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3 A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO RESPOSTA ADEQUADA A

4.2 A PROTEÇÃO PENAL ATRAVÉS DA LEI MARIA DA PENHA

4.2.4 A Estigmatização da Mulher como Sexo Frágil

É preciso prestar homenagem ao legislador brasileiro que, mesmo de forma pressionada274, ocupou-se com a situação de milhares de mulheres vítimas de violência doméstica, a exemplo de Maria da Penha Fernandes.

Reconhecer o problema é o primeiro passo para resolvê-lo. E a violência perpetrada no seio da família é um problema de décadas que acompanha a história desse país, como relatado acima.

De fato social normal a crime. É este o caminho da violência contra a mulher, que por décadas foi encarada como circunstância natural em uma sociedade patriarcal, onde as obrigações entre homens e mulheres eram totalmente distintas. Não é demais lembrar que durante décadas, homens que mataram suas esposas/companheiras foram absolvidos argumentando como estratégia a legitima defesa da honra, tendo tal cenário sido alterado, apenas, após a promulgação da Constituição Federal de 1988275.

Isso denota como a violência doméstica praticada contra a mulher era tema, até pouquíssimo tempo, lido como fator social normal, sendo assunto de poesia, nos dizeres do dramaturgo Nelson Rodrigues “Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de bater.” Ora, antes de levantar a bandeira do absurdo, essa reflexão precisa ser feita, é preciso recordar que um dado cultural não é facilmente

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Pois só legislou porque a Comissão Interamericana de Direitos Humanos recomendou, nos termos do relatório 54/2001 acima tratado.

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ELUF, Luiza Nagib, A Paixão No Banco Dos Réus — Casos Passionais Célebres: De Pontes Visgueiro a Pimenta Neves, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 104

substituído por imposição vertical advinda do Congresso Nacional, através da imposição de sanções de natureza penal.

É trazendo essa ponderação à lume, que se pretende discutir sobre o grave problema da violência doméstica perpetrada contra a mulher no Brasil, rememorando que muitas e muitas mulheres apanham por que acreditam (ainda) que suportar este fardo é uma das obrigações decorrentes do casamento.

Além dessa ressalva, outro contraponto merece ser apresentado.

Será que toda mulher precisa da proteção estatal, nos termos da Lei Maria da Penha? Ou seja, será que existe mesmo essa presunção absoluta de hipossuficiência? Ou será que muitas mulheres podem se utilizar dos rigores da Lei 11.340/06 como forma de vingança, invocando a tutela jurisdicional apenas como método de vingança, sem que tenham sofrido qualquer forma de violência. Tal indagação precisa ser exposta, pois real. Qualquer pessoa, independente do sexo, é capaz de se colocar como vítima, apenas por estratégia de vingança ou outros fins276.

Ou, ainda, será que a forma pueril que, muitas vezes, o Estado trata essas mulheres, vítimas de violência doméstica, é a mais adequada para oportunizar que esta mulher, enfim, faça cessar a situação submissa que está inserida, e tome as rédeas da sua vida, de maneira plena e decisiva?

A proteção destinada às mulheres parte de um pressuposto de que a proteção estatal é sempre a melhor e a adequada para a solução daquele conflito. Porém, muitas vezes, esse “decidir em seu nome”, outorgando-lhe “proteção” não é sempre a melhor forma de solucionar todos os delitos que envolvem violência de gênero.

Com efeito, sabe-se que crimes são cometidos por razões diversas. Tem-se

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Apesar de se acreditar que todo homem é capaz de ser transformado, através de uma intervenção adequada, e por isso pode participar de um processo de refazimento de elos e de conscientização, não se pode deixar de registrar que há pessoas que são na essência ruins e, neste particular, não serão, em nenhum sistema, capazes de colocar-se no lugar do outro e entender que as atitudes para com os outros precisam atender a certos parâmetros. Um exemplo dessas pessoas é o psicopata, que não possuindo empatia, enxerga o outro como mero objeto pronto para atender suas satisfações. Pergunta-se se esse cidadão também poderia participar de um processo restaurativo. E a melhor resposta parece que é sim. Não por conta dos reflexos na vida dele, do psicopata, mas pelas possibilidades de entendimento e respostas às perguntas da vítima e da sociedade. Frise-se, ainda, que as formas tradicionais de sanção penal, quando aplicada a esses cidadãos, não surtem qualquer efeito, com exceção daqueles elencados pela Teoria da Prevenção Especial negativa, no sentido de inocuização, objetivo perigoso da pena se analisado isoladamente, pois o encarcerado irá, mais cedo ou mais tarde, voltar a conviver com a sociedade livre.

consciência que muitas mulheres sofrem de maneira absurda, por anos a fio, sem coragem de gritar por socorro, pois, ainda acreditam que apanhar faz parte dos seus deveres matrimonias. Essas mulheres precisam de ajuda integral e urgente.

O problema é que nem sempre a situação é essa. Muitas vezes, a espiral da violência ainda não ganhou as proporções ventiladas, e o que falta é apenas uma oportunidade de comunicação dirigida entre os envolvidos no conflito, para que este seja solucionado de maneira definitiva.

Além do que, em diversos casos, o “direito”, a “salvação”, sempre através do sistema penal, que, repita-se, de forma fechado, impõe a “decisão correta” para o caso penal pode não atender aos anseios daquela vítima, mesmo contra sua vontade277.

Nesse prisma, vários são os graus do conflito doméstico, o que implica no dever escalonado de intervenção por parte do Estado, a fim de atender, de maneira global e satisfatória, os problemas desta ordem.

Isso porque, o modo rígido de intervenção penal, aliado à forma exclusiva de responder a esses conflitos, com pena privativa de liberdade, não atendem aos anseios das vítimas desses problemas de maneira global, pois a grande maioria das mulheres que procura ajuda não quer ver os seus maridos/companheiros presos, quer apenas que o Estado intermedeie a comunicação entre eles, devolvendo a paz e sossego ao casal.

Com efeito, esse papel submisso da mulher perante o homem e a sociedade é fruto de uma construção social que tem origens remotas, uma vez que, o tratamento violento (estruturalmente violento) é cotidiano e cultural, devendo, mais do que as leis, serem alteradas as atitudes frente ao gênero feminino, como ponderado linhas antes.

A violência contra a mulher precisa ser debatida de maneira ampla, e não apenas no que se refere às agressões praticadas pelos companheiros dessas mulheres. Isso porque há uma forma de violentar muito mais grave, muito mais humilhante e muito mais perigosa do que a verificada no caso de violência de gênero.

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Frise-se a ADI 4424, acima mencionada, julgada pelo Supremo este ano, quando considerou que o crime de lesão corporal leve é de ação penal pública incondicionada, logo, dispensa representação da vítima para ser instaurado Inquérito Policial e oferecida a denúncia.

É preciso começar a tratar a mulher como sujeito pleno de direitos, em nível de igualdade material com os homens. O que a sociedade exige através da Lei Maria da Penha precisa ser algo mais do que o encarceramento do agressor, algo mais do que proteção policial às mulheres vítimas de violência doméstica.

Essa violência sistêmica é também perversa, porque silenciosa, e agride a alma das mulheres, não via força física, mas da influência exercida por diversos órgãos de poder. Sobre essa violência estrutural, afirma Lúcia Freitas de Alvarenga:

pode-se afirmar que a discriminação contra a mulher é uma realidade estrutural e institucional porque é construída e praticada pela sociedade e pelo próprio Estado. Deve-se acrescentar que é violenta, não exatamente porque se manifesta de modo agressivo, hostil, ostensivo e brutal, mas, sim, porque – ao contrário – está engendrada de modo sútil e veladamente, direta ou indiretamente, clara ou sub-repticamente278.

É essa violência que deve ser reprimida de maneira urgente pelo Estado. Mas não é apenas com leis que se resolvem questões culturais, é com mudança de perspectivas. A intervenção estatal deve se dar pelos meios primários de controle social, como a escola, a publicidade voltada às campanhas de igualdade efetiva entre homens e mulheres. O paradigma a ser quebrado não é só o penal, é também o social e o ideológico, pois os preconceitos e as formas arguciosas de reduzir e estigmatizar a mulher, muitas vezes, são tão violentas e preconceituosas quanto uma agressão à integridade física.

Enquanto se condenar com olhares fulminantes mulheres que tem mais de um parceiro sexual por noite, meninas que não medem suas saias e vestidos pela métrica da demagogia e através do espelho da hipocrisia, não há que se falar em luta pela igualdade.

Quantas vezes o olhar masculino reduz a mulher a um pedaço de carne à disposição de atender a sua lascívia, reduzindo-a a um objeto de deleite sexual. Esse comportamento é também violento e deve ser combatido, com ações afirmativas por parte do Estado, que deve enfrentar essa forma velada de agredir e diminuir as mulheres à esfera do sexual, do prazer.

É contra essa violência global que se deve primeiro lutar. A sociedade precisa denunciar essa forma de violência, também perversa e agressiva. O problema é que ninguém vai fazer prova contra si mesmo, pois sob o manto da ignorância se

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ALVARENGA, Lúcia Barros Freitas de. Mulher, discriminação e violência: uma questão de direitos humanos. Direito Público, Porto Alegre, v. 1, n. 23, p. 7-30, set./out. 2008, p. 33.

reverbera punição aos homens que ameaçam e batem, mas se compactua quando a vítima era uma garota de programa ou uma pessoa mais “moderna”, porque aí a culpa passa a ser dividida pela vítima, que já a mulher não é considerada tão vítima assim.

Nesse sentido, a violência doméstica torna-se um caminho previsível, quase que natural, dentro dessa sociedade machista onde se situa o problema, porque:

A discriminação e a violência estrutural e institucional geram outros tipos de violência praticada pelos homens contra as mulheres, como, por exemplo, a violência física, psicológica e moral, a chamada violência doméstica ou violência familiar e o assedio no trabalho279.

Esse modo de tratamento é que precisa ser substancialmente alterado, para, a partir dele, as violências satélites serem, por consequência, aniquiladas. É que, na verdade, a violência doméstica decorre da violência estrutural, e não o inverso.

Logo, a bandeira pela não violência deve começar por questões muito mais amplas. Ao invés de se manter a mulher, vítima de violência, submetida à proteção de outro, desta vez, do Estado, é preciso eleger uma politica criminal de tratamento holístico dessas questões, ampliando as preocupações em torno da violência de gênero. Para tanto, é preciso definir as prioridades e os meios para executá-las, sempre no sentido de dar (ou devolver) a essas mulheres a reponsabilidade de cuidar dos seus problemas, inserindo-as na vida social central, ao revés de mantê- las em uma posição de fragilidade e vulnerabilidade absoluta.

Tal conclusão não elide a necessidade de criação de mecanismos de combate à violência doméstica, pelo contrário, é preciso criar condições de busca pela igualdade e, para tanto, é preciso que todas as instâncias de poder se empenhem em obter resultados efetivos de prevenção e combate a esta modalidade de violência.

O que se propõe na presente pesquisa, é a criação de mais uma forma de enfrentamento desse problema público e social perpetrado nos lares brasileiros. É diversificando a forma de responder a essas demandas sociais que vai se ampliar a rede de proteção à mulher vítima de violência, trazendo-a para dentro da discussão que se vai efetivar o seu papel social, possibilitando, de uma vez por todas, que ela seja tratada e encarada por todos, de maneira igualitária.

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E essa diversificação e inclusão são necessárias, pois muitas vezes a mulher não registra as agressões porque a resposta estatal não satisfaz os seus desejos, vez que é construída sem a participação da ofendida, que, em muitos casos vai continuar convivendo com o agressor, especialmente quando dessa relação decorrem filhos, e são muitas.

Conforme dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres, órgão vinculado a Presidência da República, 83,3% das denunciantes possuem filhos com o agressor, gerando, conforme consignado no Relatório Trimestral: 2012, preocupação, pois esta forma de violência atinge terceiros, e neste caso, os filhos do casal envolvido nos problemas, como assevera o relatório ao afirmar que:

Este fato é preocupante quando se pensa na transgeracionalidade e na reprodução de modelos violentos. A relação que os(as) filhos(as) possuem com a violência podem trazer conseqüências incalculáveis em suas individualidades e para a sociedade como um todo280.

Outro dado indispensável colacionado no relatório, é o vínculo existente entre os envolvidos, ao aduzir que:

O vínculo da vítima com agressor é o que mais denota o crime de poder. Nota-se que 98,9% dos registros identificados de casos de violência são realizados por homens. Verifica-se que 69,7% dos casos são cometidos por companheiros e cônjuges das vítimas e 2,4% são namorados das mesmas. Há ainda um elevado número de casos de violência cometidos por ex- maridos (13,2%) e ex-namorados (4,2%). Isso demonstra que em quase 90% das violências são cometidas por pessoas com quem às vítimas tem ou teve algum vínculo afetivo281.

Dos dados, pode-se extrair uma desigualdade na relação entre vítima e agressor, verificando-se que o que esta vítima precisa é ser empoderada, havendo, deste modo, um equilíbrio na relação do casal, ou, quando não for mais possível a convivência, que esta mulher possa ser a protagonista da sua própria vida.

Em relação à necessidade de empoderamento referente às mulheres, Ana Lúcia Sabadell lembra que:

A partir da IV Conferência da Mulher, realizada em Pequim em 1995, foi introduzido o conceito de empoderamento (empowerment) para tratar da problemática da violação dos direitos humanos das mulheres. Isto significa “potencializar” a participação das mulheres em igualdade de condições com os homens na vida econômica e política e no processo de tomada de decisões, propiciando melhorias nas condições de vida de ambos os gêneros. Tendo o empoderamento um caráter transformador, na

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BRASIL. Presidência da República. Secretária de Políticas Para as Mulheres. Relatório

Trimestral: 2012. Brasília, DF, 2012b. Disponível em: <http://www.sepm.gov.br/noticias/documentos-

1/relatorio-trimestral-ligue-180-2012>. Acesso em: 16 jul. 2012.

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medida em que são satisfeitos os interesses das mulheres ocorre também uma modificação nas relações de gênero.282 (grifo nosso).

A ideia da autora encontra total consonância com a necessidade de lutar contra a violência estrutural existente contra a mulher, não podendo se atacar apenas a consequência do problema, uma de suas faces (violência doméstica), pois este decorre de algo muito maior, e pior, que é a violência institucional contra a mulher.

Não se retira aqui a importância da Lei Maria da Penha, que atende a diversas mulheres, porém é preciso encarar o problema com a amplitude necessária, nos termos reconhecidos por Ana Lúcia Sabadell, que, ao abordar as vantagens da Lei 11.340/06 frisa que:

Trata-se de uma lei que apresenta avanços e retrocessos no tratamento da violência doméstica. Por um lado, a lei afirma a necessidade de conceder- se um tratamento multidisciplinar à matéria, fato este que não deixa de ser um reconhecimento sobre os limites que possui o direito - e em especial o direito penal -, para solucionar conflitos sociais graves. Como uma “boa carta de intenções” afirma-se a necessidade de desenvolver medidas educativas (art. 8.º) para combater a violência doméstica, incentivando-se inclusive a realização de pesquisas. No âmbito jurídico, as propostas também não se limitam à esfera penal. Isto constitui, sem dúvida, um avanço em termos de legislação em matéria de direitos humanos283.

Porém, reconhecendo a limitação dos alcances da lei, a autora alerta sobre as desvantagens e a incompletude do diploma legislativo, ponderando que o Direito Penal tem muito pouco para oferecer a essas mulheres, vítima de violência por seus companheiros e maridos, alertando que:

[...] mais importante do que punir é educar. Há mais de uma década venho insistindo que a problemática da cultura machista (em termos científicos denominamos de patriarcado) só pode ser combatida por meio de uma mudança social de valores e para isso a educação constitui o elemento mais importante. É preciso mudar mentalidades284.

E é esse o problema a ser encarado pela sociedade e pelo Estado, pois:

[...] a luta contra a violência doméstica é muito mais complexa do que se possa imaginar. Questões tão sutis como a propagando do carro ou da cerveja, onde imagens femininas são veiculadas para estimular a venda, nos indicam, infelizmente, que a mulher continua sendo vista como objeto de barganha, de compra e venda. E se pensamos na cultura do corpo perfeito, do botox e do silicone, perceberemos que ser mulher significa “manter intacta” a sua propriedade, de forma que essa sempre pareça bela e atrativa aos olhos masculinos. Quando um ser humano é tratado como

objeto, o respeito desaparece e a violência começa a ser percebida como normal.285 (grifo nosso).

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SABADELL, Ana Lucia. Violência doméstica: críticas e limites da Lei Maria da Penha. Boletim do

Instituto de Ciências Penais, Belo Horizonte, v. 7, n. 85, mar. 2008, p. 5-7. 283

SABADELL, 2008, p. 5-7.

284

Ibid., loc. cit.

285

Analisando a Lei 11.340/06 sob este enfoque, o que se constata é a continuidade nesse tratamento inadequado destinado à mulher, como querem as feministas, desde a década de 60, como afirmam Ana Costa e Cecília Sardenber:

Buscando uma transformação mais profunda na sociedade, o feminismo tem que travar uma luta ideológica contra os valores patriarcais representados diretamente pelos pais, pelos maridos, companheiros, amigos, colegas de trabalho etc. Para as mulheres, esse feminismo

significa também um processo de reeducação, ruptura com uma história de submissão e descobrimento das próprias potencialidades286 (grifo nosso).

O Estado mantém a mulher na perspectiva de inferioridade.

Ao legislar baseando-se no paradigma aflitivo, pois a Lei 11.340/06 prevê medidas cautelares, ofertando, de igual modo, soluções transitórias e sempre de caráter restritivo, a norma não cria estratégias para enfrentar a violência perpetrada contra a mulher, ofertando, apenas, paliativos para um câncer muito mais profundo, delicado e complexo que é o conflito doméstico envolvendo violência de gênero. Nessa linha de entendimento, alerta Isaac Sabbá Guimarães sobre os erros dessa opção legislativa, alertando que:

a exclusão de um procedimento para tentativa de conciliação entre as partes, o que é observado não pela inadmissibilidade e aplicação do rito desjudicializado, mas também, pela absoluta ausência de previsão de um momento apropriado para o reencontro (muitas vezes necessário) entre vítima e agressor287.

Este fechamento por parte do Estado, baseado na ideia de autossuficiência e plenitude, precisa ser revisto, abrindo-se, para tanto, a via comunicacional de solução de conflitos, oportunizando a real e efetiva participação das partes neste processo de resposta.

Isso porque, o modelo atual de resposta aos delitos que envolvem delitos desta natureza, continua sendo exercido pelo outro. Este poder que era do marido/companheiro, já havia sido do pai, e agora, nos moldes estritos da Lei Maria da Penha, é do Estado, ente patriarcal que reproduz o papel submisso que é destinado socialmente à mulher, que continua sendo vista como o sexo frágil que precisa de proteção e que alguém direcione a sua vida, resolva os seus problemas.

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COSTA, Ana Alice Alcantara; SARDENBERG, Cecília Maria B. O feminismo no Brasil: uma (breve) retrospectiva. In: ______. (Org.). O feminismo do Brasil: reflexões teóricas e perspectivas. Salvador: UFBA; Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, 2008, p. 29.

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GUIMARÃES, Issac Sabbá. Lei Maria da Penha: Aspectos Criminológicos, de Política Criminal

e do Procedimento Penal./ Isaac Sabbá Guimarães, Rômulo de Andrade Moreira, 2. ed. Curitiba:

Assim, constatando que o Estado precisa atender as demandas sociais de maneira global, oportunizando que a igualdade entre homem e mulher saia, enfim, do programa constitucional para ser implementado efetivamente nas relações familiares, torna-se indispensável trazer a mulher para o centro da construção das soluções dos conflitos que estão imersas, não podendo delegar esta tarefa a mais ninguém.

4.3 A NECESSIDADE DE DIVERSIFICAR AS RESPOSTAS AOS DELITOS QUE