• Nenhum resultado encontrado

4 REPRESENTAÇÃO TEXTUAL-DISCURSIVA

4.7 Operações de textualização

4.7.4 Operação de textualização: conexão

A conexão é uma operação também apresentada por Grize (1990, 1996). Essa operação foi incluída, nos postulados da Análise Textual dos Discursos, na noção de relação de Adam (2011), sendo esta uma das quatro macro-operações de base que geram proposições descritivas. Essa macro-operação agrupa duas outras operações, quais sejam: relação por contiguidade e a relação de analogia.

Em conformidade com Adam (2011), a relação por contiguidade diz respeito à situação temporal (situação do objeto de discurso em um tempo, histórico ou individual) e à situação espacial (relação de contiguidade entre o objeto do discurso e outros objetos suscetíveis de tornar-se o centro de um procedimento descritivo). Já a relação de analogia é uma forma de assimilação comparativa ou metafórica que permite descrever o todo ou as partes colocando-os em relação a outros objetos.

A conexão é, para Adam (2011), um tipo de ligação das unidades textuais de base. É uma operação de ligação que assegura a continuidade textual, que se constitui como um fator de textualidade, mas, isoladamente, não é suficiente para garantir a coerência de um texto. Os saberes relativos às operações de ligação das unidades textuais de base “[...] são sistemas de conhecimentos linguísticos ativados, quer na produção, quer na interpretação” (ADAM, 2011, p. 132).

Conforme Adam (2011, p. 179), os conectores fazem parte de uma classe de expressão linguística responsável por reagrupamentos.

Os conectores entram numa classe de expressões linguísticas que reagrupa, além de certas conjunç ões de coordenação (mas, portanto, ora, então), certas conjunções e locuções conjuntivas de s ubordinação (porque, como, com efeito, em consequência, o que quer que seja, então etc.) e grupos nominais ou preposicionais (apesar disso etc.).

A conexão é, ainda, uma operação que se assemelha à conectividade, proposta por Castilho (2010, p. 133). A conexão, para Castilho (2010), é gramaticalizada como preposições e conjunções.

A posição que defendemos neste estudo, no que se refere à operação de textualização conexão, parte do pressuposto de uma operação de ligação de base que une os constituintes de proposições próximas, assegurando a unidade semântica dos enunciados na coesão textual. São as ligações semânticas que asseguram a continuidade textual, unindo as proposições e construindo efeitos de sentido no texto.

4.7.5 Síntese das operações de textualização

Já nos pronunciamos anteriormente, neste estudo, que a análise das representações textual-discursivas da figura feminina em textos do jornal O PORVIR (1926-1929) requer um conjunto de operações de textualização mais específico. Neste estudo, para realização das nossas análises, estamos fazendo uso de operações de textualização, a partir de categorias utilizadas em pesquisas anteriores sobre a temática. No entanto, essas categorias, foram rearticuladas e redefinidas, aprofundando seu escopo de análise. O detalhamento das operações de textualização utilizadas nas análises desta tese está exposto a seguir.

a) Referenciação – com essa operação de textualização, almejamos não somente a designação dos referentes textuais (entendidos como os participantes, instaurando, categorizando e recategorizando esse referente, objeto de discurso, formas de introdução dos referentes no texto) mas também as retomadas do referente na continuidade textual (relações correferenciais), e os processos de referenciação operados na construção de representações textual-discursivas da figura feminina, complementando com a cadeia referencial que perspectiva essa figura nos textos.

b) Predicação – com essa operação de textualização, ensejamos tanto a seleção dos predicados verbais (como indicação dos processos de estado, mudança de estado e ação, estabelecendo a relação predicativa estruturante do enunciado) quanto a identificação dos sujeitos agente, paciente e experienciador, complementando com os papéis semânticos que preenchem. c) Modificação – com essa operação de textualização modificação, propomo- nos a analisar tanto as modificações dos referentes textuais quanto as modificações das predicações.

d) Conexão – com essa operação de textualização conexão, propomo-nos a analisar as ligações das unidades textuais de base, ou seja, identificação das ligações da proposição-enunciado que operam instaurando representações textual-discursivas da figura feminina e construindo sentidos no texto.

Em síntese, apresentamos no Quadro 18, a seguir, as operações de textualização utilizadas neste estudo, evidenciando o objetivo da utilização de cada uma dessas operações, bem como a que conteúdo cada uma se refere e as expressões linguísticas através das quais é possível identificá-las no texto.

Quadro 18 – Síntese das operações de textualização

Operação de textualização

Objetivo da operação nesta tese A que conteúdo se refere a operação

Expressõe s linguísti cas que identificam a operação

no texto

Referenciação

Designação dos referentes textuais, entendidos como os participantes, instaurando, categoriz ando e recategorizando esse referente, objeto de discurso. Formas de int rodução dos referentes no texto.

Retomadas do referent e na continuidade textual (relações correferenciais).

Processos de referenciação operados na construção de representações textual-discursivas da figura feminina.

Cadeia referencial que perspectiva a figura feminina. Referent es textuais; participantes, no sentido amplo. Expressões nominais e equivalentes semânticos.

Seleção dos predicados verbais, como indicaç ão dos processos de

Processos: ação, estado, mudança de

Verbos, locuções verbais e equivalentes

Predicação

estado, mudança de estado e ação, estabelecendo a relação predicativa estruturante do enunciado.

Sujeito agente, sujeito paciente e sujeito experienciador. estado. Agente, paciente e experienciador. semânticos. Modificação (da referenciação e da predicação)

Modificação tanto dos referentes textuais quanto das predicações, ou seja, dos participantes e dos predicados verbais. Modificadores indicam propriedades e qualidades de referentes e predicados: modificadores de referentes; modificadores de predicados. Expressões qualificativas e atributivas Expressões adverbiais. Conexão

Identificação das ligações das unidades textuais de base, ou seja, identificação das ligações das proposições que operam na construção de representações discursivas da mulher.

Relaç ões entre enunciados (causa, consequência, adversidade etc.). Marcadores de conexão (conectores, conectivos, operadores).

Fonte: Elaboração própria

4.8 Síntese e reflexão da seção

Esta tese está ancorada nos postulados da Análise Te xtual dos Discursos e no quadro geral da lógica natural, cujo conceito-chave é o da esquematização (GRIZE 1996, 1997). Nesse contexto, estamos entendendo as representações textual-discursivas como perspectivadas pelos pressupostos de análise de textos de Adam (2011) e do quadro mais amplo da lógica natural, de acordo com Grize (1996, 1997), ampliada com a noção de esquematização, comunicação discursiva e postulados das representações, também segundo Grize (1996, 1997).

A noção de comunicação discursiva posta por Grize (1996) é sobremaneira importante para o aprofundamento da noção de representação textual-discursiva. Essa relevância se deve ao fato de a representação discursiva – atividade de esquematização e produto textual dessa atividade – estar posta como uma atividade cujo funcionamento se materializa na comunicação, uma atividade discursiva , fruto das interações orais ou escritas, e que estamos interpretando como uma atividade textual-discursiva, frente à articulação entre texto e discurso advinda da Análise Textual dos Discursos (ADAM, 2011).

Ao se comunicarem, os indivíduos estão a todo tempo realizando interações, contratos, combinados e, consequentemente, construindo e reconstruindo

representações em diferentes perspectivas. Um exemplo disso é a representação do locutor, do interlocutor e dos temas tratados. No entanto, consideramos que essas representações não são as únicas possíveis na situação de interação.

Sobre a representação, Grize (1997) toma o termo no seu sentido mais usual, diferenciado-a, por exemplo, da representação social, e apresenta três famílias de representações; reprA(A), reprA(B) e reprA(T), as quais não são as únicas

possibilidades de representaçães textual-discursivas possíveis.

Sobre as esquematizações, Grize (1996, 1997) considera as atividades discursivas como atividades de criação que dão origem às esquematizações, sendo estas criadoras de sentido e produtoras de imagens, um tipo de atividade que se assemelha diretamente com a (re)construção de representações textual-discursivas na unidade texto.

Para Grize (1997), o processo de (re)construção de certas imagens que o texto projeta não diz respeito somente a representar cada um desses sujeitos, está mais voltado para como acontece essa representação e, de forma mais profícua, as relações que necessitam ser estabelecidas entre reprA(A), reprA(B) e reprA(T) nesse

processo de construção e reconstrução das representações desses atores.

Concernente à noção de esquematização, na visão de Adam (1999), uma representação discursiva é concebida como fruto da ação interdiscursiva e como uma representação verbal (oral ou escrita) de uma realidade. Desenvolvendo em sua proposta de Análise Textual dos Discursos, a representação discursiva, nos termos de uma esquematização, o autor pensa a representação discursiva como uma atividade de esquematização e o produto textual dessa atividade. O desenvolvimento do conceito de esquematização por Adam (1999) parte de Grize e, ao se aproximar do que o autor expressa sobre as imagens, Adam (1999) acrescenta, além das já propostas pela teoria da esquematização, as imagens da língua ou da mídia utilizada. Coloca a atividade de construção de imagens como uma atividade complexa, não linear.

A relevância desta seção para o presente estudo consiste em realçar as questões que envolvem o conceito de representação textual-discursiva. Trata-se não apenas de trazer para o cerne das discussões teóricas deste trabalho a perspectiva teórica que norteia o estudo, mas de discuti-la também à luz de pesquisas correlatas. Situa-se ainda na articulação teórica materializada entre as noções de representação discursiva, posta por Adam (2011), e da lógica natural, segundo Grize

(1996, 1997), focalizando a comunicação discursiva, a esquematização e o postulado das representações e, primordialmente, no que propõe Adam (1999) sobre a noção de esquematização que concebe como uma representação discursiva. Essas noções abriram possibilidades para um aprofundamento teórico, concernente ao estabelecimento de relações entre a noção de representação discursiva, conforme os postulados da Análise Textual dos Discursos, e as perspectivas teóricas a ela relacionadas, bem como aos entrelaçamentos entre as noções de esquematização e representação discursiva segundo Adam (1999, 2011) e as interlocuções com a proposta de Grize (1996, 1997).