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2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

2.5 Operações de ligação das unidades textuais de base

Na Análise Textual dos Discursos, Adam (2011) conjectura que , para o agrupamento da proposição-enunciado na unidade texto, alguns tipos de operações, combináveis entre si e com um escopo bastante variado, são responsáveis pela união de constituintes das proposições próximas, bem como agem a longa distância, assegurando a coesão textual. Essas operações são as que esse autor denomina, em sua proposta, como operações de ligação.

A Figura 5, a seguir, apresenta o Esquema 13, posto em Adam (2011, p. 131), no qual estão articuladas as operações de ligação que garantem a continuidade textual.

Figura 5 – Esquema 13: operações de ligação que asseguram a continuidade textual

Fonte: Adam (2011, p. 131)

O esquema da Figura 5 compreende cinco grandes tipos de operações de ligação, os quais asseguram o agrupamento das proposições-enunciados e, consequentemente, a continuidade textual. No referido esquema, da esquerda para a direita, identificamos as ligações do significado, as ligações do significante, as implicitações, as conexões e as sequências de atos de discurso.

Observamos, ainda, que as operações responsáveis pelas ligações de significado são anáforas e correferências, isotopias e colocações. As elipses e os implícitos são as operações que correspondem às implicitações. Dentro dessas

operações, os implícitos, correspondem aos pressupostos e subentendidos. As conexões, por sua vez, constituem-se por conectores, organizadores e marcadores.

De acordo com Adam (2011, p. 132), essas operações são consideradas como fatores de textualidade, conforme observamos a seguir.

Cada uma dessas cinco operações é um fator de textualidade, mas, isoladamente, nenhuma é suficiente para fazer de um texto uma unidade coerente. Elas cooperam e podem até superar as falhas desta ou daquela em particular. Int ervêm em graus divers os, conforme os textos, e um certo modo de ligação é privilegiado num dado texto ou apenas em uma parte do texto.

Atinente às operações de ligação textual, Adam (2011, p. 132) afirma que os saberes relacionados a essas operações, “[...] são sistemas de conhecimentos linguísticos ativados, quer na produção, quer na interpretação”. Produzindo ou interpretando, os sujeitos mobilizam as operações de ligação, na construção e na reconstrução de sentidos do texto.

Adotamos para descrever, dessas operações, as que Adam (2011) caracteriza como ligações semânticas 1 e ligações semânticas 2. Essas operações tratam, especificamente, da construção textual da referência, da isotopia do discurso e das colocações. Constituem-se como operações diretamente ligadas à construção das representações discursivas, conforme perspectivadas por Adam (2011).

Segundo Adam (2011, p. 132), a exposição linear dessas operações,

[...] não deve dar a entender uma sucessão ordenada de operações separadas que intervêm, metodicamente, ao longo do processo de produção e de interpret ação. Apesar de suas imbric aç ões, essas operações de base podem ser descritas separadamente.

Das operações de ligação descritas por Adam (2011), focalizamos as ligações do significado, as quais apresentamos a seguir.

2.5.1 Ligações do significado

Passeggi et al. (2010) afirmam que as unidades textuais de base são depreendidas e combinadas de acordo com dois tipos de operações de textualização, a saber: as operações de segmentação e as operações de ligação. “As operações de segmentação, na escrita, são tipográficas, mais fortes e

permanentes. Na oralidade, são mais variáveis, baseadas em pausas, entonações, elementos paralinguísticos, gestualidade etc.” (PASSEGGI et al., 2010, p. 268-269).

Em relação às unidades textuais, no Esquema 13, representado na Figura 5, anteriormente, Adam (2011) coloca como uma das operações de ligação que corroboram a continuidade textual as ligações do significado. Essas ligações, Adam (2011) desdobra em anáforas e correferências, isotopias e colocações. São unidades linguísticas que constituem as ligações semânticas responsáveis pela continuidade textual.

O Quadro 1, a seguir, foi construído a partir desse Esquema 13, proposto por Adam (2011). Nesse q uadro, apresentamos as ligações do significado, uma das unidades de ligação das proposições que asseguram a continuidade textual.

Quadro 1 – A construção textual da referência: ligações semânticas 1

Correferências e Anáfora s

Correferências

“A correferência é uma relação de identidade referencial entre dois ou mais signos semanticamente interpretáveis, independentemente um do outro [...]” (p. 132).

“As relações semânticas de correferência são ditas anafóricas, na medida em que a interpret ação de um significante depende de um out ro, presente no contexto esquerdo (anáfora propriamente dita) ou no contexto direito (catáfora), sem excluir o caso do referente pres ente na situação (referente contextual ou dêitico situacional, dito exofórico)” (p. 133-134, grifo do autor). “A construção de uma relação e de uma interpretação anafóricas focaliza, precisamente, a ligação semântica ent re as duas expressões nominais definidas (assim como as seguintes) e o primeiro elo indefinido da cadeia de correferências” (p. 134).

Anáfora s

Anáfora fiel “A anáfora é dita fiel, se o mesmo lexema é retomado [...]” (p. 134, grifo do autor).

Anáfora infiel A anáfora é dita “infiel, se não é, exatamente, o mesmo lexema” que retoma (p. 134, grifo do autor). Anáfora resumidora Uma anáfora resumidora incide “sobre um segmento

longo que ela sintetiza” (p. 134).

Anáfora associativa “[...] podem ser inferidas com bas e nos conhecimentos lexicais” (p. 135).

Anáforas pronominais “[...] é, por definição, fiel, pois geralmente, ela não indica nenhuma nova propriedade do objeto” (p. 137, grifo do autor).

Anáforas definidas “[...] aparec e, geralmente, nos encadeamentos que contêm introdução de um referente sob forma

indefinida e depois retomada lexical idêntica” (p. 138). Anáforas

demonstrativas

“O funcionamento da anáfora definida e o da anáfora demonstrativa estão longe de ser idênticos [...] Trata- se, de fato, de duas possibilidades concorrentes produtoras de efeito de sentido específicos” (p. 141). Fonte: Elaboração própria a partir de Adam (2011, p. 132-146, grifo do autor)

Segundo Adam (2011), as anáforas e cadeias de correferências visam à continuidade do significado na unidade texto.

Todas as formas de anáforas e de cadeias de correferência visam, certamente, manter um continuum homogêneo de significação, uma isotopia mínima do discurso por retomadas-repetições, mas asseguram, ao mesmo tempo, a progressão por novas especificações e mobilização das referências virtuais dos lexemas utilizados (ADAM, 2011, p. 145, grifo do autor)

Nessa perspectiva, o autor afirma que as ligações anafóricas são sobremaneira relevantes para a progressão textual. “As ligações anafóricas exercem um papel capital não apenas na coesão, mas na progressão, por intermédio de modificações progressivas de um referente que não se limita a retomar” (ADAM, 2011, p. 145).

O Quadro 2, a seguir, foi construído, do mesmo modo que o Quadro 1, também a partir do Esquema 13, proposto por Adam (2011). Nesse quadro, continuamos apresentando as ligações do significado, desta feita, as que Adam (2011) designa como ligações semânticas 2.

Quadro 2 – Isotopia do discurso e colocaç ões: ligações semânticas 2

Isotopia do discurso (Cotopia, poli-isotopia, heterotopia)

“[...] a constância de um perc urso de sentido que um texto apresenta quando submetido a regras de coerência int erpretativa” (ECO, 1985, p. 131)10 (p. 147).

A unidade isotópica mínima reside na ligação estabelecida entre dois lexemas num nível frasal ou trans frasal. [...] O conceito de isotopia permite distinguir não apenas fat os de cotopia, mas de heterotopia e poli-i sotopia” (p. 147, grifo do autor).

10

Adam (2011) ancora sua definiç ão d e isotopia no que postula Umberto Eco (1985). Para saber mais: Adam (2011, p. 147).

Colocaçõe s (Textualidade e intertextualidade)

“O conceito de colocaç ão remete a dois tipos de relações entre signos: as colocações em língua (associações codificadas de lexemas, repertoriadas nos dicionários) e as colocações próprias de um texto (estabelecidas pelas repetições de sequências de lexemas associados num texto dado)” (p. 156).

“A questão não é mais, então, a das isotopias, mas a dos agrupamentos lexicais que um t exto propõe e que um programa de tratamento informático atento, não apenas à simples segment ação das ocorrências, mas à das coocorrências de lex emas, permite evidenciar” (p. 156).

“As colocações lexicais são um lugar particularmente importante de construção da coesão semântica do texto como discurso. O vocabulário de um autor ou de um texto é feito dessas associações de l exemas que a sintaxe articula. M as, antes de atingir essa estabilização, é num texto dado que as colocações se estabelecem e exercem um papel estruturante” (p. 156).

Fonte:Elaboração própria a partir de Adam (2011, p. 147-161)

Adam (2011) postula que a correferência é uma relação de identidade referencial que se estabelece entre dois ou mais signos, os quais são semanticamente interpretáveis, de forma independente. Sob esse viés, o autor mostra que essas relações semânticas de correferê ncia se materializam no texto por meio de elementos linguísticos denominados fóricos, situando-se à direita (anáfora) e à esquerda (catáfora). Além disso, apesar de muito importantes, não são apenas as correferências que asseguram as ligações de significado em um texto, mas há também outros elementos que são responsáveis por garantir a ligação do significado, como as isotopias e as colocações.