto de lugar e tempo, que pertencem à localização espacial e temporal.

Localização espacial Espaço construído pelo texto Expressões locativas

Localização temporal Tempo construído pelo texto Expressões temporais

Analogia Relaç ões comparativas entre

enunciados (causa,

consequência, ...)

Marcas de comparação, explícitas ou inferidas

Conexão Relaç ões não c omparativas

entre enunciados (causa, consequência, ...)

Marcadores de conexão (c onectores, conectivos, operadores)

Fonte: Elaboração própria

Essas categorias permitem identificar na proposição-enunciado os participantes e os processos, bem como observar as modificações, tanto dos participantes quanto dos processos, as localizações espaciais e temporais e as

relações entre enunciados, por meio de expressões linguísticas que, no e pelo texto, constroem e reconstroem as representações discursivas.

3.2 Síntese e reflexão da seção

Esta seção focalizou trabalhos que citam a representação discursiva, buscando o entendimento de como estão configurando a citada abordagem. O panorama de estudos construído contemplou artigos e capítulos de livros, teses e dissertações, todos de domínio público. A retomada desses trabalhos foi relevante para podermos estruturar a ancoragem teórica adotada nesta tese.

Evidenciamos nos artigos e capítulos de livros a análise da dimensão semântica do texto, na qual a representação discursiva é uma das principais noções utilizadas nos estudos perspectivados a partir da Análise Textual dos Discursos. Nas teses e dissertações, destacamos os pontos mais importantes de cada pesquisa, elencando um conjunto significativo de trabalhos que também adota a representação discursiva em sua estruturação teórico-metodológica. Além disso, discutimos como cada um desses trabalhos trouxe para o seu aporte teórico o conceito de representação discursiva e identificamos e discutimos também as categorias que vêm sendo utilizadas para proceder à análise dos dados.

Ressaltamos que a representação discursiva desenvolvida como ancoragem teórica a partir dos postulados da Análise Textual dos Discursos é um conceito tratado como um dos principais níveis de análise semântica do texto. A hipótese geral que ancora os estudos da representação discursiva , segundo os postulados da Análise Textual dos Discursos e perspectivados pelos trabalhos analisados, é a de que todo texto constrói representações discursivas, sendo estas, inicialmente, do enunciador, do ouvinte ou leitor e dos temas tratados.

O tratamento teórico-metodológico dado à noção de representação discursiva é complementado com uma discussão, que começa a colocar a representação discursiva em ligação com outras noções, no que concerne ao seu entrelaçamento com os estudos da lógica natural, segundo Grize (1996, 1997).

Quanto aos procedimentos de análise, os trabalhos apresentam um conjunto de categorias já redefinido e rearticulado conforme os objetivos de cada estudo. A estrutura teórica e metodológica dessas categorias parte da Análise Textual dos

Discursos (ADAM, 2011) e dos estudos da Lógica natural (GRIZE, 1990, 1996,1997).

A pertinência desta seção para este estudo está fundamentada na necessidade da compreensão do trabalho que já está sendo desenvolvido com a representação discursiva do campo mais amplo da Análise Textual dos Discursos. Esse conhecimento serve de base para a discussão do aporte teórico que norteia a presente tese, bem como possibilita evidenciar possíveis avanços que esta pesquisa apresenta no âmbito conceitual da representação discursiva.