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3 A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO RESPOSTA ADEQUADA A

4.2 A PROTEÇÃO PENAL ATRAVÉS DA LEI MARIA DA PENHA

4.2.2 A Mulher Destinatária da Proteção e as Espécies de Violência

Fazendo referência ao artigo 226, § 8º da Constituição Federal257, e, ainda, a alguns documentos258 que se destinam a tutelar, de maneira especial, a mulher, a Lei 11.340/06 nasce com finalidade de proteger, de forma ampla, o gênero feminino, alertando que em seu ambiente doméstico, familiar ou de intimidade, independente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, deverão receber proteção especial259.

Assim, conceitua-se violência doméstica, de acordo com o diploma legal, como:

toda espécie de agressão (ação ou omissão) dirigida contra mulher (vítima certa) num determinado ambiente (doméstico, familiar ou de intimidade) baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial260.

Verifica-se, portanto, que não é a mulher261 em qualquer circunstância que será destinatária da proteção da Lei Maria da Penha, mas, apenas, quando ela estiver em ambiente doméstico, ou seja, quando a violência for perpetrada no espaço caseiro,

257 “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 8º - O Estado

assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.” BRASIL. Constituição (1988). Constituição da

República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 15 jul. 2012.

258

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.

259

Cf. BRASIL. Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher [...]; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 08 ago. 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 15 jul. 2012.

260

CUNHA; PINTO, 2007, p. 23

261

Nesse sentido, de exclusividade de proteção à mulher, por tanto, ao gênero feminino, já se

manifestou o Superior Tribunal de Justiça, no Conflito de Competência tombado sob o número 96533, julgado em 05 de dezembro de 2008, de relatoria do Ministro Og Fernandes. No mesmo sentido, mais recentemente, no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade de número 19, o Supremo Tribunal Federal, em 09 de fevereiro de 2012,em decisão plenária, decidiu serem constitucionais os artigos 1º, 22 e 41 da Lei 11340/2006, não sendo desproporcional ou ilegítimo, portanto, o uso do sexo como critério de diferenciação.

envolvendo pessoas com ou sem vínculo caseiro; em ambiente familiar, entendendo-se como protegida a mulher contra ataques de pessoas que tenham com ela vínculos jurídicos de natureza familiar; e ainda quando a violência ocorrer em sede de relação íntima de afeto, entendendo-se esta, após certa dúvida trazida pelo inciso III, do artigo 5º, como aquela que envolve, no presente ou no passado, afeto e intimidade de ordem sexual, mesmo que não haja coabitação entre eles.

Delimitado o ambiente em que deve está inserida esta mulher para receber proteção da Lei 11.340/06, importante apresentar as violências coibidas pelo diploma legal.

Antes, fundamental consignar quem pode figurar como sujeito ativo de crimes que envolvam violência contra mulher.

Com efeito, em relação ao sujeito passivo protegido pela Lei Maria da Penha, não resta dúvida que o diploma protege a mulher nas situações estabelecidas. Porém, não é tão tranquila a situação do sujeito ativo que poderá ser enquadrado como ofensor. A discussão permanece. E a dúvida é: apenas homens - seres humanos do sexo masculino, ou se também mulheres poderão ser agentes de condutas que violentam o gênero feminino a serem tratadas pela legislação especial?

Nesse sentido, o que ficou consignado pelo Superior Tribunal de Justiça foi: “O sujeito ativo da violência doméstica tanto pode ser o homem, quanto a mulher, em virtude de o parágrafo único do art. 5º estabelecer que as relações pessoais independem de orientação sexual”262

.

Em relação às espécies de violência passível de proteção, a Lei 11.340/06 classifica em: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

Pode-se entender a violência física como qualquer forma de uso da força com o objetivo de ofender a integridade ou a saúde corporal da vítima, deixando marcas, ou não, no corpo da ofendida263.

Já a violência psicológica é entendida como aquela agressão emocional,

262

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº. 88027/MG. Relator: Min. Og Fernandes. Terceira Seção. Brasília, 05 dez. 2008. Diário da Justiça Eletrônico, 18 dez. 2008. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200701718061&dt_publicacao=18/12/2008>. Acesso em: 15 jul. 2012.

263

quando o ofensor dirige à vítima palavras ou gestos com o objetivo de humilhar, menosprezar, diminui-la, atingido, de maneira muito mais densa e profunda, a dignidade da mulher, pois fere a alma e deixa marcas que não cicatrizam, pois atingem subjetivamente, de maneira muito severa, o intimo da mulher.

Também é conceituada a violência sexual, entendendo-a como “qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força”264

. Esta forma de violência machuca e envergonha, impossibilitando, muitas vezes, inclusive, a denúncia por parte da vítima.

Já a violência patrimonial pode ser conceituada como:

qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades265.

Constatando que o legislador quis proteger, de forma ampla, a mulher, restaram delimitadas as formas de violência previstas na Lei Maria da Penha, passando-se a analisar quais são os tratamentos previstos neste diploma legislativo, medidas que ora se destinam à mulher, ora restringem direitos do ofensor.

Importante, ainda, registrar, que a referida Lei não tipifica qualquer conduta como criminosa, estas figuras já se encontram na legislação comum, como também podem ser contempladas em leis extravagantes, e, sempre, que configurada a relação doméstica (e as demais) será aplicada a Lei 11.340/06, ou seja: as suas medidas protetivas e os procedimentos policial e judicial especiais.