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2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

2.2 Produção co(n)textual dos sentidos: contexto, cotexto e texto

Adam (2011, p. 13), ao definir a Análise Textual dos Discursos, aproximando- a das atividades da Linguística Textual, que se ancora na “[...] produção co(n)textual de sentidos [...]”, propõe repensar as relações entre três conceitos importantes para a atividade analítica que desenvolve, a saber: contexto, cotexto e texto.

No que se refere à noção de contexto, Adam (2011, p. 52) desconsidera a fórmula “[...] texto = discurso – Contexto/condições de produção”, a qual é oriunda da análise do discurso francesa dos anos 1960-1980. Ainda segundo Adam (2011), há certa confusão em torno da noção de contexto. Nesse sentido, afirma que: “Misturam-se, então, os dados do ambiente linguístico imediato (cotextuais) e os dados da situação extralinguística” (ADAM, 2011, p. 52).

Tomando como fundamento o posicionamento de Kleiber (1994, p. 14), para quem se confunde com muita frequência, os “[...] elementos que completam ou que asseguram a interpretação global de um enunciado [...]” e “[...] os locais de onde esses elementos provêm [...]”, Adam (2011, p. 52-53) afirma não termos acesso ao contexto como dado linguístico objetivo, mas a sua reconstrução pelos sujeitos falantes e/ou por analistas, conforme observamos a seguir.

Misturam-se, então, os dados do ambiente linguístico imediato (cotextuais) e os dados da situação extralinguística. Não se pode esquecer que não temos acesso ao contexto como dado extralinguístico objetivo, mas somente a (re)construção pelos sujeitos falantes e/ou por analistas (sociólogos, historiadores, testemunhas, filólogos ou hermeneutas). As informaç ões do contexto são tratadas com base nos conheciment os enciclopédicos dos sujeitos, nos seus pré-construídos culturais e nos lugares comuns argumentativos. De um ponto de vista linguístico, é preciso dizer que o contexto entra na construção do sentido dos enunciados. Com efeito, todo enunciado, por mais breve ou complexo que ele seja, tem sempre necessidade de um co(n)texto.

Adam (2011) justifica o uso da palavra co(n)texto apoiando-se nas possibilidades de interpretação dos enunciados. Para ele, o uso da palavra co(n)texto se fundamenta na perspectiva de que a interpretação de enunciados isolados se apoia na construção e na reconstrução de enunciados que podem se constituir tanto à esquerda quanto à direita destes. Assim, segundo esse autor,

[...] a interpretação de enunciados isolados apoia-se tanto na (re)c onstrução de enunciados à es querda e/ou à direita (cotexto) como na operação de contextualização, que consiste em imaginar uma situação de enunciação que torne possível o enunciado considerado (ADAM, 2011, p. 53).

Já no que concerne ao cotexto, é colocado por esse autor como sendo o dado mais imediatamente acessível no texto. Quanto à construção e à reconstrução de um co(n)texto pertinente; segundo Adam (2011), o ponto de partida dessa atividade de (re)construção são os co(n)textos mais diretamente acessíveis, quais sejam: o cotexto verbal e o contexto situacional da interação. Ademais, para Adam (2011, p. 53), essa atividade,

[...] parte, economicamente, do mais diretament e acessível: o cot exto verbal e/ou contexto situacional da interação. S e em uma interação oral pode haver concorrência entre o cotexto e o contexto da enunciação, na escrita, o cotexto é o dado mais imediatamente acessível. Se o cotexto está disponível e se ele se mostra suficiente, o interpretante não vai procurar em outro lugar.

Adam (2011, p. 54) evidencia que a contextualização acontece “[...] a partir da memória do texto que se acaba de ler e, na sua falta, da memória dos textos lidos”. Ainda conforme Adam (2011, p. 56), concernente à definição de contexto, postula o entendimento de que se trata de uma realidade “[...] ao mesmo tempo histórica e cognitiva, o contexto está ligado à memória intertextual. Não é um dado situacional exterior aos sujeitos”. Em conformidade com o contexto exposto, importa destacar os saberes que, para Adam (2011), são mobilizados na interpretação de uma esquematização discursiva6. Para esse autor,

A interpretação de toda esquematização discursiva mobiliza saberes parciais, úteis momentaneamente. Pode requerer saberes enciclopédicos armazenados na memória de longo prazo, mas ela opera prioritariamente

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Aprofundar o conceito de esquematização em Grize (1996, 1997). Esse conceito também foi longamente desenvolvido por Adam (199 9).

com saberes (enunciados e textos) disponíveis na memória de trabalho de curto prazo (ADAM, 2011, p. 57).

A esse respeito, Adam (2011) postula que a memória discursiva7 é responsável tanto por permitir quanto por visar uma interação verbal. Desse modo, conforme esse autor,

[...] a memória discursiva é, ao mesmo t empo, o que permit e e o que visa uma interação verbal. A memória discursiva é alimentada, permanentemente, por enunciados sobre eventos da situação extralinguística, eles próprios construindo eventos, mais do que pelos eventos da situação extralinguística (ADAM, 2011, p. 57).

Para Adam (2011, p. 58), a “[...] operação de construção interpretativa do sentido de um enunciado [...]” constitui-se em um movimento que se caracteriza por ir de um texto a outro, de textos a textos, formando o conjunto que define como corpus. Trata-se de um movimento sem pretensão de reconstruir o verdadeiro sentido da frase, tomando por base a filologia, nem de recolocá-la na situação, mas, o que pretende Adam (2011, p. 58) é “[...] propor elementos de conte xtualização e, portanto, de construção de seu sentido em discurso”.

Basilar para podermos compreender os limites estabelecidos por Adam (2011) entre esses dois conceitos, o cotexto e o contexto, é nos aproximarmos do que esse autor designa como texto. Considerando tratar-se de uma proposta empenhada na aproximação entre texto e discurso, Adam (2011, p. 25) pensa-os em novas categorias, conforme exposto na citação a seguir.

O texto é um objeto empírico tão complexo que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das diferentes ciências da linguagem um novo quadro e uma indispensável coerência.

Ainda no que diz respeito aos textos, Adam (2013, p. 17) concebe-os como:

[...] o espaço natural e material de manifestação das línguas humanas e, como tal, das estruturas sintáticas dessas línguas. Mas os textos são ao mesmo tempo a manifestação empírica de interações sociodiscursivas inscritas nos gêneros de discurso, mais exatamente no sistema de gêneros do interdiscurso de uma determinada formação sociodiscursiva.

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Conforme Adam (2011, p. 57), “[...] as proposições enunciadas em um enunciado – outra parte do texto ou outro texto – fazem parte da memória discursiva do sujeito”.

Ao articular em sua proposta de análise texto e discurso, Adam (2011) propõe níveis ou planos da análise de discurso e níveis ou planos da análise textual, estabelecendo os níveis ou os planos que podem ser distinguidos linguisticamente. Esses níveis serão discutidos a seguir.